Não consigo
imaginar homens com coragem para defender como doutrina essencial para salvação
alguns pontos da Lei Mosaica, ou especificamente qualquer um dos seus ritos,
festas, ou alguns dos duzentos e quarenta e oito (248[1])
mandamentos positivos (chamados de prescrições para uma vida saudável e
agradável a Deus), ou pelo menos um dos trezentos e sessenta e cinco (365[2])
mandamentos negativos (conhecidos como proibições), para se evitar, digamos, a
ira Divina.
A lei nunca teve
por função, em nenhum momento da história, proporcionar salvação. O seu único objetivo
sempre foi apontar o erro, o pecado e o distanciamento dos hebreus, além de
regular suas vida social, política, religiosa e diplomática, uma vez que
incluía a relação, atendimento e socorro aos estrangeiros. Diante de tudo isto
ela alimentava a esperança e preparava o coração dos filhos de Abraão para o
advento do tão esperado Messias. A Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal (BAP),
em um de seus diagramas, descreve esta divisão e corrobora com a afirmação de
que o objetivo da lei sera somente ampliar a visão e aguçar o desejo da vinda
de Jesus:
“Lei cerimonial – Esse tipo de lei está especificamente relacionado à
adoração de Israel (ver, por exemplo, Lv 1.1-3). Seu objetivo principal era
apontar para Jesus Cristo. Portanto, ela não era mais necessária após sua morte
e ressucrreição”.
“Lei civil – Esse tipo de lei regulava a vida cotididiana de Israel (ver
Dt 24.10-11, por exemplo). Como a cultura e a sociedade daquela época eram
radicalmente diferente do mundo moderno, algumas de suas diretrizes não podem
ser especificamente obedecidos. Os princípios porém, a elas subjacentes devem
guiar nossa conduta”.
“Lei moral – Esse tipo de lei e constituído pelos mandamentos diretos de
Deus – por exemplo, os Dez Mandamentos (Ex 20.1-7). Ela exige uma rigorosa
obediência e revela a natureza e a vontade divina. Anda se aplica a nós
atualmente. Devemos obedecer a essa lei moral, não para alcançar a salvação (grifo meu), mas para viver de
uma forma que seja agradável a Deus”. BAP (2003, p.1637).
Por isto que
volto a afirmar que é impossível que apareçam homens associando mandamentos,
ritos, festas, costumes ultrapassados à uma tão grande salvação (Hb 2.3). Seria
muito pouco. E o que dizer então da presença obrigatória em festas anuais,
comerciais, turísticas e das cansativas peregrinações às cidades históricas do
Oriente Médio e algumas do Brasil, Europa, ai sim seria uma grande afronta ao
grande sacrifício total e suficiente do Calvário. Talvez isto tenha dado origem
ao conhecidíssimo provérbio popular: “será que joguei pedra na cruz”. Sim jogou
e joga quando associa a salvação a estas mazelas humanas e religiosas.
1) AS FESTAS:
Cito abaixo
alguns dos ritos, tradições, costumes, festas contidas na lei mosaica que nunca
tiveram por objetivo, proproiconar salvação a Israel, na verdade a intenção de
Deus era outra completamente diferente. A Bíblia de Aplicação Pessoal em sua
nota de rodapé (Dt 16.16-17) apresenta as algumas obrigações religiosas dos
israelitas:
“Três vezes por ano cada israelita deveria viajar a até a cidade
designada como a capital religiosa de Israel. Após as festas cada participante
era encorajado ir ao santuário e ofertar em proporção ao que Deus o abençoara”.
BAP (2003, p.253).
Estas festas,
previstas na lei mosaica, tinham por função exteriorizar o sentimento de
gratidão, alegria e confiança dos hebreus em Deus, nada mais, em nenhum momento
foram associadas ou consideradas como essenciais para salvação. Vejamos as
características e finalidades de cada uma, conforme diagrama contido na Bíblia
de Aplicação Pessoal (página 168):
- Páscoa (Lv 23.5), um dia somente e para comemorarem a libertação do
Egito e o livramento aos primogênitos de Israel, não tinha nada a ver com
chocolates e coelhos;
- Festa dos pães asmos (Lv 23.6-9), sete dias de festas para
comemorarem a vida nova recebida no Egito, já que a velha vida havia
ficado no Egito;
- Festa das primícias (Lv 23.9-14), um dia para lembrarem as
provisões de Deus;
- Festa de Pentecostes ou colheita (Lv 23.15-22), um dia para
demonstrarem alegria e gratidão e pelo inicio da colheita do trigo;
- Festa da trombeta (Lv 23.23-25), um dia para expressarem a alegria
e gratidão a Deus;
- Dia da expiação (Lv 23.26-32), um dia para buscarem a restauração e
comunhão com Deus;
- Festa dos tabernáculos (Lv 23.33-43), sete dias para renovarem o
compromisso com Deus e confiança em sua proteção, tal como houvera
ocorrido com os pais no deserto após a saída do Egito.
Vejamos alguns
outros preceitos, ritos, mandamentos contidos na lei que nunca garantiram e
jamais terão peso salvífico, bem e muito diferente do Sangue de Jesus vertido
na cruz:
2) LEI DO NAZIREADO:
Nunca vi ninguém
associando este artigo mosaico à salvação, principalmente e unicamente no
tocante aos homens. Tampouco não cabe, a limitação humana corporal, imaginarmos
um super-homem, com cabelos caindo pelas costas e dono de uma imcomparavel
força, capaz de dirigir rebanhos de salvos e se sentir, primeiramente salvo
incondicional, álias salvo graças a sua cabelereira.
Muito menos
concebo em minha mente um “doido varrido”, tomando por exemplo, a conduta de
Sansão para adjetivar, rotular ou comparar sua santidade, religiosidade e equidade,
já que este grande herói da fé (Hb 11.32), teve muito mais deslizes do que
propriamente condutas irrepreensìvel. “[...] porque ela agrada os meus olhos”
(Jz 14.3). Justamente o que mais primava, os olhos para ficar contemplando a
beleza da mulher filistéia ou flisitina, foi justamente a sua primeira perda
após a sua “queda repentina de cabelo”, que se iniciou no colo de outra filha
dos filisteus. Álias ele vivia entre elas, enquanto o povo ficava órfão de um
juiz. Seus erros são de grande valia e ensinamento para nós, crente hodiernos. Foi
um grande nazireu de Deus.
A Bíblia de
Aplicação Pessoal em sua nota de rodapé (Jz 13.5) assim descreve o voto do
nazireu:
“[...] a pessoa que fazia o voto de ser separado
para o serviço de Deus. Os pais de Sansão fizeram o voto por ele. O voto
nazireu era algumas vezes temporário, mas, no caso de Sansão, era para toda a
vida. Como nazireu, ele não poderia cortar seu cabelo, tocar num cadaver ou
beber qualquer coisa que contivesse álcool”. BAP (2003, p. 339).
3) LEI DO LEVIRATO:
Lembro-me o dia
em que durante a aula de EBD, perguntei para as irmãs presentes se elas se
sujeitaram à lei do Levirato (Dt
25.5-9). De imediato me espantei com a resposta e visível
resistência delas, depois entendi. Como frisei acima, alguns pontos da lei
mosaica não podem ser aplicados[3]
nesta corrompida sociedade, um deles é o levirato, mas se fossem, em nada
contribuiria para a salvação humana, apenas materializaria nossa boa conduta.
Na cultura
hebraica, as viúvas
tinham duas opções, ou retornavam à casa dos pais (Gn 38.11), uma representação
do socorro de Deus ou poderiam permanecer na casa dos sogros, quando então elas
se sujeitariam à lei do levirato (Rt 1.16), pela qual um irmão ou parente mais próximo do falecido a desposaria para dar continuidade ao nome do
extinto. Nestes casos o filho desta nova relação seria considerado filho do
marido anterior e assim a família continuaria unida e a herança permanecia
entre eles.
4)
LEI DA REBUSCA OU RESPIGA:
A lei previa o
socorro às viúvas, pobres, órfãos e necessitados, através do ano do jubileu e
sabático, do dizimo trienal e da rebusca ou respiga. Mas em nenhum momento isto
garantia ou poderia proporcionar salvação aos ricos e poderosos da época, pois
eles eram os maiores beneficiários da rebusca ou respiga, uma vez que viam
nesta prática a benção para suas colheitas, a não ser que alguns não deixassem,
como acontecem hoje. Duvido que sitiantes e fazendeiros não ordenam a seus
empregados para recolherem todos os grãos, até mesmo os que teimarem em caírem
por terra. Em Israel ninguém tinha coragem de fazer isto, era maldição na
certa.
E o que dizer dos
outros beneficiários. Eles ficavam rodeando as propriedades, não precisavam ser
chamados, transportados ou avisados. Eles esperavam ansiosamente o primeiro
sinal de inicio da colheita para andarem após os segadores para então se
fartarem com o socorro de Deus. Às vezes era uma providência humana, que nos
diga o interessadísismo[4]
Boaz, que não tirou os olhos de Rute tão logo a conheceu. A Bíblia de Aplicação
Pessoal em sua nota de rodapé (Lv 19.9-10) assim descreve a lei da rebusca ou
respiga”.
“Esta era uma
proteção para o pobre e o estrangeiro, e uma lembrança de que Deus era o Dono
da terra; e seu povo era apenas o zelador. Leis como esta evidenciavam a
generosidade e liberalidade de Deus. Como povo de Deus, os israelitas
precisavam refletir, em ações e atitudes, a natureza e as características dEle.
[...] Deus mandou que os hebreus cuidadessem dos necessitados. Ele ordneou que
as espigas a beira dos campos não fossem colhidas, provendo assim alimentos
para os pobres e viajantes”. BAP (2003, p. 162).
Até mesmo Jesus se aproveitou deste artigo da lei para saciar sua fome e
a dos discípulos. Ele foi repreendido, não pela invasão, mas porque era sábado.
Que loucura. Ele é dono daquelas terras, do sábado, da terra e do universo e da
eternidade.
Ele permitiu que seus discípulos entrassem em uma propriedade particular
para colher espigas (Mc 2.23), pois estavam famintos, estavam resguardados pela
lei, o erro maior não foi deles, mas de Israel, que não recebeu e não deu as
mínimas condições para que Jesus desenvolvesse seus ministério, na verdade, nem
precisou, fique com suas riquezas.
5) LEI DA CIRCUNCISÃO – A TEMIDA PELOS GENTIOS:
Não creio que
Jesus ouvirá naquele e grandioso dia: “Em teu nome praticamos inúmeras
circuncisões, em teu nome operamos estes sinais”.
"Nem todo
aquele que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no reino dos céus, mas aquele que
faz a vontade de meu Pai que está nos céus vai entrar. Muitos me dirão naquele
dia: 'Senhor, Senhor, não
profetizamos em teu nome, e em teu nome não expulsamos
demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?' E então eu lhes direi: 'Eu
nunca sabia que você; Afasta de mim, você que praticam a iniquidade (Mt
7:21-23)”. MACATHUR (1939, capítulo 14)
Sinais para que?
Para confirmação do pacto abraâmico? Sim. Para salvação, não! A Bíblia de
Aplicação Pessoal em sua nota de rodapé (Js 5.2-3), assim define a circuncisão:
“O rito da circunciao marcou a posição de Israel como povo que possuia
uma aliança com Deus. Quando o Senhor fez o pacto original com Abraao, exigiu
que cada macho fosse circuncidado como sinal de desligamento da velha vida e o
inicio de uma nova existência com Deus (Gn 17.13). Outras culturas daquele
tempo usavam a circuncisão como um sinal do inicio da idade adulta, mas só
Israel usou isto como uma prova de obediência a Deus. O homem seria
circuncidado só uma vez”. BAP (2003, p.283)
Paulo estava
muito preocupado com a incursão de judeus que não se rendiam a verdadeira
conversão e possivelmente alguns gentios, que certamente não corriam ou que já
estavam completamente envolvidos com a circuncisão. Estes tais teimavam em
rodearem as igrejas para associarem esta incisão carnal à salvação.
“Tendo
claramente estabelecida a verdade do evangelho, os escritores do Novo
Testamento estão preocupados que as pessoas não se engane sobre a autenticidade
de sua salvação. Assim, o Novo Testamento desafia constantemente crentes
professos se examinar e se certificar de que sua fé é genuína. A preocupação
com a autenticidade de salvação foi pela primeira vez no Novo Testamento pelo
precursor do, Messias
João Batista. Em um
movimento que parece chocante no nosso dia de "user-friendly" abordagens
para apresentar o evangelho, João corajosamente enfrentou os falsos crentes
de sua
época: "Quando viu
muitos fariseus e
saduceus que vinham
ao batismo, disse-lhes: "Raça
de víboras, quem
vos ensinou a
fugir da ira vindoura? Portanto dar frutos dignos de
arrependimento (Mt 3:7-8)”. MACATHUR (1939, capítulo 14)
Este foi o
motivo da caminhada de Paulo e Barnabé até Jerusalém, saindo de Antioquia, a
primeira e verdadeira igreja misisonaria (At 13.1-3). Paulo “bufava” indignado
com o ataque dos judaizantes. Ele não se conformava. Não era mais preciso. Tudo
havia sido abolido pela vinda, morte e ressurreição de Jesus.
Os judeus não
convertidos de fato não compreendiam que a salvação estava ali a disposição no
presente e não mais se baseava em ritos do passado, mas eles teimavam em
descansar e depositar a esperança naquele evento que não tinha mais utilidade
na igreja. Sacrifícios carnais para que? peregrinações para que? Pesos nas
costas e flagelos para que?
“Infelizmente,
apesar dos avisos claros das Escrituras, muitos são enganados sobre a sua
verdadeira condição espiritual. Embora eles pensam que estão no caminho
estreito que leva ao céu, eles são realmente no caminho largo que conduz ao
inferno. Eles baseiam sua falsa segurança de salvação de uma série de provas
que, na realidade não provam nada”. MACATHUR (1939, capítulo 14).
Mas até
entendemos o medo de alguns, que por rejeitarem estes preceitos se consideravam
“foras da lei”, realmente seria difícil se desvencilharem do passado, abraçarem
uma nova fé, acreditarem que tudo já havia se cumprido Nele (Jesus). A aflição,
o temor pelo aparecimento dos guardiãos da lei ou dos “quase templários”, era
grande. De uma hora para outra poderia surgir a hoste inquisidora judaica com a
sentença na ponta das línguas.
Aos que
pregavam a circuncisão com peso salvífico, Paulo chamou de cães, maus obreiros.
Professores cães, que deviam ser ignorados, resistidos e combatidos:
“Paulo primeiro
descreve os falsos mestres como cães. Ao contrário dos cães de estimação
(kunarion) descritos em Mateus 15:26-27, Kuon (cães) refere-se aos catadores
selvagens que assolaram cidades antigas.
Esses canalhas vagavam em bandos, alimentando-se de lixo (Ex. 22:31; 1 Reis 14:11;
16:4; 21:23-24) e, ocasionalmente, atacar
seres humanos. Foram desprezados, e "cão" era frequentemente usado
como um termo depreciativo (cf. Dt 23:18; 1 Sm 17:43, 24:14; 2 Sam 9:8; 16:9; 2
Reis 8...: 13;. Sl 22:16). De fato, os judeus nos tempos bíblicos comumente
chamado com desprezo para os gentios como cães. Surpreendentemente Paulo, um
judeu, chamou a
estes judeus cães falsos
professores. Ele advertiu os filipenses a tomar cuidado com aqueles que chamam
outros cães, mas na realidade são cães. A descrição do apóstolo é montagem. São
cães imundos e sujos? Assim são os falsos mestres. São cães ferozes e
perigosos, e devem ser evitados? Assim são os falsos mestres. Assim são todos
aqueles que ensinam a salvação pelas obras”. MACATHUR (1939, capítulo 14).
Tudo bem que a circuncisão foi ao longo da história
marca essencial para os judeus, para distinguí-los e mostrar toda a obediência
a Deus, através do pacto abraamico e que deveria ser respeitada como sinal
religioso, fato concreto aceitado até mesmo por Paulo, pois ele narrou toda sua
história como judeu e testemunhou sua circuncisão ao oitavo dia e de declarou ter
seguido todos os ritos da lei como um bom judeu que era.
Mas daí e a partir desta lacuna espiritual, obrigar
novos convertidos gentios da igreja primitiva a praticarem e acreditarem, isto
foi demais para o apóstolo missionário, fundador e zelador das igrejas. Ah! Se
ele tivesse visto uma placa em seu tempo:
“IGREJA PENTECOSTAL FILHOS SE SIQUÉM”
Aqui a circuncisão é pela fé!
Aqui o fogo é puro, nunca se acaba! Aqui atemos
fogo no rabo de raposas (Jz 15.4)
Mas não se esqueçam! Salvação é somente para os
circuncidados. Obs: não existe limite ou número de salvos. Basta somente aderir
à prática (circuncisão – Gn 34.22)
Pernas
para que te quero! Jesus nunca perguntou aos discípulos, principalmente em uma
das primeiras reuniões de obreiros (Mt 10.1-42), se todos foram circuncidados
ao oitavo dia de vida. Queria ver um corajoso para circuncidar Sansão, já
adulto, caso ele fosse um gentio. Ou então um “doido” para circuncidar um
gentio ainda mais doido, um incircunciso chamado Golias, lá na faixa de Gaza.
Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal - BAP (ARC). CPAD, 2003.
Bíblia de Estudo Temas em Concordância. Nova Versão Internacional (NVI).
Rio de Janeiro. Editora Central Gospel, 2008
Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje (NTLH). Barueri (SP).
Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.
Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil,
Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003.
MACARTHUR, John. Novo Testamento. Comentários
expositivos Filipenses. 1939.
[1]
Representando o total de ossos humanos, segundo entendimento e tradição
judaica.
[2]
Representando cada dia do ano. Portanto o entendimento eraque os 248 ossos deveriam
se empenhar durante os 365 dias do ano para não transgredirem os mandamentos
negativos da Lei.
[3]
Esistem mitas diferenças, rusgas, mágoas até mesmo entre os ditos “cunhados”
Por: Ailton da Silva - Ano IV - caminhando para o ano V
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