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sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Prefiro murmurar no deserto. As dez murmurações do primogênito. Capítulo 5

5ª MURMURAÇÃO: MOTIVO: A SUPOSTA FALTA DE LÍDER 

Um dos maiores zelos de Israel é fazer menção dos grandes patriarcas do passado, Abraão, Isaque e Jacó, mas durante a caminhada no deserto quase perderam esta referência histórica. Por muito pouco quase ficariam conhecidos como filhos de Moisés, Gérson e Eliezer e não de Abraão, Isaque e Jacó como gostam (Mt 3.9). 

“... a partir de ti farei uma nova nação” (Ex 32.10). 

Moisés ouviu esta proposta de Deus, mas rapidamente pensou: “Esta promessa foi feita a Abraão e não posso dizer sim”. Caso aceitasse estaria anulando a história e importância de Abraão (Gn 12.1-2), Isaque (Gn 21.12b), Jacó (Gn 49.28) e José (Gn 50.25), mas por outro lado assumira uma nova posição no plano de restauração da humanidade. Seu nome seria grande, eternizado e respeitado em todas as gerações.

Deus estava testando Moisés para ver até onde iria o seu amor pela obra, pelas ovelhas e ver se tinha outros objetivos que não a condução do povo até Canaã, mas enquanto pensava na resposta, provavelmente o inimigo deve ter atacado a mente do patriarca para influenciá-lo.

A resposta deveria ser com muita sabedoria, pois caso dissesse sim, brincando, não haveria tempo hábil para consertar o seu erro. A grande questão, na mente do patriarca, era visualizar garantias de que a nova geração pudesse ser diferente das anteriores.

A geração antediluviana foi marcada pela maldade que havia no coração do homem (Gn 6.5) a ponto de Deus se arrepender de tê-lo criado.

A geração pós dilúvio também errou, pois deixou nascer no coração a idolatria (Gn 10.8). Ninrode foi o grande responsável, pois foi exaltado, idolatrado pela sua habilidade de caçador. Seu reino e ensinamentos se iniciaram em Babel e se espalharam pela Assíria e resto do mundo.

A geração pós Sodoma e Gomorra também errou, pois as filhas de Ló deram origem, através do incesto, aos moabitas e amonitas (Gn 19.37-38). As irmãs imaginaram que não existiam mais varões segundo os seus costumes, no entanto, não perceberam que os pretendentes estavam do outro lado do rio Jordão, na família do tio Abraão. A benção estava além das divisas daquelas terras e não ao lado delas, como imaginavam. Este filme passou pela mente de Moisés, por isto sua resposta não foi imediata.

Em vez de sonhar com a fama, resolveu suplicar, clamar e zelar pelo povo que Deus havia confiado em suas mãos. Qualquer outro teria feito o contrário, mas esta reação foi demonstrada pelo grande patriarca, pois havia aprendido com o tempo, no entanto se tivesse recebido esta proposta em outro período da sua vida, certamente pensaria e diria sim.

Nos seus primeiros quarenta anos de vida (Ex 2.11-15a) conheceu de perto o sofrimento do seu povo. Aprendeu muito com os egípcios, com suas histórias, conquistas e festas. Realmente não estava preparado para a obra de Deus.

Se esta proposta tivesse sido feita durante a sua juventude, fatalmente aceitaria, pois se sentia grande, forte, conhecedor dos mistérios seculares, observador, tinha boa relação com seu entorno, calculista que não se sentia acusado pela sua consciência. Mesmo diante destas qualificações, temeu a afronta de um simples escravo hebreu quando foi ameaçado (Ex 2.14) e em menos de vinte e quatro horas transitou da valentia à covardia.

Nos quarenta anos seguintes, Moisés viveu nas terras de Midiã (Ex 2.15-22; At 7.29), nas proximidades do Sinai. Foi o tempo suficiente para que desaprendesse tudo o que havia aprendido no Egito, mas ainda não estava preparado para a grande obra de Deus.

De príncipe a pastor de ovelhas nas montanhas e diante da mudança brusca do padrão de vida certamente diria não para a proposta de Deus em fazer dele uma grande nação ou diria sim, justamente para recuperar o status que havia deixado no Egito.

Além do mais era grande a distância que o separava do Egito e havia ainda outros pormenores que deveriam ser resolvidos antes de dizer sim ou não para Deus.

Eram dois os seus grandes problemas, a valentia, por vezes usada de forma desnecessária e a sua condição psicológica, pois se dissesse sim para Deus seria somente para se vingar do Egito e nada mais.

 

A MURMURAÇÃO

Apenas um momento em que ficaram sozinhos foi o suficiente para que os hebreus se rebelassem. A falta de Moisés, por um poucochinho de tempo apenas, desesperou aquele povo.

O estopim desta crise foi o sumiço de Moisés, que estava no Sinai, junto a Deus recebendo a revelação da Lei.

O que poderiam pensar diante da falta de noticias? Não sabiam se o líder estava morto ou vivo, por isto procuraram Arão, que estava respondendo temporariamente pelo povo e cobraram atitudes, como se estivessem diante do responsável, no entanto, por não possuir a mesma força e espírito de liderança que seu irmão, não conseguiu convencê-los sobre a possibilidade do retorno de Moisés.  

“Mas vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, ajuntou-se o povo a Arão, e disseram-lhe: Levanta-te, faze nos deuses, que vão adiante de nós, porque quanto a este Moisés, a este homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu” (Ex 32.1).

 Arão cedeu e foi conivente com o pecado do povo, pois cooperou para a mais vergonhosa forma de idolatria. Esta foi a primeira vez que trocaram de deus após a saída do Egito. 

“Fizeram um bezerro em Horebe, e adoraram a imagem fundida. E converteram sua glória na figura de um boi que come erva. Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que fizera grandes coisas no Egito” (Sl 106.19-21). 

Fizeram uma escultura de ouro com suas joias, atribuindo-lhe toda a glória, honra e louvor, pois acreditaram na intervenção deste novo deus para que ocorresse a libertação do Egito. Esqueceram dos milagres vistos até então e aborreceram a Deus, que ali mesmo desejou destruí-los.

Este foi o primeiro “natal[1]” dos hebreus em pleno deserto. Neste dia um bezerro de ouro conseguiu laçar uma nação inteira.

Boa parte da riqueza ganha na saída do Egito (Ex 12.35-36), cumprimento das profecias entregues a Abraão (Gn 15.14) foi perdida, pois doaram (Ex 32.2) seus pendentes e vasos de ouro para os artistas idólatras. Afinal o bezerro deveria ficar bem bonitinho. Como gastaram naquele dia para comemorarem o nascimento do falso deus.

continua...



[1] Natal: nascimento de um deus, todos os anos, entre os humanos na atualidade.

Por: Ailton da Silva - 12 anos (Ide por todo mundo)

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