O homem não era flor para que pudéssemos cheirar, não exalava cheiro
suave (At 9.1), muito menos inspirava algum tipo de confiança, no que tange a
proporcionar socorro para os que, humanamente desamparados, sofriam nas mãos
dos furiosos judeus, mas não podemos deixar de desprezar o gosto pelo
conhecimento, o zelo pela Lei, pela história de seu povo, sentimentos e
atitude, por ele, demonstrados no momento em que ouvia atentamente e espantado
a pregação de Estevão.
Onde aquele simples diácono houvera adquirido tamanha sabedoria? Na
mente ficou imaginando os anos em que ficou aos pés de Gamaliel (At 22.3) para
adquirir todo o conhecimento que possuía e agora estava pasmado diante daquele
discípulo fiel, ele provavelmente desejou para si aquela audácia, coragem,
ousadia e sabedoria celestial. Este foi o primeiro “soquinho” que Paulo recebeu
de Jesus, capaz de deixá-lo tonto, desnorteado. Deus começava a trabalhar
naquele coração.
“Paulo ficou mui comovido com o julgamento de
Estevão, pois acompanhara cada palavra de Estevão. Gloriou-se na história de
seu povo e impressionou-se pela forma como Estevão a contara. Jamais conhecera
alguém com tamanho conhecimento da Escritura. Pensou ainda nos rabinos e nas
suas disputas. Como pareciam mesquinhos! Considerou sua própria opinião sobre o
Messias e o que Gamaliel lhe ensinara. Enfim, compreendeu que os fariseus,
embora cressem na ressurreição, nunca haviam podido demonstrá-la. Mas ali
estava uma demonstração plausível – se a menos fosse verdade! E como o rosto de
Estevão irradiava extase! Era como se estivera vivendo num outro mundo. E as
suas palavras finais? E se ele tivesse realmente visto Jesus à mão direita de
Deus”. BALL, (1998, p. 34).
Na sua chamada, o orgulho ficou por terra, pois seus olhos altivos
enxergaram somente o pó da terra e de relance, temendo apenas viu uma brilhante
luz. Sua energia também ficou naquelas terras, já que não tinha forças para se
levantar sozinho, muito menos para se conduzir se ajuda até Damasco (At 9.8).
Seus olhos de águia, capazes de enxergarem um discípulo do Senhor ao
longe (At 7.58), foi tapado por escamas. A voz autoritária, que metia medo (At
9.13) ficou trêmula, não poderia mais ordenar, apenas conseguiu dizer: “Quem és
[...]. Senhor que queres que faça”. Ele disse isto a Jesus, pois daquele
momento em diante estaria preocupado com a obra e não mais consigo mesmo. A
única coisa que manteve foi a cor rubra de seu rosto.
“Admirados, entreolharam-se como que pedindo
uma explicação do que houvera. Foi então que viram o seu chefe caído por terra,
enquanto o animal em que montara, mantinha-se em pé perto dele amedrontado.
Saulo falava com alguém, mas eles não viam o seu interlecutor. Embora parecesse
uma voz, não lhes compreendiam as palavras. Agora os lábios de Saulo se moviam;
tinham eles as mãos estendidas à sua frente como se estivesse cego. Saulo
tremia da cabeça aos pés. Deitado no chão, sem ver nada, Saulo ouviu uma voz
que lhe falava: “Saulo, Saulo, porque me persegues? Dura coisa é recalcitrar
contra os arguilhões (At 26.14). Perturbado com todos os pensamentos que o
tinham perseguido desde a morte de Estevão, temeroso, ousou perguntar: “Quem és
tú Senhor”. BALL (1998, p. 37).
E durante, três longos dias, ele ficou isolado, na sala de espera
refletindo, aguardando Deus se manifestar (At 9.9). Quantas perdas em um único
dia? Orgulho, altivez, visão aguçada, autoridade, mas a maior de suas perdas
humana foi a dupla cidadania terrestre, a romana e judaica (At 16.17; 21.39;
22.2, 25, 27), algo efêmero, perto do que estava ganhando naquele momento. Ele
se tornou um legítimo cidadão dos céus.
Todas estas perdas e posteriores ganhos foram necessários para que ficassem
evidentes a necessidade e urgência da obra, pois ele não tinha tempo para reaprender,
desaprender, esquecer o zelo e tradições. Tinha que ser tudo rápido e somente
Jesus pode fazer isto. Caiu o orgulhoso e temido judeu/romano e levantou-se o
servo obediente e temeroso.
a) Então porque esperar?
A igreja de Antioquia abrigava profetas, doutores e profundos
conhecedores do que estava pregando e vivendo, portanto era de se imaginar que
tais, jamais, apartariam alguém para a tão grande e urgente obra que ardia no
coração de Deus.
Penso assim também, pois pelo grande conhecimento, é provável que
apresentariam inúmeros obstáculos, tal como distâncias, falta de recursos,
impedimentos políticos, rixas regionais, entre outras e quem sabe também não acusariam
a falta de credenciais dos candidatos a missionários, por isso é que esta
missão foi a cargo do Espírito Santo de Deus.
Depois da chamada e antes do inicios das viagens missionárias, Saulo
desapareceu do cenário apostólico. Esteve por Jerusalém, Arábia, Damasco, Tarso
(Gl 1.17-18) e agora se aproximava e desenhava sobre sua frente os contornos e
relevos dos confins da terra.
Não tinha muito o que esperar. A comissão já havia recebido, os cuidados
da igreja e as orações também. Depois de tudo o que enfrentou na chamada e já
de posse da certeza de que padeceria pela causa evangelista (At 9.16), o que
poderia atrapalhar os trabalhos?
b) Desligar-se dos céus
Como? A chamada o ligou ao céu e o apresentou definitivamente a Jesus, o
qual não conhecia, já que foi justamente esta a sua pergunta quando estava
caído por terra: “Quem és Senhor?”. A separação missionária também o inseriu
definitivamente e fez transparecer todo o seu amor pelas almas dos gentios e o
fez ouvir o clamor por socorro vindo deles, que nos diga isto os desesperados
por salvação que estavam na Macedônia (At 16.9).
“O viver para ele era Cristo e o morrer era ganho”, desejava muito viver
para Cristo, “viver na carne”, fazer muito na obra, ganhar muitas almas, pregar
o Evangelho a todas as criaturas, mas também ansiava pelo encontro com o seu
Salvador, a plenitude da glória, queria muito “estar com Cristo”. A decisão não
cabia a ele.
c) Reiniciar?
As prisões não foram capazes de calá-lo, apenas por alguns dias, ou
anos, o segurou, permitiu que descansasse um pouco, afinal quantas viagens,
quantos quilômetros percorridos, a pé, navio, naufrágios, sofrimentos, era
natural que seu corpo pedisse um tempo para recuperar-se.
Reiniciar não seria preciso, pois não havia sido solicitada a pausa dos
trabalhos. Em nenhum momento vimos Paulo solicitando licença para tratar de
seus assuntos, procurar defesa humana. Ele continuou firme e forte, mesmo
encarcerado, pois ficava sabendo dos fatos ocorridos nas igrejas e em vez de
reprova-las, ele os aconselhava para que houvesse, por parte deles, mudança.
Referências:
BALL, Charles Fergurson. A vida e
época do apóstolo Paulo. 1ª ed. , Rio de Janeiro. Casa Publicadora das
Assembleias de Deus, 1998.
Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003.
Bíblia de Estudo Temas em Concordância. Rio de Janeiro. Editora Central
Gospel, 2008
Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje. Barueri (SP).
Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.
Por: Ailton da Silva - Ano IV
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