3ª MURMURAÇÃO - MOTIVO: FOME
Os hebreus somente levaram pães asmos no momento em que saíram do Egito. Todo aquele amontoado de pessoas não prepararam provisões para a marcha da vitória, que seria longa. Tampouco pensaram ou tiveram condições de se armarem. O que pensaram naquele momento? Algo para comer cairia do céu? Água brotaria no chão? Armas[1] para os valentes e destemidos se defenderem dos ataques dos inimigos apareceriam do nada?
Ao primeiro som proporcionado pelas cordas vocais de Faraó, autorizando a saída, deram inicio a caminhada pelo deserto, sem saberem ao menos a distância que percorreriam e tampouco o tempo que levariam até o seu destino.Não houve necessidade de que Faraó repetisse a sua ordem. O grito: “sumam[2] daqui e adorem o seu Deus no deserto”, soou tão agradável aos ouvidos dos hebreus, que rapidamente se colocaram a disposição de Moisés para darem início à jornada. Estavam tão desejosos pelo fim do sofrimento que não atentaram para as limitações, doenças, medo do desconhecido e as agruras do deserto.
A MURMURAÇÃO
Depois do ocorrido em Mara os hebreus
foram para Elim e em seguida para o deserto de Sim (Ex 19.1,2). Esse era um
lugar inóspito, repleto de areia e pedra, porém um local perfeito para Deus
cuidar de seu povo, porém novamente diante de uma dificuldade preferiram a
murmuração, chegando ao cúmulo de desejar o retorno ao Egito (Ex 16.2,3).
O desespero foi geral, quando perceberam
que havia terminado aquela pequena provisão trazida do Egito, pois viram seus
filhos passando fome e não aceitaram aquela situação.
No entender da maioria, seria muito
difícil continuarem naquelas condições, mas o que poderiam fazer então?
Reclamar? Pedir autorização para o retorno? Ou ficariam se alegrando por uma
patética lembrança de uma suposta variedade e abundância dos alimentos que
haviam deixado para trás? Ou poderiam recordar os benefícios fictícios que
tiveram no Egito? Grandes conquistas trabalhistas, pão e água, raras vezes ao
dia e a terra, que serviria para cobrir seus túmulos.
Por sentirem que
a situação não lhes era favorável resolveram mentir para o pastor, imaginando
que estivesse enganando-o, mas Moisés, pela experiência e vivência, sabia que
tudo não passava de pretexto para justificarem suas reclamações vergonhosas e
sem motivos aparentemente justos.
Estavam ali
frente a frente um amoroso líder e um amontoado de extremistas radicais
separatistas que desejavam fundamentar suas murmurações.
Pela primeira vez
tentaram aplicar em Moisés três mentiras, as maiores já vistas até hoje na
história da humanidade, que repetiriam em outra ocasião (Nm 11.5). Disseram que
viviam junto às panelas de carne e que comiam pão até se fartarem no Egito (Ex
16.3), de fato isto até pode ter acontecido, mas não na geração liberta e muito
menos na anterior.
Se tivessem
defendido a tese de que esta fartura houvesse ocorrido nos primeiros anos após
a vinda de Jacó e seu clã (Gn 46.26,27; Ex 1.5; At 7.14), nos primeiros anos da
administração de José, pois habitaram na melhor região do Egito (Gn 47.11),
quem sabe Moisés tivesse acreditado.
Mas o que chateou Moisés foi quando alguns disseram, em nome de muitos, que seria melhor servir aos egípcios do que a Deus no deserto (Ex 14.12). O que havia na mente deles para pedirem autorização para o retorno? Quem poderia garantir que no Egito a vida seria diferente?
“E os filhos de Israel, disseram-lhe: Quem dera que nos morrêssemos por mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão até fartar! Porque nos tem tirado para este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão” (Ex 16.3).
No desespero, disseram que gostariam de
retornar ao Egito, porque seria melhor, mesmo que morressem na escravidão. Tudo
isto baseado em uma suposta condição digna de vida oferecida por aquela nação.
Agora como entender quando disseram: “quem dera fossemos mortos por Deus em
terras egípcias”, baseados em que? E com que autoridade ou intenções falaram
desta forma?
Em vez de reclamarem e vergonhosamente
mentirem, deveriam se alegrar no fato de terem chegado aos céus os clamores
durante o sofrimento no Egito[3], uma
grande benção alcançada.
Se realmente estivessem vivendo sentados
junto às panelas de carne e se comessem pão até se fartarem, como disseram,
certamente não teriam respondido afirmativamente ao chamado de Moisés para
saírem do Egito, tampouco aceitariam o desafio de enfrentar o desconhecido
deserto rumo a uma terra distante. Estavam cientes da dureza da caminhada e
desde o início foram avisados.
Foram muitos os benefícios recebidos de
Deus, desde a primeira visita de Moisés, portanto não haveria motivos para
dizerem que aqueles dias eram piores que os do passado (Ec 7.10; Is 43.18).
O passado deve servir de experiência, o
presente deve ser vivido e o futuro deve ser aguardado. Aquela geração nos
ensinou muito, com seus erros, uma vez que fizeram tanta questão de lembrarem
do Egito, o passado, que não viveram o deserto, o presente e portanto não
herdaram Canaã, o futuro glorioso.
Se voltassem sofreriam ainda mais, pois
os egípcios além de afligi-los em dobro, com trabalhos forçados, vingariam
também o sangue daqueles que morreram durante a décima praga e no mar Vermelho,
sem contar que fariam conta dos prejuízos com as perdas dos carros, cavalos e
armas.
Sabiam que a volta seria complicada, mas
mesmo assim optaram pela murmuração. No fundo não teriam coragem de marchar
para trás, pois tinham conhecimento ou então já se imaginavam que as nações os
viam com outros olhos e respeitavam-nos como uma grande potência[4].
Isto por si só já coibia qualquer
tentativa de guerra ou oposição. Não queriam perder o status de povo
independente, para serem novamente meros coadjuvantes na história da
humanidade.
Saíram do Egito com uma esperança enorme
de mudança para receberem uma grande bênção depois do deserto, porém não tinha
cabimento, na metade do caminho, voltarem ao mesmo sofrimento de antes no
Egito.
O agravante pior seria a humilhação sem
precedentes, o declínio moral e espiritual, pois ficariam abalados pela
vergonha e seriam presas fáceis do desvio doutrinário, da descrença em Deus e
em seus profetas. O pior de tudo isto é que ainda teriam que enfrentar o mar
Vermelho que não seria reaberto para os derrotados retornarem. Toda esta
situação poderia ser evitada, bastava se calarem.
Deveriam prosseguir a caminhada sem murmuração e sem mostrar insatisfação, pois os milagres, prodígios e maravilhas ocorridas davam-lhes a certeza da presença de Deus.
[1] No
fechamento do mar Vermelho os egípcios foram direcionados para a outra margem,
enquanto que suas armas, provavelmente ficaram a disposição dos hebreus.
[2]
Conforme Êxodo 12.31.
[3]
Conforme Ex 2.24; 3.9-10.
[4]Haja
vista o ocorrido com os egípcios e com os amalequitas e com os outros povos da
terra, logo no início da caminhada (Ex 14.27-31; 15.14-16; 17.13).
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