Ninguém
poderia reclamar, pois a autorização, recursos, investimentos e encarregados
para administrarem aquela tão grande obra já estava ali em Jerusalém.
A parte mais difícil havia ficado com Deus, que tocou
no coração de um ímpio, para que se cumprisse a palavra dita por Jeremias (Jr
25.11; 29.10), o qual ordenou e destacou o primeiro pelotão de corajosos e
ávidos pela reconstrução. A benção foi tão grande que até mesmo o que havia
sido roubado por Nabucodonosor (2 Cr 36.18; Jr 52.18-19), um a um, foram
restituídos segundo as ordens do satisfeito e admirado rei Ciro, que se alegrou
por ter sido escolhido por Deus para tamanho feito.
“No primeiro ano do reinado de Ciro, rei dos
persas, setenta anos depois que as tribos de Judá e de Benjamim foram levadas
escravas para a Babilônia, Deus, tocado de compaixão pelo sofrimento delas,
realizou o que havia predito pelo profeta Jeremias, antes mesmo da ruína de
Jerusalém: que, passados setenta anos em dura escravidão, sob Nabucodonosor e
seus descendentes, voltaríamos ao nosso país, reconstruiríamos o Templo e
desfrutaríamos a nossa primeira felicidade. Assim, pôs Ele no coração de Ciro
escrever uma carta e enviá-la por toda a Ásia. [...] Esse soberano falava assim
porque lera nas profecias de Isaías, escritas duzentos e dez anos antes que ele
tivesse nascido e cento e quarenta anos antes da destruição do Templo, que Deus
lhe tinha feito saber que constituiria a Ciro rei sobre várias nações e
inspirar-lhe-ia a resolução de fazer o povo voltar a Jerusalém para reconstruir
o Templo. Essa profecia causou-lhe tal admiração que, desejando realizá-la,
mandou reunir na Babilônia os principais dos judeus e anunciou que lhes
permitia voltar ao seu país e reconstruir a cidade de Jerusalém e o Templo, que
eles não deveriam duvidar de que Deus os auxiliaria nesse desígnio e que
escreveria aos príncipes e governadores de suas províncias vizinhas da judéia
para que lhes fornecessem o ouro e a prata de que iriam precisar e as vítimas
para os sacrifícios” JOSEFO (livro décimo primeiro, capítulo 4).
Que alegria, que avivamento fora provocado
entre os judeus. E o que dizer do temor provocado nas outras nações (Sl
126.1-2) ao contemplarem a comitiva dos vitoriosos retornando para Jerusalém?
Todos cheios de planos! Planos? Que planos?
- Resgatarem a economia judaica?
- Incentivarem a construção civil com subsídios que certamente Zorobabel, o governante, ofereceria?
- Elevarem a auto-estima dos judeus, que por muito estava por baixo, principalmente daqueles que foram “deixados para trás” (Ne 1.1-3; Lm 1.1-6)?
- Aproveitarem a experiência política adquirida na Babilônia e Pérsia para provocarem uma revolução em Jerusalém? Talvez transformando a cidade do reino em uma grande cidade do império judeu.
O único plano traçado, ainda na Pérsia e
revelado a Ciro, dava conta da reconstrução do Templo salomônico (2 Cr 36.23) e
isto alegrou o coração deles durante a longa viagem, tanto que não cansavam de
repetir. “Em nome de Jeová, quando chegarmos, iniciaremos rapidamente a
reconstrução”.
Planos traçados no meio do caminho são bem
diferentes das ações no ato da chegada. Este dilema também foi enfrentado por
Neemias em seu retorno, pois a ousadia e coragem demonstrada por ele, no seu
pedido ao rei Assuero (Ne 2.5) e durante a viagem, quase foram sufocados na sua
chegada em Jerusalém. A principio, a recepção foi um tanto quanto calorosa (Ne
2.10), já que ele foi quase queimado vivo pelos olhares de Sambalate, Tobias e
Gesém, mas os três dias de inspeção noturna, em silêncio, confortaram o seu
coração e devolveram a confiança na vitória.
Neemias se deparou com a necessidade e urgência
da obra, para a qual havia sido enviado, tal como os primeiros judeus que
retornaram com Zorobabel e Josué, que encontraram uma cidade ainda em piores
condições, portanto o trabalho deles seria maior e como já vieram com o plano
em mente, logo colocaram em prática (Ed 3.1-3) iniciando pelo altar, vindo
depois as bases do alicerce.
Certamente, alguns devem ter questionado acerca
desta decisão, pois como priorizariam a reconstrução do Templo, a maior riqueza
espiritual concreta, e o apresentariam aos seus vizinhos e inimigos todo aquele
tesouro?
“Restituímos também, por meio de Mitredate e de
Zorobabel, os vasos sagrados que o rei Nabucodonosor retirou do Templo, para
que lá sejam recolocados. Seu número é de cinqüenta bacias de ouro e
quatrocentas de prata; cinqüenta vasos de ouro e quatrocentos de prata;
cinqüenta baldes de ouro e quinhentos de prata; trinta grandes pratos de ouro e
trezentos de prata; trinta grandes taças de ouro e duas mil e quatrocentas de
prata; e, além disso, mil outros grandes vasos”. JOSEFO (livro décimo primeiro,
capítulo 4).
Estavam completamente desprotegidos, já que os
muros da cidade ainda estavam queimados e reduzidos ao pó. Deveriam cuidar
primeiramente do espiritual, das coisas de Deus, que certamente o material
seria acrescentado (cfe Mt 6.33). Além do mais, esta tarefa seria de Neemias
(Ne 6.15), que finalizaria todo processo de reconstrução da cidade e nação.
Mas os judeus não entenderam que era necessário
iniciarem e concluírem a reconstrução, tanto que os planos traçados no caminho
foram sufocados pelas adversidades encontradas. Facilmente foram intimidados
pelos opositores, os mestiços samaritanos (2 Rs 17.24), que conseguiram
paralisar a obra. A primeira tentativa foi através do engano, pois se infiltrariam,
fingindo-se adoradores, para então sabotarem a reconstrução (Ed 4.1-2).
“Essa notícia chegou até Samaria, e os
habitantes dessa cidade vieram indagar o que se passava. Ao saber que os
judeus, regressando do cativeiro da Babilônia, haviam reconstruído o Templo,
rogaram a Zorobabel, a Jesua, sumo sacerdote, e aos principais das tribos que
lhes permitissem contribuir para aquelas despesas, dizendo que adoravam o mesmo
Deus e que não tinham outra religião desde que Salmaneser, rei da Assíria, os
trouxera da Chutéia e da Média para morar em Samaria. Todos de
comum acordo responderam que não podiam fazer o que desejavam, porque Ciro e
Dario haviam permitido que só eles, os judeus, reconstruíssem o Templo, mas que
isso não impediria que eles e todos os de sua nação viessem adorar a Deus, o
que podiam fazer com toda a liberdade” JOSEFO, (livro décimo primeiro, capítulo
4).
Judeu convicto, certos de sua missão, calejado
e que havia aprendido com a rapidíssima aula na Babilônia, durante os setenta
anos de exílio, certamente não cairia nesta conversinha ecumênica. Tal como
Neemias (Ne cap. 4) que soube muito bem lidar com situação semelhante.
“Deixem-nos edificar convosco, porque como vós,
buscaremos a vosso Deus, como também já lhe sacrificamos desde os dias de
Esar-Hadom, rei da Assíria, que nos mandou vir para aqui”. Esdras 6.1-2.
Deixem-nos edificar convosco? Porque buscaremos
a vosso Deus? Vosso? Porque não disseram o nosso Deus? E sacrificaremos como
nos dias do assírio Esar-Hadom? Eles sacrificaram naqueles dias para fugirem
dos leões. Aqueles estrangeiros (2 Rs 17.24-41) confessos fariam tudo aquilo de
novo?
Zorobabel e Josué não caíram naquela cilada e
não permitiram a mistura durante a obra. Estavam cumprindo as ordens do rei
Ciro que foram bem taxativas: “reconstruam vocês”. Foi então que os samaritanos
partiram para o plano B, as falsas acusações junto ao império persa.
Para desmotivarem o povo foi fácil, não
precisaram de muito esforço ou sequer repetiram a dose. O tiro foi certeiro. O
decreto de paralisação foi editado, publicado na imprensa oficial da época e a
obra foi embargada (Ed 4.24).
Então os trabalhos de adoração e sacrifícios
deveriam ser feito ali mesmo, nas bases do alicerce do antigo Templo ou entre
as ruínas, enquanto isto os que não fossem nas reuniões ficariam em suas casas
arejadas, grandiosas, bem acabadas, sofisticadas, arquitetadas, etc.
Ou alguns destes judeus ofereceram suas casas,
suas garagens, seus quintais, para que todos se reunissem tal como fizeram nos
duros anos na estadia babilônica? Ou quem sabe se reuniram embaixo dos
salgueiros para salmodiarem e cantarem louvores a Jeová (Sl 137.1-4).
Havia júbilo quando eram chamados à casa do
Senhor (Sl 122.1)? Não puderam cantar em terras estranhas (Sl 137.4), também
não poderiam fazer o mesmo em condições estranhas tanto quanto a anterior. No
exílio estavam sem o Templo, mas em Jerusalém também estavam!
Teríamos coragem de participarmos de reuniões
expostos ao sol, vento, chuva escárnios e comentários, tipo: “eles não tem
lugar para se reunirem? Não conseguem construir um templo próprio? Não tem
recursos? Ou falta coragem?”
Faltam homens de mulheres que tomem a frente,
que lancem desafios tal como Zorobabel e Josué (Ed 4.3). A mesma reação tiveram
os mercadores, vizinhos e inimigos de Israel quando passavam por Jerusalém e a
viam em ruínas, sem muros e portas. Eles exclamavam: não tem homens nesta
cidade para a reconstruírem?”
A primeira etapa do plano de Deus para
reconstruírem a cidade estava finalizado, restava agora Esdras retornar com o segundo
grupo para resgatar o ensino da lei e Neemias para reerguer os muros e portas
da cidade.
“Depois de no segundo mês do segundo ano
lançarem os alicerces do Templo, começaram, no dia primeiro de dezembro, a
construir a parte superior. Todos os levitas com vinte anos ou mais, e Jesua,
com os seus três filhos e seus irmãos, e Cadmiel, irmão de Judá, filho de
Aminadabe, com os seus filhos, que haviam sido encarregados da direção dessa
obra, nela trabalharam com tanto empenho e solicitude que a concluíram muito
antes do esperado. Então os sacerdotes, revestidos de seus vestes sacerdotais,
marcharam ao som de trombetas, enquanto os levitas e os descendentes de Asafe
cantavam em louvor a Deus hinos e salmos compostos pelo rei Davi. Os mais
antigos do povo, que haviam contemplado a magnificência e a riqueza do primeiro
templo, considerando o quanto esse estava longe de igualá-lo e julgando assim a
grande diferença entre a sua prosperidade no passado e a presente, sentiram tão
profunda dor que não puderam reter as lágrimas e soluços. O povo em geral,
porém, ao qual somente o presente podia impressionar, não fazia tal comparação.
Estava tão contente que as queixas de uns e os gritos de júbilo de outros
impediam que se ouvisse o som das trombetas”. JOSEFO (livro décimo primeiro,
capítulo 4)
Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003
Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje. Barueri (SP).
Sociedade Bíblica do Brasil, 2000
Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil,
Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2003
JOSEFO, Flávio.
História dos Hebreus. De Abraão a queda de Jerusalém. 8ª Ed. Traduzido por
Vicente Pedroso. Rio de Janeiro. CPAD, 2004
Nenhum comentário:
Postar um comentário