CAPÍTULO 2
COMO ABALAR A ESTRUTURA DE UM LÍDER?
1. QUEM FOI NEEMIAS:
Realmente não foi fácil a vida
daqueles que estavam na cidade, o pior era que não faziam nada para mudarem
aquele quadro caótico. Houve necessidade que Deus levantasse outro homem de
fora, de longe, pois os poucos e desanimados moradores (de dentro) não
perceberam que o conformismo e o comodismo tiravam deles o controle da
situação.
Neemias, servindo a corte persa, não tinha
obrigação de demonstrar tanta preocupação com Jerusalém. Mesmo depois de
conhecer a situação da cidade não haveria necessidade do desabafo com o rei
Artaxerxes, a não ser que sentisse em seu coração um chamado muito forte.
Foi filho de Hacalias, irmão de Hanani (Ne 1.1; 7.2). Ardeu
em seu coração o desejo de ajudar o povo que estava em grande desprezo e
miséria. Mesmo diante de sua ocupação no palácio real reservou um tempo para
ouvir de seu irmão um relato sobre a cidade, que sequer conhecia.
Serviu ao rei
Artaxerxe I, na corte persa, como copeiro, em meio ao luxo, facilmente se
iludiria com o sistema politeísta medo-persa, mas nunca se deixou corromper
pelas ofertas ou práticas pagãs. O ponto crucial de sua vida, o divisor de
águas foi a sua empatia e preocupação com a cidade de Davi, outros em sua
posição, jamais desprezariam suas funções na corte para viajar e auxiliar um
povo, que não mexia um dedo, sequer para mudar a sua própria situação.
Não era um general, um engenheiro,
construtor de grande porte, diplomata, mas possuía qualidades tais, pois no
decorrer da obra enfrentou perigos, inimigos, dificuldades, oposição de
estrangeiro e outras situações. Sentiu a chamada de Deus em sua vida quando
ouviu o catastrófico diagnóstico da cidade. No seu entendimento ainda havia
solução?
A distância entre Susã, a fortaleza (Et 1.2) e Jerusalém,
cerca de 1600 km ,
não foi obstáculo para que cumprisse o que havia colocado no coração. A
alegria, vitória, dores e problemas do povo também seriam seus. Mesmo tendo
pouco conhecimento sobre a cidade, seguiu viagem.
O único que poderia impedir sua viagem seria o próprio rei,
pois seria difícil encontrar outro homem em que pudesse depositar tamanha
confiança, mas ele foi o primeiro gentio que ouviu as lamentações de Neemias e
desde o inicio o incentivou que fosse a realizar o que Deus havia colocado em
seu coração. Em nenhum momento duvidou, imaginou ou insinuou que a viagem
tivesse outro interesse que não o apresentado por Neemias. O rei permitiu a
viagem e lhe deu as cartas necessárias.
A reconstrução da cidade poderia ser uma
realidade distante e inatingível ou não, pois já estavam trabalhando neste
intento, inclusive o Templo estava reerguido, mas o principal era atentarem para
os muros ao redor, que deveriam ser reconstruídos imediatamente, pois de nada
adiantaria investirem na cidade e esquecerem da proteção. Ele sabia que toda a
tradição, história, cultura, religiosidade dos judeus dependia daquela cidade.
a) Missão de Hanani:
abalar a estrutura do futuro líder:
Certamente Neemias esperava ouvir de Hanani boas notícias
sobre a cidade, pois já era tempo da reconstrução estar a pleno vapor, mas o
que ouviu o deixou triste e receoso pelo futuro da nação. Esta conversa selou o
chamado daquele homem, a partir daquele momento nunca mais foi o mesmo. Era a
oportunidade que fazer algo para Deus. Alguém poderia condenar Hanani por ter
ido tão distante para entregar noticias tão ruins.
2. ORAÇÃO – CONFIRMAÇÃO DA CHAMADA:
Neemias
teria sucesso sem oração? A sua comoção pela situação da cidade, após receber a
noticia foi o combustível que o impulsionou a clamar em favor da cidade e para
receber de Deus a confirmação de sua chamada (1.4-11). Se não tivesse orado em
favor da cidade certamente teria somente lamentado toda aquela situação e não
teria ido a lugar algum.
Cerca
de quatro meses de oração (1.1; 2.1 – quisleu à nisã do 20º ano do rei
Artaxerxes, lembrando que o ano judaico dá-se no mês de Tishrei), e então
sentiu forças para solicitar ao rei a permissão para sua viagem. A obra da
reconstrução do muro e das portas foi concluída em exatos 52 dias, praticamente
a metade do tempo em que ele ficou em oração (6.15)
Um
líder, que negligencia o momento de oração, se torna presa fácil para o
inimigo. Decisões erradas, precipitadas ou tendenciosas são consequências da
falta de oração e vigilância.
3. INÍCIO DO MINISTÉRIO DE NEEMIAS:
Neemias deixou sua função e o conforto no palácio e “pela fé,
recusou a ser chamado copeiro do rei”, antes preferiu conhecer in loco a situação e sofrimento de seu
povo (repetição da história?). Jerusalém sem muro não tinha proteção contra os
seus inimigos, contra falsos profetas, heresias, falsos ensinos. A preocupação
dele era muito mais do que somente com a aparência e estética da cidade.
Quando Neemias ouviu o relato de que os muros estavam
derribados e fendidos, o seu coração ardeu. Como o povo não atentava para este
detalhe? De que adiantava a urgente reconstrução do Templo, o resgate da fé
monoteísta e práticas agradáveis a Deus se estavam completamente desprotegidos?
O primeiro inimigo que se levantasse seria capaz de invadir e destruir tudo
novamente. Haveria fé e animo suficientes para outros mutirões? E o que dizer
de ladrões, salteadores, doenças, enganadores que tinham livre trânsito?
a) Oração de um verdadeiro
líder:
- Reconheceu a autoridade de Deus (1.5);
- Confessou os pecados e intercedeu pelo povo (1.6);
- Fez menção de Moisés (promessas e advertências–1.7);
- Mencionou o compromisso de Deus com Israel (1.9);
- Se colocou em favor dos judeus;
- Foi persistente, fervoroso, específico e direto.
b) A necessidade dos muros:
- Os discípulos, quando foram chamados por Jesus, largaram tudo para seguirem o Mestre ou continuaram em suas praticas mundanas e trabalhos? Que conhecimento ou proteção teriam se não tivesse sido reconstruído em suas vidas o muro? Facilmente retornariam ao desprezo e miséria de antes;
- O que teria acontecido com os discípulos se o barco tivesse se rompido durante a clássica tempestade acalmada por Jesus? As ondas açoitavam o barco constantemente (Mc 4.37) e não atacava propriamente e primariamente os homens a bordo. O ataque primeiro foi contra o barco. Eles seriam mortos quando o barco fosse destruído. Povo no mar sem barco são presas fáceis e o que dizer da cidade na terra sem muros?
- E todos os dias Jesus acrescentava à igreja aqueles que se haviam de salvar (At 2.47). O intuito era reuni-los para protegê-los do mal e do ataque do inimigo.
Neemias, de princípio, não tinha autoridade e experiência
para reunir grandes exércitos ou um número elevado de trabalhadores, tampouco
condições para levantar e guiar os judeus de volta para Jerusalém, mas foi
capacitado por Deus.
O primeiro sentimento que nasceu em seu coração foi o desejo
de retorno para trabalhar e não o de se intitular salvador da pátria judaica, o
grande general responsável pela reconstrução, mas isto somente aconteceu porque
após ouvir as noticias a sua primeira atitude foi se colocar diante de Deus em oração. Que caminho
seguir? Condições para sensibilizar o povo e reuni-los seria humanamente
impossível? Se os que estavam morando na cidade não faziam nada imaginem então
os que estavam em uma zona de conforto e tranqüilidade, mesmo servindo outro
império? Prova disto é que muitos não voltaram quando foram autorizados.
Uma atitude simples (Ne 1.4), mas necessária, pois o primeiro
passo seria receber de Deus a confirmação para que não agisse somente por
emoção. Após esta oração apresentou diante do rei que percebeu a tristeza do seu
servo e ouviu as suas lamentações sobre a cidade. Naquele momento Neemias
transpassou a primeira barreira de sua nova carreira. Recebeu o aval, a
confirmação para sua empreitada.
O início do ministério de Neemias foi baseado em uma das mais
significativas orações registradas na Bíblia. Oração reverente, adorando a
Deus, atribuindo-lhe todo o poder, reconhecendo a autoridade, fazendo menção do
compromisso estabelecido com seu povo, confessando os pecados de todos os
envolvidos na historia e intercedendo por eles.
Neemias
intercedeu pelo povo, colocando-se na brecha em favor deles, mesmo que não
conhecesse boa parte de sua linhagem. Desde o principio, quando ouviu os
relatos de seu irmão, sentiu as dores e a aflição da cidade. Chorou, lamentou,
orou e jejuou vários dias, persistente, fervoroso e foi bem específico e
direto, pois não rodeou, já foi apresentando a Deus o pecado dele e do povo (Ne
1.7).
Neemias
poderia até ter imaginado que não seria fácil o rei permitir sua viagem a
Jerusalém, mas através de sua oração contemplou o trabalhar de Deus, viu cair
por terra o medo, pois não somente teve o seu pedido atendido como também foi
confortado (Sl 33.12).
Ele
não tomou atitudes precipitadas. Precisava de confirmação e autorização do rei
para que fizesse o que Deus havia colocado em seu coração. Não abandonou o
palácio, não solicitou autorização do rei antes da oração, pois não queria se
adiantar ao processo. Em sua mente tudo seria direcionado conforme a vontade de
Deus. Em nenhum momento acusou ou culpou o povo pelos seus pecados,
simplesmente confessou.
4. COMENTÁRIOS ADICIONAIS:
- Notícias de Hanani: povo caído, sacerdotes distantes de Deus, cidade em ruínas, É O FIM DO MUNDO;
- José acordou prisioneiro e dormiu governador, enquanto que Neemias acordou copeiro e dormiu como governador;
- As lamentações de Neemias;
- Qual império, da época, desejava Jerusalém? Ninguém queria mais, nem mesmos os moradores;
- Durante a viagem ele foi refletindo sobre as suas primeiras atitudes e como encontraria a cidade. Teria que apresentar a vitória, pois a derrota eles já conheciam;
- Dentre os moradores de Jerusalém havia muitos que possuíam as mesmas forças e idéias de Neemias, mas nenhum tomou atitude. O que faltou? Chamada, liderança, dom ministerial?
- Hanani plantou a semente, a raiz cresceu (para baixo) e agora o crescimento seria com Deus;
- Neemias conseguiu fazer com que o rei mudasse um decreto real, nem mesmo Daniel conseguiu. Teve que ir para a fornalha de fogo. A obra havia sido paralisada e foi retomada;
- Tríplice função de Neemias: trabalhar, motivar o povo e vigiar.
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