Engraçado, que Acabe quase se
arruinou emocionalmente por não ter conseguido fechar negócio com Nabote, a
ponto de se isolar em seus aposentos reais e se afogar em suas lágrimas como um
grande fracassado, mas o estranho é que ele não teve a mesma reação, logo de início,
quando o sírio Ben-Hadade, rei da nação que despontava como séria inimiga de
Israel, bateu o pé, mandando recado que logo se apossaria de todos os seus pertences
(1 Rs 20.3). A Bíblia de estudo aplicação pessoal em sua nota de rodapé (1 Rs
20.1ss), comprova o perigo que rondava Israel na época.
“Três principais inimigos ameaçaram
Israel e Judá durante os dois séculos seguintes – Síria, Assíria e Babilônia. A
Síria, a primeira nação a subir ao poder, representava uma ameaça imediata para
Acabe e Israel”. BAP (p. 494).
Passado este perigo Acabe (1 Rs
20.19), respirou aliviado, pois poderia direcionar suas preocupações com o seu
reinado e principalmente, com os seus súditos, e porque não dizer com os
pertences daqueles que se mostravam fiéis a ele.
Afinal, que vitória majestosa, com
a ajuda de Deus. Venceu aquele que desejava se apossar de sua nação, de seu
povo, de suas propriedades, de sua família, de tudo o que possuía. E olha que
tinha muito por ser tomado. Palácio em Samaria, casa de verão em Jezreel, uma
mulher dita “maravilhosa, estrondosa, linda e agradável aos seus olhos” (cf Jz
14.3, p. final). Ela foi bem descrita por Josefo:
“Jamais mulher alguma foi mais
ousada e insolente. Tão horrível era a sua impiedade que ela não se envergonhou
de edificar um templo a Baal, deus dos tírios, de plantar madeiras de todas as
espécies e de estabelecer falsos profetas para prestar um culto sacrílego a
essa falsa divindade. Como Acabe sobrepujava a todos os seus predecessores em
maldade, ele tinha prazer em manter sempre essa espécie de gente junto de si”.
JOSEFO (livro oitavo, capítulo 7).
Então o que poderia ser feito
daquele momento em diante? Percorrer seu reinado e agradar seus olhos com a riqueza
e prosperidade de todos. Que alegria em ver seus súditos felizes e agradecidos
pela vitória. Acabe pensou: “Espere um pouco, preciso aliviar a tensão dos
últimos dias? Toda a angustia que senti, ante a invasão iminente, preciso
desabafar, conversar com alguém, vou às compras!
Mas tal como um gato preguiçoso,
ele não conseguiu ir muito longe, andou apenas alguns metros (1 Rs 20.1) e deu
de cara com aquilo que seria capaz de alegrar o coração. A propriedade de um
pobre trabalhador, zeloso pela Lei e fiel súdito.
O que parecia alegria, de inicio,
tirou-lhe a calma e quase separou sua carne da alma (cf Hb 4.12), mas esta
ameaça ficou somente no quase, pois esta divisão é atribuição exclusiva da
Palavra de Deus. A alegria primeira se transformou em princípio de depressão.
Ele tentou de todas as formas fechar aquele negócio, ofereceu dinheiro, quem
sabe muito. Ofereceu prestígio, pois estava ele mesmo negociando, sem a
presença de corretor ou atravessador e por fim ofereceu a possibilidade de
crescimento material, prosperidade, já que propôs a troca por outra vinha maior
e melhor. Josefo descreveu como se deu esta negociação e porque houve a recusa:
“Um homem da cidade de jezreel,
chamado Nabote, possuía uma vinha que confinava com as terras do rei Acabe.
Várias vezes o soberano rogou-lhe que a vendesse ao preço que quisesse ou a
trocasse por qualquer outra, porque tinha dela necessidade, para aumentar o seu
parque. Nabote, porém, jamais se decidiu a isso, dizendo que nenhuma outra uva
lhe poderia ser mais agradável que a produzida por uma vinha deixada pelo pai”.
JOSEFO (livro oitavo, capítulo 7).
Aquela recusa doeu em Acabe, muito
mais que as ameaças de Ben-Hadade, rei sírio. Saiu correndo, chorando, se
trancou em seu quarto, como um mimado menino diante de um não. Seu choro
despertou sua rainha, que logicamente lhe trouxe palavras de consolo, na
tentativa de animá-lo ou quem sabe lhe aconselhou a procurar outros terrenos,
outras propriedades maiores e mais rentáveis do que aquela que estava ao lado
deles. Antes ela tivesse se portado desta forma, mas o que fez mudou
completamente o rumo daquele história. Josefo descreveu o estado emocional do
rei, as artimanhas da maldosa rainha e o trágico fim de uma família de fiéis
súditos:
“Essa recusa ofendeu de tal modo a
Acabe que ele não quis mais comer nem tomar banho. Jezabel perguntou-lhe a
causa daquilo, e ele contou que Nabote, por uma estranha grosseria, lhe
recusara obstinadamente vender ou trocar a sua vinha, embora ele se tivesse
humilhado e lhe rogado em termos indignos da majestade de um rei. A altiva
princesa respondeu que aquilo não era motivo pelo qual se devesse afligir, a
ponto de esquecer até o cuidado com a própria pessoa, e que se tranquilizasse e
confiasse nela, sem se preocupar mais: ela tomaria providências, e a insolência
de Nabote seria castigada. Imediatamente mandou escrever em nome do rei aos
principais oficiais da província, para que decretassem um jejum, e, quando o
povo estivesse reunido, dessem o primeiro lugar a Nabote, pela nobreza de sua
descendência, mas em seguida fizessem ele ser acusado por três homens, que o
rei lhes mandaria, de ter blasfemado contra Deus e contra o rei. Desse modo,
ele seria então eliminado. Tudo foi executado, e Nabote foi apedrejado e morto
pelo povo. JOSEFO (livro oitavo, capítulo 7).
Mas Acabe teve uma companheira
fiel, alguém como quem pode desabafar, aliás, que fez de tudo para compreender
e resolver o problema do marido, até mesmo se inteirar de um assunto que
desconhecia, por ideais e por não suportar, pois teve que procurar na Lei
alguma brecha pela qual poderia acusar o pobre Nabote.
Jezabel conseguiu dar uma roupagem
espiritual para o seu plano, pois como Nabote houvera invocado seus direitos
assegurados na Lei (Lv 24.13-16), ela, portanto, decretou que pela mesma fonte
ele deveria ser morto. Convocou as testemunhas, conforme previsto por Moisés (Dt
17.6-7), porém mentirosas, bem diferente do pedido e formalizou a acusação.
Nabote e sua família foram apedrejados e mortos
injustamente.
Que plano digno de aplausos, mas o que esperar
desta mulher, que somente fez uso da Lei para roubar, matar, destruir e
justificar os seus erros. Esta foi a maneira que ela encontrou para “curar” o
início de depressão de Acabe. Que fascinante este “dom de curar” que ela
possuía! Ela chegou em sua residência de verão em Jezreel e gritou bem alto: “RECEBA, tome posse da benção,
Acabe, e não se preocupe, pois o fim justifica os meios! Conforme escrito por
Josefo:
“Jezabel de imediato mandou dizer
ao rei que ele poderia tomar posse da vinha de Nabote quando quisesse, sem que
isso lhe custasse coisa alguma. Ele ficou tão contente que se levantou da cama
e para lá se dirigiu no mesmo instante. Deus, porém, cheio de cólera, mandou
Elias perguntar-lhe por que havia feito morrer o possuidor legítimo daquela
propriedade, pois dela se havia apoderado injustamente”. JOSEFO (livro oitavo, capítulo 7).
Que alegria poder passear pelos
seus campos e contemplar aquela vinha condenada a virar uma horta. Que alegria
por ver que sua autoridade e riqueza ainda falavam mais alto. Que alegria, que
alegria, que alegria, até que contemplou o Tisbita, o perturbador de Israel (1
Rs 18.17).
Na integra o diálogo dos dois:
- O que eu fiz agora? Me tens por
inimigo? Disse Acabe.
- Sim, tenho por inimigo, porque se
vendeste para fazer o que é mau aos olhos do Senhor. Disse Elias.
- Mas eu não fiz nada, foi ela, foi
esta mulher que Deus me deu (cf Gn 3.12). Retrucou Acabe.
- Mulher que Deus te deste? Toma
vergonha Acabe, esta desculpa não cola mais. Deus não te deu mulher nenhuma,
lembra que foi você que foi buscá-la em Sidom? Finalizou Elias.
Acabe aceitou a repreensão e se
arrependeu (1 Rs 21.27) e Deus retardou por um breve momento a sentença (1 Rs
21.29), mas Jezabel, tal como no desfecho do
ocorrido no Monte Carmelo, não deu importância e continuou acreditando
nos seus inúmeros deuses, obras das mãos de homens, até que se cumpriu a
palavra dita por Elias, sobre a sua morte (1 Rs 21.23, cf 2 Rs 9;30-33). Sobre
isto Josefo escreveu:
“Quando Acabe soube que Elias vinha
ter com ele, suspeitando do que o profeta pretendia fazer, confessou, para
evitar a vergonha da censura, que usurpara a propriedade, mas que nada tinha a
ver com o sucedido. Respondeu-lhe o profeta: "O vosso sangue e o de vossa
mulher serão derramados no mesmo lugar onde fizestes correr o de Nabote e onde
destes o seu corpo para pasto dos cães, e toda a vossa descendência será
exterminada, como castigo por um outro grande crime, isto é, o de violar a lei
de Deus, fazendo morrer um cidadão contra toda espécie de justiça". Tais
palavras fizeram tal impressão no Espírito de Acabe que ele confessou o seu
pecado. Revestiu-se de um saco e saiu descalço, não desejando nem mesmo comer,
a fim de expiar a sua falta. Deus, comovido pelo seu arrependimento, mandou
Elias dizer-lhe que, como ele estava arrependido de tão grande crime, adiava o
castigo para depois de sua morte, mas que o seu filho seria castigado”. JOSEFO
(livro oitavo, capítulo 7).
Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003
Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje. Barueri (SP).
Sociedade Bíblica do Brasil, 2000
Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil,
Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003
Por: Ailton da Silva - Ano IV
Que Deus continue te abençoando! E te inspirando ao escrever esses textos. Amém!
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