A CHEGADA à TERRA PROMETIDA
Estava chegando
ao fim o período de sofrimento, mas as lembranças vinham na mente dos hebreus.
Mesmo em escravidão no Egito, tiveram algumas vezes, a água, teto, comida, à
sua disposição, ou pelo menos foi isto que declararam a Moisés em pleno deserto
em um de seus inúmeros momentos de devaneios.
Foi justamente
nesta ocasião em que apresentaram ao mundo as suas três maiores mentiras:
- Primeira mentira: “é melhor servirmos aos egípcios do que morrermos neste deserto” (Ex 14.12);
- Segunda mentira: “no Egito tínhamos carne e pão até fartar” (Ex 16.3);
- Terceira mentira: “no Egito comíamos peixe, pepinos, melões, cebolas e alhos” (Nm 11.5).
Não perderam pão
ou carne e tampouco deixaram para trás os benefícios trabalhistas que tinham no
Egito, na verdade não perderam nada. O pão, água, carne e trabalho eram tudo
ilusórios, meros pagamentos pelos trabalhos forçados a que foram submetidos.
A única perda,
sentida e irreversível, foi justamente a terra fértil que deixaram para trás,
que serviria unicamente para cobrir seus corpos inertes quando tombassem sem
vida, somente isto e nada mais. Eles perderam a terra para a própria sepultura.
Estavam perto de
Canaã, ansiosos por tomarem posse, porém ficaram perplexos ao ouvirem que não
entrariam naquelas terras e que a peregrinação continuaria naquele deserto até
que toda a geração liberta do Egito fosse dizimada, exceto dois, Josué, filho
de Num e Calebe, filho de Jefoné (Nm 14.29-30).
Após o episódio
com os filhos de Ruben e Gade, Deus declarou que os maiores de vinte anos não
entrariam na boa terra prometida (Nm 32.11).
E não adiantava
mentir, esconder a idade, pois Deus sabia muito bem quem eram os de vinte anos
para cima que havia perdido o direito à bênção. Ele estava no controle daquela
situação.
A reação do povo
ao ouvir esta mensagem foi um tanto quanto estranha, pois esperavam que não
fosse definitiva. Acreditavam na possível reversão da sentença, por isto
continuaram a jornada, certos de que, mais cedo ou mais tarde, seriam novamente
agraciados. Não entenderam que foram sentenciados a morte no deserto e jamais
entrariam em terras cananeias. Então conheceram a imutabilidade de Deus (Nm 23.19;
Ml 3.6), um de seus atributos naturais.
Caso imaginassem
que a peregrinação seria longa e que ao final não receberiam a bênção,
certamente teriam voltado ou então permaneceriam onde pudessem tirar seus
sustentos.
Realmente era um
povo de coração duro e de dura cerviz. Lembraram do passado[1], reclamaram no presente e
não perceberam que estavam se afastando da bênção do futuro. Foram anos
angustiosos até que toda a geração de murmuradores fosse consumida no meio do
deserto.
O passado deve servir de experiência, o
presente deve ser vivido e o futuro deve ser aguardado. Israel nos ensinou
muito, com seus erros, pois fizeram tanta questão das lembranças do Egito
(passado), que não viveram o deserto (presente) e não herdaram Canaã (futuro).
Isto nos ensina que não podemos dizer que os nossos dias passados foram
melhores que os atuais (Ec 7.10; Is 43.18) como Israel cansou de dizer a
Moisés.
Na verdade,
Israel havia perdido a noção do tempo, estava delirando em pleno deserto. Foram
cerca de quatrocentos e trinta anos de sofrida escravidão (Ex 12.41 cfe Gn
46.5-6), incluídos a estes, depois mais quarenta anos de caminhada no deserto,
que pareciam não ter fim (Nm 14.33-34; Dt 2.7; 8.2-4; 29.5; Js 5.6; At 7.36).
As lembranças do passado atormentaram o presente e influenciaram o futuro da
recém-criada nação.
Os hebreus não
atentaram para o processo longo que facilitaria o crescimento gradativo que se
daria em pleno deserto. Desejaram facilidades, nada mais que isto. Não
aproveitaram as oportunidades, não buscaram e não deram lado para o
desenvolvimento de algumas virtudes, presentes na vida dos salvos em Cristo.
Humildade para reconhecerem os erros, limitação e obediência à vontade de Deus.
Foram tirados do
Egito e guiados ao deserto para aprenderem a viverem pela fé, dependendo as
promessas de Deus. Isto seria fundamental para a criação da nação forte,
invencível e inabalável. Saíram sem mapa ou pistas, sem direção definida, um
grande desafio.
continua...
[1] Estavam
sentados junto às panelas, comiam carne, pão, peixes, legumes e frutas até se
fartarem, à base da troca pelos serviços prestados. Uma verdade com gosto de
mentira.
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