Moisés: O retorno e o salvo-conduto
O tempo que Moisés ficou em Midiã foi
suficiente para os egípcios esquecerem todo o ocorrido? Moisés esperava voltar
para se humilhar ou pagar pelo erro? Ou imaginava que seu crime havia
prescrito? Jacó também pensava o mesmo em relação ao tempo que ficou em
Padã-Arã, certamente imaginava que Esaú tivesse esquecido o passado.
Exilado, sem autoridade, fama, prestigio
e mordomias, imaginou ser o seu fim. Ou pior, com todo o conhecimento que
possuía terminaria seus dias como um mero e desqualificado pastor de ovelhas
como os seus antepassados. Deus teria condições de mudar a sua situação da
mesma forma como fizera com os patriarcas[1] Abraão, Isaque, Jacó e José.
Casado[2], vida tranquila, sequer
imaginava o retorno. Durante o tempo em que ficou em Midiã deixou de lado sua
estúpida e desnecessária valentia e adquiriu outras qualidades que usaria por
na presença de Faraó, durante as suas visitas para solicitar a saída dos
hebreus do Egito.
Os primeiros quarenta anos de sua vida,
no Egito, pensou ser alguém privilegiado, os outros quarenta, em Midiã,
aprendeu que era um nada e estava prestes a descobrir o que Deus poderia fazer
com um ninguém em pleno deserto.
Aos oitenta anos contemplou algo que
poderia ser considerado como uma visão qualquer, mas se tornou especial a
partir do momento que demonstrou interesse, pois ao se virar para enxergar
melhor não se preocupou com as consequências, decisões, rebanho, riqueza,
família, etc. Queria ver melhor tudo aquilo. Somente um líder nato seria capaz
de entender, outros poderiam tê-la como uma miragem ou alucinação. Aquela visão
selou a sua chamada e trouxe em sua mente a imagem do povo sofrido, clamando
por socorro.
O sofrimento e escravidão dos hebreus não
tiravam as prerrogativas de nação santa e escolhida, da mesma forma como a
sarça continuava intacta, diante do fogo, assim aquele povo ainda permanecia
vivo no coração de Deus.
Era uma simples árvore entre muitas que
existiam ali, que ardia em chamas sem ser consumida. Deus se manifestava a
Moisés de uma forma sublime para impressioná-lo na simplicidade, pois qualquer
ser humano que desejasse impressionar alguém, usando a natureza e o fogo,
certamente destruiria a sarça, os campos, a floresta, o próprio Moisés, a vida
e o planeta, enfim tudo. Assim se deu o primeiro encontro do futuro libertador
com o seu Deus[3].
Como aquele jovem, que tinha livre
trânsito nos palácios egípcios, desejou ter visto esta sarça antes. Como
poderia ter sido bem mais útil na sua mocidade, no auge de sua valentia.
A experiência é um requisito necessário
para enfrentarmos as adversidades durante a nossa trajetória, justamente o que
faltou para Joquebede e Moisés na borda do rio, dentro do cesto nos seus tenros
três meses de idade, mesmo que quisessem não poderia fazer nada. Na sua
juventude não demostrava maturidade suficiente para ser usado, alias neste
período de sua vida ainda era uma criança perto da firmeza demonstrada no
deserto, enquanto guiava os hebreus rumo a Terra Prometida.
Muitos poderiam ver aquela árvore tomada
pelo fogo, mas vê-la intacta não era para qualquer um. Através da confirmação
de sua chamada Moisés cometia outro assassinato, acabava de matar o seu eu
interior, suas aspirações e objetivos pessoais, agora teria somente o desejo de
realizar a obra de Deus.
continua...
[1] Deus
honraria o quinto patriarca e mudaria sua vida tal como honrou e mudou a vida
dos os quatro anteriores.
[2] Moisés
casou-se com Zípora, midianita e José com uma egípcia.
[3] O
próximo encontro, no mesmo monte aconteceria logo após a saída do Egito (Ex
3.12, caps 19-31) e foi muito especial, tanto quanto este.
Nenhum comentário:
Postar um comentário