1º caso: “De repente houve um terremoto tão
violento[1],
que os alicerces da prisão foram abalados. Imediatamente todas as portas se
abriram, e as correntes de todos se soltaram. O carcereiro acordou e vendo
abertas as portas da prisão, desembainhou sua espada para se matar, porque
pensava que os presos tivessem fugido. Mas Paulo gritou: Não faças isso!
Estamos todos aqui”. (At 16.26-27 – NVI).
2º caso: “O navio foi arrastado pela
tempestade, sem poder resistir ao vento; assim, cessamos as manobras e ficamos
à deriva. [...] Paulo levantou-se diante deles e disse: “Os senhores deviam ter
aceitado o meu conselho de não partir de Creta, pois assim teriam evitado este
dano e prejuízo. Mas agora recomendo-lhes que tenham coragem, pois nenhum de
vocês perderá a vida; apenas o navio será destruído. [...] Então Paulo disse ao
centurião e aos soldados: “Se estes homens não ficarem no navio, vocês não
poderão salvar-se”. [...] Os soldados resolveram matar os presos para impedir
que algum deles fugisse, jogando-se ao mar. Mas o centurião queria poupar a
vida de Paulo e os impediu de executar o plano. Então ordenou aos que sabiam
nadar que se lançassem primeiro ao mar em direção à terra. Os outros teriam que
salvar-se em tábuas ou em pedaços do navio. Dessa forma, todos chegaram a salvo
em terra”. (At 27.13-44 – NTLH).
Um jeito diferente de narrar o agir de Deus na vida de homens, que até
então, antes deste acontecimento, não tinham valor algum para a sociedade,
principalmente a de Filipos, cidade moderna, vaidosa, intelectual, segura, bem
vigiada, refúgio de soldados e oficiais reformados leais ao império. Creio que
passavam por aquele edifício e meneavam suas cabeças, como não acreditando que
pudesse tal escória ainda estar com vida.
“Filipos era uma cidade importante no leste
da Macedónia (nordeste da Grécia). Ele foi localizado na planície aluvial
fértil do rio Strymon, perto do abismo, e pequenos riachos conhecidos como os
Gangites (cf. Atos 16:13). Filipos devido a sua importância nos tempos antigos
à sua localização estratégica (ele comandou a rota terrestre para a Ásia
Menor). Nos dias de Paulo a estrada romana importante conhecida como a Via
Egnatia percorria Filipos. A cidade também foi importante por causa das minas
de ouro que se encontrava em montanhas próximas. Foi essas minas de ouro que
atraíram o interesse de Filipe II da Macedônia (pai de Alexandre, o Grande).
Ele anexou a região em 356 aC e fortificou a pequena aldeia de Krenides
("as fontes pequenas", assim chamado por causa dos riachos nas
proximidades), renomeando para - Filipos ("cidade de Filipe")
homenageando a si mesmo. [...] recebeu o cobiçado status de uma colônia romana
(cf. Atos 16:12). Mais tarde, outros veteranos romanos do exército se
estabeleceram ali. Como uma colônia, Filipos tinha o mesmo estatuto jurídico
que as cidades na Itália. Cidadãos de Filipos eram cidadãos romanos, eram
isentos do pagamento de determinados impostos, e não estavam sujeitos à
autoridade do governador provincial. O Filipenses copiado arquitetura romana e
estilo de vestir, suas moedas traziam inscrições romanas, e o latim era língua
oficial da cidade (apesar de Grego também ser falado)” MACARTHUR (1939 p. 8).
1) Primeiro caso:
Quais das partes envolvidas foram os maiores beneficiados? A cidade
maravilhosa? A sociedade perfeita e segura de Filipos? O funcionário exemplar
que viu na morte a forma mais rápida de fugir de uma possível “corte marcial[2]”?
Daríamos mais valor à alegria de Paulo e Silas, que mesmo naquelas condições
encontravam forças para orar e louvar a Deus[3]?
Naquela noite, no escuro das frias prisões da “xerox” de Roma, os personagens
que tiveram uma atenção maior de Deus foram justamente aqueles que a sociedade
desprezava e daqueles que não se esperava mais nada de bom. Faço minha as
palavras de Natanael (Jo 1.46): “Podemos esperar algo de bom deles”. A resposta
seria simples: “Fique, espere e veja com seus próprios olhos”.
a) Primeira prova de
aqueles presos se comportaram como salvos em Cristo:
Paulo gritou bem alto: “Não faças isso! Todos nós estamos aqui”. (At
16.26-27 – NTLH). Em outras palavras era como se ele tivesse dito: “aqueles a
quem você não credita nada bom, ainda estão aqui”, o seja, os presos, a
escória. Mas o que prendeu aqueles homens, se eles já estavam libertos? A porta
se abriu, as correntes caíram de todos. Por quais cargas de águas, eles ainda
permaneceram como que congelados diante do louvor celestial que Paulo e Silas
entoavam?
Talvez não tiveram tempo suficiente ou conhecimento para gritarem de
dentro de suas portinholas: “Onde encontramos água para batismo, para que assim
alguns possam acreditar em nossa conversão (cfe At 8.36)?
O louvor e as orações, em meio à dores e sofrimento, atingiu
certeiramente corações vazios, desesperados e tristes. Aquele dia a porta e as
correntes se abriram e caíram do chão, creio que foi pela imensa alegria
demonstrada por aqueles homens. Quem sabe não foi o mesmo que ocorreu nos dias
do nosso velho e patriarca Jó, que um dia ouviu: “a tristeza, quando viu alguém
mais feio do que ela, saltou[4]
de alegria” (Jó 41.22). As cadeias não suportaram tamanha alegria.
Um a um, os presos ficaram ali parados, esperando a entrada da tropa de
choque e posterior revista. Esta foi a primeira vez “na história daquele país”
que presos não fugiram em meio a oportunidades que lhe abriam. Duvido que hoje
ficaria algum? Até mesmo crentes, saíram e glorificariam a Deus do lado de
fora, felizes da vida. Imagino a seguinte cena: um resgate em um presídio, uma
explosão[5]
e paredes ao chão, quando a poeira se dissipasse muitos sairiam correndo para a
suposta liberdade.
Aliás, a tropa de choque chegou bem antes dos acontecimentos (At 16.23).
Eles foram recepcionados na cidade e depois de calorosos abraços, (At 16.22)
foram lançados na prisão para darem inicio aos trabalhos. Como de costume,
entraram sérios, procuraram lugares adequados, onde poderiam ser vistos e bem
ouvidos. “Sabe como é”, verdadeiros evangelistas de ofício, e não de carteiras,
sabem muito bem como trabalhar, pois não dependem de equipamentos radiofônicos,
satélites, empresas, grupos de comunicação com seus inúmeros diretores
executivos que vivem somente para aumentarem índices e agradarem anunciantes de
cigarros, bebidas e prostituição.
Verdadeiros evangelistas que sabiam que tudo aquilo não era em vão,
havia propósitos, principalmente Paulo (At 9.16). Os dois eram vivos, pois
quando estavam sendo encaminhados para a cela, perceberam pares de olhos
tristes, lacrimejados, solitários, desesperançosos, revoltados, desiludidos e
tudo mais o que pode haver de sombrio na vida de um homem sem Deus. Parece que
ouço um dizendo ao outro: “Oh! Glória”. Este é o lugar da benção. “Quão
terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a
porta dos céus”. Quem mais poderia ter este tipo de discernimento, senão
verdadeiros evangelistas[6].
Isto prova que aqueles homens estavam com os corações inundados pela
graça de Deus. Duvido que muitos não estavam ali refletindo, de cabeça baixa
chorando, orando junto com os apóstolos (únicos e nomeados por Deus), outros
ainda resistindo, mas não havia mais escapatória, já eram de Deus. Tal como
acontecera com o próprio Paulo, que ficou fascinado com a pregação de Estevão
(o primeiro soco que levou na cara), tanto que não foi embora, esperou pela
benção final. Para a agitada turba, o apedrejamento do pregador foi alegria,
sensação de dever cumprido, mas para Saulo foi diferente, ele não ouviu os gritos
de alegria e ódio, ouviu somente alguém dizendo em seu coração a famosa e
graciosa frase: “que o grande amor de Deus, a graça de Jesus Cristo e as
consolações o Espírito Santo estejam com todos e todos digam, amém”. Depois
ouviu bem lá no fundo: “Até daqui há pouco lobo, te encontro à caminho de Damasco,
para te transformar em ovelha”.
2) Segundo caso: a prova
de que os presos se comportaram como salvos em Cristo
Falar mais o que? Não tenho mais argumentos, a não ser que esta história
tenha se repetido. Seria possível? Paulo passou pela mesma situação? Poderia um
raio ter caído duas vezes no mesmo lugar. Estamos falando de ações de Deus. O
que poderia ser impossível a Ele?
“Os soldados resolveram matar os presos para
impedir que algum deles fugisse, jogando-se ao mar. Mas o centurião queria poupar
a vida de Paulo e os impediu de executar o plano. Então ordenou aos que sabiam
nadar que se lançassem primeiro ao mar em direção à terra. Os outros teriam que
salvar-se em tábuas ou em pedaços do navio. Dessa forma todos chegaram a salvo
em terra (At 27.42-22).
Mesma história com alguns pormenores, vejamos:
- Na primeira havia apenas um carcereiro,
na segunda muitos soldados;
- Na primeira um carcereiro foi salvo da
morte por Paulo e na segunda um centurião desejou salvar a vida do
apóstolo;
- Na primeira uma porta foi aberta e
correntes caíram ao chão, na segunda havia uma imensa porta aberta, o mar;
- Na primeira não tiveram pedaços de
correntes, algemas para lutarem ou salvarem suas vidas, na segunda havia
pedaços de madeira, do barco ou poderiam nadar para salvarem suas vidas;
- Na primeira os presos ficaram parados
ouvindo o louvor e orações, na segunda os prisioneiros obedeceram Paulo,
comeram e confiaram em suas palavras, “nenhum se perderá”;
- Na primeira o carcereiro cuidou de Paulo
depois dos fatos, na segunda o centurião cuidava dele antes, pois temia
que algum mal lhe acontecesse;
- Na primeira um terremoto abalou o
alicerce da prisão, na segunda houve agitação no alicerce dos mares;
- Na primeira as paredes foram
preservadas, mesmo com o terremoto, na segunda o barco não suportou o
tremor das águas;
- Em ambos os casos o que deveria estar
desesperado, estava calmo, confiando em Deus, esperando pelo livramento;
- Na primeira não havia água por perto
para batizar os presos, na segunda não podemos dizer o mesmo. Quem sabe
aquele balançar do barco para jogá-los na água não foi uma espécie de
batismo informal (sic);
- Na primeira os presos ficaram congelados
dentro das celas e não fugiram, na segunda os prisioneiros nadaram em
direção à terra firme e também não aproveitaram a oportunidade para
fugirem, queriam ficar perto do verdadeiro evangelista;
- Na primeira houve louvor e adoração, na
segunda uma previa de uma ceia com 266 almas (At 27.34-37).
Em ambos os casos ficou evidente que os presos estavam sedentos e deram
ouvidos as palavras que ouviram. De certo que o pregador evangelista era bom no
que fazia, apesar que ele nunca se gloriou nisto, também não era tolo para isto.
Tanto que fazia com amor e dedicação que aqueles que deveriam aproveitar a
oportunidade para sumirem no mundo diante de falsa liberdade, se prenderam em
Cristo e ficaram ali ouvindo a Palavra que realmente liberta.
Eis um pequeno relato da igreja que Paulo fundou durante sua rápida
estadia em Filipos, em meio a sua segunda viagem missionária:
“A igreja de Filipos foi a primeira igreja
fundada por Paulo na Europa. O apóstolo chegou a Filipos em sua segunda viagem
missionária, sendo dirigida pelo Espírito Santo de um modo muito dramático:
Durante a noite Paulo teve uma visão, na qual um homem da Macedônia estava em
pé e lhe suplicava: "Passe à Macedônia e ajude-nos". Depois que Paulo
teve essa visão, preparamo-nos imediatamente para partir para a Macedônia,
concluindo que Deus nos tinha chamado para lhes pregar o evangelho (At 16:9-10)
Embora os convertidos iniciais eram judeus ou prosélitos judeus (Atos
16:13-15), os gentios eram a maioria da congregação. Já que não havia sinagoga
em Filipos (ou então o Paulo, recém chegado não teria se reunido fora da cidade
no sábado) é uma evidência de que a população judaica da cidade era pequena.
Duas conversões dramáticas, aquelas dos ricos prosélito Lydia (Atos 16:13-15) e
o do carcereiro (Atos 16:25-34), marcaram o nascimento da Igreja. Os filipenses
tinham um profundo afeto por Paulo, assim como de Paulo por eles. Embora fossem
pobres, eles a apoiaram financeiramente em um momento de seu ministério (4:15).
Agora, depois de muitos anos, eles tinham mais uma vez enviado ao apóstolo um
presente generoso na sua hora de necessidade. Meio século depois, a igreja de Filipos
iria mostrar a mesma generosidade que o pai da igreja Inácio, que passou por
sua cidade em seu caminho para martírio em Roma. Paulo escreveu esta carta à
sua amada congregação de Filipos e agradecer-lhes pela sua generosa doação
(4:10-19), explica o por que ele estava enviando o Epafrodito de volta para
eles (2:25-30), para informá-los de suas circunstâncias (1:12 -26), e avisá-los
sobre o perigo dos falsos mestres (3:2, 18-19)”. MACARTHUR (1939, p. 9).
Referências:
BALL, Charles Fergurson. A vida e
época do apóstolo Paulo. 1ª ed. , Rio de Janeiro. Casa Publicadora das
Assembleias de Deus, 1998.
Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003.
Bíblia de Estudo Temas em Concordância. Nova Versão Internacional. Rio
de Janeiro. Editora Central Gospel, 2008
Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje. Barueri (SP).
Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.
Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil,
Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003.
MACARTHUR, John. Novo Testamento. Comentários expositivo Filipenses,
1939.
[1] Um
terremoto tão violento aos olhos mortais, mas que não destruiu nenhuma parede
ou teto, apenas abriu fechaduras e cadeados.
[2] Pior
para ele seria informar aos superiores que havia falhado no desempenho de seu
ofício.
[3]
Eles não estavam fazendo nada de mais, apenas estavam gratos pelo livramento,
além do mais era obrigação deles anunciar o Evangelho (cfe 1 Co 9.16-17).
[4] Um bicho
tão feio e assustador , mas que foi capaz de alegrar a tristeza (Jó 41.22).
[5]
Bem diferente da ação de Deus. Ele abre portas e derruba correntes, mas não
explode paredes para agradar homens.
[6] Se eu
estivesse lá, certamente rasgaria meu cartão. Tenho muito o que aprender ainda.
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