SENSACIONAL ESTE TEXTO: RECOMENDO
Autor: Ev. José Costa Júnior
Houve um dia, na vida de
Jesus, quando, olhando adiante, ele só conseguia ver coisas absurdas e
semelhantes a essas [...]. Seu dia seguinte seria o dia do
Getsêmani; dia da depressão, da agonia; dia do encaramujar da alma; dia da vertiginosa
descida à região mais abissal; dia do choro, gemido, solidão profunda.
O dia seguinte seria aquele no
qual faltaria a solidariedade dos amigos. Ele gemeria, choraria, pediria,
reclamaria; solicitaria apoio, companhia, mas os amigos estariam dormindo.
Voltaria a eles e em vão questionaria: "Não pudestes vigiar comigo?”
Não pudestes investir em mim
sequer alguns minutos? Não conseguistes vencer o sono? Será que a minha dor é
menos importante que o conforto e o sossego? Simão, tu dormes? Não pudeste
vigiar comigo uma hora? (Marcos 14:37)
O dia seguinte também foi dia
de traição, dia no qual Judas Iscariotes -discípulo, apóstolo, amigo, amado - o
troca por dinheiro. Judas que fora investido de autoridade, aquele a quem se
descortina o reino de Deus, a quem é permitido sonhar com os que sonham na
intervenção de Deus na história; alguém aquinhoado com poder divino para
realizar curas, prodígios, expulsão de demônios; aquele que vivenciara
realidades concretas da chegada e da demonstração do Reino. E justamente ele
que, em função de um bom negócio, trai a amizade; é esse Judas que beija e
apunhala. É ele que dá um susto - não um susto no coração de quem não sabia o
que ocorreria, mas um susto naquele que, mesmo ciente do que iria suceder,
reserva-se, ainda assim, o direito de enfrentar cada momento da vida como cada
momento da vida, com seus temores, sonhos e ambigüidades.
O dia seguinte é o dia no qual
a religião judaica - segundo a qual foi criado, na qual aprendeu a ler (porque
naqueles dias aprendia-se a ler nas escolas rabínicas, lendo a Torá, ou
Escrituras), sendo instruído desde a mais tenra infância - após o julgamento, o
acusa de herético, não recebe sua mensagem, rejeita sua proposta, considera-o demoníaco,
expurga-o.
O dia seguinte é o dia da
negação, negação de um dos melhores amigos, amigo que diante de uma situação
pública afirma jamais tê-lo conhecido, não ter com ele a menor relação, não
guardar a lembrança de nenhum encontro; não haver história entre eles, hipótese
alguma de cumplicidade. Amigo que declara: "Não sei quem é esse homem;
jamais o vi, nunca lhe ouvi o nome; tampouco andei com ele." Amigo que
nega a fraternidade, o compromisso, a paixão e o sonho comum.
O dia seguinte seria dia de
preterição, de troca: "Que preferes, a Jesus, chamado Cristo, ou ao
ladrão?" Seria dia no qual o poder público faria opção pelo corrupto,
em vez do justo; pela devassidão, e não pela integridade. Seria dia no qual os
sistemas e a máquina governamental, por questões políticas, entregariam o
inocente para ser condenado e libertariam - com todas as condições de
libertação e seus privilégios - o assassino. Dia, pois, de ser trocado de
maneira vil; de ser escarnecido - soldados lhe poriam uma coroa de espinhos na
cabeça para brincar com a sua realeza (realeza, sim, mas de dor).
Colocar-lhe-iam na mão um caniço quebrável, como a dizer que o seu cetro é o
cetro da fraqueza. Vesti-lo-iam com um manto aparatoso, para significar que
tipo de rei era ele: rei-momo; rei-palhaço; rei do festival; debochariam dele
expondo-o a cenas ridículas. Para honrá-lo, cuspir-lhe-iam. A fim de declararem
sua sapiência profética, fechar-lhe-iam os olhos para lhe perguntar: "Quem
foi que te bateu?"
Sarcasmo, ironia. O dia
seguinte é o dia da cruz. Dia da violação. Dia da profanação física. Dia da
agressão. Dia de ser trespassado. Dia de ser objeto.
Por: Ailton da Silva
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