"Os
erros não são motivos para punição, e sim indicadores de novos caminhos,
intervenções e aprendizagens, tanto para estudantes quanto para docentes".
Utilizando-me
deste princípio, mudarei o ambiente de observação, sairemos da sala de aula e
iremos para o pé da cruz (Jo 19.25-26), nos momentos finais de Jesus em
cumprimento de seu ministério terreno.
Lá do
alto da cruz Jesus via Pedro, bem longe, escondido, chorando pelo erro que fora
avisado antes (Mt 26.74), aliás, será que ele se alegrou quando ouviu o canto
do galo? Eu me alegraria, haja vista, ter sido um aviso de Jesus, uma profecia
entregue momentos antes, ora se aquela havia se cumprido, imaginem então as
outras, todas as palavras de conforto, de alegria, de ânimo que receberam
durante os momentos em que andaram com Jesus. Então todas também se cumpririam,
sem dúvidas.
Aquele
triste cantar do galo era prenúncio de punição para ele? Ou uma oportunidade
para que revelasse o seu potencial? O certo é que o galo avisou a ele que não
era momento de “devolver” o que havia aprendido durante o processo de
aprendizagem?
Tipos
de avaliação que poderia ter sido utilizada por Jesus:
a) Avaliação
diagnóstica:
O
conteúdo a ser explorado é determinado e as dificuldades dos alunos discípulos
são e foram identificadas. Jesus sabia de antemão o que deveria repassar e o
que deveria cobrar, sabia também o momento certo de alterar sua estratégia, de
usar novos instrumentos ou mudar alguns conceitos deles (Jo 9.2). Prova disto
foram às várias intervenções durante o processo. Muitas vezes os alunos discípulos
se imaginaram como o centro das atenções, esperavam recompensas terrenas, se
iludiram com um improvável sucesso e se julgaram uns mais importantes que os
outros (Mc 10.37). Em todos estes casos eles foram advertidos e ensinados a
agirem e pensarem diferentes (Mc 10.41), caso contrário não poderiam atuar
naquele processo.
Isto
prova que foi preciso que Jesus intervisse, atualizasse suas ações, aulas,
corrigisse distorções de entendimentos dos alunos discípulos. Na verdade, Ele
ficou observando cada um deles e certamente sabia como deveria tratá-los. A avaliação
deu-se no dia a dia, foi contínua e não aconteceu somente no fim do processo,
ali ao pé da cruz. Aquele cenário não seria o local para “devolverem” o
conteúdo recebido durante o ministério terreno de Jesus, o local da prática
seria outro, Jerusalém, Samaria e confins da Terra (At 1.8).
Esta
avaliação diagnóstica, adotado por Jesus, ofereceu a Ele informações acerca da
capacidade de cada discípulo. No início do processo cada um deles foi alvo de
avaliação (cfe Jo 1.47-51), onde suas dificuldades foram todas reveladas diante
do Mestre, através do uso de instrumentos que viabilizaram um estudo mais
profundo da capacidade, personalidade, dificuldades e possibilidades. Por isto
que a estratégia utilizada por Jesus foi direta e eficaz.
Jesus
conhecia um a um em suas fragilidades e anseios, por isto não os recriminou
quando demonstraram falta de fé (Mt 14.31) ou quando desejaram postos ou posições
que não deveriam desejar, pois estes eram desejos puramente humanos e
materiais. Simplesmente eles foram observados no ambiente e foram instigados a
reflexões.
O
foco saiu do céu e foi direcionado para a terra (At 1.10). Os holofotes saíram
do professor e os alunos foram destacados. As práticas pedagógicas do Mestre,
as condições oferecidas para o ensino e aprendizagem e a reciprocidade por
parte do aluno, evidenciaram o sucesso do ministério de Jesus.
b) Avaliação Somativa:
Esta
era o tipo de avaliação na maioria das escolas, momento em que os alunos eram
avaliados sempre ao final de determinado períodos, mês, bimestre, semestre ou
ano letivo. Tinha puramente teor seletivo e tendia por distanciar e separar os
alunos bons dos que apresentavam alguns tipos de dificuldades. Esta ação
determinava posições e criava grupos, ora colocando-os no seleto rol de
aprovados, ora rotulando-os e relegando-os ao possível grupo de reprovados.
Quando
Jesus iniciou a separação de seus discípulos, Ele não levou em consideração a
preparação cultural de cada um, não mediu seus conhecimentos logo de princípio,
não os separou por pequenos grupos dentro do grande grupo dos doze, ou seja,
como Onisciente, poderia ter criado o grupo dos onze fiéis e poderia ter deixado
Judas isolado. Jesus simplesmente foi chamando um a um sem se preocupar com as
condições apresentadas por eles. A chamada deles não serviu para criar grupos e
separá-los do restante (Mc 9.40), tampouco eles foram sendo preparados para a
grande avaliação ao final do ministério terreno do Mestre, pelo contrário, eles
foram sendo preparados para darem continuidade e foram avaliados no dia a dia,
erro a erro (Mt 26.51; Lc 9.51), acerto a acerto.
Contrariando
os ensinos de Jesus, a avaliação somativa, se caracteriza pela checagem e
aferição dos conteúdos dados, o que nada mais é do que uma grande e larga porta
aberta para o insucesso escolar, pois este tipo de avaliação visa somente os
dados quantitativos ao final de determinados períodos do ano letivo e nos
remete a um balanço pedagógico. Até que pode alcançar algum sucesso ou pode até
mesmo direcionar o aluno a alvos, porém apresenta uma estratégia mecanizada,
não permitindo a participação democrática, e não se preocupa com o aprendizado
dos alunos e tampouco com suas dificuldades. Na verdade, esta é uma postura
totalmente autoritária, tanto da escola quanto dos docentes.
Portanto,
não podemos dizer que Jesus tenha usado este método avaliativo, pois Ele
ensinou, permitiu a participação democrática de seus discípulos, não os relegou
ao grupo dos fracassados e os avaliou continuamente e não somente ao final
visível de seu ministério terreno que se deu ao pé da cruz, que seria o dia
propicio para os discípulos serem avaliados. Fatalmente isto poderia ter acontecido
ali, mas o avaliador se decepcionaria, pois o índice de presença seria muito
baixo. Somente um esteve ali acompanhando até os últimos momentos de Jesus.
Judas desesperado procurou o fim de sua vida. Pedro, arrasado, se refugiou e
ansiava por respostas. Os outros se dispersaram temendo as represálias.
Se
este tivesse sido o desfecho do ministério terreno de Jesus, certamente todo o
processo de ensino e aprendizagem seria relegado ao esquecimento e fracasso. Os
discípulos seriam reprovados e não teriam chances para mudar a situação. Prova
disto seria Judas Iscariotes que seria rotulado, desaprovado e encabeçaria o
grupo dos ditos fracassados, porém ele não foi avaliado e no dia da confirmação
da traição, não foi cobrado dele a devolução de todo o conteúdo que havia
recebido de Jesus.
c) Avaliação
formativa:
Através
desta avaliação o professor constata se o aluno atingiu os objetivos
estabelecidos e se está dominando os conhecimentos, demonstrando habilidades,
agindo socialmente ou oferecendo ricas informações aos professores sobre o
sucesso ou insucesso do processo de ensino e de aprendizagem.
Esta
avaliação é realizada durante o decorrer do processo de ensino e aprendizagem e
de forma continua, tal como Jesus fez com os seus discípulos, que dia a dia
foram sendo avaliados. Esta ação de Jesus, foi global e analisou o
desenvolvimento dos discípulos em suas capacidades motoras, cognitivas e
relações interpessoais.
Foi
justamente esta a cena que veio a mente de Jesus, enquanto estava na cruz. Ele
viu as diversas reações dos discípulos, no inicio, meio e fim do processo de
aprendizagem deles. Ele reviu o desespero de Pedro ao vê-lo sendo preso. Reviu
a reação de Judas quando soube que os sacerdotes não ajudariam e tampouco
creram em seu arrependimento, ele sofreu diante do descaso deles (Mt 27.4). Jesus também relembrou o descaso dos outros discípulos
que sequer perceberam o que estava acontecendo ao redor deles. Todos estes
acontecimentos não foram suficientes para que fossem reprovados por Jesus, na
verdade, estes fatos fizeram parte da avaliação continua a que foram
submetidos. Eles deveriam melhorar a cada dia, pois tudo seria útil quando
começassem a exercer seus ministérios na igreja primitiva. Eles seriam capazes
de perceber a aproximação do Maligno e do perigo que os rondariam.
Isto
prova que este tipo de avaliação permite a visualização de avanços e
dificuldades e concede oportunidades para superação e ao mesmo tempo orienta o
aluno durante o processo de ensino de aprendizagem. Isto ficou bem claro
durante o ministério terreno de Jesus, uma vez que cada um dos discípulos
apresentou o seu problema, mas todos superaram e atingiram a estatura de varão
perfeito (Ef 4.13).
Mas
para o sucesso deste tipo de avaliação, Jesus e os discípulos, tiveram que se
portar de forma diferente, o mesmo é requerido dos professores e alunos em sala
de aula durante o processo de ensino e aprendizagem.
d) Avaliação
sociointeracionista:
Este
tipo de avaliação permite a aprendizagem, através de interações, um ambiente de
troca, com dimensões e ares de coletividade. Estas ações promovem o
desenvolvimento mental do aluno. Esta avaliação enxerga o aluno como um
passível de transformação, dando-lhe oportunidades para expor sua criatividade
e autonomia, em tese, o aluno é visto como ser livre para refletir e mediar
conflitos.
A
preocupação da avaliação sociointeracionista não é tão somente com o grau de
conhecimento do aluno e tampouco cobra dele a devolução total ou memorização do
conteúdo, pois o foco não está mais no resultado final, mas sim está no meio, portanto
a questão não é somente o aluno e sim, é todo o ambiente, meios, instrumentos e
condições para que ocorra a aprendizagem.
Esta
avaliação tem por objetivo revelar o potencial do aluno e o seu grau de
conhecimento, isentando-o de julgamento e punições pelos seus erros durante o
processo de ensino e aprendizagem.
Foi
justamente isto o que aconteceu com os discípulos que começaram a interagir
entre si e isto proporcionou o crescimento de cada um deles. Eles argumentaram,
mantiveram diálogos, compartilharam idéias, tornaram-se autônomo, tomaram
decisões para o bem da obra (At 15), erram algumas vezes, acertaram outras,
participaram do crescimento e da construção de saberes entre os primeiros
crentes, expressaram suas opiniões e pensamentos, tiveram acesso a novas
informações, refletiram e principalmente mediaram conflitos. Pedro foi um
destes que superando suas dificuldades e limitações, foi reorientado durante o
processo, fazendo uso de novos instrumentos para o aprendizado e acima de tudo,
não foi punido pelo erro (Mt 26.74). Ele apenas revelou o seu potencial,
graças a Deus que o avaliador neste processo foi Jesus e não o homem.
Os
erros não foram passiveis de punições, mas sim foram oportunidades para que os
discípulos revelassem seus potenciais, já que Jesus nunca se preocupou com a
devolução do conhecimento exposto, mas sim sempre se preocupou com as ações de cada
um. O centro das atenções agora seria o colegiado de apóstolos, que seriam
impedidos e perseguidos, tal como foi Jesus durante o seu ministério terreno, por
isto era necessário e importante que colocassem em práticas todo o aprendizado.
Eles deveriam saber entrar e sair de situações problemas e não poderiam mais,
como antigamente, clamarem por fogo na cabeça dos inimigos e nas cidades de difícil
receptividade. Era necessário algumas importantes mudanças e nova postura, da parte
deles.
Referências Bibliográficas:
Bíblia de
estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003
Bíblia
Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje. Barueri (SP). Sociedade Bíblica do
Brasil, 2000
Bíblia
Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2003
PAIVA, Luiz Fernando Ribeiro de. Teorias,
técnicas e instrumentos de avaliação. Unoeste, 2013.
SILVA, Maria Celeste Ramos da. Avaliação e os
domínios da aprendizagem. Unoeste, 2013.
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