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sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Prefiro murmurar no deserto. As dez murmurações do primogênito. Capítulo 2

3ª MURMURAÇÃO - MOTIVO: FOME 

Os hebreus somente levaram pães asmos no momento em que saíram do Egito. Todo aquele amontoado de pessoas não prepararam provisões para a marcha da vitória, que seria longa. Tampouco pensaram ou tiveram condições de se armarem. O que pensaram naquele momento? Algo para comer cairia do céu? Água brotaria no chão? Armas[1] para os valentes e destemidos se defenderem dos ataques dos inimigos apareceriam do nada?

Ao primeiro som proporcionado pelas cordas vocais de Faraó, autorizando a saída, deram inicio a caminhada pelo deserto, sem saberem ao menos a distância que percorreriam e tampouco o tempo que levariam até o seu destino.Não houve necessidade de que Faraó repetisse a sua ordem. O grito: “sumam[2] daqui e adorem o seu Deus no deserto”, soou tão agradável aos ouvidos dos hebreus, que rapidamente se colocaram a disposição de Moisés para darem início à jornada. Estavam tão desejosos pelo fim do sofrimento que não atentaram para as limitações, doenças, medo do desconhecido e as agruras do deserto.

 

A MURMURAÇÃO

Depois do ocorrido em Mara os hebreus foram para Elim e em seguida para o deserto de Sim (Ex 19.1,2). Esse era um lugar inóspito, repleto de areia e pedra, porém um local perfeito para Deus cuidar de seu povo, porém novamente diante de uma dificuldade preferiram a murmuração, chegando ao cúmulo de desejar o retorno ao Egito (Ex 16.2,3).

O desespero foi geral, quando perceberam que havia terminado aquela pequena provisão trazida do Egito, pois viram seus filhos passando fome e não aceitaram aquela situação.

No entender da maioria, seria muito difícil continuarem naquelas condições, mas o que poderiam fazer então? Reclamar? Pedir autorização para o retorno? Ou ficariam se alegrando por uma patética lembrança de uma suposta variedade e abundância dos alimentos que haviam deixado para trás? Ou poderiam recordar os benefícios fictícios que tiveram no Egito? Grandes conquistas trabalhistas, pão e água, raras vezes ao dia e a terra, que serviria para cobrir seus túmulos.

Por sentirem que a situação não lhes era favorável resolveram mentir para o pastor, imaginando que estivesse enganando-o, mas Moisés, pela experiência e vivência, sabia que tudo não passava de pretexto para justificarem suas reclamações vergonhosas e sem motivos aparentemente justos.

Estavam ali frente a frente um amoroso líder e um amontoado de extremistas radicais separatistas que desejavam fundamentar suas murmurações.

Pela primeira vez tentaram aplicar em Moisés três mentiras, as maiores já vistas até hoje na história da humanidade, que repetiriam em outra ocasião (Nm 11.5). Disseram que viviam junto às panelas de carne e que comiam pão até se fartarem no Egito (Ex 16.3), de fato isto até pode ter acontecido, mas não na geração liberta e muito menos na anterior.

Se tivessem defendido a tese de que esta fartura houvesse ocorrido nos primeiros anos após a vinda de Jacó e seu clã (Gn 46.26,27; Ex 1.5; At 7.14), nos primeiros anos da administração de José, pois habitaram na melhor região do Egito (Gn 47.11), quem sabe Moisés tivesse acreditado.

Mas o que chateou Moisés foi quando alguns disseram, em nome de muitos, que seria melhor servir aos egípcios do que a Deus no deserto (Ex 14.12). O que havia na mente deles para pedirem autorização para o retorno? Quem poderia garantir que no Egito a vida seria diferente? 

“E os filhos de Israel, disseram-lhe: Quem dera que nos morrêssemos por mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão até fartar! Porque nos tem tirado para este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão” (Ex 16.3). 

No desespero, disseram que gostariam de retornar ao Egito, porque seria melhor, mesmo que morressem na escravidão. Tudo isto baseado em uma suposta condição digna de vida oferecida por aquela nação. Agora como entender quando disseram: “quem dera fossemos mortos por Deus em terras egípcias”, baseados em que? E com que autoridade ou intenções falaram desta forma?

Em vez de reclamarem e vergonhosamente mentirem, deveriam se alegrar no fato de terem chegado aos céus os clamores durante o sofrimento no Egito[3], uma grande benção alcançada.

Se realmente estivessem vivendo sentados junto às panelas de carne e se comessem pão até se fartarem, como disseram, certamente não teriam respondido afirmativamente ao chamado de Moisés para saírem do Egito, tampouco aceitariam o desafio de enfrentar o desconhecido deserto rumo a uma terra distante. Estavam cientes da dureza da caminhada e desde o início foram avisados.

Foram muitos os benefícios recebidos de Deus, desde a primeira visita de Moisés, portanto não haveria motivos para dizerem que aqueles dias eram piores que os do passado (Ec 7.10; Is 43.18).

O passado deve servir de experiência, o presente deve ser vivido e o futuro deve ser aguardado. Aquela geração nos ensinou muito, com seus erros, uma vez que fizeram tanta questão de lembrarem do Egito, o passado, que não viveram o deserto, o presente e portanto não herdaram Canaã, o futuro glorioso.

Se voltassem sofreriam ainda mais, pois os egípcios além de afligi-los em dobro, com trabalhos forçados, vingariam também o sangue daqueles que morreram durante a décima praga e no mar Vermelho, sem contar que fariam conta dos prejuízos com as perdas dos carros, cavalos e armas.

Sabiam que a volta seria complicada, mas mesmo assim optaram pela murmuração. No fundo não teriam coragem de marchar para trás, pois tinham conhecimento ou então já se imaginavam que as nações os viam com outros olhos e respeitavam-nos como uma grande potência[4].

Isto por si só já coibia qualquer tentativa de guerra ou oposição. Não queriam perder o status de povo independente, para serem novamente meros coadjuvantes na história da humanidade.

Saíram do Egito com uma esperança enorme de mudança para receberem uma grande bênção depois do deserto, porém não tinha cabimento, na metade do caminho, voltarem ao mesmo sofrimento de antes no Egito.

O agravante pior seria a humilhação sem precedentes, o declínio moral e espiritual, pois ficariam abalados pela vergonha e seriam presas fáceis do desvio doutrinário, da descrença em Deus e em seus profetas. O pior de tudo isto é que ainda teriam que enfrentar o mar Vermelho que não seria reaberto para os derrotados retornarem. Toda esta situação poderia ser evitada, bastava se calarem.

Deveriam prosseguir a caminhada sem murmuração e sem mostrar insatisfação, pois os milagres, prodígios e maravilhas ocorridas davam-lhes a certeza da presença de Deus.


[1] No fechamento do mar Vermelho os egípcios foram direcionados para a outra margem, enquanto que suas armas, provavelmente ficaram a disposição dos hebreus.

[2] Conforme Êxodo 12.31.

[3] Conforme Ex 2.24; 3.9-10.

[4]Haja vista o ocorrido com os egípcios e com os amalequitas e com os outros povos da terra, logo no início da caminhada (Ex 14.27-31; 15.14-16; 17.13).

Por: Ailton da Silva - 12 anos (Ide por todo mundo)

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