A DEPRESSÃO: O TERCEIRO PROBLEMA
A Bíblia nos
mostra homens e mulheres fiéis, vigorosos, destemidos, corajosos e ousados, mas
que estiveram sujeitos às mesmas paixões que qualquer outro ser humano.
Elias deixou seu
legado na história bíblica, foi um gigante espiritual, servo do Deus Altíssimo,
de profunda convicção, enfrentou sem medo os soberanos de Israel, os falsos
profetas e trabalhou de forma a mudar o coração dividido de um povo que beirava
a apostasia.
Que sobrecarga
tremenda recaiu sobre seus ombros a ponto de fazer aflorar em sua vida o lado
humano, frágil e carente da ajuda divina.
Se apresentou ao rei Acabe por duas vezes
sem problemas. Foi ao ribeiro de Querite, mesmo sem provisão e não questionou.
Se dirigiu a Sarepta e foi sustentado por uma viúva que estava em condição
pior. Foi ao Monte Carmelo e desafiou os profetas de Baal sem se impressionar
com a quantidade. Imaginava que após este episódio, rei, rainha e todo Israel
se converteriam, ou na pior das hipóteses esperava que Jezabel fosse mandada de
volta para sua terra natal.
Elias cumpriu sua missão e procurou ser
fiel a Deus, mas a sua última ação, após o Monte Carmelo o levou a direção
contrária (I Rs 18.46). Foi por conta própria até Jezreel, com a intenção de
contemplar com os próprios olhos o que seria feito de Jezabel. Este foi o
inicio de seu período depressivo, pois além de ver que nada aconteceu com a
rainha, ainda recebeu fortes ameaças.
a) Elias tinha pés de barro:
Mesmo diante de tanta força, Elias ainda
era um homem sentimental, sujeito as mesmas paixões e oscilações. Tinha escudo,
broquel, capacete, espada, e um par de pés de barro.
Elias foi um gigante espiritual, mas
ainda era homem! Não era um anjo, tampouco um semideus! Esteve sujeito às mesmas
paixões, alegrava-se, entristecia-se! Talvez o que o distingue dos demais
mortais é que não maquiava seus sentimentos e fraquezas.
Se isolou, ficou no deserto, perdeu o
encanto pela vida, não queira mais viver, mas também não queria se matar e
tampouco queria que isto acontecesse por intervenção de Jezabel. Naquele
momento precisava de ajuda e somente Deus poderia lhe socorrer.
Deus havia respondido a sua oração,
enviando fogo do céu em resposta (I Rs 18.38). Esta foi a sua vitória sobre os
profetas de Baal. Esperou o quebrantamento do povo, incluindo a casa real,
todavia, o avivamento do Monte Carmelo não alcançou as proporções desejadas e
para aumentar ainda mais a sua decepção foi informado sobre as ameaças de
Jezabel (I Rs 19.2).
Jezabel não mandou o marido, soldado ou comitiva,
mas enviou apenas um único mensageiro, que foi capaz de abalar a estrutura de
Elias.
Esperava que aquele mensageiro lhe desse
notícias sobre o fim da rainha, mas ouviu que o fim tão desejado seria o dele e
não o dela (I Rs 19.2).
O mundo de Elias caiu quando ouviu: “A
rainha mandou lhe dizer que até amanhã te matará”. A mulher continuava no trono
e ainda ameaçava. Temeu pela sua vida e fugiu.
Elias não estava preparado para este tipo
de ameaça, já que, após a vitória no Monte Carmelo, não mais considerava
Jezabel como o maior problema de Israel. Em seu pensamento não encontraria
dificuldades no seu ministério. Parece que a alegria se converteu em tristeza.
Decepção pura, não com o seu Deus, mas com o príncipe de seu povo.
A reação de Elias foi imediata diante da ameaça
de morte: "O que vendo ele, se levantou, e, para escapar com vida, se foi,
e veio a Berseba, que é de Judá, e deixou ali o seu moço" (I Rs 19.3). O
profeta temeu e fugiu. O homem que havia confrontado Acabe e os falsos profetas
de Baal agora fugia para não morrer pelas mãos de uma mulher. Imaginou que sua
vida estava nas mãos de Jezabel. O prazo dado foi de vinte e quatro horas,
tempo suficiente para a fuga.
O homem de Deus que havia enfrentado
situações tão adversas, se viu impotente ante as ameaças de uma rainha pagã (I
Rs 19.2-3). Não viu escapatória e temeu por sua vida. Era ficar e morrer ou
fugir para viver.
Por sua atitude, Elias não foi
recriminado por Deus e tampouco pode ser por qualquer um de nós. Não fugiu,
apenas se isolou (I Rs 19.4). Estas são características de pessoas deprimidas,
sujeitos às mesmas paixões e reações.
Neste momento interrompeu a comunhão com
Deus, abandonou seu companheiro, para que não o visse ali naquelas condições,
fraco, medroso, limitado, já que até então tinha contemplado um profeta
corajoso, valente, destemido.
Ninguém procurou defendê-lo, se viu
sozinho, se isolou, optou pela fuga para não morrer pelas mãos de Jezabel, mas
depois pediu a morte, que incoerência. Preferia morrer pelas mãos de Deus para
não dar o prazer à rainha.
Elias foi mais além e pediu, em seu
animo, a morte (I Rs 19.4). Perdeu o encanto pela vida, portanto, precisava
urgentemente de ajuda.
Deus já havia provado a Elias que tinha o
controle sobre:
- A natureza, pois saciou sua sede em um ribeiro temporário e foi alimentado por corvos;
- As nações, pois o enviou em segurança a Sidom para ser sustentado por uma viúva;
- As provisões, pois o azeite e a farinha da viúva foram multiplicados;
- A vida, pois ressuscitou o filho da viúva;
- Os fenômenos da natureza, pois caiu fogo do céu e a chuva cessou e retornou.
Mas agora Elias deveria aprender que Deus
tinha controle sobre a sua própria vida e que estava quebrando o “eu”, pois por
várias vezes se imaginou o único fiel, o único profeta, o único digno de estar
na presença de Deus. Havia esquecido do ministério de socorro de Obadias? Cem
profetas foram escondidos e sustentados (I Rs 18.13).
Seria ele o único fiel que havia restado:
"Eu fiquei só" (I Rs 19.10). Em seu pensamento Não havia mais fiéis.
Deus possuía ainda seus sete mil (I Rs 19.18).
Enfrentou altos e
baixos e foram muitos os conflitos, depressão e tristeza. Isto prova que era um
homem sujeito às mesmas paixões como qualquer outro ser humano. Rapidamente viu
a vitória se transformar em derrota. Foi capaz de enfrentar um rei, oitocentos
e cinquenta falsos profetas, enfrentou quase uma nação inteira, mas correu
desesperado quando uma mulher bateu o pé no chão.
Deus não havia desistido de Elias, ainda
tinha muito por fazer. A única exigência para continuar sendo usado como
profeta era que se dirigisse a Horebe, o monte de Deus, para lá ser renovado.
A expectativa no coração do profeta foi
grande, pois o que Deus poderia fazer de tão especial que pudesse restaurar
suas forças e alegrar seu coração temeroso?
continua...
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