A situação era tão caótica no Egito que o
próprio Faraó procurou Moisés e fez a sua última proposta: “Ide, servi ao
Senhor; somente fiquem as ovelhas e vossas vacas”. A ovelha e a vaca eram
animais cerimonialmente “limpos” para oferendas de sacrifícios a Deus na época
da Lei. Sem as ovelhas e vacas não haveria sacrifícios. Não haveria entrega ao
Senhor. Seria uma liberdade sem sacrifícios.
Sairiam sem provisão, sem rebanho e
provavelmente sem as recompensas que foram prometidas a Abraão (G 15.13-16).
Caso esta proposta fosse aceita, na primeira vez em que o estômago doesse, os
hebreus voltariam famintos para o Egito. Uma verdadeira cilada, pois facilmente
seriam abatidos quando retornassem para mendigarem o pão.
A intenção era que no início da
caminhada, sofressem baixas ou deserções, haja vista a falta de alimento e os
que resistissem ao retorno seriam facilmente vencidos pela fraqueza. Uma
libertação sem sacrifícios. Moisés não aceitou esta proposta também.
Após as dez pragas, Faraó não suportando
mais as consequências de sua teimosia, não somente permitiu a saída, como
também expulsou aquele povo para adorarem no deserto, em liberdade. Durante
todo o tempo em que ficaram escravizados se distanciaram de Deus e agora
estavam se aproximando novamente. Levaram família, gado e tudo o que os
egípcios lhe deram como recompensa pelos quatro séculos de trabalho. O último
pedido do opressor foi: “abençoai-me também a mim”.
Uma alegria nunca vista na terra. Que
satisfação! Os egípcios contemplaram o desfile dos vitoriosos, alguns rangeram
os dentes de raiva, outros juraram vingança, muitos desejaram boa viagem: “vão
com seu Deus e sumam daqui”.
Mas alguns temerosos pais e mães
egípcios, que ainda choravam a morte de seus primogênitos, balançavam os lenços
e toalhas brancos em suas janelas, como sinal de rendição. Estavam glorificando
o verdadeiro e único Deus.
Os hebreus passaram pelas ruas e
desafiaram os egípcios com seus olhares, agora altivos, se sentiram fortes. A
conversa foi diferente. Gritaram em bom e alto som para todos ouvirem: “Quem
mandou mexer com o nosso Deus”.
Saíram realizados, confortados, sarados
espiritualmente, fortalecidos, renovados. Havia somente uma coisa maior que
toda aquela alegria, a certeza de que a caminhada seria curta e que chegariam
logo ao destino, a Terra Prometida.
Acreditavam que depois de tamanha
demonstração de poder, seriam facilmente[1] direcionados à Terra
Prometida.
Queriam ser transladados e ou arrebatados
como Enoque (Gn 5.24)? Sairiam voando, criariam asas? Teriam à disposição, após
a primeira duna, os carros de Israel e seus cavaleiros (2 Rs 2.12) para
transportá-los? Seriam elevados às alturas como Jesus (At 1.9)? Encontrariam
logo na saída uma comitiva de boas vindas ao deserto, composta por anjos, assim
como encontrou Jacó (Gn 32.1-2)?
Os patriarcas anteriores pagaram o alto
preço, por que então o filho (Ex 4.22) não pagaria? Por que desejaram o caminho
mais curto? Mal sabiam que se margeassem o Mediterrâneo certamente encontrariam
os avançadíssimos e temidos filisteus.
Quando saíram do Egito, cheios de vigor e
alicerçados por grandes promessas, não imaginaram uma viagem tão longa e de
fato não teria tal necessidade, mas o caminho foi prolongado ao máximo, para
que revelassem seu verdadeiro caráter, para aprenderem a diferenciar o carnal
do espiritual, para conhecerem (Dt 8.2-14) e se tornarem conhecidos de Deus (Os
13.5) e por fim para desenvolverem a dependência total dos recursos divinos.
A saída foi incondicional, mas a entrada
em Canaã foi bem diferente. Durante o caminho, Israel conheceu as condições.
Deus por várias vezes afirmou que se
tornariam uma grande nação, mas como poderiam crer com convicção diante daquela
situação tão precária? Multidão de famintos, pobres, medrosos, alguns doentes,
outros com intenções diferentes. Somente Deus poderia trabalhar em favor de
pessoas nestas situações.
No deserto adquiririam forças, valentia e
principalmente se mostrariam fiéis e dignos, desde que olhassem para alto, para
os montes, pois de lá viria o socorro para todos.
Assim como os patriarcas anteriores que foram direcionados para o deserto a fim de buscarem suas respectivas bênçãos, estava agora Israel, prestes a percorrer os mesmos caminhos para tomar posse da promessa maior.
[1] Se
entrassem facilmente em Canaã, certamente se considerariam pequenos deuses (cfe
Sl 82.1-8)
Nenhum comentário:
Postar um comentário