4ª MURMURAÇÃO - MOTIVO: SEDE
Na região do
Sinai, o povo avançava em direção a Terra Prometida, porém houve necessidade de
uma breve parada no monte Horebe[1], o
mesmo local onde Moisés havia encontrado, pela primeira vez, o “Eu sou”, fato
que concretizou e oficializou sua chamada e onde mais tarde o profeta Elias
também ouviria a voz de Deus (I Rs 19.13), portanto era e seria um lugar
especial para Israel.
A caminhada
continuava a passos largos, porém sem avanço satisfatório que pudesse animar ou
acalmar aquele povo. A experiência frustrante em Mara e a posterior fartura
vivida em Elim, o lugar de tranquilidade e repouso, com suas doze fontes e
setenta palmeiras, abriam precedentes para novas situações, fossem agradáveis
ou não.
Os mais ansiosos
aguardavam, a qualquer momento, mudanças, decepções, alegrias ou intempéries.
Outros imaginavam que o mar de rosas os seguiria até a entrada na Terra
Prometida.
Então o que temiam aconteceu, a situação
inesperada ou esperada por alguns, sofreu alteração. De uma hora para a outra,
a alegria e confiança adquiridos após a última intervenção de Deus em Mara deu
lugar ao desespero e descontrole. Em Refidim[2] pode se ouvir os primeiros
choros e reclamações pela falta de água.
Esta foi a primeira vez que reclamaram
pela falta de água, pois em Mara a reclamação foi pela qualidade.
A sede atacou e não poupou a ninguém. Era
de se esperar que este problema alcançasse aquele povo. Os hebreus saíram do
Egito com uma larga distância dos problemas, mas aos poucos foram perdendo a
vantagem que tinham e se deixaram alcançar pelo medo, murmuração, fome e sede,
os fatos geradores de muitos problemas.
Refidim, que deveria ser um local para descanso
e não para contenda, logo se tornou um inferno a céu aberto, como poderia ser
este local de refrigério se não havia como saciar a sede? A esperança seria os
céus disponibilizassem chuvas em abundância, ou o solo permitisse que águas
brotassem do subterrâneo, mas ninguém pensou no improvável, no inédito ou em
algo que somente poderia ser feito por Deus. Realmente era muito pouco para
quem já havia visto muito.
A situação era grave e Moisés sentiu o
peso da responsabilidade. Afinal todos esperavam alguma reação dele diante do
caos. Como de costume murmuraram e o caso foi levado ao conhecimento de Deus.
A MURMURAÇÃO
Quanto seria
necessário para suprir a sede de todo aquele amontoado de gente e animais? Será
que o ajuntamento de toda a água potável do planeta seria capaz de saciar o
povo? Independente de onde poderia vir ou a quantidade, o certo é que um
culpado foi novamente eleito e colocado à parede para apresentar soluções.
O mais estranho era que, por mais que
presenciassem a manifestação do poder de Deus, não conseguiam crer com
convicção, pois a fé a cada dia diminuía e o temor, aos poucos, desaparecia.
Era para ser ao contrário, mas os corações duros se revelavam e contagiavam um
a um.
“Tendo, pois ali o povo sede d’agua, o
povo murmurou contra Moisés e disse: Porque nos fizeste subir do Egito, para
nos matardes de sede, a nós e aos nossos filhos e ao nosso gado?” (Ex 17.3).
Todas as vezes
que iniciavam uma reclamação faziam questão de mencionarem o Egito e a suposta
fartura que tinham ou tiveram naquela nação. “Porque nos fizeste subir do
Egito?” Como tiveram coragem de perguntar isto? Moisés os fez subir do Egito
por que clamaram e foram ouvidos e também por que Deus havia decidido pela
libertação, nada mais do que isto. Não foi Moisés que pensou, sonhou, planejou
a saída. Todos tinham conhecimento desta situação.
Aquela situação era fruto da ignorância
espiritual, da dureza do coração e das incansáveis murmurações. Não foram
libertos para morrerem de sede, fome ou nas mãos dos inimigos.
Nenhum deles morreria de sede, nem seus
filhos ou muito menos os rebanhos, seria uma incoerência da parte de Deus caso
permitisse isto. A promessa da saída e chegada foi feita e não poderia ser
mudada ou anulada.
Ou mudavam o curso daquela caminhada,
voltando para o Egito, ou matavam o líder e elegeriam outro. Coragem para isto
teriam, pois a revolta era grande e serviria de combustível para que o caos se
instalasse. Seria apenas uma questão de tempo. A presença e atuação de um homem
de pulso firme era necessário.
continua...
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