OS PROFETAS DE
BAAL: O SEGUNDO PROBLEMA
O confronto
entre Elias, os profetas de Baal e seus adoradores marcou definitivamente a
separação entre a verdadeira e a falsa adoração em Israel, mas por outro lado
deixou bem evidente a figura do sincretismo[1]
religioso que pairava no reino do Norte.
Esta mistura do culto hebreu com outras
crenças foi uma ameaça bem presente ao longo da história de Israel (Ex 12.38;
Jz. 2.1-5; 2.11-13,17,19; 3.5-7; 6.25; Ne 13.3), provocando a sensação de que
estavam adorando o verdadeiro Deus, sem perceberem as consequências do erro.
Baal, proprietário, marido ou senhor, era
o deus supremo dos cananeus (I Rs 16.31), responsável pela abundância da terra
e pela fertilidade dos ventres. Esta divindade fascinava os cananeus e Israel. Seu
culto era marcado pela crueldade, devassidão, sacrifício de vitimas humanas,
orgias entre outras loucuras.
A adoração a Baal possuía algumas
semelhanças com os rituais dos hebreus. Usavam altar, música, danças e também
havia sacrifícios. Elias, porém, sabia que aquela religião falsa jamais
conseguiria produzir um sinal (I Rs 18.24).
A adoração verdadeira se diferencia da
falsa, pois firma-se na revelação de Deus na história (I Rs 18.36). Abraão,
Isaque e Jacó, foram pessoas reais assim como foram reais as ações de Deus em
suas vidas.
Outra característica é a participação do
adorador no culto, Elias disse: “Manifeste-se hoje que tu és Deus e que eu sou
teu servo” (I Rs 18.36). A Bíblia diz que Deus procura verdadeiros adoradores
(Jo 4.24).
Elias invocou, como servo, os direitos da
aliança e motivou ao povo. O profeta pensava no coletivo, por isto colheu os
frutos (I Rs 18.39). Levantou sua voz em protesto contra a divindade pagã (I Rs
21.25,26).
O grande problema deste relacionamento
ilícito de Israel com Baal foi o desenvolvimento do sincretismo religioso, pois
alguns adoravam simultaneamente Yahweh e a Baal.
Havia também entre os deuses cananeus,
El, o deus principal, pai dos outros deuses e Aserá, a deusa-mãe. A palavra
poste-ídolo é a tradução do termo hebraico "ashera ou Aserá", e
mantém o significado de bosque para adoração de ídolos.
Aserá, conhecida como Astarote ou
Astarte, era ligada à colheita, fertilidade humana e animal. Exerceu influência
negativa sobre Israel (Jz 2.13, 3.7; I Rs 11.33), por isto foi tão combatida por
Jeremias (Jr 7.18; 44.17-19).
Foram três anos e meio de seca, três
primaveras que se passaram e nada de Baal ressuscitar para coabitar com sua mãe
a fim de restaurar a natureza e trazer chuva e prosperidade para Israel. Neste
período de ausência, desatenção e inoperância de Baal, Elias estava
experimentando qual era a boa, agradável e perfeita vontade de Deus para a sua
vida (Rm 12.2). O sustento para o profeta nunca faltou.
Este tempo de seca fez com que o povo
desconfiasse de Baal e não seria para menos, pois este foi um dos objetivos da
disciplina. Alguns abandonaram Baal e voltaram-se para Deus, mas estavam agindo
desta forma em virtude da decepção e não pela conscientização, por isto muitos
ainda coxeavam entre dois pensamentos.
a) Profetas sob encomenda:
Os profetas de Baal eram sustentados pelo
Estado (I Rs 18.19) e tinham como propósito agradar o rei. Comiam à mesa de Jezabel,
pois alugaram seus ministérios para agradarem os governantes com suas
profecias. Elias desafiou este sistema e não mediu esforços para desmascarar
todos os envolvidos.
Acabe e Jezabel institucionalizaram a idolatria
no reino do Norte. Baal e Aserá não eram apenas os deuses principais, mas
também os oficiais. O culto idólatra estava presente em toda a nação, de norte
a sul e de leste a oeste.
Portanto, para manter a presença da
religião pagã na mente do povo, a casa real necessitava de um grande número de
falsos profetas (I Rs 18.19). Já o Deus verdadeiro necessitou de apenas um. Não
havia verdade, autenticidade e tampouco qualidade no falso culto, mas apenas
quantidade, enquanto que do lado de Elias a qualidade se sobressaiu.
O número de profetas de Baal era alto (I
Rs 18.22) em virtude das facilidades e benefícios oferecidos pela casa real,
tal como moradia, alimentação, recompensas materiais, etc. A função deles era
confundir o coração de Israel, não precisava tomá-lo completamente, bastava apenas
dividir.
continua...
[1]
Sincretismo é a fusão de elementos culturais diferentes em um só elemento.
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