Era conhecedor da história de seus
antepassados, por isto decidiu confiar na vontade de Deus, mas antes temeu,
como qualquer outro ser humano, pois duvidou:
- Da sua capacidade – “quem sou eu”? Se fosse o Moisés dos primeiros quarenta anos, certamente diria: “Eis me aqui”;
- Da credulidade do povo – “como saberão que foi o Senhor que me enviou”? O homem dos primeiros quarenta anos não teria dificuldade para ganhar a confiança do povo pela sua valentia;
- Da sua eloquência – “sou pesado de boca e palavras”. O jovem dos primeiros quarenta anos saberia muito bem se expressar;
- Da escolha de Deus – “envia outro que o Senhor escolher”. O Moisés dos primeiros quarenta anos não perderia a oportunidade de representar o próprio Deus na terra.
Diante de tal situação foi preciso que
Deus confirmasse a chamada com algo grandioso, maravilhoso, assim como havia
feito com os patriarcas anteriores. As promessas foram justamente para suprirem
suas expectativas e coibirem qualquer variação ou sombra de dúvida.
- Deus prometeu a Sua presença. “Eu serei contigo”, pois Moisés não se achou em condições de seguir (quem sou eu?);
- Deus prometeu autoridade. “O Eu Sou me enviou a vós”, pois temeu a recepção dos egípcios e a incredulidade dos hebreus (como saberão que foi o Senhor que me enviou?);
- Deus prometeu poder e ousadia. “Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar”, pois não se imaginava em condições de apresentar o plano divino e de convencer os hebreus pelas suas palavras (“Ah, meu Senhor! Eu não sou homem eloquente”);
- Deus prometeu cooperador. “Não é Arão, o levita, teu irmão?”. Moisés não se imaginou com força suficiente para enfrentar a missão sozinho. “Envia pela mão daquele a quem tu hás de enviar”. Arão seria seu profeta, seu porta-voz e seu auxiliador.
Todas estas promessas foram capazes de
animá-lo e fortalecê-lo para o retorno. A preocupação e o medo pelas
represálias não seriam capazes de impedir sua volta, tampouco a dúvida quanto a
prescrição do seu crime, na verdade, Moisés voltaria fazendo uso de um
salvo-conduto, decretado e assinado por Deus. No início temeu, pois sabia que
estava jurado, ou pelo menos imaginava que estivesse. Seria preso ou morto tão
logo pisasse na fronteira.
Nenhuma autoridade egípcia foi autorizada
a sentenciar ou colocar “as mãos” e muito menos condenar[1] Moisés, que poderia voltar
tranquilo, pois estava amparado por uma lei maior do que qualquer outra que
tivesse naquela época. Isto também aconteceu com o apóstolo Paulo que, após sua
prisão, não foi condenado ou sentenciado pelos romanos e judeus. Ninguém foi
autorizado a colocar as mãos nestes dois homens. O filho da filha de Faraó era
inatingível, ninguém colocou as mãos nele, porém o mesmo não foi possível dizer
do filho de Faraó (Ex
4.22-23; 12.29).
Enfim chegou o momento do reencontro de
Moisés com seu povo, sua linhagem e com alguns de seus parentes. Jacó já havia
experimentado este tipo de alegria, José também e agora o quinto patriarca que
se alegraria com esta bênção.
Os filhos de Israel o receberam[2] de
bom grado, pois estavam no sofrimento, enfermos, escravos, pobres e sem
esperanças. Viram em Moisés a resposta para seus clamores que havia chegado aos
ouvidos de Deus. Os mais jovens entusiastas já se imaginavam fazendo parte do
grande exército que derrotaria os egípcios. Os idosos o viam como manifestação
do resgate das tradições e fé monoteísta hebraica, esquecida com o passar dos
anos.
Era o reavivamento da nação israelita,
pois o clamor de alguns foi ouvido por Deus, mesmo sendo desconhecido por
muitos (Ex 3.13), mas isto não foi impedimento para cumprimento do que houvera
sido profetizado por Jacó e José (Gn 48.21, 50.25).
Certamente a recepção não seria tão
festiva caso a situação dos hebreus no Egito fosse diferente, tal como estava
alguns dos judeus durante o exilio em Babilônia[3], ocasião em que muitos
preferiram a permanência em terras alheias, diante do pouco sofrimento e dos
muitos privilégios que tinham.
Com o retorno de Moisés no Egito, uns
estavam aprendendo, outros sonhando com grandes batalhas e, uma pequena parte
estava se alegrando com a visita de Deus.
A mesma reação, porém, não foi
demonstrada por Faraó que tão logo ouviu a solicitação de Moisés ordenou que
dobrassem as aflições. Sequer procurou se inteirar por completo dos planos de
Deus.
Mas com os hebreus a situação foi bem
diferente, pois ouviram atentamente e entenderam o plano, que consistia na
libertação total, para adorarem e celebrarem ao Senhor no deserto, porém
desejaram algo mais, quem sabe não se imaginaram derrotando o opressor e se
apoderando de seu território, mas haveria fé e força suficientes para isto?
continua...
[1] Havia
registros sobre o crime de Moisés no passado, pois os egípcios jamais deixariam
passar em branco, mas não houve condenação. Deus não permitiu.
[2] Os
hebreus viram que Deus falava boca a boca e por vista com Moisés (Ex 33.17; Nm
12.8).
[3] A
cultura babilônica fascinou e enganou a muitos judeus, que não retornaram para
Jerusalém. Muitos foram deportados por Nabucodonosor, mas poucos voltaram com
Zorobabel, Esdras e Neemias.
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