Por duas vezes Jesus multiplicou pães para
alimentar multidões (Mc 6.36-44; 8.59), que acompanhavam-no na esperança de
saciarem a fome material e espiritual. Em outra ocasiao, Deus multiplicou vinte
pães de cevada para saciar a fome de cem homens (II Rs 4.42-44). As viúvas de
Sarepta (I Rs 17.15) e a do profeta (II Rs 4.6) também foram agraciadas com a
bênção da multiplicação.
Todas estas bênçãos foram grandiosas, visíveis,
palpáveis e animadoras, capazes de tirar da cova, do poço, da incredulidade o
mais duro coração. Certamente os personagens envolvidos se alegraram
sobremaneira. Por isto eles retomaram suas vidas normais ou em outros casos,
tomaram novos rumos, ou seja, é facil, gratificante entender e receber a bênção
de Deus na vida quando todos podem contemplar a nossa vitória.
Mas, e quando a bênção não é assim tão visivel?
Quando não é alarmante, quando não sai na midia, nos informativos das igrejas?
A mulher grega, sirio fenicia de nação (Mc
7.26), rogou a Jesus pela libertação da filha, mas ouviu algo que não a
agradou, de principio, principalmente vindo daquele a quem depositara a sua
confiança. O que fazer então? Voltar para sua casa e continuar no sofrimento ou
clamar novamente? Na minha mente imagino o seguinte diálogo:
Mulher: “Me socorre, Mestre de Israel”.
(lágrimas)
Jesus: “Eu tenho que socorrer primeiro Israel”.
Mulher: “Eu sei, mas o que o Senhor veio fazer
aqui na Fenícia, fora de Israel”? (lágrimas)
Jesus: “Eu ouvi o teu clamor, mas preciso que
exercite a sua fé, continue. O que desejas”.
Mulher: “O teu socorro, Mestre”. (lágrimas)
Jesus: “Para você?
Mulher: “Tú não é onisciente? Tú não sabes que
minha filha está miseravelmente endemoniada”?
Jesus: “Eu sei, mas preciso que você mostre que
realmente veio para clamar por ela e não apenas para passear ou para
simplesmente me conhecer superficialmente. Se tú vieste para ter um encontro
comigo, continue”.
Mulher: “Me socorre”! (lágrimas)
Jesus: “Não posso ainda tirar o pão dos filhos
e deitá-lo aos cachorros”. (movido de intima compaixão)
Mulher: “Eu sei, mas quem é que disse que eu
quero o pão inteiro. Eu não sou como muitos, lá do seculo XXI, que buscarão
somente o material, gananciosos, soberbos, que pensarão somente em si mesmos.
Eu não quero o pão inteiro, eu quero somente migalhas”? (lágrimas)
Pausa na conversa.....
Ponto de partida para a bênção. Isto que eu
chamo de prensar Jesus na parede. Que sabedoria, que entendimento, que visão,
que desejo de mudança, que fé.
Aquela mulher não desejava a riqueza,
prosperidade, mudança de sua vida ou da familia, apenas queria ver sua filha
livre da opressão maligna, queria vê-la crescer sadia, bonita, correndo pelo
quintal, na escola, com amigos, feliz, casada, desejo de todas as mães.
Há quanto tempo ela contemplava aquela
situação? Os deuses fenicios, cananeus, etc, não resolveram o seu problema. Que
tristeza ver aquela criança sofrendo, sem solução.
Um dia ela ouviu: “Em Israel, apareceu UM, que
liberta, que atende os pobres, necessitados, viúvas, orfãos e enfermos. Deus
visitou Israel”. Isto a alegrou, mas no mesmo instante veio a tristeza e a
pergunta: “E os estrangeiros, Ele atende”? (lágrimas)
Atende sim, mulher, a voz veio no seu coração.
Basta clamar, mesmo longe Ele te ouvirá e virá te socorrer, Ele mudará o
caminho dele, dará um tempo no ministério entre os israelitas e virá lhe
atender, clame! Esta é a sua única esperança.
Retomando o diálogo:
Mulher: “Eu quero somente migalhas, muitas
migalhas, multiplique as migalhas, eu me contentarei com isto”.
Jesus: “Certeza? Eu costumo atender conforme o
pedido”.
Mulher: “Sim”. (lágrimas e já prevendo a
benção)
Jesus: “Pois bem, pela sua palavra, sua filha
está livre”.
Mulher: Silêncio, interrupção do choro e os que
estavam presenciando o diálogo esperavam alguma reação dela.
Creio que ficou muda, não disse nada. Saiu
correndo em direção à sua casa para contemplar a bênção. Foi gritando,
chorando, tremendo, confiando. O que veria quando abrisse a porta? Veria sua
filha vindo em sua direção, abrançando-a, agradecendo pelo clamor?
Coração palpitando, alma esquentada e
refrigerada ao mesmo tempo. Suas lágrimas corriam pelo rosto sofrido. A região
onde se encontra a divisão da alma e espírito estava agitada.
Abriu o portão, a porta, gritou pela filha e a
viu em pé, livre da opressão, correndo ao seu encontro. Naquele momento, ela se
ajoelhou e disse: “Verdadeiramente há um Deus em Israel”.
Enquanto isto Jesus, vendo tudo de pertinho, do
lado delas, disse bem suvemente: “a hora de vocês chegará. Para isto Eu vim”.
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