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domingo, 28 de novembro de 2021

Os patriarcas. Coincidências ou repetições da história? – Capítulo 15

A situação era tão caótica no Egito que o próprio Faraó procurou Moisés e fez a sua última proposta: “Ide, servi ao Senhor; somente fiquem as ovelhas e vossas vacas”. A ovelha e a vaca eram animais cerimonialmente “limpos” para oferendas de sacrifícios a Deus na época da Lei. Sem as ovelhas e vacas não haveria sacrifícios. Não haveria entrega ao Senhor. Seria uma liberdade sem sacrifícios.

Sairiam sem provisão, sem rebanho e provavelmente sem as recompensas que foram prometidas a Abraão (G 15.13-16). Caso esta proposta fosse aceita, na primeira vez em que o estômago doesse, os hebreus voltariam famintos para o Egito. Uma verdadeira cilada, pois facilmente seriam abatidos quando retornassem para mendigarem o pão.

A intenção era que no início da caminhada, sofressem baixas ou deserções, haja vista a falta de alimento e os que resistissem ao retorno seriam facilmente vencidos pela fraqueza. Uma libertação sem sacrifícios. Moisés não aceitou esta proposta também.

Após as dez pragas, Faraó não suportando mais as consequências de sua teimosia, não somente permitiu a saída, como também expulsou aquele povo para adorarem no deserto, em liberdade. Durante todo o tempo em que ficaram escravizados se distanciaram de Deus e agora estavam se aproximando novamente. Levaram família, gado e tudo o que os egípcios lhe deram como recompensa pelos quatro séculos de trabalho. O último pedido do opressor foi: “abençoai-me também a mim”.

Uma alegria nunca vista na terra. Que satisfação! Os egípcios contemplaram o desfile dos vitoriosos, alguns rangeram os dentes de raiva, outros juraram vingança, muitos desejaram boa viagem: “vão com seu Deus e sumam daqui”.

Mas alguns temerosos pais e mães egípcios, que ainda choravam a morte de seus primogênitos, balançavam os lenços e toalhas brancos em suas janelas, como sinal de rendição. Estavam glorificando o verdadeiro e único Deus.

Os hebreus passaram pelas ruas e desafiaram os egípcios com seus olhares, agora altivos, se sentiram fortes. A conversa foi diferente. Gritaram em bom e alto som para todos ouvirem: “Quem mandou mexer com o nosso Deus”.

Saíram realizados, confortados, sarados espiritualmente, fortalecidos, renovados. Havia somente uma coisa maior que toda aquela alegria, a certeza de que a caminhada seria curta e que chegariam logo ao destino, a Terra Prometida.

Acreditavam que depois de tamanha demonstração de poder, seriam facilmente[1] direcionados à Terra Prometida.

Queriam ser transladados e ou arrebatados como Enoque (Gn 5.24)? Sairiam voando, criariam asas? Teriam à disposição, após a primeira duna, os carros de Israel e seus cavaleiros (2 Rs 2.12) para transportá-los? Seriam elevados às alturas como Jesus (At 1.9)? Encontrariam logo na saída uma comitiva de boas vindas ao deserto, composta por anjos, assim como encontrou Jacó (Gn 32.1-2)?

Os patriarcas anteriores pagaram o alto preço, por que então o filho (Ex 4.22) não pagaria? Por que desejaram o caminho mais curto? Mal sabiam que se margeassem o Mediterrâneo certamente encontrariam os avançadíssimos e temidos filisteus.

Quando saíram do Egito, cheios de vigor e alicerçados por grandes promessas, não imaginaram uma viagem tão longa e de fato não teria tal necessidade, mas o caminho foi prolongado ao máximo, para que revelassem seu verdadeiro caráter, para aprenderem a diferenciar o carnal do espiritual, para conhecerem (Dt 8.2-14) e se tornarem conhecidos de Deus (Os 13.5) e por fim para desenvolverem a dependência total dos recursos divinos.

A saída foi incondicional, mas a entrada em Canaã foi bem diferente. Durante o caminho, Israel conheceu as condições.

Deus por várias vezes afirmou que se tornariam uma grande nação, mas como poderiam crer com convicção diante daquela situação tão precária? Multidão de famintos, pobres, medrosos, alguns doentes, outros com intenções diferentes. Somente Deus poderia trabalhar em favor de pessoas nestas situações.

No deserto adquiririam forças, valentia e principalmente se mostrariam fiéis e dignos, desde que olhassem para alto, para os montes, pois de lá viria o socorro para todos.

Assim como os patriarcas anteriores que foram direcionados para o deserto a fim de buscarem suas respectivas bênçãos, estava agora Israel, prestes a percorrer os mesmos caminhos para tomar posse da promessa maior.


[1] Se entrassem facilmente em Canaã, certamente se considerariam pequenos deuses (cfe Sl 82.1-8)

Por: Ailton da Silva - 12 anos (Ide por todo mundo)

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