Quem em sã
consciência poderia imaginar um homem sendo conduzido para uma prisão sem
esboçar algum tipo de reação? Pelo menos os gritos de: “sou inocente, não fiz
nada, quero meus advogados”, seria normal ouvirmos, o que não dizer então da
promessa de retorno, as ditas, conhecidas e tão temidas juras de morte e
vingança, as quais na maioria das vezes são cumpridas na integra.
Paulo e Silas
foram encaminhados para a prisão tão somente por terem participado da libertação
de uma jovem possessa (At 16.18), que sofria com o tormento provocado por espíritos
maus e com os aproveitadores que utilizavam sua vida como trampolim financeiro
para manterem suas vidas pecaminosas.
Ora, se Paulo se
declarava um imitador de Cristo e se aconselhava a igreja a se portar da mesma
forma (1 Co 11.1; Fp 3.17) e por ser instruído em todo conhecimento da Lei e
dos Profetas (At 22.3), o normal seria que as lembranças das profecias
messiânicas estivessem gravadas em sua mente, principalmente a que dizia
respeito ao caminhar tranquilo de um cordeiro em direção ao matadouro (Is
53.7), passando pela porta do Gado ou das Ovelhas (Ne 3.1), a menor de todas as
portas de Jerusalém, justamente por ter sido construído para a passagem destes
animais e não para homens[1].
Aquela porta que
se encontrava próxima ao Templo, junto ao tanque de Betesda (Jo 5.2). Na
reconstrução da Cidade Santa, liderada por Neemias, ela foi a primeira a ser reformada/refeita,
pois se tratava de uma figura da ação de Cristo em relação à humanidade perdida
(Jo 10.7-9).
Pois bem, se
Paulo mantinha atualizada em sua mente estas profecias, é bem provável que
ansiava pelo cumprimento delas em sua vida, guardada as devidas proporções,
diga-se de passagem, haja vista, estar no pleno curso de seu ministério, o qual
fora caracterizado pelo forte desejo de ser um imitador de Cristo, não na
trajetória, nascimento, morte, ressurreição e assumpção, mas nas atitudes, nos
comportamentos, nas reações diante da adversidade, portanto não poderia
oferecer resistência à voz de prisão decretada em Filipos durante sua primeira
estadia (At 16.23).
Somente o
cristianismo é capaz de proporcionar isto ao homem. Equilíbrio puro diante de
uma dificuldade e esperança no livramento ou no consolo. Virtudes estas que
nenhuma outra religião, filosofia ou pensamento humano é capaz de providenciar
aos seus seguidores.
1) AS PRISÕES – IMEDIATAMENTE APÓS O RASGAR DAS
TÚNICAS
a) A túnica de José rasgada – sinal para prisão
José, um dos
patriarcas de Israel, também foi enviado ao matadouro (Gn 37.13-14) e diante de
seus tosquiadores também permaneceu mudo, não reagiu, não gritou e tampouco
ameaçou seus irmãos, após o “fechamento da venda”. Naquele dia seus irmãos ficaram
satisfeitos, conseguiram cobrir “a cota do mês”. Que venda, vinte moedas de
pratas, duas para cada um. Foram dez contra um, justamente os filhos de Léia,
Bila e Zilpa, pois não acredito que Benjamim estivesse com eles, devido a idade
e por ser também filho da mesma mãe que José, a única mulher que o pai
realmente amara deste o inicio.
Não considero os
poucos, mas angustiantes momentos que José passou dentro daquela cova como dor
de prisão, pelo contrário, pois ele imaginava que mais cedo ou mais tarde seus
irmãos o tirariam e pediriam desculpas. Então se cumpriria parte de seus sonhos[2]
e o caminhar como escravo, em algemas e acorrentado, apenas o tipificou como
prisioneiro, que mantinha alguma esperança de arrependimento de seus irmãos.
Quem sabe eles não correriam atrás de seus parentes distantes midianitas (Gn
25.1-2) e pediriam o cancelamento da venda?
Agora dentro de
uma prisão, enjaulado, entre grades, alheio ao nascer e por do sol, sem poder
pisar na areia quente egípcia, sem contemplar a delta do Nilo, a região mais
próspera da nação, a que seria presenteada à seu pai anos mais tarde pelo
próprio faraó (Gn 47.6), que cena triste. Que decepção? Tudo deu errado em sua
vida? Não teve sorte? O que mais poderia acontecer de ruim? Dependia somente
dele. Estava mal, poderia piorar, bastava uma murmuração.
Mas sua prisão
veio somente depois de uma longa caminhada, que se iniciou após sua túnica
colorida ser rasgada e manchada com sangue de animal, o lindo presente de seu
pai, motivo inicial das desavenças e ciúmes dos irmãos. Rasgaram suas vestes e abriram
caminho para a prisão. Aquela túnica jamais desceria com ele ao Egito, deveria
ficar ali em Canaã, por isto foi entregue ao pai para que acreditasse na morte
do filho preferido.
José não perdeu
o controle quando foi jogado na cova, não se desesperou quando viu sua túnica
rasgada, não se afligiu quando deu inicio a caminhada como escravo. Não temos
noticia de rebeldia durante o tempo em que ficou trabalhando como servo de
Potifar e muito menos deu trabalho dentro da prisão, pelo contrário, com seu comportamento
exemplar ganhou a confiança do carcereiro mor (Gn 39.20-23).
O equilíbrio
diante de uma adversidade é uma ação divina, mas que depende de uma ação
humana, infelizmente, pois José, mesmo o Senhor sendo com ele (Gn 39.2-3;
20-23), poderia ter posto tudo a perder e não teria, lá na frente, a
possibilidade de ver os sonhos se cumprindo em sua vida, tão logo acordasse
daqueles seus terríveis pesadelos[3].
Ali na solidão
da cova, na caminhada, na casa de Potifar ou na prisão uma grande batalha se travou
em sua mente, justamente no campo onde podemos ganhar ou perder, mas ele se
mostrou integro, venceu e nos ensinou como devemos nos portar diante da
adversidade.
Como recompensa
deste equilíbrio, um dia José, pela manhã ouviu: “prisioneiro hebraico José,
Faraó quer falar com você”. Esta foi a última vez que ele foi chamado daquela forma,
pois no outro dia já recebeu outro tratamento, foi chamado de senhor José,
senhor vice-faraó.
Faraó queira
falar com ele, de inicio não entendeu. Não tinha advogado, os amigos eram ingratos,
não se lembravam dele, a família estava há quilômetros de distância. O que a
maior autoridade do Egito queria com ele?
Era um pedido de
socorro, o Egito lhe pedia socorro, alias as nações pediam socorro ao
ex-presidiário José, mas antes disto era necessária uma transformação, uma mudança
radical de vida (Gn 41.14), pois ninguém podia se apresentar diante do grande
faraó de qualquer maneira, com ele era mais ou menos assim: “NÃO VENHA COMO
ESTÁS, pelo amor de seu Deus”.
Também foi visto
um equilíbrio na vida de José, pós-promoção, pois sua primeira decisão, já em
um luxuoso quarto palaciano, foi baseada no futuro, queria salvar a nação da
escassez, não pensou em seus irmãos, tampouco em vingança. E quando teve a
oportunidade de se vingar, novamente não pensou no passado, socorreu seus
irmãos e providenciou o melhor para eles em terra egípcia.
A mente de José
nunca esteve vazia, sempre esteve ocupada, pensava nos sonhos[4],
nas providências, na presença constante de Deus (Gn 39.2-3; 20-23), caso
contrário teria ele promovido uma rebelião, pensando na fuga ou então como se
vingaria de seus irmãos. Tal como Paulo ele pensou nas coisas do alto, nas
mansões celestiais, no prêmio da soberana vocação (Fp 3.13-14) e principalmente
no resgate definitivo, não para ser levado a Canaã terrena, mas para a
celestial, a derradeira morada.
José assombrou o
mundo com seu comportamento e nos ensinou muito, pois sua estadia na cova, sua
caminhada como escravo, seus préstimos como servo e o seu equilíbrio dentro de
uma prisão, foram ações que estimula a todos a permanecerem na presença do
Deus que vela pelas nossas vidas e que está sempre pronto a nos socorrer.
b) As vestes de Paulo e Silas rasgadas – sinal para prisão
Após serem usado
como instrumentos para a libertação daquela jovem, Paulo e Silas imaginavam
que, pelo menos os familiares e amigos se renderiam a Jesus ou que, pelo menos,
dariam crédito à Palavra. O que eles temiam era que fossem novamente tomados
como deuses humanos pelos moradores da cidade, tal como ocorrera na primeira
viagem com o próprio Paulo e Barnabé (At 14.13-18), mas a reação da população,
no mínimo, faria muitos de nós perdermos o equilíbrio ou nos motivaria a
corrermos desesperados para longe da cidade para nunca mais retornarmos.
“Logo formou-se uma revolta popular contra Paulo e Silas, e os
juízes ordenaram que tirassem a roupa
(grifo meu) deles e batessem com varas. De golpe em golpe as varas iam ferindo
as costas nuas deles, fazendo brotar o sangue; e depois disto eles foram
jogados no cárcere. O carcereiro foi ameaçado de morte se eles escapassem”. (At
16.22-23 – Biblia Viva)
“E
a multidão se levantou unida contra eles, e os magistrados, rasgando-lhes as vestes, (grifo
meu) mandaram açoitá-los com varas. E, havendo-lhes dado muitos açoites, os
lançaram na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança. (At
16.22-23 – ARC)
“A
multidão ajuntou-se contra Paulo e Silas, e os magistrados ordenaram que se
lhes tirassem as roupas (grifo
meu) e fossem acoitados. Depois de serem serveramente açoitados, foram lançados
na prisão. O carcereiro recebeu instrução para vigiá-los com cuidado”. (At
16.22-23 – NVI)
“Ai
uma multidão se auntou para atacar Paulo e Silas. As autoridade mandaram que tirassem as roupas (grifo meu) deles
e os surrassem com varas. Depois de baterem muito neles, as autoridade jogaram
os dois na cadeia e deram ordens ao carcereiro para guardá-los com toda a segurança”
(At 16.22-23 – NTLH)
Assim como
ocorrera com José acontecia agora com Paulo e Silas, pois a prisão não foi imediata,
houve uma caminhada em direção ao matadouro, aos tosquiadores. As vestes foram arrancadas,
rasgadas, sinal evidente do descontentamento e ciúmes da multidão e foram jogadas
ao lado para provarem o castigo à aqueles que se atrevessem a proclamar outra
religião que não a vista e permitida na cidade, mesmo que viesse com sinais,
prodígios e maravilhas. Alias, logo mais a noite os filipenses veriam o agir de
Deus. A multidão que auxiliou e os jogou na prisão seria a mesma que pela manhã,
boquiaberta testemunharia a transformação que Jesus faria na vida dos presos
que ouviriam os louvores e orações dos missionários.
E olha que José
tinha caminhado em direção a seus irmãos somente para verificar a situação
deles, se precisavam de algo, para ver se estava tudo bem, ele não tinha outra
intenção. Paulo e Silas da mesma forma estavam naquela cidade somente para
apresentarem a Palavra de consolação, o Evangelho que salva, transforma e que
proporciona equilíbrio diante da adversidade. O primeiro ganhou a confiança do
carcereiro mor no Egito e o segundo ganhou o carcereiro e família para Jesus,
livrando-o da morte certa e lhe proporcionando a vida nova em Cristo.
Tudo isto foi
fruto da oportunidade que o primeiro grupo de louvor e intercessão da igreja
primitiva teve naquele culto. Louvaram com alegria, com a alma, não deixaram o
interior, a tristeza, a lacuna da fé, as dores interferirem nos trabalhos
daquela noite. O louvor deles chegou ao céu e atingiu o alvo. Foi uma rápida decisão,
pois não poderiam murmurar, reclamar ou tentar uma fuga, mesmo porque estavam
fracos. Optaram pela oração e louvor, sinais evidentes de equilíbrio.
Paulo também
assombrou o mundo com seu comportamento dentro da prisão, juntamente com seu
companheiro. Eles não ofereceram resistência na entrada. Portando as boas novas
observaram o ambiente, os olhares dos presos, futuros ouvintes. Creio que um
olhou para o outro e sem palavras entenderam tudo foi necessário para que
chegassem naquele lugar. Por isto louvaram com alegria e oraram com fé, para que
todos ouvissem mesmo.
Se os moradores
de Filipos imaginassem que o abalo nas estruturas do inferno seria menor,
certamente teriam deixado Paulo e Silas cumprirem a missão sossegados, ou no
mínimo, os expulsariam da cidade ou ignorariam a dupla de missionários. Com os
irmãos de José ocorreu o inverso, pois se tivessem imaginado que a vida de todos mudaria a
partir do cumprimento do sonho do irmão, certamente teriam se prostrado muito
antes do sofrimento com a escassez de mantimento na terra. A vida da família de
Jacó mudou de uma hora para outra, pois saíram do sofrimento de Canaã e se
dirigiram para a prosperidade vista no Egito.
José estava no trono e os irmãos na lona,
momento ideal para se vingar, mas não aproveitou a oportunidade para isto. Ele
tinha princípios, equilíbrio e sabia muito bem atender um pedido de socorro.
Aqueles que planejaram o mal, um dia comeram nas mãos do irmão.
Quando o assunto for equilíbrio diante da
adversidade, tenhamos José, Paulo e Silas como exemplos, os imitemos.
Aprendemos, recebemos, ouvimos e principalmente vimos algo de bom e edificante
na vida deles, então façamos como eles.
Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal - BAP (ARC). CPAD, 2003.
Bíblia de Estudo Temas em Concordância. Nova Versão Internacional (NVI).
Rio de Janeiro. Editora Central Gospel, 2008
Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje (NTLH). Barueri (SP).
Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.
Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil,
Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003.
A Bíblia Viva. Edição para todos. Associação Religios Editora Mundo
Cristão
[1]
Esta porta era destinada a passagem de animais para o sacríficio e não para
homens, a não ser que algum passasse por ela de joelhos, se arrastando ou com a
boca no pó. Na época era quase impossível que isto viesse a acontecer. Esta
porta foi exclusiva para Jesus.
[2] Ou se
cumpriria parte de seus sonhos ou então teria inicio o seu longo pesadelo.
[3]
Jose teve mais pesadelos que sonhos.
Por: Ailton da Silva - Ano V
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