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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Relembrando - para lição 9


PROPOSTA
          Milagre: pouco/muito; escassez/abundância; vazio/cheio;
          Benção: resposta divina às necessidade humana;
          Milagres antecedidos por clamores;
          A viúva quase esqueceu o que possuía;
          Feche a porta e veja o milagre. Não compartilhe;
          Instrumentos humanos: portas-vozes de milagres;
          Palavra de Deus: agente causador de milagres;
          Objetivo dos milagres: fim do sofrimento humano;
          Os milagres direcionam nossa atenção para Deus.

INTRODUÇÃO
A multiplicação do azeite na casa da viúva (2 Rs 4.1-7), é uma das mais surpreendentes passagens bíblicas, pois o pouco tornou-se muito, o escasso se converteu em abundância e o vazio ficou cheio. Neste episódio vemos a graça de Deus alcançando os corações desesperados, uma “revelação do amor, da compaixão e do cuidado de Deus por uma pobre viúva de um profeta e seus dois filhos”. Um milagre, que alterou a “natureza criada por Deus, feita pelo próprio Deus e para glória de Deus”, ocorreu em decorrência da bondade de Deus e em resposta a uma fé obediente.

Os milagres possuem um caráter confirmador da Palavra, do amor e poder de Deus (Mc 16.20), mas ele não é a peça principal, é apenas um coadjuvante, haja vista vir em segundo plano, sempre após a Palavra, para confirmá-la. Caso isto não ocorra, os milagres ou operações serão de origem maligna ou frutos da mente humana (2 Ts 2.8).

Eliseu, o sucessor de Elias, não assumiu sua posição de uma hora para outra, pelo contrário, foi preparado. Ele foi o profeta que mais fez milagre no Antigo Testamento, depois de Moisés, exatamente o dobro de Elias. Naquela oportunidade ele foi o instrumento pelo qual Deus socorreu a viúva do profeta temente. Havia um milagre na casa da viúva (cf 1 Co 6.19) e dependeria somente dela e de seus dois filhos para que fosse concretizado. Deus operou muitos milagres através da instrumentalidade de Elias e Eliseu, justamente para que o povo entendesse que ainda existia um Deus em Israel e que Ele estava bem presente.

Aquela viúva (2 Rs 4.1-7) se viu em uma situação desesperadora, sem solução, por isto se apresentou a Eliseu a fim de receber algum conforto ou orientação. Sobre isto o professor Luciano de Paula Lourenço escreveu:

“[...] Achando-se incapaz de saldar a dívida, enfrentou a possibilidade do credor tomar seus dois filhos para um período de escravidão. O texto em Levítico 25:39-42 determina que se o devedor não pudesse pagar a sua dívida, ele era obrigado a servir ao credor como escravo até o ano do jubileu. Deus, porém, interveio e concedeu-lhe a provisão suficiente para atender a necessidade urgente dela e de seus dois filhos. De acordo com o historiador Flavo Josefo, “a viúva desta história era a esposa de Obadias, o mordomo de Acabe em 1Reis 18. O motivo de a família estar endividada era que Obadias havia sustentado os 100 profetas do Senhor que ele escondera de Acabe e Jezabel.”

a) A dívida do marido:
Conforme relata Flávio Josefo, o marido da viúva, Obadias (1 Rs 18.4, 13), contraiu aquela dívida, justamente em virtude do socorro prestados aos profetas perseguidos por Jezabel, uma causa nobre. Aquela dívida não fora resultado de ganância, egoísmo, materialismo ou exagero da parte dele, tampouco o da viúva, haja vista que elas não tinham credito ou por não receberem confiança da sociedade judaica, certamente não teria como contrair tamanha divida, após o falecimento do marido.

A pobre viúva não conseguiu saldar a divida, motivo pelo qual seus filhos seriam levado como pagamento, já que a Lei mosaica permitia a escravização de um judeu, que não conseguisse saldar suas dívidas, mas por apenas seis anos (Ex. 21.7; Lv. 25.39; Ne. 5.5; Is. 50.1; Jr. 34.8-11).

I. A MOTIVAÇÃO DO MILAGRE
1. A NECESSIDADE HUMANA. 
As bênçãos de Deus vêm em resposta a uma necessidade humana. O milagre ocorrido na casa da viúva de um dos discípulos dos profetas confirma esse fato (2 Rs 4.1-7). Aquela mulher perdera primeiramente o marido e agora estava na iminência de ver seus dois filhos serem levados pelos credores, caso não quitasse a dívida e para ajudar, a sua condição perante a sociedade judaica não permitia criar expectativas.

O credor não estava fazendo nada de anormal, imoral ou desumano, haja vista sua ação estar respaldada na Lei Mosaica (Ex. 21.7; Lv. 25.39; Ne. 5.5; Is. 50.1; Jr. 34.8-11). Um credor poderia obrigar um devedor a saldar a sua dívida através do trabalho servil ou escravo (2 Rs 4.1b).

Essa mulher, portanto, necessitava urgentemente que algo fosse feito para tirá-la daquela situação. Sabedora que o profeta Eliseu era um homem de Deus, recorreu a ele (v.1).  Ela buscou algo além da Lei e deu de cara com a misericórdia de Deus. A Escritura mostra que o Senhor socorre o necessitado (Sl 40.17; 69.33; Is 25.4; Jr 20.13), batendo de frente contra as tradições, costumes e injustiças. Sobre isto o professor Luciano de Paula Lourenço escreveu:

“Eliseu era compromissado com Deus, não com as tradições, por isso não se calou frente à injustiça, nem se deixou moldar pela teologia deturpada daqueles dias. Em seu ministério, mais do que no de qualquer outro profeta, a mulher foi valorizada e seus direitos respeitados. [...] (Tg 1:27). Foi naquele difícil contexto que a esposa de um seminarista ficou viúva. Como herança, o aprendiz de profeta deixou-lhe dois filhos para criar e uma dívida para saldar. Não havia pensão, não havia seguro de vida e não havia ninguém por ela. Por isso, não tardou surgirem os “abutres do lucro fácil”, ávidos por confiscar-lhe os filhos. Não tendo a quem mais recorrer, a pobre viúva apelou ao profeta Eliseu, apesar de saber que este também não possuía recursos financeiros. Confiava que ele encontraria em Deus uma saída para a crise. Ela sabia que o profeta Eliseu era um homem de Deus, por isso recorreu a ele (2Rs 4:1).

2. A MISERICÓRDIA DIVINA. 
O milagre ocorrido na casa da viúva aconteceu como resposta a uma carência humana, mas também graças à compaixão divina. Não foi somente por ser pobre ou pela sua situação que ela foi socorrida, ou tampouco por ter sido esposa de um dos discípulos dos profetas (2 Rs 4.1), mas sim porque ela clamou (do hebraico tsa aq, clamar por ajuda, chorar em voz alta) ao profeta Eliseu (2 Rs 4.1), sensibilizando-o. Deus se compadeceu daquela mulher sofredora. O Senhor é compassivo, misericordioso e longânimo (Êx 34.6; 2 Cr 30.9; Sl 116.5).

II. A DINÂMICA DO MILAGRE
1. UM POUCO DE AZEITE. 
Diante do clamor da viúva, o profeta Eliseu perguntou-lhe: “Que te hei de eu fazer? Declara-me que é o que tens em casa. E ela disse: Tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite” (2 Rs 4.2).

Eliseu não sabia o que fazer, de início, mas como fora discipulado por Elias, logicamente percebeu que aquela situação era parte integrante de um possível milagre, tal como aconteceu com a viúva de Sarepta, que estava em situação pior que aquela (1 Rs 17.9-12). Quando ela disse que ainda tinha uma pequena botija de azeite, tal com a de Sarepta, que tinha somente um punhado de farinha e um pouco de azeite (1 Rs 17.12), rapidamente a ordenou que fosse e tomasse vasos emprestados dos vizinhos, muitos, e que depois entrasse em sua casa, juntamente com os filhos e fechasse a porta. Pronto, o milagre estava a caminho. A chave da vitória daquela mulher não foi no recebimento das bênçãos, mas sim na sua atitude após o recebimento, pois ela novamente se apresentou ao profeta e pediu orientações. Ela ouviu: “vá, vende, pague a dívida e viva do resto”.

O milagre aconteceu na esfera familiar, já que os seus filhos também creram na palavra do profeta. A benção saiu do interior de sua casa, não veio de longe ou das mãos de terceiro. A multiplicação do pouco caracteriza milagre na vida do homem. Sempre tem que existir o pouco para que o muito fique evidente após a ação de Deus. “Do nada para o muito, somente foi visto no momento da criação, quando Deus ordenou que existissem”. O ponto de partida do milagre para as nossas vidas sempre é o pouco que temos, mesmo que seja como aquela mulher, que de tão pouco que possuía, não se lembrava.

2. UMA FÉ OBEDIENTE. 
As orientações do profeta Eliseu foram muitas claras e audíveis, não teria como aquela mulher questionar ou cumprir somente a metade na esperança de resultado.

A solução para o problema da viúva estava nas próprias mãos dela, bastava seguir à risca as ordens reveladoras do profeta (2 Rs 4.3-5), tal como Eliseu faria mais tarde com o leproso Naamã, chefe do exercito sírio, o qual também recebeu do profeta ordens que no início pareciam estranhas e desnecessárias, mas vinham do próprio trono do Altíssimo (2 Rs 5.10):
a) Em primeiro lugar, Eliseu chamou a mulher à ação: “Vai, pede para ti vasos emprestados”. A fé é demonstrada pela ação (Tg 2.17), tal como demonstrado pelos amigos do paralítico de Cafarnaum que os conduziram a presença de Jesus (Mc 2.1-12). Ela poderia ter resistido a esta ordem, haja vista que já era do conhecimento de seus vizinhos a sua situação precária. Seria possível que alguns deles se recusassem a emprestar-lhe os vasos, pois ela poderia pegá-los e vendê-los. “A ocasião poderia fazer uma ladra”.

b) Em segundo lugar, o milagre deveria acontecer de portas fechadas: “Fecha a porta”, disse o profeta. Outro ponto que ela poderia questionar, pois até então a sua vida fora um livro aberto. Todos sabiam de seu sofrimento e viam a sua precariedade, porque então no momento da vitória, no momento em que a sua tristeza seria transformada em alegria, deveria ser às portas fechadas? Porque aqueles que a apontaram, riram, zombaram não poderiam então contemplar Deus trabalhando em sua vida? Os curiosos ou os mais próximos devem ter ficado em frente esperando o resultado. De repente surge a mulher com um semblante diferente, jovial, alegre, com voz trêmula, e ao lado os seus filhos, que não se contiveram e saíram correndo. A notícia se espalhou rapidamente. Jeová é Deus, Jeová é Deus.

Porta fechada (cf Mt 6.6) é antônimo de publicidade desenfreada. Jesus nunca precisou disto, Ele “não fez propaganda de suas curas com o intuito de criar uma reputação sensacionalista, nem como pretexto para arrecadar dinheiro”, pelo contrário, pois em alguns casos, os que recebiam as curas foram orientados a não contarem para ninguém (Mt 8.1-4, 9.27-31), bem diferente dos homens, que buscam a notoriedade, gosta de aparecer e vangloriar-se. Deixam a porta aberta para serem vistos!

A mulher obedeceu ao profeta, e o azeite começou a fluir. E, assim, salvou seus filhos da escravidão, pagou as dívidas e viveu dignamente.

III. OS INSTRUMENTOS DO MILAGRE
1. O INSTRUMENTO HUMANO. 
Eliseu foi um grande homem de Deus (2 Rs 4.7, 9, 16; 6.9), um instrumento para operação dos milagres. Deus sempre usou homens valorosos, corajosos, que não mediram esforços durante a execução de seu plano. Sobre isto o professor Francisco de Assis Barbosa escreveu:

“Na galeria dos varões valorosos de Deus não há lugar para covardes, tímidos, omissos, nem acomodados!  De pronto o Senhor mandou Gideão dispensar os medrosos da luta (v. 3).  Em Deuteronômio 20, temos instruções do Senhor para seu povo em guerra.  Eis as palavras que o sacerdote deveria dizer ao povo [...] (vs. 3 e 4).  Deus ainda instruiu os oficiais a falarem ao povo [...] (V. 8).  Observe os exemplos de confiança no poder do Senhor e coragem para lutar em Davi (I Sm 17:24 e 42-44) e Jônatas (I Sm 14:6 e 14). Em Levítico 26, nós aprendemos que o medo é conseqüência de desobediência ao Senhor!  No verso 12, Deus promete: Andarei no meio de vós, e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo.  Entretanto, o Senhor avisa das conseqüências de o seu povo não obedecer a seus mandamentos [...] (vs. 36 e 37). O homem de Deus é um soldado corajoso porque o Espírito que está nele não é o espírito de covardia.  Em II Tm 1:6-8, o apóstolo Paulo afirma que Deus nos deu o Espírito: de poder, de amor e de moderação.  Isto é suficiente para nos capacitar a testemunhar de nosso Senhor corajosamente e a enfrentar toda e qualquer adversidade. [...] Em 1Tm 6.11, o apóstolo Paulo usa a expressão – “HOMEM DE DEUS” - dirigindo-se a um jovem chamado Timóteo. Timóteo talvez estivesse passando por muitas pressões e possivelmente era um jovem com muitas fragilidades, mas certamente elas não podiam impedir que ele fosse esse Homem de Deus. Paulo via a Timóteo como um Homem de Deus”

Deus usou Abraão, para formar a uma nação (Gn 12) e para através dela revelar seu plano de salvação à humanidade. Usou Moisés para tirar os israelitas do Egito (Êx 4.1-17). Paulo foi escolhido para levar a mensagem do Evangelho aos gentios e nobres (At 9.15), tal como Pedro (At 10 — 11) e Jesus, encarnado, glorificado foi o instrumento maior que nos proporciona a salvação (Jo 1.1,18; Fp 2.1-11).

No episódio da viúva, Deus usou muitos de seus vizinhos como instrumentos e alguns sequer perceberam. Eles confiaram nas palavras da viúva e de seus filhos e emprestaram seus vasos.

2. O INSTRUMENTO DIVINO. 
Quando uma grande fome assolava Samaria, o profeta Eliseu profetizou abundância de alimentos (2 Rs 7.1), algo pouco provável para a época, a ponto de o capitão, em cujo braço o rei se apoiava, dizer ironizado que seria impossível que aquilo se cumprisse, mesmo que janelas fossem abertas no céu (2 Rs 7.2), mas a profecia cumpriu-se exatamente como Eliseu havia predito (2 Rs 7.16-20).

Este fato ocorrido em Samaria, tanto quanto o caso daquela viúva, colocam a Palavra do Senhor como agente causador do milagre e este por sua vez é colocado como agente confirmador. Tudo aconteceu “segundo a palavra do Senhor” (2 Rs 7.16). O que o Senhor faz, Ele o faz através de sua Palavra.

IV. O OBJETIVO DO MILAGRE
1. UMA RESPOSTA AO SOFRIMENTO.
Todos os milagres realizados por Eliseu deixam bem claro que eles ocorreram em resposta a uma necessidade humana e também ao sofrimento (2 Rs 4.1-38; 5.1-19; 6.1-7), prova de que Deus nos assiste em nossas limitações e dificuldades. O Novo Testamento mostra-nos que o Senhor Jesus libertava e curava porque se compadecia do sofrimento humano (Lc 13.10-17; Mc 1.40-45).

2. GLORIFICAR A DEUS. 
Os milagres, portanto, são respostas de Deus ao sofrimento humano, todavia, eles não se centralizam no homem, mas sim, em Deus. Os milagres narrados nas Escrituras objetivam a glória de Deus. Em nenhum momento, encontramos os profetas buscando chamar a atenção para si através dos milagres que realizavam nem tirarem proveitos deles, promovendo espetáculos. Quem tentou fazer isso e beneficiar-se de forma indevida foi Geazi, o servo de Eliseu. Entretanto, quando assim procedeu foi severamente punido (2 Rs 5.20-27).

Em o Novo Testamento, observamos Pedro e Paulo pondo em destaque esse fato e mostrando que Deus, e não os homens, é quem deve ser glorificado (At 3.8,12; 14.14,15), pois os milagres sempre “carregam alguma mensagem, e apontam sempre para Cristo, que é a Palavra Revelada, o Verbo encarnado”.

CONCLUSÃO

O milagre da multiplicação do azeite é um testemunho do poder de Deus, que se compadece dos sofredores que o buscam de todo o coração. O foco, portanto, dessa bela história não é a viúva nem tampouco o profeta Eliseu, mas o Senhor que através da instrumentalidade do seu servo abençoa essa pobre mulher. A história faz-nos lembrar um outro feito extraordinário e muito mais relevante do que esse: a multiplicação dos peixes e pães por nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ele foi, é e sempre será a resposta a todo sofrimento humano.

Por: Ailton da Silva - 7 anos (Ide por todo mundo)

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