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terça-feira, 26 de abril de 2011

O silêncio dos amigos de Jó


Como explicar a atitude dos amigos de Jó? Quem, hoje, em sã consciência se portaria desta forma diante dos problemas, não deles, mas de outros?

Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que tinha vindo sobre ele, vieram cada um do seu lugar: Elifaz o temanita, e Bildade o suíta, e Zofar o naamatita; e combinaram condoer-se dele, para o consolarem.
E, levantando de longe os seus olhos, não o conheceram; e levantaram a sua voz e choraram, e rasgaram cada um o seu manto, e sobre as suas cabeças lançaram pó ao ar.
E assentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande – Jô 2”11-13


Pela tradição judaica os amigos ou conhecidos que se condoessem com a dor, deveriam ficar em silêncio, ao redor do enlutado, a fim de confortarem (anotação de rodapé da Bíblica de Aplicação Pessoal, referente Jó 2”13, página 703).

Seus amigos não o reconheceram, logo de principio, levando-se em consideração que, ainda era o início da provação, não era de se esperar tal atitude tanto dos amigos quanto do próprio patriarca. Por mais doloroso que tenha sido as noticias das perdas, família, bens, rebanhos, somente sua esposa fora preservada, justamente para lembrá-lo da sua situação, aumentando ainda mais as suas dores.

A primeira demonstração de apreço e preocupação por parte de seus amigos foi o choro em alta voz, cada um rasgando suas vestes e lançando seus rostos no pó, em solidariedade ao amigo.

Torna a perguntar: Quem em sã consciência faria isto hoje? Ficarem 7 dias e 7 noites, assentados com Jó sem dizerem palavra alguma, no silêncio total.

Mas como se alimentavam? Como se comunicavam? Que tipo de linguagem utilizavam? Olhares, símbolos, escrita? A forma como se entenderam não é o importante, mas sim o fundamental nesta historia foi a disposição para permaneceram solidários e intercedendo pelo amigo?

Somente poderiam falar algo de bom ou sobre a realidade a partir do momento em que Jó proferisse alguma palavra, fosse ela boa, de conformação, agradecimento aos amigos ou de revolta contra a sua situação.

Depois disto abriu Jó a sua boca, e amaldiçoou o seu dia.
E Jó, falando, disse:
Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem! – Jó 3”1-3


Agora os amigos de Jó estavam, pela tradição judaica, autorizados a falarem algo para ele. Que tipo de manifestação poderiam esperar? Diante da calamitosa situação, o que poderia dizer o patriarca?

Continuo pensando que os problemas são os mesmos, mas as reações evoluíram, pois, hoje, não existe espaço para sentarmos ao lado e chorarmos com os companheiros as suas dificuldades, tampouco temos disponível o tempo para isto. Se olharmos para os lados, na mídia, veremos a prova do que estou relatando. Atitudes impensadas que comprometem vida e vidas por este mundo afora. Devemos ter em mente o exemplo destes cidadãos.

Por: Ailton Silva

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