PROPOSTA
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Milagre: pouco/muito; escassez/abundância;
vazio/cheio;
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Benção: resposta divina às necessidade humana;
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Milagres antecedidos por clamores;
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A viúva quase esqueceu o que possuía;
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Feche a porta e veja o milagre. Não compartilhe;
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Instrumentos humanos: portas-vozes de milagres;
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Palavra de Deus: agente causador de milagres;
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Objetivo dos milagres: fim do sofrimento humano;
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Os milagres direcionam nossa atenção para Deus.
INTRODUÇÃO
A multiplicação do
azeite na casa da viúva (2 Rs 4.1-7), é uma das mais surpreendentes passagens
bíblicas, pois o pouco tornou-se muito, o escasso se converteu em abundância e
o vazio ficou cheio. Neste episódio vemos a graça de Deus alcançando os
corações desesperados, uma “revelação do amor, da
compaixão e do cuidado de Deus por uma pobre viúva de um profeta e seus dois
filhos”. Um milagre, que alterou a “natureza criada por Deus, feita pelo
próprio Deus e para glória de Deus”, ocorreu em decorrência da bondade de Deus
e em resposta a uma fé obediente.
Os milagres possuem
um caráter confirmador da Palavra, do amor e poder de Deus (Mc 16.20), mas ele
não é a peça principal, é apenas um coadjuvante, haja vista vir em segundo
plano, sempre após a Palavra, para confirmá-la. Caso isto não ocorra, os
milagres ou operações serão de origem maligna ou frutos da mente humana (2 Ts
2.8).
Eliseu, o sucessor
de Elias, não assumiu sua posição de uma hora para outra, pelo contrário, foi
preparado. Ele foi o profeta que mais fez milagre no Antigo Testamento, depois
de Moisés, exatamente o dobro de Elias. Naquela oportunidade ele foi o
instrumento pelo qual Deus socorreu a viúva do profeta temente. Havia um
milagre na casa da viúva (cf 1 Co 6.19) e dependeria somente dela e de seus
dois filhos para que fosse concretizado. Deus operou muitos milagres através da
instrumentalidade de Elias e Eliseu, justamente para que o povo entendesse que
ainda existia um Deus em Israel e que Ele estava bem presente.
Aquela viúva (2 Rs
4.1-7) se viu em uma situação desesperadora, sem solução, por isto se
apresentou a Eliseu a fim de receber algum conforto ou orientação. Sobre isto o
professor Luciano de Paula Lourenço escreveu:
“[...] Achando-se incapaz de saldar a dívida, enfrentou a possibilidade do
credor tomar seus dois filhos para um período de escravidão. O texto em
Levítico 25:39-42 determina que se o devedor não pudesse pagar a sua dívida,
ele era obrigado a servir ao credor como escravo até o ano do jubileu. Deus,
porém, interveio e concedeu-lhe a provisão suficiente para atender a
necessidade urgente dela e de seus dois filhos. De acordo com o historiador
Flavo Josefo, “a viúva desta história era a esposa de Obadias, o mordomo de
Acabe em 1Reis 18. O motivo de a família estar endividada era que Obadias havia
sustentado os 100 profetas do Senhor que ele escondera de Acabe e Jezabel.”
a) A dívida do
marido:
Conforme relata
Flávio Josefo, o marido da viúva, Obadias (1 Rs 18.4, 13), contraiu aquela
dívida, justamente em virtude do socorro prestados aos profetas perseguidos por
Jezabel, uma causa nobre. Aquela dívida não fora resultado de ganância,
egoísmo, materialismo ou exagero da parte dele, tampouco o da viúva, haja vista
que elas não tinham credito ou por não receberem confiança da sociedade
judaica, certamente não teria como contrair tamanha divida, após o falecimento
do marido.
A pobre viúva não
conseguiu saldar a divida, motivo pelo qual seus filhos seriam levado como
pagamento, já que a Lei mosaica permitia a escravização de um judeu, que não
conseguisse saldar suas dívidas, mas por apenas seis anos (Ex. 21.7; Lv. 25.39;
Ne. 5.5; Is. 50.1; Jr. 34.8-11).
I. A MOTIVAÇÃO DO
MILAGRE
As bênçãos de Deus
vêm em resposta a uma necessidade humana. O milagre ocorrido na casa da viúva
de um dos discípulos dos profetas confirma esse fato (2 Rs 4.1-7). Aquela
mulher perdera primeiramente o marido e agora estava na iminência de ver seus
dois filhos serem levados pelos credores, caso não quitasse a dívida e para
ajudar, a sua condição perante a sociedade judaica não permitia criar
expectativas.
O credor não estava
fazendo nada de anormal, imoral ou desumano, haja vista sua ação estar
respaldada na Lei Mosaica (Ex. 21.7; Lv. 25.39; Ne. 5.5; Is. 50.1; Jr.
34.8-11). Um credor poderia obrigar um devedor a saldar a sua dívida através do
trabalho servil ou escravo (2 Rs 4.1b).
Essa mulher,
portanto, necessitava urgentemente que algo fosse feito para tirá-la daquela
situação. Sabedora que o profeta Eliseu era um homem de Deus, recorreu a ele
(v.1). Ela buscou algo além da Lei e deu
de cara com a misericórdia de Deus. A Escritura mostra que o Senhor socorre o
necessitado (Sl 40.17; 69.33; Is 25.4; Jr 20.13), batendo de frente contra as
tradições, costumes e injustiças. Sobre isto o professor Luciano de Paula
Lourenço escreveu:
“Eliseu era compromissado com Deus, não com as tradições, por isso não
se calou frente à injustiça, nem se deixou moldar pela teologia deturpada
daqueles dias. Em seu ministério, mais do que no de qualquer outro profeta, a
mulher foi valorizada e seus direitos respeitados. [...] (Tg 1:27). Foi naquele
difícil contexto que a esposa de um seminarista ficou viúva. Como herança, o
aprendiz de profeta deixou-lhe dois filhos para criar e uma dívida para saldar.
Não havia pensão, não havia seguro de vida e não havia ninguém por ela. Por
isso, não tardou surgirem os “abutres do lucro fácil”, ávidos por confiscar-lhe
os filhos. Não tendo a quem mais recorrer, a pobre viúva apelou ao profeta
Eliseu, apesar de saber que este também não possuía recursos financeiros.
Confiava que ele encontraria em Deus uma saída para a crise. Ela sabia que o
profeta Eliseu era um homem de Deus, por isso recorreu a ele (2Rs 4:1).
O milagre ocorrido
na casa da viúva aconteceu como resposta a uma carência humana, mas também
graças à compaixão divina. Não foi somente por ser pobre ou pela sua situação
que ela foi socorrida, ou tampouco por ter sido esposa de um dos discípulos dos
profetas (2 Rs 4.1), mas sim porque ela clamou (do hebraico tsa aq, clamar por
ajuda, chorar em voz alta) ao profeta Eliseu (2 Rs 4.1), sensibilizando-o. Deus
se compadeceu daquela mulher sofredora. O Senhor é compassivo, misericordioso e
longânimo (Êx 34.6; 2 Cr 30.9; Sl 116.5).
II. A DINÂMICA DO MILAGRE
1. UM POUCO DE
AZEITE.
Diante do clamor da
viúva, o profeta Eliseu perguntou-lhe: “Que te hei de eu fazer? Declara-me que
é o que tens em casa. E
ela disse: Tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite” (2 Rs
4.2).
Eliseu não sabia o
que fazer, de início, mas como fora discipulado por Elias, logicamente percebeu
que aquela situação era parte integrante de um possível milagre, tal como
aconteceu com a viúva de Sarepta, que estava em situação pior que aquela (1 Rs
17.9-12). Quando ela disse que ainda tinha uma pequena botija de azeite, tal
com a de Sarepta, que tinha somente um punhado de farinha e um pouco de azeite
(1 Rs 17.12), rapidamente a ordenou que fosse e tomasse vasos emprestados dos
vizinhos, muitos, e que depois entrasse em sua casa, juntamente com os filhos e
fechasse a porta. Pronto, o milagre estava a caminho. A chave da vitória
daquela mulher não foi no recebimento das bênçãos, mas sim na sua atitude após
o recebimento, pois ela novamente se apresentou ao profeta e pediu orientações.
Ela ouviu: “vá, vende, pague a dívida e viva do resto”.
O milagre aconteceu
na esfera familiar, já que os seus filhos também creram na palavra do profeta.
A benção saiu do interior de sua casa, não veio de longe ou das mãos de
terceiro. A multiplicação do pouco caracteriza milagre na vida do homem. Sempre
tem que existir o pouco para que o muito fique evidente após a ação de Deus.
“Do nada para o muito, somente foi visto no momento da criação, quando Deus
ordenou que existissem”. O ponto de partida do milagre para as nossas vidas
sempre é o pouco que temos, mesmo que seja como aquela mulher, que de tão pouco
que possuía, não se lembrava.
2. UMA FÉ
OBEDIENTE.
As orientações do
profeta Eliseu foram muitas claras e audíveis, não teria como aquela mulher
questionar ou cumprir somente a metade na esperança de resultado.
A solução para o
problema da viúva estava nas próprias mãos dela, bastava seguir à risca as
ordens reveladoras do profeta (2 Rs 4.3-5), tal como Eliseu faria mais tarde
com o leproso Naamã, chefe do exercito sírio, o qual também recebeu do profeta
ordens que no início pareciam estranhas e desnecessárias, mas vinham do próprio
trono do Altíssimo (2 Rs 5.10):
a) Em primeiro
lugar, Eliseu chamou a mulher à ação: “Vai, pede para ti vasos emprestados”. A
fé é demonstrada pela ação (Tg 2.17), tal como demonstrado pelos amigos do
paralítico de Cafarnaum que os conduziram a presença de Jesus (Mc 2.1-12). Ela
poderia ter resistido a esta ordem, haja vista que já era do conhecimento de
seus vizinhos a sua situação precária. Seria possível que alguns deles se
recusassem a emprestar-lhe os vasos, pois ela poderia pegá-los e vendê-los. “A
ocasião poderia fazer uma ladra”.
b) Em segundo
lugar, o milagre deveria acontecer de portas fechadas: “Fecha a porta”, disse o
profeta. Outro ponto que ela poderia questionar, pois até então a sua vida fora
um livro aberto. Todos sabiam de seu sofrimento e viam a sua precariedade,
porque então no momento da vitória, no momento em que a sua tristeza seria
transformada em alegria, deveria ser às portas fechadas? Porque aqueles que a
apontaram, riram, zombaram não poderiam então contemplar Deus trabalhando em
sua vida? Os curiosos ou os mais próximos devem ter ficado em frente esperando
o resultado. De repente surge a mulher com um semblante diferente, jovial,
alegre, com voz trêmula, e ao lado os seus filhos, que não se contiveram e
saíram correndo. A notícia se espalhou rapidamente. Jeová é Deus, Jeová é Deus.
Porta fechada (cf
Mt 6.6) é antônimo de publicidade desenfreada. Jesus nunca precisou disto, Ele
“não fez propaganda de suas curas com o intuito de criar uma reputação
sensacionalista, nem como pretexto para arrecadar dinheiro”, pelo contrário,
pois em alguns casos, os que recebiam as curas foram orientados a não contarem
para ninguém (Mt 8.1-4, 9.27-31), bem diferente dos homens, que buscam a
notoriedade, gosta de aparecer e vangloriar-se. Deixam a porta aberta para
serem vistos!
A mulher obedeceu
ao profeta, e o azeite começou a fluir. E, assim, salvou seus filhos da
escravidão, pagou as dívidas e viveu dignamente.
III. OS
INSTRUMENTOS DO MILAGRE
1. O INSTRUMENTO
HUMANO.
Eliseu foi um
grande homem de Deus (2 Rs 4.7, 9, 16; 6.9), um instrumento para operação dos
milagres. Deus sempre usou homens valorosos, corajosos, que não mediram
esforços durante a execução de seu plano. Sobre isto o professor Francisco de
Assis Barbosa escreveu:
“Na galeria dos varões
valorosos de Deus não há lugar para covardes, tímidos, omissos, nem
acomodados! De pronto o Senhor mandou Gideão dispensar os medrosos
da luta (v. 3). Em Deuteronômio 20, temos instruções do Senhor para
seu povo em guerra. Eis as palavras que o sacerdote deveria dizer ao
povo [...] (vs. 3 e 4). Deus ainda instruiu os oficiais a falarem ao
povo [...] (V. 8). Observe os exemplos de confiança no poder do
Senhor e coragem para lutar em Davi (I Sm 17:24 e 42-44) e Jônatas (I Sm 14:6 e
14). Em Levítico 26, nós aprendemos que o medo é conseqüência de desobediência
ao Senhor! No verso 12, Deus promete: Andarei no meio de vós, e
serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo. Entretanto, o Senhor
avisa das conseqüências de o seu povo não obedecer a seus mandamentos [...]
(vs. 36 e 37). O homem de Deus é um soldado corajoso porque o Espírito que está
nele não é o espírito de covardia. Em II Tm 1:6-8, o apóstolo
Paulo afirma que Deus nos deu o Espírito: de poder, de amor e de
moderação. Isto é suficiente para nos capacitar a testemunhar de
nosso Senhor corajosamente e a enfrentar toda e qualquer adversidade. [...] Em
1Tm 6.11, o apóstolo Paulo usa a expressão – “HOMEM DE DEUS” - dirigindo-se a
um jovem chamado Timóteo. Timóteo talvez estivesse passando por muitas pressões
e possivelmente era um jovem com muitas fragilidades, mas certamente elas não
podiam impedir que ele fosse esse Homem de Deus. Paulo via a Timóteo como um
Homem de Deus”
Deus usou Abraão,
para formar a uma nação (Gn 12) e para através dela revelar seu plano de
salvação à humanidade. Usou Moisés para tirar os israelitas do Egito (Êx
4.1-17). Paulo foi escolhido para levar a mensagem do Evangelho aos gentios e
nobres (At 9.15), tal como Pedro (At 10 — 11) e Jesus, encarnado, glorificado
foi o instrumento maior que nos proporciona a salvação (Jo 1.1,18; Fp 2.1-11).
No episódio da
viúva, Deus usou muitos de seus vizinhos como instrumentos e alguns sequer
perceberam. Eles confiaram nas palavras da viúva e de seus filhos e emprestaram
seus vasos.
2. O INSTRUMENTO DIVINO.
Quando uma grande
fome assolava Samaria, o profeta Eliseu profetizou abundância de alimentos (2
Rs 7.1), algo pouco provável para a época, a ponto de o capitão, em cujo braço
o rei se apoiava, dizer ironizado que seria impossível que aquilo se cumprisse,
mesmo que janelas fossem abertas no céu (2 Rs 7.2), mas a profecia cumpriu-se
exatamente como Eliseu havia predito (2 Rs 7.16-20).
Este fato ocorrido
em Samaria, tanto quanto o caso daquela viúva, colocam a Palavra do Senhor como
agente causador do milagre e este por sua vez é colocado como agente
confirmador. Tudo aconteceu “segundo a palavra do Senhor” (2 Rs 7.16). O que o
Senhor faz, Ele o faz através de sua Palavra.
IV. O OBJETIVO DO
MILAGRE
1. UMA RESPOSTA AO
SOFRIMENTO.
Todos os milagres
realizados por Eliseu deixam bem claro que eles ocorreram em resposta a uma
necessidade humana e também ao sofrimento (2 Rs 4.1-38; 5.1-19; 6.1-7), prova
de que Deus nos assiste em nossas limitações e dificuldades. O Novo Testamento
mostra-nos que o Senhor Jesus libertava e curava porque se compadecia do
sofrimento humano (Lc 13.10-17; Mc 1.40-45).
2. GLORIFICAR A
DEUS.
Os milagres,
portanto, são respostas de Deus ao sofrimento humano, todavia, eles não se
centralizam no homem, mas sim, em
Deus. Os milagres narrados nas Escrituras objetivam a glória
de Deus. Em nenhum momento, encontramos os profetas buscando chamar a atenção
para si através dos milagres que realizavam nem tirarem proveitos deles,
promovendo espetáculos. Quem tentou fazer isso e beneficiar-se de forma
indevida foi Geazi, o servo de Eliseu. Entretanto, quando assim procedeu foi
severamente punido (2 Rs 5.20-27).
CONCLUSÃO
O milagre da
multiplicação do azeite é um testemunho do poder de Deus, que se compadece dos
sofredores que o buscam de todo o coração. O foco, portanto, dessa bela
história não é a viúva nem tampouco o profeta Eliseu, mas o Senhor que através
da instrumentalidade do seu servo abençoa essa pobre mulher. A história faz-nos
lembrar um outro feito extraordinário e muito mais relevante do que esse: a
multiplicação dos peixes e pães por nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ele
foi, é e sempre será a resposta a todo sofrimento humano.
Por: Ailton da Silva - 7 anos (Ide por todo mundo)
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