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domingo, 14 de julho de 2013

Esperar? Desligar-se? Reinicar?

O homem não era flor para que pudéssemos cheirar, não exalava cheiro suave (At 9.1), muito menos inspirava algum tipo de confiança, no que tange a proporcionar socorro para os que, humanamente desamparados, sofriam nas mãos dos furiosos judeus, mas não podemos deixar de desprezar o gosto pelo conhecimento, o zelo pela Lei, pela história de seu povo, sentimentos e atitude, por ele, demonstrados no momento em que ouvia atentamente e espantado a pregação de Estevão.

Onde aquele simples diácono houvera adquirido tamanha sabedoria? Na mente ficou imaginando os anos em que ficou aos pés de Gamaliel (At 22.3) para adquirir todo o conhecimento que possuía e agora estava pasmado diante daquele discípulo fiel, ele provavelmente desejou para si aquela audácia, coragem, ousadia e sabedoria celestial. Este foi o primeiro “soquinho” que Paulo recebeu de Jesus, capaz de deixá-lo tonto, desnorteado. Deus começava a trabalhar naquele coração.
                                                                                         
“Paulo ficou mui comovido com o julgamento de Estevão, pois acompanhara cada palavra de Estevão. Gloriou-se na história de seu povo e impressionou-se pela forma como Estevão a contara. Jamais conhecera alguém com tamanho conhecimento da Escritura. Pensou ainda nos rabinos e nas suas disputas. Como pareciam mesquinhos! Considerou sua própria opinião sobre o Messias e o que Gamaliel lhe ensinara. Enfim, compreendeu que os fariseus, embora cressem na ressurreição, nunca haviam podido demonstrá-la. Mas ali estava uma demonstração plausível – se a menos fosse verdade! E como o rosto de Estevão irradiava extase! Era como se estivera vivendo num outro mundo. E as suas palavras finais? E se ele tivesse realmente visto Jesus à mão direita de Deus”. BALL, (1998, p. 34).

Na sua chamada, o orgulho ficou por terra, pois seus olhos altivos enxergaram somente o pó da terra e de relance, temendo apenas viu uma brilhante luz. Sua energia também ficou naquelas terras, já que não tinha forças para se levantar sozinho, muito menos para se conduzir se ajuda até Damasco (At 9.8).

Seus olhos de águia, capazes de enxergarem um discípulo do Senhor ao longe (At 7.58), foi tapado por escamas. A voz autoritária, que metia medo (At 9.13) ficou trêmula, não poderia mais ordenar, apenas conseguiu dizer: “Quem és [...]. Senhor que queres que faça”. Ele disse isto a Jesus, pois daquele momento em diante estaria preocupado com a obra e não mais consigo mesmo. A única coisa que manteve foi a cor rubra de seu rosto.

“Admirados, entreolharam-se como que pedindo uma explicação do que houvera. Foi então que viram o seu chefe caído por terra, enquanto o animal em que montara, mantinha-se em pé perto dele amedrontado. Saulo falava com alguém, mas eles não viam o seu interlecutor. Embora parecesse uma voz, não lhes compreendiam as palavras. Agora os lábios de Saulo se moviam; tinham eles as mãos estendidas à sua frente como se estivesse cego. Saulo tremia da cabeça aos pés. Deitado no chão, sem ver nada, Saulo ouviu uma voz que lhe falava: “Saulo, Saulo, porque me persegues? Dura coisa é recalcitrar contra os arguilhões (At 26.14). Perturbado com todos os pensamentos que o tinham perseguido desde a morte de Estevão, temeroso, ousou perguntar: “Quem és tú Senhor”. BALL (1998, p. 37).

E durante, três longos dias, ele ficou isolado, na sala de espera refletindo, aguardando Deus se manifestar (At 9.9). Quantas perdas em um único dia? Orgulho, altivez, visão aguçada, autoridade, mas a maior de suas perdas humana foi a dupla cidadania terrestre, a romana e judaica (At 16.17; 21.39; 22.2, 25, 27), algo efêmero, perto do que estava ganhando naquele momento. Ele se tornou um legítimo cidadão dos céus.

Todas estas perdas e posteriores ganhos foram necessários para que ficassem evidentes a necessidade e urgência da obra, pois ele não tinha tempo para reaprender, desaprender, esquecer o zelo e tradições. Tinha que ser tudo rápido e somente Jesus pode fazer isto. Caiu o orgulhoso e temido judeu/romano e levantou-se o servo obediente e temeroso.

a) Então porque esperar?
A igreja de Antioquia abrigava profetas, doutores e profundos conhecedores do que estava pregando e vivendo, portanto era de se imaginar que tais, jamais, apartariam alguém para a tão grande e urgente obra que ardia no coração de Deus.

Penso assim também, pois pelo grande conhecimento, é provável que apresentariam inúmeros obstáculos, tal como distâncias, falta de recursos, impedimentos políticos, rixas regionais, entre outras e quem sabe também não acusariam a falta de credenciais dos candidatos a missionários, por isso é que esta missão foi a cargo do Espírito Santo de Deus.

Depois da chamada e antes do inicios das viagens missionárias, Saulo desapareceu do cenário apostólico. Esteve por Jerusalém, Arábia, Damasco, Tarso (Gl 1.17-18) e agora se aproximava e desenhava sobre sua frente os contornos e relevos dos confins da terra.

Não tinha muito o que esperar. A comissão já havia recebido, os cuidados da igreja e as orações também. Depois de tudo o que enfrentou na chamada e já de posse da certeza de que padeceria pela causa evangelista (At 9.16), o que poderia atrapalhar os trabalhos?

b) Desligar-se dos céus
Como? A chamada o ligou ao céu e o apresentou definitivamente a Jesus, o qual não conhecia, já que foi justamente esta a sua pergunta quando estava caído por terra: “Quem és Senhor?”. A separação missionária também o inseriu definitivamente e fez transparecer todo o seu amor pelas almas dos gentios e o fez ouvir o clamor por socorro vindo deles, que nos diga isto os desesperados por salvação que estavam na Macedônia (At 16.9).

“O viver para ele era Cristo e o morrer era ganho”, desejava muito viver para Cristo, “viver na carne”, fazer muito na obra, ganhar muitas almas, pregar o Evangelho a todas as criaturas, mas também ansiava pelo encontro com o seu Salvador, a plenitude da glória, queria muito “estar com Cristo”. A decisão não cabia a ele.

c) Reiniciar?
As prisões não foram capazes de calá-lo, apenas por alguns dias, ou anos, o segurou, permitiu que descansasse um pouco, afinal quantas viagens, quantos quilômetros percorridos, a pé, navio, naufrágios, sofrimentos, era natural que seu corpo pedisse um tempo para recuperar-se.

Reiniciar não seria preciso, pois não havia sido solicitada a pausa dos trabalhos. Em nenhum momento vimos Paulo solicitando licença para tratar de seus assuntos, procurar defesa humana. Ele continuou firme e forte, mesmo encarcerado, pois ficava sabendo dos fatos ocorridos nas igrejas e em vez de reprova-las, ele os aconselhava para que houvesse, por parte deles, mudança.

Referências:
BALL, Charles Fergurson. A vida e época do apóstolo Paulo. 1ª ed. , Rio de Janeiro. Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1998.

Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003.

Bíblia de Estudo Temas em Concordância. Rio de Janeiro. Editora Central Gospel, 2008

Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje. Barueri (SP). Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.

Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003.

Por: Ailton da Silva - Ano IV

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