1) O
PRIMEIRO CASAMENTO – SANSÃO NÃO FOI PÁREO PARA A FORÇA DA PRIMEIRA MULHER.
Sobre quais bases estavam firmados o
primeiro casamento e as posteriores relações amorosas de Sansão? A união com a
filha dos filisteus, de Timna, estava totalmente alicerçado na desobediência
aos conselhos de seus pais (Jz 14.2-3), que desesperados, não aprovaram, desde
o inicio aquela audaciosa ideia. A Bíblia de estudo Aplicação Pessoal (BAP) em
sua nota de rodapé (Jz 14.3), assim descreve os bastidores desta primeira união
ilícita de Sansão:
“Os
pais de Sansão opuseram-se a este casamento com a mulher filisteia por dois
motivos: (1) era contra a Lei de Deus (Ex 34.15-17; Dt 7.1-4). [...] os
filisteus eram os maiores inimigos de Israel. O casamento com uma odiada filistéia
seria a desgraça da família de Manoá (o
sentimento de ódio entre as nações era reciproco, grifo meu). Mas o pai
de Sansão cedeu ao pedido do filho e permitiu o casamento, embora tivesse o
direito de recusá-lo”. BAP (2003, p. 340).
Mas que sentimento foi este que arrebatou o
coração do pobre jovem? Josefo também questionou a conduta de Sansão: “Amor à
primeira vista! Será que era mesmo amor ou simples desejo carnal”? Bem explicou
Wilts quando elegeu o sentimento responsável pela concretização do casamento
fora da direção de Deus, contraído por Sansão: “O desejo é um substituto
pobre e egoísta do amor verdadeiro e desinteressado, amor este que se preocupa
apenas com a felicidade mútua”.
Os pais avisaram sobre os problemas que
surgiriam daquela fatal união, mas com um jovem desmiolado, ele resolveu
arriscar, investir em um casamento, que desde o inicio estava fadado ao
fracasso. Não era da vontade de Deus e não precisaria de um gênio ou um grande
profeta para que isto fosse atestado[1].
Eram dois povos que esperavam somente o
“riscar do fosforo”. O confronto era inevitável e poderia acontecer a qualquer
momento, bastava um dar o sinal ao outro (cf Jz 15.3). A tempestade no copo de
água facilmente se formaria e seria fatal.
a)
Até agora parece que tudo está correndo bem:
No começo tudo foi festa, o encontro, os
preparativos, a aceitação[2]
dos filisteus, parecia que houvera recebido a aprovação de Deus para a sua
decisão. Ele matou um filhote de leão (Jz 14.5-6), aumentando ainda mais a sua
confiança, na verdade sua ilusão. O fascínio pela filha dos filisteus foi tanto
que seus olhos brilharam (Jz 14.7), conforme ele mesmo já havia declarado no
momento em que pediu para os pais intercederem e prepararem o casamento. “Eu
quero aquela mulher, pois ela agrada aos meus olhos”. O mesmo par de olhos que
ele perdeu quando foi preso, sem forças e resistência, para ser zombado diante
de Dagom, divindade pagã, dominante naquelas terras (Jz 16.13).
O casamento aconteceu como previsto e organizado.
Ele recebeu a sua mulher, a mulher do “7º dia[3]”.
Como o casamento não era da vontade de Deus, nada mais logico do que
apresentarmos as consequências, que foram certeiras, trágicas e simultâneas à
festa dos recém-casados
- Fim brusco da festa, ao sétimo dia (Jz 14.18-19);
- Matança de inocentes ou, que pelo menos, não tinham nada a ver com aquela história ou com os erros de Sansão. Os asquelonitas[4] foram sacrificados para que um compromisso[5] fosse cumprido;
- Perda de sua esposa, que foi dada ao companheiro do furioso marido que saiu à procura de recursos para honrar sua aposta;
- Passado alguns dias ele retornou na esperança de reencontrar sua esposa, mas foi impedido pelo ex-sogro, que lhe ofereceu outra filha no lugar da anterior. Este foi o estopim para o descontrole total. Matou trezentas raposas e ateou fogo na seara dos filisteus (Jz 15.4-5), para alimentar a sua vingança;
Sua ira foi em
relação à negativa do ex-sogro, mas quem pagou a conta, novamente, foram
os filisteus, que não perdoaram e se vingaram na mesma proporção. Eles
cumpriram as ameaças feitas naqueles dias do casamento (Jz 14.15; 15.6).
Depois deste trágico acontecimento, Sansão
resolveu cessar com suas “loucuras”, para assim não colocar mais em perigo a
vida de pessoas simples e inocentes. Mas as consequências pelo seu erro não se
findaram com esta sua decisão. Ele dera um tempo para pensar em seus atos,
achou por bem, voltar às suas atividades em sua nação. Por algum tempo havia
desprezado a máxima: “reflita antes de agir”. O sábio rei Salomão diria
anos mais tarde: “melhor é o que domina o seu espírito do que o que toma uma
cidade" (Pv 16.32), palavra bem propícia para a ocasião e para o
protagonista.
2) AS
RELAÇÕES POSTERIORES – “UM ABISMO CHAMA O OUTRO”. SANSÃO NÃO FOI PÁREO PARA A
FORÇA DAS FILHAS DOS FILISTEUS.
As relações posteriores foram ainda mais
danosas a ele próprio quanto para a tribo, a qual pertencia, Judá (Jz
15.10-13). O agravante maior foi o fato de Sansão não ter pedido conselhos ou
aprovação dos pais para se relacionar com as outras duas filhas dos filisteus.
O resultado não poderia ser outro que não as catástrofes. Wilts descreveu os
encontros, sentimentos e ações decorrentes da proximidade de Sansão com o que
não lhe era permitido (Ex 34.15-17; Dt 7.1-4):
“No capítulo 16, ele está em
Gaza - outra cidade dos filisteus - passando a noite com uma prostituta. Aqui
não se trata de casamento. 1 Coríntios 6:13 nos adverte da gravidade, aos olhos
de Deus, do pecado de fornicação. Em seguida, Sansão apaixonou-se novamente por
outra filistéia, chamada Dalila (Juizes 16:4). Outra vez surge diante de nós a
pergunta: Que amor era esse? Essa relação durou mais tempo e lhe foi fatal. Ele
revelou os segredos do seu nazireado. Perdeu, por isso, sua marca exterior, os
cabelos longos, e constatou tarde demais que Deus Se havia afastado dele. Os
filisteus furaram-lhe os olhos, ataram-no e o puseram preso (justamente o órgão do seu corpo que ele
se gabava, pois através dele pode se entusiasmar com a beleza das filhas dos
filisteus, GRIFO MEU).
a)
Até agora parece que tudo está correndo bem:
Que prova poderia ter Sansão de que Deus
ainda estava com ele, mesmo após ter se rendido “aos serviços[6]
made in Gaza” (Jz 16.1)? Que demonstração de força, pois somente quem estivesse
na presença de Deus poderia arrancar um portão, com suas trancas e umbreiras e
carregá-los nos ombros até ao monte, para que todos vissem que a cidade, tão
orgulhosa pela sua segurança, estava agora desprotegida. Ou ele fez isto
confiando em suas próprias forças, ou porque já estava acostumado com tamanha
pressão? Provavelmente já tinha confiança suficiente para se posicionar diante
do perigo, conforme atestado por Josefo:
“Desde aquele dia, ele passou a desprezar tanto os filisteus que não
teve medo de ir até Gaza e hospedar-se num albergue à vista de todos. Logo que
os magistrados o souberam, puseram guardas à porta da cidade, para que ele não
pudesse escapar. Sansão veio a sabê-lo e levantou-se pela meia-noite, arrancou
as portas, colocou-as às costas com os seus gonzos e ferrolhos e levou-as ao
monte que está acima de Hebrom. Sansão, todavia, em vez de reconhecer os muitos
favores que devia a Deus e observar as leis que Ele dera aos seus antepassados,
abandonou-se aos excessos dos prazeres e costumes estrangeiros e foi assim ele
mesmo a causa de sua infelicidade. Ele enamorou-se de uma cortesã filistina, de
nome Dalila, e, logo que os maiorais da nação o souberam, foram ter com ela e a
obrigaram, com grandes promessas, a procurar saber dele de onde provinha aquela
força extraordinária”. JOSEFO (Livro quinto, capítulo 10).
Que correria! Pior foi o que aconteceu quando estava nos braços da
terceira mulher estrangeira, momento em que descansava, sem perceber que aos
poucos entrega a ela o segredo de sua força. Olhos vazados, trabalhos forçados
e morte. Tudo isto porque não deu ouvidos aos pais no inicio da história: “não
há, porventura, mulher entre as filhas de teus irmãos, nem ente todo o meu
povo”? Porque resolveu buscar uma entre as filhas dos filisteus? As mulheres
que Sansão se relacionou e confiou (Jz 14.17; 16.17) não eram dignas de
confiança.
O primeiro casamento, sob desobediência, gerou alegria no inicio,
choro de inocentes ao final da festa, separações e morte da esposa e família.
As segundas e terceira relações provocaram correria, fuga, mortes, perdas,
desilusões, desconfianças, traições e tristezas, pois que outro sentimento
poderia ter invadido a mente de Sansão, enquanto “andava ele moendo no
cárcere”?
3) EM QUE ESTAVAM
ALICERÇADOS OS CASAMENTO DE JACÓ, JOSÉ, MOISÉS?
a)
Jacó e Raquel
Jacó havia seguido à risca as ordens de seu
pai Isaque, para que não tomasse mulheres entre as cananeias. Ele trabalhou
conforme combinado com seu tio, em Padã-Arã, portanto poderia receber Raquel
como esposa, mas ao final deste período foi surpreendido com a atitude de
Labão, que lhe entregou Léia como esposa. Que decepção, ver seus sonhos e
planos caírem por terra, sentiu na pele a dor do engano, pois o seu tio poderia
ter contado sobre o costume, mas Labão viu a possibilidade de tirar proveito
daquele jovem trabalhador. O amor por Raquel o encorajou para mais sete anos de
trabalho.
Esaú, seu irmão, para mostrar toda sua
indignação com a perda da benção resolveu por vontade própria descer à terra
dos ismaelitas tomando diversas mulheres, todas abomináveis aos olhos do
Senhor, dando origem a várias nações que no futuro bem próximo se tornariam
sérias inimigas de Israel. Mas em que estava baseado o casamento e relação de
Jacó com Raquel, a mulher que sempre amou? Engano do tio ou obediência do filho
de Isaque e neto de Abraão?
b)
José e Asenate
José, deu um valiosíssimo presente à seu
pai, Jacó, quando toda a família se mudou para o Egito. No reencontro, o pai
estendeu os braços para receber o filho, que há muito tempo julgava estar
morto, mas que agora estava ali diante de seus olhos, não somente ele, como
também sua esposa egípcia e seus dois, Manassés e Efraim (Gn 41.45, 50-52), os
quais foram abençoados pelo patriarca (Gn 48.11-22) antes de sua morte e
incluindos no seleto grupo que daria origem à grande nação de Deus, Israel (Ex
19.5), mesmo sendo filhos de uma estrangeira?
Em que estava alicerçado o casamento de
José? Na possível fraqueza sua demonstrada quando aceitou a egípcia como esposa,
uma filha de sacerdote egípcio? Ou na obediência, submissão, espera confiante
em Deus, no uso correto da sabedoria que recebera? Ou ainda no perdão aos
irmãos, quando poderia ter se vingado por todo o passado?
c)
Moisés e Zípora. Moisés e a cuxita
Moisés, casado com Zípora (Ex 2.21), a filha
de Jetro, o midianita, aquela que em determinado momento da história lembrou o
grande legislador de sua obrigação[7],
quando por conta própria circuncidou seu filho, diante de um breve esquecimento
do marido. E olha que era uma estrangeira, desconhecedora das Leis de Deus. A
mesma que foi trazida pelo pai e entregue ao marido, já no meio do deserto, nos
primeiros dias de libertação (Ex 18.1-3).
Anos mais tarde, vemos Moisés diante de um
problema originado devido a nacionalidade de sua esposa[8],
momento em que nos surge a pergunta: “em que estiveram alicerçados os
casamentos[9]
de Moisés? Na desobediência? Ou na máxima: “Faça o que eu mando e não faça o
que eu faço”. Ele era o líder, então poderia tomar qualquer mulher, de qualquer
nacionalidade, enquanto o povo deveria se privar? Ou seu(s) casamento(s)
foi(ram) alicerçado(s) na obediência e no cumprimento ao primeiro “ide de
Jeová” (Ex 3.10)?
Bem diferente do que ocorreu com Sansão? Em
nenhum momento ele foi enganado, traído, influenciado negativamente pela mãe
como Jacó, antes de tomar a benção de Esaú. Tampouco ele foi vendido como
escravo, esquecido na prisão como José. Muito menos fugiu ameaçado, largando
para trás fortuna, conforto e um promissor futuro oferecido pelos egípcios. Não
me lembro de ter visto Sansão andando errante longe de suas nações[10]
por longos e exaustivos quarenta anos. Não vi menção de caminhada pelo mesmo
período em busca da Terra Prometida, que ora ele estava pisando.
Portanto, não reunimos argumentos para
comparar, julgar ou questionar os casamentos dos três grandes patriarcas de
Israel, mas em se tratando de Sansão, temos muito que aprender com seus erros.
Wilt citou o problema maior deste grande juiz:
“Um dos aspectos
trágicos da vida de Sansão foi a falta de controle sobre suas paixões. E o que
devemos pensar de Juizes 14:44? "Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto
vinha do SENHOR , pois este [Sansão] procurava ocasião contra os
filisteus". Sem dúvida, a intenção de Sansão era boa, e Deus o ajudou a
alcançar seu propósito, o que não significa que Deus aprovava sua maneira de
agir”.
Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003.
Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje. Barueri (SP).
Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.
Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil,
Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003.
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. De Abraão a queda de
Jerusalém. 8ª Ed. Traduzido por Vicente Pedroso. Rio de Janeiro. CPAD,
2004.
WILTS,
Harms. Aprenda o que não se deve fazer com as decepções amorosas de Sansão.
Digitalização: Pr. Nilson. http :// semeadoresdapalavra.queroumforum.com
[1] Aquela relação
caracterizava o jugo desigual, pois tratava-se de “um boi e um burro na mesma
junta”. Faltava somente nomear “o boi e o burro”.
[2] Na verdade os
filisteus não aceitaram Sansão de bom grado, apenas receberam o grande peixe
que havia mordido a isca. Eles estavam ao derredor bramando como leões
procurando alguém para tragar e encontraram (cf 1 Pe 5.8).
[3] A mulher que ao
sétimo dia da festa, em vez de gritar a todos que estava feliz como o marido,
temeu as ameaças de seu povo (Jz 14.15).
[4] Moradores ao norte
da terra dos Filisteus, às margens do Mar Grande (Mediterrâneo).
[5] Aposta é aposta. O
perdedor deveria honrar (Jz 14.12).
[6] Prostituição (Jz
16.1), que não era exclusividade somente dos filisteus, diga-se de passagem.
[7] Por ter vivido 40
anos no Egito e 40 em Midiã é provável que Moisés tenha se esquecido de alguns
de seus afazeres religiosos, conforme nota de rodapé da BAP (Ex 4.24-26).
[8] Provavelmente não
era Zípora e sim outra. A cuxita era Etíope, conforme nota de rodapé da BAP (Nm
12.1).
[9] Partindo do
principio que Zípora não era a mesma mulher citada como a cuxita (Nm 12.1).
Por: Ailton da Silva - Ano IV
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