“toma agora o teu filho, o teu ÚNICO filho,
Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá;
e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas,
que eu te direi”
Introdução (Gn 22.2):
Dois
filhos ou somente um? Para todos os conhecidos de Abraão e para o mundo ele
tinha dois filhos, mas para Deus era somente um. Com o tempo o velho patriarca
assimilou a visão que o mundo tinha a seu respeito, pois considerava Ismael e
Isaque como filhos.
Para introduzir
Agar na história foi necessário um plano de Sara, então da mesma forma ela
interferiu para que mãe e filho (Hagar e Ismael) saíssem da presença de Abraão.
Esta foi a forma encontrada para que a velha natureza de Abraão (o passado)
saísse de perto de seu futuro (Isaque).
1) Como entender o agir de Deus?
Ismael:
fruto da tentativa humana de antecipar as bênçãos de Deus, por isto não poderia
ser aceito como herdeiro legitimo do patriarca.
Deus jamais permitiria que da estranha relação mantida entre Abraão e
Agar viesse a ser produzida a tão aguardada semente que salvaria a humanidade. Ismael,
o filho da desobediência e descrença, que não nasceu na família errada,
simplesmente foi resultado de um plano humano que trouxe sérias consequências.
Isaque:
O nascimento de Isaque suprimiu todas as dores e aflições. O tempo de espera
foi necessário para que o difícil, que poderia ser resolvido pelo homem, se
tornasse impossível, o que só pode ser resolvido por Deus.
2) Isaque: o único filho. A anulação da
primogenitura de Ismael
Ismael e Agar zombaram de Isaque quando viram Abraão dispensando maior
atenção ao seu unigênito. A inversão da posição dos filhos começou neste
momento, pois Ismael foi despedido junto com a mãe e Isaque foi promovido à
condição de filho UNIGÊNITO, anulando os privilégios da primogenitura do filho
da serva.
3) Pedido de Deus: “me dá o seu único filho, o
que você AMA HOJE”. Uma possível resposta de Abraão (se fosse nos dias atuais):
“Senhor, posso incluir o outro, o que eu DESPEDI ONTEM?”
Diante do pedido de Deus, não seria
estranho se Abraão se rebelasse de imediato ou se apresentasse argumentos para
não atender ao pedido de Deus. Um pedido difícil e impossível de ser
atendido. Qualquer ser humano apresentaria motivos para dizer não a Deus.
A
impressão era que Deus estava requerendo algo de volta, muito valioso, que havia
dado ao seu amigo (II Cr 20.7; Is 41.8). Mas o velho patriarca, em nenhum
momento ousou pensar em dizer não para Deus, preferiu seguir confiante no
livramento. Foi até ao fim, certo de que algo maravilhoso da parte de Deus, um
grande milagre, pudesse acontecer (Hb 11.18), ali mesmo diante de seus olhos.
4) “Senhor, posso incluir o OUTRO no presente,
tal como Sara inclui a OUTRA no passado?”
E
pensou Abraão: “Senhor, posso dar o meu primeiro filho? Posso fazer o mesmo que
Sara, tentar ajuda-lo nesta questão? Posso criar uma brecha no seu decreto? Se
o Senhor quiser eu vou ao deserto em busca de Ismael para lhe entregar em lugar
de Isaque. Não posso oferecer o outro? Largo tudo e saio correndo para
buscá-lo. Se quiser, me antecipo e faço tudo ao contrario à Sua vontade.
Anos mais
tarde, os hebreus estavam praticamente às portas de Canaã quando ouviram que os
maiores de vinte anos não entrariam na Terra Prometida (Nm 14,29-30). Todos
ouviram com atenção, alguns duvidando, outros acreditaram e um pequeno grupo,
assustado com a suposta “falta de sorte”.
Em
meio aquela multidão era possível que houvesse alguns que estivessem
comemorando o seu aniversário justamente naquele fatídico dia. Estes poderiam
dizer: "Mas logo no dia do nosso aniversário? É isto que ganhamos de presente?
Estamos perdendo o direito de entrarmos na Terra Prometida. Os erros não foram nossos?”
Mas não havia escapatória, pois se tratava de um decreto de
Deus. Quem poderia mudar esta decisão?
Não adiantava
mentir ou esconder a idade, pois Deus sabia, naquela ocasião, a hora e o minuto
em que cada um completava ou os que tinham seus vinte anos de vida. Deus jamais
erra. Sabia o que estava fazendo.
Da
mesma forma, para Abraão, não adiantava mentir ou apresentar OUTRO filho além
daquele que Deus havia pedido.
5) As
duas naturezas: velha e a nova:
Ismael
era filho do erro, da covardia, do desespero, por isso que o mundo considerava
e aplaudia. O mundo gosta e aplaude os nossos erros. Deus anulou a condição de
primogenitura de Ismael e elevou Isaque a condição de filho único. A natureza
velha foi anulada e para entrar em cena a nova natureza. Para a lógica humana
eram dois filhos, mas diante da Revelação da Palavra enxergamos apenas um, tal
como Deus.
Com o passar dos tempos, pode ser que Abraão tenha
concordado com a visão que o mundo ao seu redor tinha sobre seus dois filhos. O
mundo deve mudado sua concepção sobre o plano de Deus. Então foi preciso que
novamente Sara entrasse em ação. Ela havia introduzido Hagar (o erro) na
história e agora seria a responsável por tirar Ismael (a velha natureza) do
caminho. Um solavanco, uma chacoalhada em Abraão, um “acorda homem”. Despede
esse menino daqui, despede sua velha natureza agora.
6) A visão que o mundo tem de nós, não é a mesma de Deus. Para o mundo
todo Abraão tinha dois filhos, mas para Deus era somente um:
Quantas vezes, com o tempo,. começamos a
concordar com o mundo, com a visão que as pessoas tem de nós (sem futuro, sem
Deus, sem perspectiva, no vicio, na prostituição, fracassado, falido, nada
mudará sua vida e etc), até que um dia a velha natureza é despedida para entrar
em cena a nova natureza.
Não importa como as pessoas te enxergam e te consideram,
mas sim o que importa é como Deus te vê. Não importa como as pessoas te
consideram aqui em baixo, mas sim como Deus te vê lá de cima.
Não importa o que o mundo esta falando, não
importa o conceito e não importa como é te enxerga. O mundo só consegue enxergar
e valorizar a nossa velha natureza (Ismael), mas Deus nos permite fazer uso da
nova natureza (Isaque) e isso é o que importa.
7) O Maligno diz: “quando eu quiser a sua velha natureza sobressairá
sobre a nova”
Deus não trabalha com dupla personalidade, ou
é ou não é. A valentia do passado, a disposição, a coragem, que somente serviam
para matar e fugir, nada disso Deus usa, pois Ele faz tudo novo, tal como fez
com Moisés em seu chamado, quando recebeu nova disposição, ousadia e coragem
para se apresentar diante dos grandes como um verdadeiro homem de Deus.
O Maligno até pode pensar em fazer fluir em
nossas vidas a nossa velha natureza, mas temos o remédio, a receita para
vencê-lo. Aqueles que fazem uso da nova natureza, sempre terão ao seu dispor o
socorro, o livramento, a proteção do Único e Verdadeiro Cordeiro que foi
sacrificado para tal.
Abraão, quando foi aprovado por Deus recebeu
um grande presente para seguir em frente vencendo o Maligno. Sequer teve que
correr atrás do Cordeiro, o Único que poderia ser entregue em sacrifício
naquele monte. Somente estendeu a mão para retirá-lo do mato. Deus reservou
para Si um Cordeiro.
Muitas
vezes temos que vencer nossa velha natureza e deixar fluir a nova. Quando não conseguimos
enxergar essa realidade, Deus prepara alguém ao nosso lado para nos ajudar,
seja alertando, chacoalhando ou despertando. Mas ao nosso derredor temos o Maligno,
bramando como leão, sem contudo nos atingir, graças ao Cordeiro que está ao
nosso lado.