5ª MURMURAÇÃO: MOTIVO: A SUPOSTA FALTA DE LÍDER
Um dos maiores zelos de Israel é fazer menção dos grandes patriarcas do passado, Abraão, Isaque e Jacó, mas durante a caminhada no deserto quase perderam esta referência histórica. Por muito pouco quase ficariam conhecidos como filhos de Moisés, Gérson e Eliezer e não de Abraão, Isaque e Jacó como gostam (Mt 3.9).
“... a partir de ti farei uma nova nação” (Ex 32.10).
Moisés ouviu esta
proposta de Deus, mas rapidamente pensou: “Esta promessa foi feita a Abraão e
não posso dizer sim”. Caso aceitasse estaria anulando a história e importância
de Abraão (Gn 12.1-2), Isaque (Gn 21.12b), Jacó (Gn 49.28) e José (Gn 50.25),
mas por outro lado assumira uma nova posição no plano de restauração da
humanidade. Seu nome seria grande, eternizado e respeitado em todas as
gerações.
Deus estava testando Moisés para ver até
onde iria o seu amor pela obra, pelas ovelhas e ver se tinha outros objetivos
que não a condução do povo até Canaã, mas enquanto pensava na resposta,
provavelmente o inimigo deve ter atacado a mente do patriarca para
influenciá-lo.
A resposta deveria ser com muita
sabedoria, pois caso dissesse sim, brincando, não haveria tempo hábil para
consertar o seu erro. A grande questão, na mente do patriarca, era visualizar
garantias de que a nova geração pudesse ser diferente das anteriores.
A geração antediluviana foi marcada pela
maldade que havia no coração do homem (Gn 6.5) a ponto de Deus se arrepender de
tê-lo criado.
A geração pós dilúvio também errou, pois
deixou nascer no coração a idolatria (Gn 10.8). Ninrode foi o grande
responsável, pois foi exaltado, idolatrado pela sua habilidade de caçador. Seu
reino e ensinamentos se iniciaram em Babel e se espalharam pela Assíria e resto
do mundo.
A geração pós Sodoma e Gomorra também
errou, pois as filhas de Ló deram origem, através do incesto, aos moabitas e
amonitas (Gn 19.37-38). As irmãs imaginaram que não existiam mais varões
segundo os seus costumes, no entanto, não perceberam que os pretendentes
estavam do outro lado do rio Jordão, na família do tio Abraão. A benção estava
além das divisas daquelas terras e não ao lado delas, como imaginavam. Este
filme passou pela mente de Moisés, por isto sua resposta não foi imediata.
Em vez de sonhar com a fama, resolveu
suplicar, clamar e zelar pelo povo que Deus havia confiado em suas mãos.
Qualquer outro teria feito o contrário, mas esta reação foi demonstrada pelo
grande patriarca, pois havia aprendido com o tempo, no entanto se tivesse
recebido esta proposta em outro período da sua vida, certamente pensaria e
diria sim.
Nos seus primeiros quarenta anos de vida
(Ex 2.11-15a) conheceu de perto o sofrimento do seu povo. Aprendeu muito com os
egípcios, com suas histórias, conquistas e festas. Realmente não estava
preparado para a obra de Deus.
Se esta proposta tivesse sido feita
durante a sua juventude, fatalmente aceitaria, pois se sentia grande, forte,
conhecedor dos mistérios seculares, observador, tinha boa relação com seu
entorno, calculista que não se sentia acusado pela sua consciência. Mesmo
diante destas qualificações, temeu a afronta de um simples escravo hebreu
quando foi ameaçado (Ex 2.14) e em menos de vinte e quatro horas transitou da
valentia à covardia.
Nos quarenta anos seguintes, Moisés viveu
nas terras de Midiã (Ex 2.15-22; At 7.29), nas proximidades do Sinai. Foi o
tempo suficiente para que desaprendesse tudo o que havia aprendido no Egito,
mas ainda não estava preparado para a grande obra de Deus.
De príncipe a pastor de ovelhas nas
montanhas e diante da mudança brusca do padrão de vida certamente diria não
para a proposta de Deus em fazer dele uma grande nação ou diria sim, justamente
para recuperar o status que havia deixado no Egito.
Além do mais era grande a distância que o
separava do Egito e havia ainda outros pormenores que deveriam ser resolvidos
antes de dizer sim ou não para Deus.
Eram dois os seus grandes problemas, a
valentia, por vezes usada de forma desnecessária e a sua condição psicológica,
pois se dissesse sim para Deus seria somente para se vingar do Egito e nada
mais.
A MURMURAÇÃO
Apenas um momento em que ficaram sozinhos
foi o suficiente para que os hebreus se rebelassem. A falta de Moisés, por um
poucochinho de tempo apenas, desesperou aquele povo.
O estopim desta crise foi o sumiço de
Moisés, que estava no Sinai, junto a Deus recebendo a revelação da Lei.
O que poderiam pensar diante da falta de noticias? Não sabiam se o líder estava morto ou vivo, por isto procuraram Arão, que estava respondendo temporariamente pelo povo e cobraram atitudes, como se estivessem diante do responsável, no entanto, por não possuir a mesma força e espírito de liderança que seu irmão, não conseguiu convencê-los sobre a possibilidade do retorno de Moisés.
“Mas vendo o povo que Moisés tardava em
descer do monte, ajuntou-se o povo a Arão, e disseram-lhe: Levanta-te, faze nos
deuses, que vão adiante de nós, porque quanto a este Moisés, a este homem que
nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu” (Ex 32.1).
Arão cedeu e foi conivente com o pecado do povo, pois cooperou para a mais vergonhosa forma de idolatria. Esta foi a primeira vez que trocaram de deus após a saída do Egito.
“Fizeram um bezerro em Horebe, e adoraram a imagem fundida. E converteram sua glória na figura de um boi que come erva. Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que fizera grandes coisas no Egito” (Sl 106.19-21).
Fizeram uma
escultura de ouro com suas joias, atribuindo-lhe toda a glória, honra e louvor,
pois acreditaram na intervenção deste novo deus para que ocorresse a libertação
do Egito. Esqueceram dos milagres vistos até então e aborreceram a Deus, que
ali mesmo desejou destruí-los.
Este foi o
primeiro “natal[1]” dos
hebreus em pleno deserto. Neste dia um bezerro de ouro conseguiu laçar uma
nação inteira.
Boa parte da
riqueza ganha na saída do Egito (Ex 12.35-36), cumprimento das profecias
entregues a Abraão (Gn 15.14) foi perdida, pois doaram (Ex 32.2) seus pendentes
e vasos de ouro para os artistas idólatras. Afinal o bezerro deveria ficar bem
bonitinho. Como gastaram naquele dia para comemorarem o nascimento do falso
deus.
continua...
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