"A manhã era cinzenta, chuvosa e fria. Nossa heroína se dirigia com passo acelerado para tomar um ônibus. Se o perdesse, chegaria tarde ao seu trabalho. Aproximou-se dela um homem pedindo dinheiro para poder comer alguma coisa. Um impulso de bondade a induziu a dizer ao desconhecido:
- Moro naquela casa que se vê lá. No
refrigerador está o que sobrou de um leitão assado com batatas. Aqui está a
chave. Vá e coma. Quando sair, deixe a chave debaixo do tapete, no corredor da
entrada.
Durante o percurso de ônibus uma
ideia a assolou: "Não havia mulher mais estúpida no mundo". Porém
resolveu sobrepor-se a seus temores, ante a convicção de que os seres humanos
reagem nobremente a atos de confiança.
Sim, ali estava a chave, sob o tapete. Abriu a
porta e a duras penas acreditou no que seus olhos viam.
A casa inteira resplandecia de limpeza, tudo estava em seu lugar. Até as
vidraças tinham sido lavadas.
No refrigerador encontrou um bilhete escrito com letra grosseira, no qual se lia:
"Prezada senhorita.
Talvez você não consiga compreender nunca
o bem tão grande que me fez.
Faz alguns dias que sal da penitenciária.
Estou livre sob palavra.
Francamente, foram para mim muito duros estes dias.
Porém você me deu o estímulo que me faltava.
Um milhão de graças"
Fonte: Coletânea de Ilustrações. Pr. Natanael de Barros Almeida
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