CAPÍTULO 14
O RETORNO: DECEPÇÃO DE NEEMIAS
1.
SITUAÇÃO DA CIDADE (3º ESTADO–miséria espiritual):
Foram
doze anos de dedicação e serviços em Jerusalém, mas havia chegado o momento da
separação para Neemias. Talvez o retorno para Susã tenha sido para renovar a
licença concedida pelo rei ou por outro motivo qualquer, mas o certo é que o
tempo em que permaneceu longe de Jerusalém foi suficiente para que o povo se
deixasse corromper. Eles foram avisados por Neemias sobre o perigo da mistura,
já que esta fatalmente abriria as portas para adoração a deuses estranhos e a
inevitável corrupção moral e espiritual.
Neemias
imaginava que os judeus fossem capazes de se manterem íntegros na presença de
Deus, ainda mais após o avivamento, alegria e festividades. Certamente
avançariam para novas conquistas, mas qual grande foi a decepção do grande
líder, quando no seu regresso a cidade, presenciou a ressurreição das velhas
práticas imorais, verdadeiros abusos.
a) Decepções de Neemias:
Quantas
decepções para Neemias no seu retorno. Logo de inicio se deparou com Tobias na
cidade e foi inteirado sobre o seu grau de parentesco com o sacerdote Eliasibe,
mas nada que poderia ser comparado com a tristeza sentida quando soube que o
opositor estava no interior do Templo, no entanto, as decepções não se
resumiram apenas a presença de Tobias entre os judeus, outras se seguiram como
consequência delas:
- O ministério dos levitas estava em total desprezo (13.10);
- Os amonitas e moabitas gozavam de privilégios e favorecimentos (13.1-3);
- O sábado não estava sendo observado (13.17);
- Novamente permitiram casamentos mistos (13.28).
2. A
CONTAMINAÇÃO DO MINISTÉRIO:
Mesmo
com todos os fatos ocorridos, pós avivamento, o povo permitiu que o Templo
fosse profanado, através de aparentamentos ilícitos e por concessões a homens
que não deveriam, sequer, imaginar em tais condições. Tobias, o amonita, era um
exemplo, pois pela sua origem não poderia adentrar ao Templo, quanto mais
ocupar alguma dependência.
O
compromisso assumido pelos lideres e povo foi público e por escrito (Ne 9.38),
mas depois de pouco tempo esqueceram e desprezaram tudo o que firmaram com
Deus.
Mais
uma vez, após a leitura da Lei, pela qual foram lembrados das atitudes hostis
dos amonitas e moabitas, eles se apartaram da mistura, mas naquele momento o
estrago já estava feito, pois Eliasibe já havia se aparentado com Tobias e
provavelmente, lhe devia favores ou pelo menos deveria cumprir a aliança
firmada. As portas ortodoxas do Templo foram abertas para outro tipo de ensino.
Isto prova que sem Palavra o povo se corrompe.
Sambalate
também foi agraciado com o aparentamento aos judeus, pois o neto do sumo
sacerdote Eliasibe (Ne 13.28), se tornou genro deste que foi um ferrenho
inimigo e opositor da obra da reconstrução. Segundo Flávio Josefo, ele foi expulso
por Neemias e em Gerisim iniciou a construção de um templo pagão, talvez para
se rivalizar ao de Jerusalém.
a) Privilégios
abusivos (Ne 13.5):
Talvez
seja possível que durante a primeira administração de Neemias tenha havido este
tipo de pensamento entre os sacerdotes ou autoridades religiosas, mas a
presença forte do líder inibiu qualquer tentativa de mistura e contaminação.
Mas tão logo Neemias voltou para Susã, Eliasibe, o sacerdote, não
somente concordou com o parentesco como também introduziu Tobias no Templo e o
acomodou confortavelmente, tirando de uma das dependências o azeite, as ofertas, os dízimos dos cereais e azeite, o
incenso, os utensílios e consequentemente, a santidade, reverência e
espiritualidade tiveram que dar lugar ao declarado inimigo da reconstrução.
Agora o segundo estado da cidade era pior que o primeiro.
Eliasibe,
em vez de usar sua influência como benção, a usou justamente para desestruturar
a fé do povo. A parcialidade, o aparentamento ilícito, o favorecimento se
tornaram falhas graves, verdadeira apostasia. Ele não somente se aliou ao
inimigo como também o levou para dentro do Templo dando-lhe condições para
tirar-lhe as forças como também para minar a espiritualidade do povo.
3. A
INDIGNAÇÃO DE NEEMIAS:
A indignação
de Neemias, no seu retorno à cidade, seu deu no momento que ele se deparou com
aquela cena e no ímpeto do desagrado tomou uma atitude radical. Sua irritação
com o sacerdote Eliasibe não foi somente pelo fato de ter cedido um cômodo do
Templo para uma pessoa que antes havia levantado barreiras para a reconstrução
da cidade, injuriado, zombado, armado ciladas e ameaçado de morte, mas sim pelo
fato de ter facilitado a entrada na casa de Deus de um homem que, pela Lei, era
proibido até mesmo de se aproximar (Dt 23.3). Este erro do sacerdote afungentou
os levitas e cantores, que preferiram a vida dura do campo.
a)
Verdadeira intenção de Neemias:
Tobias,
provavelmente com o passar dos tempos poderia subtrair bens ou alguns dos
tesouros do Templo. A grande preocupação de Neemias era com o livre transito
daquele incircunciso. Certamente se enriqueceria a custa das ofertas e dízimos
da casa de Deus e faria uso conforme o seu bel prazer. Quem nos garante que
isto não aconteceria?
Neemias
não toleraria a corrupção e o abuso de autoridade por parte dos sacerdotes. Os
recursos que entravam no Templo deveriam ser administrados de forma
transparente e longe dos olhares de incircuncisos, tal como ocorria na igreja
primitiva que sempre usou seus recursos financeiros com zelo, transparência e
sabedoria para expansão do reino de Deus, através do cumprimento da grande
Comissão e do socorro aos pobres e necessitados (At 4.32-37; 6.1-4). Neemias é
um bom exemplo de administração dos bens que são utilizados para a expansão do
reino de Deus.
4.
ATITUDE DE NEEMIAS:
Que
outro tipo de reação poderia Neemias ter demonstrado naquele momento?
Aparentar-se também ao inimigo? Ser conivente com Eliasibe e aceitar novamente
os casamentos mistos? Corajosamente tomou os móveis de Tobias e os lançou para
fora do cômodo (Ne 13.7,8). Jesus também teve a mesma reação quando se deparou
com os vendilhões no Templo (Jo 2.11-13). Os interesses pessoais devem estar às
margens do centro da obra de Deus.
Novamente
Neemias conseguiu incentivar o povo para que tomassem uma atitude para mudarem
aquela situação. Foram ordenados a purificarem as câmaras, recolocando os utensílios
e ofertas que jamais deveriam ter saído daquele lugar.
Neemias
jogou fora todos os pertences de Tobias e tudo o que havia sido preparado para
ele. Alguns judeus até poderiam estranhar esta atitude, mas tão estranho quanto
a reação foi a ação, a permissão.
a) O
povo apoiou Neemias:
A
decisão enérgica de Neemias despertou o povo e trouxe de volta para o Templo as
contribuições e riquezas que a presença de Tobias havia tirado (Ne 13.12).
Neemias
ganhou novamente a confiança do povo, restaurando o culto no Templo. Desta
forma os judeus trouxeram suas ofertas e as depositaram no local apropriado (Ne
13.12). A transparência da administração alegrou os sacerdotes, os levitas, o
povo e os trabalhos prosseguiram (Ne 12.44).
5. COMENTARIOS
ADICIONAIS:
- Os moabitas não poderiam entrar na congregação de Israel, mas não eram impedidos de adorarem ao Deus verdadeiro onde estivessem (Rt 1.16);
- Os levitas poderiam não ter reconhecidos a autoridade de Neemias. Ele havia convencido o povo, mas os conhecedores da Lei jamais seriam enganados. Os levitas esperavam o toque da trombeta para retornarem aos trabalhos;
- Os sacerdotes na rua, levitas na roça e o “bandido” no Templo. Greve e revolta do ministério no Templo? Não eram mais úteis?
- Neemias imaginava Jerusalém em festa no seu retorno. Que decepção, pois do avivamento sobraram somente cinzas;
- Moabita e amonita não poderiam sequer passar pela rua do Templo;
- Gesém quando viu o término da reconstrução sumiu no mapa, mas Tobias e Sambalate ficaram rodeando, esperando uma brecha, no muro ou no povo?
- Os judeus eram mestres em tirar alguém do sério, que nos diga Moisés (Dt 4.21-22) “eu morrerei antes de entrar, porém vocês entrarão”. Neemias também sofreu com a inconstância dos judeus;
- Se Neemias não tomasse uma decisão, certamente Tobias levaria seus parentes e amigos para o Templo para se juntarem a ele;
- O único lugar onde Tobias poderia circular livremente seria pelos canos de esgoto do Templo;
- Era a segunda vez que Neemias dirigia aquela congregação;
- Será que Neemias não temeu, pois o povo poderia tomar partido a favor do político sumo sacerdote e seu nobre parente (At 23.1-5). Ele não se preocupou com a reação do povo, tampouco temeu ser levado a juízo, o importante era limpar a sujeira do Templo;
- Os judeus conheciam aquele homem, afinal havia sido o pastor deles. Por ele botavam a mão no fogo, assinavam embaixo;
- Tem casta de demônios que não resistem ao jejum e oração (Mt 17.21), foi isto que Neemias fez ao expulsar o inimigo do interior do Templo;
- Porque Deus permitiu que aquele amonita entrasse no Templo?
- Neemias não se sentiu em condições e não tinha autoridade para se esconder no interior do Templo durante as ciladas de Tobias. Como ele então estava lá? Porque Deus não o fulminou quando ele pisou o pé?
- Quanto tempo demorou para os impérios egípcio, babilônico, persa, grego, romano caírem definitivamente para nunca mais serem levantados? E foram alguns destes que profanaram o Templo e os objetos sagrados dos judeus. E o que dizer dos povos que rodeavam Israel, sumiram todos. De alguns sequer existem vestígios do sangue, língua ou história. Foram apagados pelo tempo;
- Os levitas eram sossegados, tranquilos, tão bonzinhos, somente até receberem ordens, tipo: voltem para seus postos. O duro era quando a ordem era: “Quem é de Deus", (Nm 8.14), "matem os idólatras" (Ex 32.26-28). Eles não pensavam duas vezes;
- Quantas vezes ouvimos:”o pastor é muito parado, muito tranqüilo, os obreiros idem, os dirigentes de departamentos não fazem nada”. Quando eles recebem ordens de Deus, sai de baixo;
- Houve um pastor nosso (primitivo) que um dia desejou conhecer os irmãos de Roma, mas a igreja local não tinha condições de fornecer a passagem. Então ele orou a Deus e foi lhe provido as condições para a sua viagem. Partiu como prisioneiro, durante a viagem virou conselheiro, teve regalias, fizeram algumas paradas para que ele se despedisse dos irmãos, celebrou até uma ceia parcial no navio (At 27.35-36) e quando todos pensavam que estava triste pela prisão domiciliar (privilégio e segurança domiciliar) ele estava na verdade doutrinando a igreja com os seus ensinamentos. Que o diga Lucas, o médico, escritor e velho companheiro de viagens pela Ásia menor;
- Imaginemos a seguinte cena: uma multidão reunida (e você no meio) ouvindo a pregação de um dos apóstolos, as experiências, ensino, ministração da Palavra e os louvores, duvido que você sairia antes da benção apostólica?
- Os apóstolos faziam grandes cruzadas e não gastavam nada e ganhavam muitas almas;
- Na igreja primitiva necessitava de recursos financeiros (At 6.1), pois crescia o número de discípulos para aprenderem a Palavra (e não o de apóstolos para ensinarem), portanto, se este povo se reunia para ouvir e aprender era evidente que não abandonavam a igreja. Imaginem o custo para alimentarem todos. Mensagens, uma após outra e o dia passando, logo a fome chegaria.
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