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sábado, 17 de agosto de 2013

"Em teu nome circuncidamos a muitos”. Salvação para os “foras da lei? IPFS - Igreja Pentecostal Filhos de Siquém

Não consigo imaginar homens com coragem para defender como doutrina essencial para salvação alguns pontos da Lei Mosaica, ou especificamente qualquer um dos seus ritos, festas, ou alguns dos duzentos e quarenta e oito (248[1]) mandamentos positivos (chamados de prescrições para uma vida saudável e agradável a Deus), ou pelo menos um dos trezentos e sessenta e cinco (365[2]) mandamentos negativos (conhecidos como proibições), para se evitar, digamos, a ira Divina.

A lei nunca teve por função, em nenhum momento da história, proporcionar salvação. O seu único objetivo sempre foi apontar o erro, o pecado e o distanciamento dos hebreus, além de regular suas vida social, política, religiosa e diplomática, uma vez que incluía a relação, atendimento e socorro aos estrangeiros. Diante de tudo isto ela alimentava a esperança e preparava o coração dos filhos de Abraão para o advento do tão esperado Messias. A Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal (BAP), em um de seus diagramas, descreve esta divisão e corrobora com a afirmação de que o objetivo da lei sera somente ampliar a visão e aguçar o desejo da vinda de Jesus:

“Lei cerimonial – Esse tipo de lei está especificamente relacionado à adoração de Israel (ver, por exemplo, Lv 1.1-3). Seu objetivo principal era apontar para Jesus Cristo. Portanto, ela não era mais necessária após sua morte e ressucrreição”.

“Lei civil – Esse tipo de lei regulava a vida cotididiana de Israel (ver Dt 24.10-11, por exemplo). Como a cultura e a sociedade daquela época eram radicalmente diferente do mundo moderno, algumas de suas diretrizes não podem ser especificamente obedecidos. Os princípios porém, a elas subjacentes devem guiar nossa conduta”.

“Lei moral – Esse tipo de lei e constituído pelos mandamentos diretos de Deus – por exemplo, os Dez Mandamentos (Ex 20.1-7). Ela exige uma rigorosa obediência e revela a natureza e a vontade divina. Anda se aplica a nós atualmente. Devemos obedecer a essa lei moral, não para alcançar a salvação (grifo meu), mas para viver de uma forma que seja agradável a Deus”. BAP (2003, p.1637).

Por isto que volto a afirmar que é impossível que apareçam homens associando mandamentos, ritos, festas, costumes ultrapassados à uma tão grande salvação (Hb 2.3). Seria muito pouco. E o que dizer então da presença obrigatória em festas anuais, comerciais, turísticas e das cansativas peregrinações às cidades históricas do Oriente Médio e algumas do Brasil, Europa, ai sim seria uma grande afronta ao grande sacrifício total e suficiente do Calvário. Talvez isto tenha dado origem ao conhecidíssimo provérbio popular: “será que joguei pedra na cruz”. Sim jogou e joga quando associa a salvação a estas mazelas humanas e religiosas.

1) AS FESTAS:
Cito abaixo alguns dos ritos, tradições, costumes, festas contidas na lei mosaica que nunca tiveram por objetivo, proproiconar salvação a Israel, na verdade a intenção de Deus era outra completamente diferente. A Bíblia de Aplicação Pessoal em sua nota de rodapé (Dt 16.16-17) apresenta as algumas obrigações religiosas dos israelitas:

“Três vezes por ano cada israelita deveria viajar a até a cidade designada como a capital religiosa de Israel. Após as festas cada participante era encorajado ir ao santuário e ofertar em proporção ao que Deus o abençoara”. BAP (2003, p.253).

Estas festas, previstas na lei mosaica, tinham por função exteriorizar o sentimento de gratidão, alegria e confiança dos hebreus em Deus, nada mais, em nenhum momento foram associadas ou consideradas como essenciais para salvação. Vejamos as características e finalidades de cada uma, conforme diagrama contido na Bíblia de Aplicação Pessoal (página 168):
  • Páscoa (Lv 23.5), um dia somente e para comemorarem a libertação do Egito e o livramento aos primogênitos de Israel, não tinha nada a ver com chocolates e coelhos;
  • Festa dos pães asmos (Lv 23.6-9), sete dias de festas para comemorarem a vida nova recebida no Egito, já que a velha vida havia ficado no Egito;
  • Festa das primícias (Lv 23.9-14), um dia para lembrarem as provisões de Deus;
  • Festa de Pentecostes ou colheita (Lv 23.15-22), um dia para demonstrarem alegria e gratidão e pelo inicio da colheita do trigo;
  • Festa da trombeta (Lv 23.23-25), um dia para expressarem a alegria e gratidão a Deus;
  • Dia da expiação (Lv 23.26-32), um dia para buscarem a restauração e comunhão com Deus;
  • Festa dos tabernáculos (Lv 23.33-43), sete dias para renovarem o compromisso com Deus e confiança em sua proteção, tal como houvera ocorrido com os pais no deserto após a saída do Egito.

Vejamos alguns outros preceitos, ritos, mandamentos contidos na lei que nunca garantiram e jamais terão peso salvífico, bem e muito diferente do Sangue de Jesus vertido na cruz:

2) LEI DO NAZIREADO:
Nunca vi ninguém associando este artigo mosaico à salvação, principalmente e unicamente no tocante aos homens. Tampouco não cabe, a limitação humana corporal, imaginarmos um super-homem, com cabelos caindo pelas costas e dono de uma imcomparavel força, capaz de dirigir rebanhos de salvos e se sentir, primeiramente salvo incondicional, álias salvo graças a sua cabelereira.

Muito menos concebo em minha mente um “doido varrido”, tomando por exemplo, a conduta de Sansão para adjetivar, rotular ou comparar sua santidade, religiosidade e equidade, já que este grande herói da fé (Hb 11.32), teve muito mais deslizes do que propriamente condutas irrepreensìvel. “[...] porque ela agrada os meus olhos” (Jz 14.3). Justamente o que mais primava, os olhos para ficar contemplando a beleza da mulher filistéia ou flisitina, foi justamente a sua primeira perda após a sua “queda repentina de cabelo”, que se iniciou no colo de outra filha dos filisteus. Álias ele vivia entre elas, enquanto o povo ficava órfão de um juiz. Seus erros são de grande valia e ensinamento para nós, crente hodiernos. Foi um grande nazireu de Deus.

A Bíblia de Aplicação Pessoal em sua nota de rodapé (Jz 13.5) assim descreve o voto do nazireu:

[...] a pessoa que fazia o voto de ser separado para o serviço de Deus. Os pais de Sansão fizeram o voto por ele. O voto nazireu era algumas vezes temporário, mas, no caso de Sansão, era para toda a vida. Como nazireu, ele não poderia cortar seu cabelo, tocar num cadaver ou beber qualquer coisa que contivesse álcool”. BAP (2003, p. 339).

3) LEI DO LEVIRATO:
Lembro-me o dia em que durante a aula de EBD, perguntei para as irmãs presentes se elas se sujeitaram à lei do Levirato (Dt 25.5-9). De imediato me espantei com a resposta e visível resistência delas, depois entendi. Como frisei acima, alguns pontos da lei mosaica não podem ser aplicados[3] nesta corrompida sociedade, um deles é o levirato, mas se fossem, em nada contribuiria para a salvação humana, apenas materializaria nossa boa conduta.

Na cultura hebraica, as viúvas tinham duas opções, ou retornavam à casa dos pais (Gn 38.11), uma representação do socorro de Deus ou poderiam permanecer na casa dos sogros, quando então elas se sujeitariam à lei do levirato (Rt 1.16), pela qual um irmão ou parente mais próximo do falecido a desposaria para dar continuidade ao nome do extinto. Nestes casos o filho desta nova relação seria considerado filho do marido anterior e assim a família continuaria unida e a herança permanecia entre eles.

4) LEI DA REBUSCA OU RESPIGA:
A lei previa o socorro às viúvas, pobres, órfãos e necessitados, através do ano do jubileu e sabático, do dizimo trienal e da rebusca ou respiga. Mas em nenhum momento isto garantia ou poderia proporcionar salvação aos ricos e poderosos da época, pois eles eram os maiores beneficiários da rebusca ou respiga, uma vez que viam nesta prática a benção para suas colheitas, a não ser que alguns não deixassem, como acontecem hoje. Duvido que sitiantes e fazendeiros não ordenam a seus empregados para recolherem todos os grãos, até mesmo os que teimarem em caírem por terra. Em Israel ninguém tinha coragem de fazer isto, era maldição na certa.

E o que dizer dos outros beneficiários. Eles ficavam rodeando as propriedades, não precisavam ser chamados, transportados ou avisados. Eles esperavam ansiosamente o primeiro sinal de inicio da colheita para andarem após os segadores para então se fartarem com o socorro de Deus. Às vezes era uma providência humana, que nos diga o interessadísismo[4] Boaz, que não tirou os olhos de Rute tão logo a conheceu. A Bíblia de Aplicação Pessoal em sua nota de rodapé (Lv 19.9-10) assim descreve a lei da rebusca ou respiga”.

“Esta era uma proteção para o pobre e o estrangeiro, e uma lembrança de que Deus era o Dono da terra; e seu povo era apenas o zelador. Leis como esta evidenciavam a generosidade e liberalidade de Deus. Como povo de Deus, os israelitas precisavam refletir, em ações e atitudes, a natureza e as características dEle. [...] Deus mandou que os hebreus cuidadessem dos necessitados. Ele ordneou que as espigas a beira dos campos não fossem colhidas, provendo assim alimentos para os pobres e viajantes”. BAP (2003, p. 162).

Até mesmo Jesus se aproveitou deste artigo da lei para saciar sua fome e a dos discípulos. Ele foi repreendido, não pela invasão, mas porque era sábado. Que loucura. Ele é dono daquelas terras, do sábado, da terra e do universo e da eternidade.

Ele permitiu que seus discípulos entrassem em uma propriedade particular para colher espigas (Mc 2.23), pois estavam famintos, estavam resguardados pela lei, o erro maior não foi deles, mas de Israel, que não recebeu e não deu as mínimas condições para que Jesus desenvolvesse seus ministério, na verdade, nem precisou, fique com suas riquezas.

5) LEI DA CIRCUNCISÃO – A TEMIDA PELOS GENTIOS:
Não creio que Jesus ouvirá naquele e grandioso dia: “Em teu nome praticamos inúmeras circuncisões, em teu nome operamos estes sinais”.

"Nem todo aquele que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus vai entrar. Muitos me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não  profetizamos  em  teu nome, e em teu nome não expulsamos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?' E então eu lhes direi: 'Eu nunca sabia que você; Afasta de mim, você que praticam a iniquidade (Mt 7:21-23)”. MACATHUR (1939, capítulo 14)

Sinais para que? Para confirmação do pacto abraâmico? Sim. Para salvação, não! A Bíblia de Aplicação Pessoal em sua nota de rodapé (Js 5.2-3), assim define a circuncisão:

“O rito da circunciao marcou a posição de Israel como povo que possuia uma aliança com Deus. Quando o Senhor fez o pacto original com Abraao, exigiu que cada macho fosse circuncidado como sinal de desligamento da velha vida e o inicio de uma nova existência com Deus (Gn 17.13). Outras culturas daquele tempo usavam a circuncisão como um sinal do inicio da idade adulta, mas só Israel usou isto como uma prova de obediência a Deus. O homem seria circuncidado só uma vez”. BAP (2003, p.283)

Paulo estava muito preocupado com a incursão de judeus que não se rendiam a verdadeira conversão e possivelmente alguns gentios, que certamente não corriam ou que já estavam completamente envolvidos com a circuncisão. Estes tais teimavam em rodearem as igrejas para associarem esta incisão carnal à salvação.

“Tendo claramente estabelecida a verdade do evangelho, os escritores do Novo Testamento estão preocupados que as pessoas não se engane sobre a autenticidade de sua salvação. Assim, o Novo Testamento desafia constantemente crentes professos se examinar e se certificar de que sua fé é genuína. A preocupação com a autenticidade de salvação foi pela primeira vez no  Novo Testamento  pelo  precursor  do,  Messias  João  Batista.  Em  um movimento que parece chocante no nosso dia de "user-friendly" abordagens para apresentar o evangelho, João corajosamente enfrentou os falsos crentes de  sua  época:  "Quando  viu  muitos  fariseus  e  saduceus  que  vinham  ao batismo,  disse-lhes:  "Raça  de  víboras,  quem  vos  ensinou  a  fugir  da  ira vindoura? Portanto dar frutos dignos de arrependimento (Mt 3:7-8)”. MACATHUR (1939, capítulo 14)

Este foi o motivo da caminhada de Paulo e Barnabé até Jerusalém, saindo de Antioquia, a primeira e verdadeira igreja misisonaria (At 13.1-3). Paulo “bufava” indignado com o ataque dos judaizantes. Ele não se conformava. Não era mais preciso. Tudo havia sido abolido pela vinda, morte e ressurreição de Jesus.

Os judeus não convertidos de fato não compreendiam que a salvação estava ali a disposição no presente e não mais se baseava em ritos do passado, mas eles teimavam em descansar e depositar a esperança naquele evento que não tinha mais utilidade na igreja. Sacrifícios carnais para que? peregrinações para que? Pesos nas costas e flagelos para que?

“Infelizmente, apesar dos avisos claros das Escrituras, muitos são enganados sobre a sua verdadeira condição espiritual. Embora eles pensam que estão no caminho estreito que leva ao céu, eles são realmente no caminho largo que conduz ao inferno. Eles baseiam sua falsa segurança de salvação de uma série de provas que, na realidade não provam nada”. MACATHUR (1939, capítulo 14).

Mas até entendemos o medo de alguns, que por rejeitarem estes preceitos se consideravam “foras da lei”, realmente seria difícil se desvencilharem do passado, abraçarem uma nova fé, acreditarem que tudo já havia se cumprido Nele (Jesus). A aflição, o temor pelo aparecimento dos guardiãos da lei ou dos “quase templários”, era grande. De uma hora para outra poderia surgir a hoste inquisidora judaica com a sentença na ponta das línguas. 

Aos que pregavam a circuncisão com peso salvífico, Paulo chamou de cães, maus obreiros. Professores cães, que deviam ser ignorados, resistidos e combatidos:

“Paulo primeiro descreve os falsos mestres como cães. Ao contrário dos cães de estimação (kunarion) descritos em Mateus 15:26-27, Kuon (cães) refere-se aos catadores selvagens que assolaram  cidades antigas. Esses canalhas vagavam em bandos, alimentando-se de lixo (Ex. 22:31; 1 Reis 14:11; 16:4; 21:23-24) e,  ocasionalmente, atacar seres humanos. Foram desprezados, e "cão" era frequentemente usado como um termo depreciativo (cf. Dt 23:18; 1 Sm 17:43, 24:14; 2 Sam 9:8; 16:9; 2 Reis 8...: 13;. Sl 22:16). De fato, os judeus nos tempos bíblicos comumente chamado com desprezo para os gentios como cães. Surpreendentemente Paulo,  um  judeu,  chamou  a  estes  judeus cães falsos professores. Ele advertiu os filipenses a tomar cuidado com aqueles que chamam outros cães, mas na realidade são cães. A descrição do apóstolo é montagem. São cães imundos e sujos? Assim são os falsos mestres. São cães ferozes e perigosos, e devem ser evitados? Assim são os falsos mestres. Assim são todos aqueles que ensinam a salvação pelas obras”. MACATHUR (1939, capítulo 14).

Tudo bem que a circuncisão foi ao longo da história marca essencial para os judeus, para distinguí-los e mostrar toda a obediência a Deus, através do pacto abraamico e que deveria ser respeitada como sinal religioso, fato concreto aceitado até mesmo por Paulo, pois ele narrou toda sua história como judeu e testemunhou sua circuncisão ao oitavo dia e de declarou ter seguido todos os ritos da lei como um bom judeu que era.

Mas daí e a partir desta lacuna espiritual, obrigar novos convertidos gentios da igreja primitiva a praticarem e acreditarem, isto foi demais para o apóstolo missionário, fundador e zelador das igrejas. Ah! Se ele tivesse visto uma placa em seu tempo:

“IGREJA PENTECOSTAL FILHOS SE SIQUÉM”
Aqui a circuncisão é pela fé!
Aqui o fogo é puro, nunca se acaba! Aqui atemos fogo no rabo de raposas (Jz 15.4)

Mas não se esqueçam! Salvação é somente para os circuncidados. Obs: não existe limite ou número de salvos. Basta somente aderir à prática (circuncisão – Gn 34.22)

Pernas para que te quero! Jesus nunca perguntou aos discípulos, principalmente em uma das primeiras reuniões de obreiros (Mt 10.1-42), se todos foram circuncidados ao oitavo dia de vida. Queria ver um corajoso para circuncidar Sansão, já adulto, caso ele fosse um gentio. Ou então um “doido” para circuncidar um gentio ainda mais doido, um incircunciso chamado Golias, lá na faixa de Gaza.

Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal - BAP (ARC). CPAD, 2003.

Bíblia de Estudo Temas em Concordância. Nova Versão Internacional (NVI). Rio de Janeiro. Editora Central Gospel, 2008

Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje (NTLH). Barueri (SP). Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.

Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003.

MACARTHUR, John. Novo Testamento. Comentários expositivos Filipenses. 1939.



[1] Representando o total de ossos humanos, segundo entendimento e tradição judaica.
[2] Representando cada dia do ano. Portanto o entendimento eraque os 248 ossos deveriam se empenhar durante os 365 dias do ano para não transgredirem os mandamentos negativos da Lei.
[3] Esistem mitas diferenças, rusgas, mágoas até mesmo entre os ditos “cunhados”
[4] Boaz ordenou aos seus empregados que deixassem cair tantos grãos fossem necessário a Rute e não deveriam ficar bravos com ela. Amor à primeira vista (Rt 2.16)

Por: Ailton da Silva - Ano IV - caminhando para o ano V

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