Páginas

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

O quase sacrifício consumado de Isaque


Recomendo a leitura deste texto
fonte: Os Patriarcas - coincidências ou repetições da história?

Os dois, pai e filho, foram protagonistas de uma das mais belas demonstrações de obediência a Deus registrada na Bíblia e este acontecimento marcaria para sempre suas vidas, pois foi o momento de maior tristeza vivido pelos dois, até então. Mesmo a separação de sua parentela no passado não houvera sido tão cruel para Abraão ou a partida de Jacó, no futuro, haveria de ser tão dolorosa, para Isaque, quanto aquele momento. Ali estava em jogo a vida de um filho e a fé[1] de um pai.

Deus havia pedido que entregasse seu filho em sacrifício, não o primogênito, o segundo ou um outro qualquer, mas sim o unigênito.

Mesmo com o coração condoído ele obedeceu e durante a caminhada veio a lembrança em sua mente das promessas feitas no passado. Como se cumpririam caso o menino fosse sacrificado? Teria outro filho ou Ismael requisitaria para si todos os direitos de primogênito e único filho vivo?

Ismael foi o primeiro filho e Isaque o segundo, mas como Deus requereu o único para aquele sacrifício? Os direitos e reconhecimento do primogênito foram anulados pelo aparecimento do unigênito[2]? Ou Deus havia se esquecido deste detalhe?

Abraão não conseguia entender[3] a vontade de Deus para a sua vida e a única solução foi trancar-se na solidão da sua alma e seguir adiante. Seria difícil Isaque não atentar para o peso da angústia que seu pai estava carregando e a princípio não entendeu tamanha tristeza, pois estavam prestes a entregarem um sacrifício a Deus, isto deveria ser motivo de alegria, mas como era submisso continuou calado.

O silêncio foi quebrado quando ele perguntou sobre o animal para o sacrifício, já que não estavam levando nenhum. O cordeiro será provido no momento certo, esta foi a resposta de seu pai, confiante na providência Divina.

O coração de Abraão chorava angustiado. Como seria difícil revelar ao filho que ele seria o cordeiro, pior seria tirar-lhe a vida. Como reagiria ao vê-lo inerte sobre o altar? No silêncio foi possível ouvir os pássaros, os ruídos e o barulho das lágrimas internas do pai que não foram fortes para escorrerem pelos seus olhos.

Mas que espécie de sacrifício racional seria aquele? Tristeza em vez de alegria? Perdas em vez de ganhos? Derrotas e não vitórias? Era isto que receberia por ter posto a mão no arado[4]? Era isto que Deus havia reservado por ter se auto anulado?

Desde a sua chamada, a sua única preocupação foi com a formação e preservação da nação prometida a ele. Sua vida, jornada e fé foram essencialmente baseadas e firmados nas promessas, não tinha mais vontade própria ou objetivos pessoais.

E o que recebia por toda a sua dedicação? Rótulo de assassino, louco, fanático, extremista entre outros. Sara o apoiaria? E os parentes o taxariam ainda mais, ou dariam graças, aos seus inúmeros deuses, por Abraão estar tão longe. Ló certamente diria que havia recebido um livramento, após a separação dos dois.

Quantos pensamentos, em fração de segundos? Quantas perdas materiais e espirituais? Seria melhor a rebelião e a fuga para bem longe? Mas para onde? Ele sabia que isto seria impossível, então o jeito foi se entregar cem por cento ao chamado sacrifício racional.

Foram várias as perguntas sem respostas durante a caminhada, porém as únicas duas que não foram feitas eram exatamente as que tinham as respostas prontas. Deus poderia ter perguntado a Isaque se era possível um pai ou uma mãe se esquecer de um filho. A resposta seria imediata, direta e afirmativa, porém ele jamais seria esquecido ou abandonado, mesmo naquela situação.

A segunda pergunta poderia ser de Isaque ao seu pai, pois ao vê-lo triste, poderia imaginar que tal situação fosse pela demora do cumprimento das promessas. Qual o motivo de tamanha tristeza? Ele estava indo para auxiliá-lo na administração do sacrifício e para ajudá-lo a provar sua fé e fidelidade a Deus.

Ao chegarem ao local do sacrifício, Abraão deixou os seus moços e o jumento[5], pois seria desnecessário aquele animal de carga, uma vez que tinha somente a lenha para carregar. O cordeiro para o sacrifício estava indo com os próprios pés.

Abraão subiu triste com o filho e atribuiu a ele a tarefa de carregar a madeira para o próprio[6] sacrifício. Que peso, que responsabilidade caíra sobre os ombros daquele jovem. Como o pai via aquela cena? O que imaginava ou o que filme passava rapidamente em sua mente?

Havia chegado o momento de todos os sonhos de Abraão caírem por terra. Se o filho fosse morto, fatalmente seus planos quanto à sua descendência não seriam cumpridos, uma vez que não teria mais filhos para a continuidade.

Diante do altar ergueu o cutelo, mas neste instante ouviu a voz do anjo do Senhor dizendo que não finalizasse o sacrifício, já que ele havia provado que temia a Deus.

Abraão, que chorava ante a atitude que deveria tomar, sorriu, abraçado a seu filho, pelo livramento recebido. Ele subiu com a promessa ao lado e desceu com ela. Não perdeu o foco e sua fé foi honrada.

Sequer teve o trabalho de descer para ordenar que um de seus moços fosse atrás de algum cordeiro para completar o sacrifício. Ele olhou para os lados e não conseguia contemplar nada, mas mesmo assim não se desesperou. Virou-se[7] e viu um cordeiro enroscado entre o mato. Isto prova que Deus sempre está à retaguarda[8], provendo o que precisamos. Bastou esticar a mão e pegá-lo, pronto, o seu serviço sacrificial estava completo.

Jamais conseguiríamos imaginar a alegria[9]. Um sentimento que somente ambos poderiam descrever, em virtude da tensão vivida durante o trajeto e os cruciais minutos que antecederam o sacrifício.

Ter saído da terra de seus pais, para depois ser presenteado com um filho na velhice, que anos mais tarde foi o instrumento usado para provar a sua fidelidade, foram a base da segurança de Abraão para aguardar o cumprimento das promessas.


[1] A fé do pai ajudaria a salvar a vida do filho.
[2] Vide teoria da inversão no capítulo 3.
[3] Abraão deveria deixar no altar o que ele não queria deixar, o filho, que então sairia de seus cuidados e seria entregue para Deus.
[4] Não estava apto (Lc 9.62) a herdar as bênçãos de Deus?
[5] O jumento representava toda a carga negativa que trouxe desde a sua partida. Ele resolveu deixar para que o sacrifício fosse leve e agradável a Deus.
[6] Tal com Jesus que carregou sua cruz, Isaque apareceu no cenário bíblico carregando a lenha para o próprio sacrifício.
[7] Deus sempre provê às nossas costas, nunca na frente
[8] Muitas vezes esperamos as bênçãos de Deus à nossa frente, queremos enxergar.
[9] Um encontro a três. O momento que deveria ser trágico e que fatalmente seria lembrado pela família por todas as gerações seguintes, terminou de forma glorioso.

Por: Ailton da Silva - 7 anos (Ide por todo mundo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário