O LIVRAMENTO
Este foi o pecado
que mais aborreceu a Deus, isso porque até aquele momento, mesmo diante das
murmurações anteriores, ninguém tinha sido castigado ou ferido, porém naquela
oportunidade extrapolaram, pois fizeram com que o chegasse aos céus o mau
cheiro da idolatria. A ocasião pedia correção.
A partir de agora quem pecasse ou se desviasse do caminho sentiria o ardor da ira de Deus, ou seja, quem plantasse, colheria. Estava instalado o sistema olho por olho e dente por dente.
“Então disse o Senhor: Aquele que pecar contra mim a este riscarei do meu livro. Vai pois agora, conduze este povo para onde te tenho dito, eis que o meu anjo irá adiante de ti” (Ex 32.33). “Pelo que disse que os teria destruído, se Moisés, seu escolhido, se não pusera perante Ele, naquele transe, para desviar a sua indignação, afim de não os destruir” (Sl 106.23).
No dia seguinte
Moisés entrava em cena, mais uma vez, para levantar um novo clamor pelo pecado
do povo. A ousadia foi tamanha que colocou sua vida por lastro, pois se
acontecesse novamente algo parecido como se apresentaria e tocaria o coração de
Deus? Esta seria sua última cartada.
Todos os seus clamores, até então, foram atendidos por Deus, esperava que desta vez não fosse diferente e realmente não foi, já que mesmo ferindo alguns, Deus providenciou o livramento ao restante do povo.
“E os filhos de Levi fizeram conforme a palavra de Moisés; e caíram do povo naquele dia uns três mil homens”. Porque eu não subirei no meio de ti, porquanto és povo obstinado, para que não te consuma eu no caminho” (Ex 32.28; 33.3b).
Na verdade
alcançaram mais um livramento, mas sentiram pela primeira vez o ardor da ira de
Deus, que foi dividida em duas fases:
- Castigo aos idólatras. Todos temeram quando viram Moisés dando ordens aos levitas para que matassem todos os idolatras, fossem idosos, mulheres, crianças, filhos, parentes, amigos ou não. Sentiram então a proporção do pecado cometido. Imaginaram que morreriam todos ali, porém pela misericórdia Divina, foram poupados do total derramamento da ira e novamente aquela situação tão delicada teve um desfecho tranquilizador.
- Perda da companhia de Deus. A partir daquele momento perderiam a constante presença de Deus que não mais estaria à frente deles. Agora o seu anjo os guardaria na caminhada, isto tudo em virtude da infidelidade demonstrada por aqueles que contemplavam as operações de Deus de prodígios e maravilhas.
Mesmo nestas
condições não ficaram órfãos ou dependentes de suas próprias forças ou sorte.
Por um momento,
Israel esteve na iminência de ser varrido[1]
do mapa, antes mesmo de possuir seu território. Quase adotaram um novo deus, a
imagem de um bezerro de ouro para suprir a falta de Moisés.
A ironia é que
Moisés estava no Monte recebendo a revelação da Lei que, em um de seus artigos,
condenava justamente aquele erro.
Israel conheceu a
idolatria, em pleno deserto, pois se prostraram diante da imagem de um animal
irracional, que nada fez e muitos menos poderia fazer em favor deles.
O erro e as
consequências seriam os mesmos caso tivessem feito uma estátua que lembrasse
Moisés, Arão ou então uma imagem de querubins, como as que foram confeccionados
sobre o propiciatório de ouro (Ex 25.17-22) da arca do concerto.
Por que não
esperaram o retorno de todos os que haviam subido com Moisés ao monte (Ex
24.9-10), pois viram e ouviram o extraordinário, algo que o coração deles nunca
imaginaram, certamente teriam muitas dicas e informações. Uma imagem de bezerro
seria muito pouco para ser associado ao Divino.
A demora de
Moisés contribuiu para os clamores tendenciosos dos hebreus por novos deuses. O
primeiro da lista foi este animal (Ex 32.8b), que ainda não havia saído da
lembrança deles devido ao contágio idólatra do tempo da escravidão.
Ao final deste
episódio o prejuízo foi grande. As mulheres, filhos e filhas perderam seus
pendentes. A perda foi incalculável, bem maior do que o ganho no momento da
saída do Egito (Ex 12.35-36).
O livramento foi
real, graças a Moisés que colocou sua vida como garantia diante de Deus.
O grande líder
que não aceitou a proposta de Deus, em fazer a partir dele uma nação. Isto
teria riscado os hebreus do livro da vida (Ex 32.32) de uma vez por todas.
Moisés foi um
pastor de verdade. Amou, lutou, trabalhou, clamou e se alegrou com os
livramentos recebidos. Afinal tomar conta e se preocupar com quase três milhões
de pessoas não era tarefa para qualquer um.
Alguns gritaram
ou devem ter pensado que o pior já havia passado. O bezerro de ouro foi
destruído para que o remanescente fiel não fizesse cópias ou repetisse o mesmo
erro durante o trajeto.
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