a) Lei do Nazireado:
O voto de nazireu era de caráter voluntário e poderia ser feito por qualquer pessoa ou pelos pais ou em alguns casos já vinha a ordem do céu. O voto poderia ser vitalício ou temporário.
Ao fazer o voto o cabelo era rapado e queimado no Templo, portanto somente poderia ser validado em Jerusalém. Paulo não estava em Jerusalém (At 18.18) quando “supostamente” fez o voto de nazireado, mas depois no templo confirmou (At 21.23) que outros também tinham feito o voto.
Os que faziam o voto de nazireado passavam a ser considerados como separados, consagrados a Deus. Não poderia cortar seu cabelo, tocar em cadáver ou beber qualquer coisa que viesse das vinhas e tinham outras restrições prescritas na Lei.
O não cortar o cabelo era forma como transmitiam ao mundo a mensagem de que o mais importante era como se apresentavam diante de Deus e que não se importavam como eram vistos pelos homens. Ficava evidente que não se importavam com a aparência física e tampouco com as consequências que poderia causar esta atitude, tipo tristeza (coração).
Não podiam beber vinho ou bebida forte, muito menos podiam comer uvas frescas ou secas, durante todo o tempo do voto. Alguns circulavam por medo de tocarem nas vinhas. Esta atitude nos remete a sobriedade e tranquilidade emocional e mental (entendimento).
Não podiam tocar em cadáveres, para que não fossem contaminados, como respeito aos rituais cerimonialistas da Lei Mosaica, que restringia esta ação aos sacerdotes, que desta forma se mantinham purificados, tanto interior quanto exteriormente (alma).
Desta forma, consagrados, puros e separados para Deus se assemelhavam a “vinha não podada” (Lv 25.4) que não era tocada e que mantinha sua integralidade e integridade.
Não passavam navalha na cabeça (representando o cuidado como o corpo e desinteresse pela tristeza no coração provocada pela reação dos outros), não tinham contato com tudo o que vinha ou era produzido a partir das vinhas (representando a sobriedade, calma e entendimento) e não tocavam em cadáveres (representando a pureza interior, alma tranquila e saúde mental) então os nazireus já cumpriam o mandamento que seria, anos mais tarde, reforçado por Jesus:
“Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração (sem navalha na cabeça),
com toda a alma (não toquem em cadáveres)
e com toda a mente (fiquem longe das vinhas, fiquem sóbrios)” Mt 22.36-40
b) Olhos, coração e lábios (todos enganosos – enganaram Ló e Sansão):
A separação entre Abraão e Ló não se deu por brigas ou disputas, mas sim foi por um ato tão sublime, incompreensível ao nosso entendimento. Eles foram separados pelos olhos. Ló viu as mais belas e verdejantes campinas do Jordão, bem regadas, pelo menos antes da destruição. Era um sinal de prosperidade, riqueza, beleza e bem-estar. Seus familiares gostariam da escolha e aprovariam a separação.
Enquanto um enxergava apenas mato e gostava do que via, pois estava preocupado apenas com o bem-estar do seu rebanho, o outro contemplava as promessas, ou seja, o futuro de sua descendência, que seria milhares, como as estrelas do céu e a areia do mar. Era a continuidade do plano de Deus em sua vida e na sua família. Entre o presente e o futuro, Abraão não teve dúvidas: escolheu o melhor, o futuro.
Seus olhos carnais deram instantaneamente a resposta para o seu coração: “Escolha o bonito, escolha a melhor parte”. Ló se mostrou completamente diferente de seu tio. Ficou com a melhor parte, aparentemente, pois, naquele momento e durante algum tempo, fora uma terra vistosa, verdejante e prazerosa, mas, como todo resultado de visão carnal é enganoso, não demorou para que fosse revelado o lado sombrio de Sodoma e Gomorra. O que era feio poderia ficar bonito. O mesmo aconteceu com Sansão, o que agradava aos olhos, com o tempo se mostrou desagradável e traiçoeiro.
c) Primeiro casamento misto de Sansão – Ele não foi páreo para a força
da primeira mulher estrangeira:
Sobre quais bases estavam firmados o primeiro
casamento e as posteriores relações amorosas de Sansão? A união com a filha dos
filisteus, de Timna, estava totalmente alicerçada na desobediência aos
conselhos de seus pais (Jz 14.2-3), que desesperados, não aprovaram, desde o
inicio aquela audaciosa ideia. A Bíblia de estudo Aplicação Pessoal (BAP) em
sua nota de rodapé (Jz 14.3), assim descreve os bastidores desta primeira união
ilícita de Sansão:
“Os
pais de Sansão opuseram-se a este casamento com a mulher filisteia por dois
motivos: (1) era contra a Lei de Deus (Ex 34.15-17; Dt 7.1-4). [...] os
filisteus eram os maiores inimigos de Israel. O casamento com uma odiada filisteia
seria a desgraça da família de Manoá. Mas o pai de Sansão cedeu ao pedido do
filho e permitiu o casamento, embora tivesse o direito de recusá-lo”. BAP
(2003, p. 340).
Mas que sentimento foi este que arrebatou o coração do pobre jovem? Amor à primeira vista! Será que era mesmo amor ou simples desejo carnal? Os pais avisaram sobre os problemas que surgiriam daquela fatal união, mas com um jovem desmiolado, resolveu arriscar, investir em um casamento, que desde o inicio estava fadado ao fracasso. Não era da vontade de Deus e não precisaria de um gênio ou um grande profeta para que isto fosse atestado. A união caracterizava o jugo desigual, pois se tratava de "um boi e um burro na mesma junta". Faltava somente distinguir, neste caso, quem era o boi e quem era o burro.
Eram dois povos, israelitas e filisteus, que esperavam somente o “riscar do fosforo”. O confronto era inevitável e poderia acontecer a qualquer momento, bastava um dar o sinal ao outro (cf Jz 15.3). A tempestade no copo de água facilmente se formaria e seria fatal.
No começo tudo foi festa, o encontro, os preparativos e a aceitação. Na verdade os filisteus não aceitaram Sansão de bom grado, apenas receberam o grande peixe que havia mordido a isca. Eles estavam ao derredor bramando como leão.
O fascínio pela filha dos filisteus foi tanto que seus olhos brilharam (Jz 14.7), conforme ele mesmo já havia declarado no momento em que pediu para os pais intercederem e prepararem o casamento. “Eu quero aquela mulher, pois ela agrada aos meus olhos”. O mesmo par de olhos que ele perdeu quando foi preso, sem forças e resistência, para ser zombado diante da divindade dos filisteus.
O casamento aconteceu como previsto e organizado. Recebeu a sua mulher, a mulher do “7º dia”. Como o casamento não era da vontade de Deus, nada mais logico do que apresentarmos as consequências, que foram certeiras, trágicas e simultâneas à festa dos recém-casados:
- Fim brusco da festa, ao sétimo dia (Jz 14.18-19);
- Matança de inocentes ou, que pelo menos, não tinham nada a ver com aquela história ou com os erros de Sansão. Os asquelonitas foram sacrificados para que um compromisso fosse cumprido;
- Perda de sua esposa, que foi dada ao companheiro do furioso marido que saiu à procura de recursos para honrar sua aposta;
- Impedimento de retomar seu casamento, por seu ex-sogro, que ofereceu outra filha no lugar da anterior. Este foi o estopim para o descontrole total. Matou trezentas raposas e ateou fogo na seara dos filisteus (Jz 15.4-5), para alimentar a sua vingança;
- Sua ira foi em relação à negativa do ex-sogro, mas quem pagou a conta, novamente, foram os filisteus, que não perdoaram e se vingaram na mesma proporção. Eles cumpriram as ameaças feitas naqueles dias do casamento (Jz 14.15; 15.6) e queimaram a esposa e o pai.
d) Segundo envolvimento de Sansão com mulher estrangeira – Ele não foi
páreo para força de uma prostituta de Gaza:
As relações posteriores foram ainda mais danosas. Que prova poderia ter Sansão de que Deus ainda estava com ele, mesmo após ter se rendido à uma prostituta em Gaza (Jz 16.1)? Talvez a força humana? Quem poderia arrancar um portão, com suas trancas e umbreiras e carregá-los nos ombros até ao monte, para que todos vissem que a cidade, tão orgulhosa pela sua segurança, estava agora desprotegida?
Se julgava forte o bastante para suportar a mistura com os filisteus? Matou um leão (14.6), arrancou o portão da cidade fortaleza indefesa de Gaza (16.3), ateou fogo na seara dos filisteus (15.4-5), matou 30 asquelonitas, que não tinham nada a ver com a história (14.19), feriu 1000 homens com uma queixada de jumento (15.15), mas não resistiu aos encantos das filhas dos filisteus.
e) Terceiro envolvimento de Sansão – Ele não foi páreo para a força da
filha dos filisteus:
Pior foi o que aconteceu quando estava nos braços da terceira mulher estrangeira, descansando sem perceber que aos poucos entregava o segredo de sua força.
Foi entregue aos filisteus, teve seus olhos vazados e foi forçado a trabalhos. Tudo isto porque não deu ouvidos aos pais no inicio da história: “não há, porventura, mulher entre as filhas de teus irmãos, nem ente todo o meu povo?” Porque resolveu buscar uma entre as filhas dos filisteus? As mulheres com quem Sansão se relacionou e confiou (Jz 14.17; 16.1; 16.17) não eram dignas de confiança.
O primeiro casamento, sob desobediência, gerou alegria no inicio, choro de inocentes ao final da festa, separações e morte da esposa e família. A segunda e terceira relações provocaram correria, fuga, mortes, perdas, desilusões, desconfianças, traições, tristeza e perda da Glória de Deus. Que sentimento ou quais pensamentos passavam pela mente de Sansão enquanto andava moendo no cárcere (Jz 16.21)?
f) Os sete erros de Sansão:
- 1º erro – Descer a Timna: Tão logo o Espírito de Deus começou a trabalhar em sua vida (13.25), Sansão já começou a dar os primeiros passos em direção contrária, apesar que aquilo vinha de Deus (14.4), pois os israelitas estava tão acomodados com a situação que certamente não fariam nada para mudar, precisavam de um empurrão e Deus deu;
- 2º erro – Contato com o leão morto: Em sua viagem para o casamento com aquela moça, Sansão passou pelo lugar onde havia enfrentado e matado um leão (14.6) e encontrou um enxame de abelhas e mel. Ele não poderia ter tocado (Nm 6.6);
- 3º erro – escondeu o seu erro: Ele tocou no leão para tirar o mel deu aos pais, mas não revelou o local onde havia conseguido. Porque escondeu a verdade? Medo das represálias dos pais por ter quebrado o voto de nazireado?
- 4º erro – Confiou no inimigo: Sansão imaginava que ninguém seria capaz de decifrar o seu enigma, não por vias honestas, mas não esperava que sua esposa o traísse por medo (14.15). Ela deveria ter confiado em seu marido para protegê-los da ameaça, já que conhecia a história de sua força;
- 5º erro – Sua vingança pessoal atingiu a outros: De nada adiantou serem poupados das ameaças dos filisteus para descobrirem a resposta do enigma, pois dias depois os filisteus cumpriram as ameaças como represálias pela vingança de Sansão e tanto a esposa como o pai forma mortos (15.6);
- 6º erro – Paixões indevidas: Mesmo na posição de juiz de Israel (15.20) foi até Gaza, afinal era corajoso, e se envolveu com uma prostituta. Quando percebeu que havia sido descoberto naquela cidade, não apavorou. A meia noite levantou, arrancou o portão da cidade, com fechadura, ferrolhos e o levou até ao cume do monte para que todos vissem que aquela nação não era assim tão poderosa e indestrutível. Porta queimada era sinônimo de luta, de resistência ou algo parecido (Ne 1.3), mas porta arrancada representava toda a altivez dos derrotados que não vigiam e não guardam seus tesouros.
- 7º erro – descobriu o seu coração (16.17): Sansão tocou no leão morto (14.8), provavelmente havia provado bebida forte no banquete entre os jovens durante seu casamento (14.10), também se relacionou com uma prostituta e mulheres estrangeiras, mas faltava algo para definitivamente ficar comprovado a quebra do voto do nazireado, então ele abriu o coração, revelou o seu segredo e foi vencido pela soberba, orgulho e pela confiança em si mesmo.
Todo o tempo ele se preocupou somente em enxergar o exterior, a carne, a beleza, mas na condição de prisioneiro, sem olhos (agora as mulheres eram todas iguais para ele, independente da nacionalidade ou beleza), amarrado, girando um moinho, voltas e voltas sem sair do lugar (16.21), neste momento ele entendeu o plano de Deus para a sua vida. Precisou chegar neste estágio? O mesmo acontece hoje?
Naquela festa foi oferecido como um troféu (16.23), para que todos se vangloriassem ao mesmo tempo em que zombavam do Deus de Israel. Dagom estava sendo exaltado (16.23).
Sansão estava quieto em seu lugar. Deus estava contemplando dos altos céus e os filisteus estavam imaginando que nada aconteceria por aquela afronta, até que ouviram: “que morra eu com os filisteus”. Com esta atitude ficou evidenciado que então havia entendido o plano de Deus para sua vida.
Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal - BAP (ARC). CPAD, 2003
Bíblia de Estudo Temas em Concordância. Nova Versão Internacional (NVI). Rio de Janeiro. Editora Central Gospel, 2008
Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje (NTLH). Barueri (SP). Sociedade Bíblica do Brasil, 2000
Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003
MACARTHUR, John. Novo Testamento. Comentários expositivos Filipenses
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. De Abraão a queda de Jerusalém. 8ª Ed. Traduzido por Vicente Pedroso. Rio de Janeiro. CPAD, 2004
WILTS, Harms. Aprenda o que não se deve fazer
com as decepções amorosas de Sansão. Digitalização: Pr. Nilson. http ://
semeadoresdapalavra.queroumforum.com
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