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sábado, 31 de agosto de 2013

118 - Mostre-nos o chefe e nos lhe mostraremos um homem morto. "A ilusão do parto”

“É um motivo de muita alegria estarmos reunidos aqui nesta noite juntamente com os irmãos, Maria e algumas mulheres” (At 1.13-14), nesta que é uma das primeiras reuniões pós-ascensão.

O clima não era de tristeza, mas sim de alegria, pois já estavam se cumprindo o que houvera sido prometido (Jo 16.5-7) aos discípulos durante o ministério terreno de Jesus, bastava esperar a vinda do Consolar, o Outro (Jo 14.16), da mesma espécie, semelhante, porém diferente na operação e ministérios.

Jesus havia descido do céu (Jo 3.13) para resgatar primeiramente as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 15.24; 18.11, cf Mt 10.6), enquanto que o Espírito Santo teria uma abrangência maior, estenderia a Graça a todos os povos, tribos, línguas e nações e poderia ser, por conseguinte, resistido, sim a dureza do coração humano pode resistir ao trabalho do Consolador, por isto fomos orientados a não endurecermos o coração, no momento em que ouvirmos a sua voz (Hb 3.7-8).

“Graça resistível”, nada mais lógico em se tratando do plano divino de salvação da humanidade. De outra forma seria muita injustiça da parte de Deus, uma vez que nem mesmo entre seus discípulos houve manifestação da Graça irresistível, pois um deles resistiu e se perdeu (At 1.16-20).

1) Os amigos da cruz da Cristo:
Estes foram os primeiros a fazerem parte do grupo de amigos da cruz de Cristo. Eles não foram assim considerados, durante o ministério terreno de Jesus, pois não foram capazes de demonstrarem lealdade extrema ao Mestre, na verdade, eram ainda fracos (Lc 22.31-32), de pouca fé (Mt 14.31), vingativos (Mt 26.51; Lc 9.51-56). Em alguns momentos tentaram, mas as atitudes e reações anunciavam que ainda tinham muito por aprenderem.
  • Assutados: chamaram Jesus de fantasma (Mt 14.26);
  • Aborrecidos: pediram para Jesus ordenar que a mulher cananéia se calasse, para não importuná-lo mais (Mt 15.23);
  • Duvidosos: avisaram Jesus que seria impossível que a multidão fosse alimentada somente com sete pães e alguns “lambarizinhos” (Mt 14.17; 15.34);
  • Interesseiros: os filhos de Zebedeu pediram para a mãe[1] entregar um ofício informando que desejavam se assentar um a direita e outro a esquerda (Mt 20.21). Eles esperavam que o clamor da mãe garantisse o atendimento. Seriam eles adeptos da teologia: “peçam à mãe que o Filho atende”?
  • O caçador de recompensa: Judas se dirigiu pessoalmente aos príncipes dos sacerdotes, a dita “intocável sociedade religiosa judaica” (Mt 26;14; At 23.3-4), que não admitia questionamentos. Garantiram para ele uma vida fácil e prazerosa?
  • Medo: Pedro negou Jesus, depois de ter garantido que jamais cometeria tamanha torpeza (Mt 26.33; 26.69-75);
  • Debandada geral: os discípulos se dispersaram entre os becos e vielas de Jerusalém, tão logo contemplaram a espada romana a mando da ignorância judaica da época (Jo 19.26), somente um ficou ao pé da cruz, justamente o último a ser promovido às mansões celestiais. Ele gravou bem aquela cena em sua mente para que “naquele dia” (Ap 1.9-20) pudesse diferenciar corretamente o Cristo vituperado do Glorificado.
“Vale a pena ler de novo”, relembrar a reação de João ao contemplar o Cristo Glorificado:
  • Caiu como morto aos seus pés;
  • Se alegrou quando ouviu: “Não temas”. Eu sou o primeiro e o último, ou seja, antes não houve ninguém e nunca haverá outro, pois não é possível inserirmos alguém entre o primeiro e o último quando o Primeiro também é o Último;
Aquele homem, o que ficou ao pé da cruz, se assustou quando virou-se para ver quem era Aquele que estava falando com ele, que susto! Que visão maravilhosa, contraste do que estava gravado em sua mente. Rapidamente ele comparou o Cristo vituperado com o Glorificado:
  • Vestes longas e peito cingido com cinto de ouro (justiça e fidelidade);
  • Cabelos alvos, o Ancião de Dias, eterno (Dn 7.9), sábio e puro em suas sentenças. Não estavam manchados pelo sangue da cruz;
  • Olhos como chama de fogo (1.14), conhecimento, discernimento infalível. Não estavam inchados como na cruz;
  • Pés semelhantes ao latão ou bronze reluzente (1.15), como que refinados em uma fornalha, representando a sua retidão no cumprimento de sua função judicial, o justo juiz. Não estavam marcados pelos pregos ou manchado pelo sangue;
  • Voz como de muitas águas, limpa, nítida, suave, afinada como uma trombeta. Não era uma voz rouca, como na cruz quando estava sedento;
  • Em sua mão direita tinha sete estrelas (poder, controle e honra), Mãos fortes, que todo este tempo seguraram a igreja e não mais aquelas furadas e manchadas pelo sangue;
  • De sua boca saia uma espada afiada de dois gumes (1.16), sua própria Palavra (Hb 4.12);
  • Seu rosto brilhava como o sol no auge de sua força (1.16). Seu rosto não estava desfigurado como na cruz.
Portanto era de se imaginar que os discípulos não demonstrassem lealdade extrema enquanto estavam ao lado de Jesus, aprendendo com Ele, havia muito por percorrer até atingirem a estatura de varões perfeitos (Ef 4.13).

Mas se tornaram amigos da cruz, quando obedeceram as ordens recebidas (Lc 24.49),”ficai em Jerusalém”, o aparente lugar de fracasso, vergonha, queda, o cemitério de sonhos e local de muitas lembranças dolorosas. Não era tempo de saírem, mesmo que quisessem, ainda não teriam condições de fazerem missões, ganharem o mundo. Era um momento de avaliação, relfexão, preparação e não de atividades.

Por isto, devido a obediência que precedeu a benção, viram aquele local de fracasso se tornar em um ambiente gostoso de restauração. O cenário não foi mudado, não houve mudança de personagens, apenas o Outro Consolador entrou em ação.

A lógica seria fugirem como os seguidores de dois grandes mestres no blefe, na época, Teudas (At 5.36), que havia arrebanhado cerca de quatrocentos seguidores, que tão logo contemplaram seu corpo caído sem vida, fugiram como bodes desgovernados, sem rumo e sem ninguém para cuidar. Outro que ajuntara alguns salteadores para sedição foi “aquele egípcio” (At 21.38), com o qual Paulo foi confundido, que audácia comparar o trabalho dos apóstolos, os verdadeiros e únicos, com a fanfarronice destes dois bastardos. Nos dois casos houve dispersão, com a morte dos líderes, justamente o que não foi visto com a morte de Jesus, pois ela serviu para agregar e não para dividir. E olha que os discípulos foram ao sepulcro para verem corpo do Mestre, mas não encontraram (Lc 24.12).

Tinha inicio a obra primitiva, com então suas paredes já reunidas e fundamento ainda muito mais sólido (a pedra angular, rejeitada), sobre qual a igreja seria estabelecida (Mt 16.18), sobre Ele, Ele é a pedra, o fundamento, o que dá sustentação. A pedrinha pequena foi somente um instrumento nas mãos de Jesus, jamais rogou algo para si, não era “doido” para almejar este título.

Portanto que outro resultado poderia ser visto na então explicita igreja primitiva, que não temeria ser vista após a chegada do Consolador? Crescimento e reunião dos amigos da cruz. Aqueles que julgavam importante a vida eterna, que desejaram mudança de vida, que não temeriam as consequências e que se colocariam a disposição do dono da obra (cf At 9.6, parte a) “que queres que te faças”. Foi isto que Paulo disse Jesus, tão logo compreendeu sua chamada. Era como se declarasse: “não vivo mais eu, que queres que eu faça para ti, deixo para trás todos os meus anseios materiais”.

No inicio foram apenas onze discípulos fiéis que se ajuntaram a algumas mulheres, Maria e outros irmãos em uma calorosa reunião de oração (At 1.13-14). Depois este número subiu para cento e vinte, os quais presenciaram a escolha de um substituto ao perdido, Judas Iscariotes (At 1.15-26). Após a primeira pregação pública de Pedro o número subiu assustadoramente para três mil que de bom grado receberam a Palavra.

Todos os apóstolos (os que não se julgavam donos da igreja primitiva) ficaram admirados e alegres, sentimento que aumentou quando contemplaram os cerca de quase cinco mil, que foram agregados após a comprovação[2] cientifica e religiosa do primeiro milagre da era apostólica (At 4.4; 3.1-7). Mas a satisfação maior foi quando eles viram que o mesmo grupo se mantinha fiel aos primeiros cultos de ensino (At 6.1), que alegria por verem que não estavam somente atrás de bênçãos, curas, sinais e maravilhas. A igreja também queria aprender, desejava a excelência do conhecimento de Deus. Talvez por isto houve necessidade de recursos materiais, haja vista que quando sentavam para ouvir, esqueciam do tempo[3].

É desta forma que se “compra e se conquista amigos” e somente Jesus possui estas prerrogativas. Ele comprou com seu sangue e conquistou com o seu sacrifício. Fomos comprados e conquistados!

2) Os inimigos da cruz de Cristo
Os amigos da cruz iniciavam suas reuniões dizendo: “é um motivo de muita alegria estarmos reunidos”, já os inimigos não tinham este privilégio. Os encontros deles não eram motivos de muita alegria, era de tristeza, de nojo, provocavam ânsias em qualquer um dos amigos que contemplasse.

De um lado estavam os judaizantes, “os da circuncisão” e os que não se conformavam com a perda[4] e com o admirável crescimento da obra e na mesma mão desta via apareceram os gnósticos, “os da carne fraca e má” com todas as suas variantes, entre elas o docetismo, que agregava “os do cristo fingido, irreal, sem carne e sem dores”. Ensinos distorcidos que se tornaram oposição aos apóstolos. Uma miscelânea de bobagens, heresias, misticismo, orindos de um ceticismo sem precedentes. O importante para eles era a comida, a vestimenta, honras, conforto e prazer. Comportavam-se como se fossem viver sobre a terra para todo o sempre.

O gnosticimo, resultado do sincretismo entre o dualismo platônico (o bem: coisas invisíveis, Deus, espírito, ideias e o mal: coisas visíveis, mundo, corpo e matéria), as religiões orientais, o monoteísmo judaico e alguns princípios cristãos distorcidos. Uma verdadeira bagunça, que garantia a salvação através do gnoses, conhecimento secreto, ciência. Os gnósticos faziam parte de um clube fechado, os iluminados, que possuíam segredos, senhas e que estavam escondidos entre a multidão, camuflados, os guardiões do céu, da terra e do Templo, que fascínio desnecessário. A parasita que se apegou ao cristianismo.

Homens que estavam encurvados e que enxergavam somente o umbigo, egocêntricos, adoradores de si mesmo, que ignoravam a eternidade, o porvir e que depositavam todas suas fichas no presente, na temporalidade, na carne. E olha que era apenas o nascimento desta corrente de pensamento que anos mais tarde atingiria seu ápice, lá pelos idos do século II da era cristã. Por enquanto era só um embrião e já causava estragos tamanhos. As sementes heréticas, que brotaram mais tarde, foram lançadas no inicio da igreja primitiva.

Eles apareceram somente depois da cruz, não propriamente no momento em que foi fincada no chão, mas depois que ela ficou vazia. Eles não tiveram coragem de se manifestarem antes, pois imaginaram que Jesus estivesse blefando, já que não acreditavam na possibilidade de, um deus, se rebaixar tanto e se tornar carne. Como seria possível o próprio Jeová, o provedor de Israel, se revestir da maligna e imprestável carne humana? Isto era inaceitável para eles. O que dizer então do sacrífico Divino em favor dos súditos? Escândalos para os gregos, já que todos os deuses de sua vasta mitologia nunca fizeram nada em prol deles, somente se vingavam, violentavam, destruíam, viviam em constantes conflitos, desciam para fazerem maldades e de uma hora para outra Jesus apareceu e contrariou tudo o que fora ensinado através do programa “helenização total”. Não vou me prender ao caso da ressuscitação e ascenção, já que também era inaceitável para os descrentes.

Os lideres da igreja primitiva logo elegeram, pela visão espiritual, o gnosticismo como uma ameaça real e perigosa para os cristãos do mundo, pois subliminarmente tentava transformar o cristianismo em uma filosofia religiosa.

Um emaranhado de ensinamentos sem pé e cabeça, que era capaz de deixar qualquer um de cabelo em pé ou confuso. Conceitos doutrinários distorcidos, sem esperança nenhuma no porvir, álias era isto o que a mitogica da época e a atual consegue garantir.

Alguns erros doutrinários dos gnósticos que feriam o ensino apostólico:
  • Alma – uma pequena fagulha da divindade, aprisionada temporariamente no falível e imprestável corpo humano;
  • Salvação - libertação da alma do corpo, da "contaminação corporal", da prisão, para se encontrar com o Divino, mas para isto era necessário a intermediação de seres um poucos menos divinos;
  • Cristo – antes de chegar à terra entregou parte de seu poder a estes seres intermediadores, ficando sem poder e autoridade. Sua morte comprovou sua inferioridade, já que não havia sido capaz de impedir seu sofrimento. Esta teoria foi combatida por Paulo, através do ensino sobre a plenitude e senhorio de Cristo (Cl 1.15-19; 2.9-10);
  • Docetismo – negavam a encarnação de Cristo (1 Jo 4.1-3; 2 Jo 7). Ensinavam que Jesus não teve um corpo físico, fora apenas um fantasma, um espírito (Lc 24.37-40). Alziro Zarur em um de seus momentos de desvaneios, declarou que Jesus não poderia, tampouco deveria, diante das imutáveis Leis da Natureza, se revestir da carne, produto da lama, que é totalmente incompatível com natureza espiritual, segundo ele, o corpo foi, digamos, fluídico. Ele foi mais adiante ao afirmar que Maria houvera sido vitima da chamada “ilusão de parto”? Então quem ela deitou na manjedoura? Quem ela viu crescer como os demais meninos (Lc 2.52)? Ele sentiu fome (Mt 4.2), sede (Jo 19.28), dormiu (Mt 8.25)? Tudo isto fora fruto da ilusão de parto?
  • Prática cristã (Ascetismo) – suprimiam, negavam, mortificavam os desejoa da carne, pois a julgavam má (1 Tm 4.1-5). Eram caracterizados pela libertinagem, sensualismo e entregavam-se a toda e qualquer paixão sem restrição, pois o mal do corpo não poderia afetar a alma que era intrinsecamente boa.
“Eles se gloriavam de coisas das quais deviam se envergonhar”. Aquilo não era um motivo de muita alegria, pelo contrário. Na contra mão deste lixo doutrinário esteve Paulo, ensinando a igreja e combatendo os hereges, mas sem leva-los para a fogueira, pois em nenhum momento, durante seu ministério, foi taxado de caçador de hereges, um inquisidor, a não ser pelas hostes malignas e potestades, que sabiam muito bem com quem estava mexendo (At 19.15).

Ele foi ousado ao dizer que a igreja deveria imitá-lo, pois se colocou como exemplo para os fiéis, mas acima de tudo, foi corajoso, uma vez que se tornou a “bola da vez”. Era tudo o que os inimigos da cruz queriam. Como eles desejaram exterminar aquilo que chamavam de mal para o judaísmo ou para os helênicos. Imaginaram que tão logo eliminassem o apóstolo, seus seguidores se disperasariam, mas erraram quando elegeram o “chefe, o cabeça, o promotor de sedição”. Sentiriam na pele o quanto seria difícil “recalcitrar contra os aguilhões”.

Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal - BAP (ARC). CPAD, 2003.

Bíblia de Estudo Temas em Concordância. Nova Versão Internacional (NVI). Rio de Janeiro. Editora Central Gospel, 2008

Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje (NTLH). Barueri (SP). Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.

Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003.

MACARTHUR, John. Novo Testamento. Comentários expositivos Filipenses. 1939.

SILVA, Severino Pedro. Apocalipse - Versículo por Versículo. CPAD.



[1] Eles não tiveram coragem de fazer o pedido, por isto pediram a mãe. Seria isto uma prova infalível que não adianta pedir à “mãe”?
[2] O primeiro milagre da igreja primitiva passou pelo crivo pela alta cúpula do Templo.
[3] Não imagino alguém se levantando para passear, conversar, ir ao sanitário ou para ir embora durante o ensino de qualquer um dos apóstolos. Quando eles começavam a contar as experiências, tudo o que aconteceu e quando deixavam o Consolador usá-lo, a igreja ficava ouvindo atenta.
[4] O maior país que professava o judaísmo estava perdendo adeptos para a igreja primitiva. Os judeus não entendiam este êxodo. 

Por: Ailton da Silva - Ano IV - caminhando para o ano V

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