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sábado, 6 de abril de 2013

E se estívessemos lá, teríamos ajudado ou seriamos vítimas do erro?

Quem sabe, um dia Adão teria reunido seus filhos, Caim e Abel, os primeiros de muitos que teve durante os seus novecentos e trinta anos de vida (Gn 5.5), para contar-lhes algumas histórias sobre o seu passado. A sua criação, a posterior e rápida estadia no Éden, bem como a dolorosa mudança, comumente conhecida como expulsão, formavam um enredo fascinante capaz de reunir multidões para ouvirem seus relatos. Josefo descreveu, meio que subliminarmente, a origem de uma pequena parcela destes possíveis ouvintes:

“Adão ainda vivia e tinha cento e trinta anos. A morte de Abel e a fuga de Caim fizeram-no desejar ardentemente outros filhos. E teve mesmo vários: depois de viver ainda oitocentos anos, morreu na idade de novecentos e trinta anos. Seria demasiado longo discorrer sobre todos os filhos de Adão”. JOSEFO (Livro primeiro, capítulo 2).

No inicio das narrações, tudo era “motivo de muita alegria”, pois se tratava de algo inédito, fascinante. Como estaria, parte da humanidade, diante do primeiro homem? Como encarariam a obra das mãos de Deus? Aliás, a questão primária era acreditarem com veemência em toda aquelas histórias. Acreditaríamos ou menearíamos a cabeça negativamente? Ou ceticamente diríamos, guardando as devidas proporções: “As muitas letras o fazem delirar”, Adão (cf At 26.24).

Mas que prazer seria a audição daquelas narrações, da mesma forma Josefo e Van Groninge, respectivamente, descreveram algumas das partes encantadoras e fascinantes das histórias adâmicas:

“Deus, vendo que Adão estava sozinho, enquanto os outros animais tinham cada qual uma companheira, quis também dar-lhe uma consorte. Para isso, quando ele estava adormecido, tirou-lhe uma das costelas, da qual formou a mulher. E, logo que Adão a viu, percebeu que ela havia sido tirada dele e que era parte dele mesmo". JOSEFO (Livro primeiro, capítulo 1).

 “Resumindo: Yahweh Deus revelou que no ambiente que ele tinha preparado, o ser humano tinha de ter sua casa, executar as suas responsabilidades, e desfrutar de seus privilégios. A maior bênção dos homens era que foram feitos à imagem de Deus e foram unidos a ele em amor por toda a vida. As imagens, isto é, o homem e a mulher, também tinham de refletir todas as virtudes que Yahweh Deus revelou em relação a ele”. VAN GRONINGE (2006, p. 25).

A expulsão do paraíso não afetou a memória do casal, pois ainda estavam sublinhados aqueles momentos, poucos ou muitos, em que estiveram no Éden, na presença do Criador. Particularmente creio que Deus não sacrificou as lembranças daqueles dois desobedientes, mesmo porque há de se levar em conta que se tratava de algo muito particular, a vida deles antes e depois do erro. Os acontecimentos pré e pós queda estavam mentalizados[1] e guardados na mente do primeiro casal para todo o sempre.

A princípio, seus filhos ouviriam atentamente os relatos do pai e ficariam admirados com tamanhos privilégios que seus genitores tiveram, ou acreditaram para não entristecê-lo, haja vista a insuficiência[2] de provas ou maneiras de se constatar a veracidade dos fatos.

Mas com o passar dos tempos o fascínio foi se esvaindo dando lugar a um pequeno princípio de murmuração e porque não dizer de revolta. Não seria nada de espantoso se Adão ouvisse de seus filhos:

  • Como isto foi acontecer, pai?
  • Como vocês perderam tamanha benção?
  • O que vocês fizeram de tão graves que aborreceu tanto ao Criador?
  • E porque Ele não foi misericordioso?
  • Porque não puniu somente o verdadeiro culpado?

Certamente Adão olharia para os filhos questionadores e responderia uma a uma, todas as perguntas:
  • Foi um momento de fraqueza de minha parte e de sua mãe;
  • Fomos enganados por um inimigo feroz, que nos odiou desde o inicio;
  • Fomos desobedientes às ordens tão simples. O agravante foi quando, enganados, pensamos na possibilidade de sermos iguais ao Criador (Gn 3.5, p. final);
  • Deus foi misericordioso, tanto que somente nos expulsou do jardim, ainda bem que ele não requereu para Si o fôlego de vida que havia me dado (Gn 2.7), sem o qual não seriamos mais almas viventes. E quanto a sua mãe, glorifico a Ele, por não ter voltado ao seu estado original, osso (Gn 2.21) e por ter permanecido ao meu lado com vida e submissa, conforme sentença descrita por Ele ante ao seu juízo (Gn 3.16). Ela poderia ter se revoltado comigo, por tê-la acusado[3] primeiramente do erro, e sumiria nesta terra sem dono, mas pelo contrário resolveu permanecer comigo, honrando o matrimônio realizado pelo próprio Deus;
  • Quanto ao culpado, ele foi punido, aliás já estava cumprindo parte de sua pena pelo seu erro (Ap 20.10).
Um dos filhos, ainda mais fascinado pela história perguntaria: “E para onde foi o tentador? Foi aniquilado? Nunca mais o veremos? Estamos livres de suas atuações? Ou ele virá novamente nos atacar também? E porque ele nos odeia tanto?

“Filho, eu e sua mãe fomos considerados a coroa da glória de toda a criação e através de nós, Deus apresentou ao universo a família, a maior de todas as instituições terrenas, uma vez que ela não terá sua funcionalidade nas mansões celestiais (Mt 22.23-33). Vocês são herança do Senhor (Sl 127.3), este é o motivo de tamanho ódio. Ele está ao nosso derredor, bramando como leão, procurando alguém para tragar (1 Pe 5.8), provavelmente ele virá sobre vós, mas não temais: resista, que ele fugirá de vós” (Tg 4.7).

a) Se estivéssemos lá, ajudaríamos ou atrapalharíamos?
Se já existíssemos, certamente teríamos lhe avisado sobre o perigo ou imploraríamos para que não desobedecessem a Deus. Talvez o nosso choro chamaria as vossas atenções e não dariam crédito à “conversa fiada e mole” do tentador. Certamente impediríamos que comessem do fruto da árvore da ciência do bem e do mal (Gn 2.17). Se tivéssemos nascidos antes, vocês não teriam errado!

Adão, conhecedor do mal que praticara, facilmente teria resposta para este apontamento do filho. “Filho, não é o homem, a mulher, filhos, ambiente ou situações favoráveis que podem favorecer ou impedir o pecado. O coração humano é bifurcado, enganoso e tendencioso. Se vocês estivessem lá, fatalmente seriam envolvidos na tragédia. Também seriam enganados e sofreriam com a perda e, sem sombra de dúvidas, se revoltariam conosco e com o Criador. Deus sabe todas as coisas”, conforme descrito por Ellissen:

“Sem esse registro seria difícil determinar a origem do pecado ou do mal. Gênesis demonstra claramente que o Criador não criou o pecado ou o mal. Ele surgiu de dentro do coração de Adão e Eva. A sua causa não foi um mau ambiente, nem a serpente, ou o fruto da árvore do bem e do mal. Essas não foram as causas, mas a ocasião. A causa estava no uso egoísta da vontade humana de rejeitar a vontade soberana de Deus, desobedecendo-lhe. Ao entrar no mundo, o pecado começou a multiplicar-se imediatamente. Isso é descrito em Gênesis 4-6. Do coração do primeiro homem passou ao lar e depois a toda a sociedade. O resultado é descrito em Gênesis 6:11-12: “a terra estava ... cheia de violência” e “todo ser vivente havia corrompido o seu caminho”. ELLISEN (p. 21).

b) Caim, se estivéssemos ao seu lado, você teria poupado seu irmão?
Em algum momento da história, o pai perguntaria ao filho assassino o motivo de tamanha brutalidade. Da mesma forma como poderia ser questionado, ou se foi, ele poderia reverter ao filho a mesma pergunta: “Se eu e sua mãe estivéssemos com você, naquele fatídico e trágico dia, você teria poupado seu irmão da morte”? Eis a prova de que homem, ambiente ou situações favoráveis não impedem homens de pecarem e desagradarem a Deus, vejamos:
  • O pecado original foi praticado ainda no Éden, um lugar favorável a obediência, mas que não tinha por função bloquear a entrada ou coibir a atuação do inimigo, bem como seu posterior lançamento de sua seta (sereis iguais a Deus). Isto era e é atribuição humana (resisti e ele fugirá de vós);
  • O primeiro homicídio (Gn 4.1-8) se deu na terra, fora do paraíso, mas em um ambiente favorável à adoração e obediência. Partindo do principio que cada qual entregou seu sacrifício e que retornaram às suas atividades, pastoreio de animais e cultivo da terra, há de se enfatizar que os momentos de alegria[4] ainda fluíam em seus interiores, motivo pelo qual não caberia a brutal reação de Caim ao ver a rejeição pela sua oferta.
Pela decepção e mudança de semblante de Caim, creio que mataria seu irmão, pai, mãe e todo aquele que se intrometesse em seu caminho. Por todo este relato, o certo é que homens, mulheres, ambientes ou condições favoráveis não nos impedem de pecar.

O mesmo se aplica a primeira família constituída na terra, pós Éden, uma vez que tanto os filhos quantos os pais não poderiam e não podem trabalhar e mudar corações que já estão setados pelo inimigo de nossas almas. A presença dos filhos, no jardim do Éden, em nada contribuiria para o sucesso da obediência dos pais, pelo contrario, pois fatalmente seriam atingidos, da mesma forma como acontece nos dias hodiernos.

O ambiente favorável contribuiu para o crescimento e formação do caráter dos filhos, bem como é parte integrante na instrução (Pv 22.6), ou não, mas em nenhum momento se transforma em escudo ou garantia da imutabilidade da nossa santidade, pelo contrário, pode corromper os corações e desviá-los da direção divina.

Adão poderia garantir aos filhos, que jamais tornaria a repetir o erro? na primeira ocasião, foram expulsos do paraíso, em um segundo deslize para onde seriam mandados? Existiria ou existe lugar “pior’ que esta terra? O primeiro erro foi suprimido pela misericórdia de Deus, mas o segundo.... “apartai-vos de mim” (Mt 25.41).

“Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte [...] assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação da vida”. (Rm 5.12, 18)

Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003.

Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje. Barueri (SP). Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.

Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003.

ELLISEN, Stanley A. Conheça melhor o Antigo Testamento. Traduzido por Emma Anders de Souza Lima. Editora Vida.

JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. De Abraão a queda de Jerusalém. 8ª Ed. Traduzido por Vicente Pedroso. Rio de Janeiro. CPAD, 2004.

VAN GRONINGE, Gerard. O progresso da revelação no Antigo Testamento. Tradução Sachudeo Perdsaud. São Paulo. Cultura Cristã, 2006.



[1] Disponíveis para futuras narrações, aprendizado e conscientização das futuras gerações..
[2] O que poderia ser usado para autenticar os relatos adâmicos? Fé era a única ferramenta disponível, pois não havia profetas, escritos, testemunhas além dos pais.
[3] Algumas lágrimas cairiam do rosto de Adão ao dizer isto na presença da mulher.
[4] Alegria sentida pelos dois irmãos no inicio dos trabalhos de adoração e posterior decepção de Caim (Gn 4.4-5)

Por: Ailton da Silva - Ano IV

Um comentário:

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