Segue teoria desenvolvida sobre a inversão da primogenitura, executada por Deus nas famílias dos patriarcas. Este texto faz parte do livro: Os patriarcas. Coincidências ou repetições da história (Ailton Silva).
Ismael foi o filho de
Abraão com Agar, o primeiro, enquanto que Isaque foi o único com Sara, por
isto, foi chamado de filho da promessa, o unigênito. Aos nossos olhos os
dois teriam direito a participação e reconhecimento nas mesmas proporções no
grande plano de Deus, respeitando-se a ordem de nascimento, primogênito e o
outro, porém na ótica Divina a história foi diferente, somente um poderia ser
incluído neste contexto e caberia a quem decidir? O mais novo deveria respeitar
o primogênito?
“E disse Deus: Na verdade, Sara, tua mulher, te dará um
filho, e chamarás o seu nome Isaque; e com ele estabelecerei o meu concerto;
por concerto perpétuo para a sua semente depois dele”. (Gn 17.19)
A promessa era
grandiosa, mas para o cumprimento seria necessário apenas um filho. Neste
episódio não haveria espaços para o “filho da serva”, por isto era preciso uma
intervenção Divina para inverter esta situação.
Em quase todas as
gerações dos patriarcas, as mulheres tiveram dificuldades para gerarem seus
respectivos filhos, e ao primeiro sinal de sucesso, devido a intervenção
Divina, eles se deparavam com outro grande problema, que deveria ser resolvido,
não pelo homem, que não reunia condições para tal, mas por Deus:
- Ismael[1] foi o primeiro filho de Abraão, mas não estava nos planos de Deus, por isto foi despedido juntamente com sua mãe. Isaque[2] foi então promovido à condição de unigênito e este seu título anulou todos os privilégios do seu irmão primogênito;
- Esaú foi o primogênito, mas Jacó foi o escolhido para dar continuidade aos planos de Deus, por isto, as duras penas, recuperou o que deveria ser seu, se não fosse assim ele não teria alcançado inúmeras vitórias em sua vida;
- José foi o décimo primeiro filho de Jacó, mas precisava receber atenção e status de primogênito, pois foi o primeiro filho da mulher que seu pai realmente amou desde o princípio. O problema seria a reação de seus irmãos e caso a Lei mosaica estivesse em vigor, certamente Jacó teria problemas[3];
- Ruben, primogênito de Jacó, caráter vingativo, inconstante e duvidoso, por isto não herdou a maior de todas as bênçãos já direcionadas a um homem, não foi o ascendente do Rei dos reis, o Messias. Este privilégio foi repassado para seu irmão Judá, mesmo tendo cometido, da mesma forma, erros durante sua vida;
- Manassés, o primogênito, teve que aceitar seu avô, Jacó, abençoar seu irmão, mais novo, Efraim, com as suas bênçãos de direito, mesmo José tendo preparado a ordem dos dois, antes de adentrarem no quarto do velho patriarca.
Bem antes da geração
patriarcal, Deus já havia trabalhado na primeira família a fim de inverter a
ordem dos filhos de Adão, pois Caim, o primogênito, não havia alcançado graça
no seu sacrifício, enquanto Abel, o segundo filho, se tornou o primeiro homem a
agradar a Deus, por isso recebeu o direito de contemplar a aceitação de seu
sacrifício.
A falta de comunhão
com Deus impediu a geração adâmica de perceber que não se tratava da única ou
última chance para oferecerem sacrifícios. Mesmo que a freqüência fosse anual,
teriam outras oportunidades no futuro. A falta deste discernimento contribuiu
para aquela tragédia familiar.
Todas estas inversões
foram administradas por Deus, para corrigir situações constrangedoras, fruto
das rivalidades, disputas, privilégios dado a um filho em detrimento dos
outros, falhas de caráter, condutas repreensíveis ou para mostrar que o
controle de tudo sempre esteve em suas mãos.
O mais importante e
bonito destas inversões é que elas não foram simples troca de posições, pelo
contrário, pois tiveram um significado bem mais profundo, uma vez que
representaram a escolha de homens e a eleição de uma nação.
No primeiro caso a
intervenção de Deus foi para consertar o erro de Sara, que não soube esperar e
tentou resolver o problema utilizando uma terceira pessoa.
A inversão ocorreu
logo após Isaque ser desmamado, quando Agar e Ismael foram despedidos, pois
preferiram criar problemas, em vez de apresentarem soluções. Mãe e filho zombaram,
quando perceberam que o pai dispensava toda sua atenção ao seu legitimo
herdeiro. Abraão, a princípio, foi contrário a expulsão, mas depois recebeu a
confirmação de que era necessária.
Isto foi antes do
sacrifício não consumado de Isaque, fato este que amargurou ainda mais os
corações do casal, pois poderiam pensar que Deus estivesse cobrando deles, o
fato de terem despedido mãe e filho.
No caso de Jacó e
Esaú, os problemas foram motivados pelas disputas entre dois irmãos, que desde
o ventre, já se mostravam rivais. Gêmeos separados por fração de segundos no
nascimento, deram valores diferentes a primogenitura, um desejava demais e o
outro desprezava.
No terceiro caso o
problema de Jacó foi a incapacidade demonstrada para criar seus filhos em condições
iguais, talvez este tenha sido o motivo pelo qual Deus, primeiramente exaltou
José entre seus irmãos, para depois retirá-lo a fim de confirmar sua chamada e
prosperar sua vida.
No quarto caso foi necessária a
inversão, pois o primogênito, Ruben, profanou a casa de seu pai, por isto não
reunia condições morais e psicológicas para herdar a maior de todas as bênçãos.
Seu irmão Judá herdou este direito, mesmo se envolvendo com a sua nora, Tamar,
imaginando ser ela uma prostituta. O plano dela consistia em prover para a
família um herdeiro legítimo, já que não havia gerado filhos com os irmãos Er e
Onã, seus maridos anteriores. O resultado foi a inclusão de Perez, seu filho,
na genealogia de Jesus.
No quinto caso houve a
necessidade da inversão, pois Deus queria mostrar que as nossas grandezas de
tempo, espaço, convenções, determinações, escolhas, valores e esquemas não
afetam a sua soberania, o seu caráter e, tampouco influenciam em suas decisões.
José, sabendo da
limitação física de seu pai, preparou todo o esquema antes, para que quando
seus filhos entrassem no quarto do avô, recebessem as suas respectivas bênçãos.
O primogênito ficaria a direita e o mais novo à esquerda, porém na hora de
abençoar Deus permitiu que Jacó cruzasse seus braços e invertesse as bênçãos,
para mostrar que não se sujeita à esquemas humanos, e desta forma, Efraim
recebeu as bênçãos reservadas ao primogênito.
Todas as inversões
foram necessárias e nenhuma delas surtiu efeito contrário ao que Deus desejava,
pois todos os objetivos foram alcançados.
A intenção de Deus era
revolucionar este conceito, pois a humanidade, desde o início, não entendeu o
seu real significado, fizeram uma ideia errada. Uma valorização,
desnecessária, para o primeiro filho em detrimento dos outros e um sentimento
de inferioridade diante de uma situação irreversível, pelo menos para o homem.
Deus sempre primou
pela igualdade entre os homens, tanto que sua intenção foi mostrar que o
direito da primogenitura seria algo bem mais sério do que somente a ordem de
nascimento.
Logo na primeira
família isto ficou evidente, pois Caim, o primogênito, o qual seus pais
pensaram ser o cumprimento da promessa[4]
que receberam ainda no paraíso, decepcionou a todos, bem diferente de seu
irmão, o segundo, que acabou se tornando o primeiro homem a ter o seu sacrifico
aceito.
A ordem de nascimento
não era o que mais importava, o que Deus desejava era encontrar o primeiro e
verdadeiro adorador, um para agradá-lo.
[1]
Ismael foi circuncidado aos treze anos de idade (Gn 17.25).
[2]
Isaque foi circuncidado aos oito dias de idade (Gn 21.4).
[3]
Conforme a Lei, quando o homem tivesse duas mulheres, o primogênito seria o
primeiro filho, independente do amor ou não que o pai sentisse pela mãe (Dt
21.15-17).
[4] A
semente, descendente da mulher ferirá a cabeça da serpente (Gn 3.15 - ARA).
Por: Ailton da Silva - 6 anos (Ide por todo mundo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário