Em 2009, diante de uma situação dificil de minha vida, resolvi me aventurar em algo que certamente jamais voltarei a repetir.
Resolvi correr a corrida de São Silvestre e anos mais tarde comecei a refletir em alguns acontecimentos durante e depois da corrida. Resolvi relatar os fatos e tentei aplicá-los na vida espiritual. Tirando o lado místico e idólatra da corrida creio que deu para extrair alguns ensinamentos daquele evento.
MINHA EXPERIÊNCIA NA SÃO
SILVESTRE (2009)
A) LARGADA
Demorei uns quinze minutos para ultrapassar a linha de inicio da
corrida. Eram mais de vinte mil participantes se espremendo, sonhando com a
chegada sem ter ao menos iniciado a carreira. Um desespero tomou conta, pois
via que a corrida já havia começado, mas não conseguia chegar até a faixa onde
começaria a marcar o tempo. Uma estranha alegria tomou conta de mim em meio ao
desespero.
Aplicação: Demorei vinte e dois anos
para iniciar a minha corrida espiritual. Como foi difícil o começo. Parecia que
não saia do lugar, parecia que não estava ocorrendo nenhuma mudança na minha
vida, mas estava sim, algo aconteceu, somente não percebi. Era melhor correr ao
passo do gado, devagar.
B) DESÂNIMO
Quando passei pela linha que demarcava o inicio da corrida, ainda
havia muitas pessoas entre os espectadores que gritavam, uns incentivando:
“vamos, força, coragem vocês conseguem” e outros desanimando: “vocês são
loucos, vão morrer, vão embora”.
Aplicação: No início da corrida
espiritual também nos deparamos com a mesma situação, haja vista, que
encontramos pessoas para nos incentivar: “Deus é contigo, força, busque, ore e
confie”, mas do outro lado certamente existem aqueles que sempre dizem: “vocês
são loucos, fanáticos, vão morrer. Salvação não existe, o inferno é aqui” e
coisas do gênero para desanimar os que abraçam a fé.
C) A
DISPARADA
Sai como um foguete no inicio da corrida, logo no primeiro
quilometro me senti senhor da situação, não me preocupei com o cansaço ou com
as dificuldades que fatalmente apareceriam. No segundo quilometro a situação
ficou ainda melhor, pois se tratava de uma descida, onde tinha um cemitério,
mas foi justamente neste trecho que quase cai, embalado que estava, pisei em
falso em um obstáculo.
Aplicação: No inicio da nossa
caminhada espiritual saímos às pressas correndo a mil por hora, com a vontade
de ganhar o mundo, é como se estivéssemos em uma grande ladeira, quem segura?
Mas o cuidado tem que ser redobrado neste período, pois a correria inicial pode
ser fatídica. Lembram do cemitério que passei quando estava descendo? Quantos
morrem logo no inicio da corrida espiritual? Saem em disparada e não percebem o
perigo ao derredor.
D) A
CALMARIA
Depois da descida adentrei na parte central velha da cidade, a
região da República. Ali consegui dar uma respirada, um alivio e deu até para
sentir uma diferença no trajeto. Ruas planas deu a sensação de calmaria.
Aplicação: Depois da correria
inicial, quando percebemos a impossibilidade de atingirmos o mundo todo,
entramos em um período de reflexão, um amadurecimento, uma mudança na rotina.
Neste período sentimos a diferença, a sensação de calmaria é notória.
E) O
PRIMEIRO SINAL DE CANSAÇO
No “minhocão”, Elevado Costa e Silva, comecei a sentir a dureza da
corrida. A subida é notada, a vibração do viaduto assusta e quando olhei para
trás vi uma grande multidão. Nos prédios ao lado os moradores gritavam: “Voltem
para casa, pois a corrida já terminou. O vencedor foi o fulano e a novela já
começou”, isto sem mencionar os gritos aos fundos: “vai Corinthians”.
Aplicação: Ao primeiro sinal de
cansaço de nossa parte o inimigo tenta se aproveitar da situação. Perigos,
vibrações, intempéries, mudanças radicais no caminho, subidas, descidas,
multidão, apertos, gritos de desânimo entre outros. Assim como aquele grande
viaduto parecia tremer, às vezes sentimos nossas forças sendo abaladas. Mesmo
vibrando o viaduto suportou todo o peso da multidão, tal como a igreja, que
mesmo sob pressão ainda é capaz de abrigar todos os seus membros.
F) DIGA NÃO
AS OFERTAS
Aquela altura da caminhada procurei companheiros para juntos
terminarmos a corrida. Os mais experientes procurava incentivar uns aos outros
e aconselhava-nos a não aceitarmos ofertas de água das pessoas que estavam nas
calçadas. Segundo eles era deveríamos pegar água somente nos postos de apoio
oficial. Era muito arriscado aceitar qualquer oferta ou ajuda de estranhos.
Aplicação: É bom termos companheiros
para andarmos juntos. Nunca sabemos qual será nossa reação diante da
adversidade. As vezes vacilamos e aceitamos qualquer ofertinha durante a
caminhada, mesmo parecendo boas ou de Deus, devemos ter o cuidado e analisá-la,
por isto a presença de um companheiro é importante, já que com sua experiência
podemos ser auxiliados.
G) O MEIO DA
CAMINHADA
Eu estava no sétimo quilometro e senti a canseira. Olhei para os
lados e via todos correndo, mesmo em dificuldades, por isto me senti
envergonhado e decidi continuar. Avistei uma viatura da policia e me veio um
pensamento: “vou fingir que estou mal e eles irão me socorrer”. Fiz a conta bem
rápido e cheguei a seguinte conclusão: “Estou no sétimo quilometro, faltam
oito. Se resolver parar, terei que voltar os sete quilômetros para trás ou
seguir andando os oito que faltam. É melhor continuar, mesmo cansado”.
APLICAÇÃO: Às vezes o cansaço
aparece na metade do caminho, já que no início por estarmos a pleno vapor não
sentimos nada. Nesta fase da vida espiritual é mais fácil sentir o cansaço, é o
momento de refletirmos, avaliarmos os prós e os contra e continuar, pois
lembramos de onde fomos tirados e de onde estamos e para onde iremos, tal como
imaginei na corrida, quando cheguei a conclusão que já havia percorrido sete e
que faltavam oito, não adiantava parar, ainda mais quando percebi que muitos ainda
tinham um vigor assustador. Além do mais sempre aparecerá alguém para nos
ajudar e incentivar.
H) PIOR
MOMENTO ANTES DO PRÊMIO
Sempre ouvir falar sobre a subida da Brigadeiro e comecei a imaginar
como seria. No início estranhei e achei que não era tudo o que falavam, dava
para subir tranquilamente. Estava somente no inicio da rua, ainda estava mansa,
mas aos poucos comecei a entender as dificuldades dos atletas.
No meio da subida senti câimbras nas pernas e pensei em parar, porém
continuei, faltava pouco mais de um quilometro. Algumas pessoas gritavam
incentivando-nos: “continuem, falta pouco, continuem”, mas teve uma mulher que
fazia o contrário, ela gritava para uma das atletas: “sua fracote, se fosse eu
já teria terminado”. Fique olhando aquilo e não aceitava a situação. Ao meu estava
um jovem corredor que disse: “a Brigadeiro eu subo assim”. Ele ficou de cabeça
para baixo, andou alguns metros e depois voltou ao normal. Estava fazendo
graças e não percebeu que poderia se machucar. Quando terminei aquela subida
entrei na avenida Paulista, últimos quinhentos metros, respirei aliviado quando
contemplei a linha de chegada. Bem ao fundo ouviu o locutor oficial: “atenção
corredores, o limite para chegada é até as 19:15 horas”. Eram poucos mais de 19
horas. Cheguei ao final e não tinha ninguém me esperando, nem mesmo aqueles que
estavam tentando desanimar os corredores logo na largada. Cruzei a linha de
chegada e fiz questão de ficar alguns minutos esperando o restante dos
corredores que estavam atrás de mim. Foram muitos ainda que cruzaram depois de
mim.
Aplicação: Às vezes ficamos
imaginando como será o final de nossa carreira e não percebemos que também é um
período duro e difícil da vida espiritual, pois se não vigiarmos podemos perder
tudo o que construímos, tal como o jovem corredor que se imaginou em condições
de correr de cabeça para baixo, poderia ter se machucado e fatalmente não
cruzaria a linha de chegada. Neste período da caminhada o cansaço aparece, mas
é hora de continuarmos, mesmo diante das zombarias, das palavras de desanimo e
das dores que nos provocam ou que procuramos, que tentam nos tirar o foco da
chegada. O bom é corrermos e vigiarmos para chegarmos inteiro ou com dores para
então declararmos: “Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé”.
Por: Ailton da Silva - 5 anos (Ide por todo mundo)
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