Até então, o povo não havia demonstrado este sentimento durante a caminhada, porém naquele momento expuseram esta seta maligna, revelando o caráter da maioria. Aquela situação catastrófica teve inicio com uma reclamação de Arão e Miriã, que se imaginaram nas mesmas condições espirituais que Moisés, na intenção de absorver uma responsabilidade que não suportariam, pois não estavam preparados para exercerem este cargo. Aliás não estavam e não foram preparados para tal, não trilharam o mesmo caminho e não tinham razão em reclamarem.
A MURMURAÇÃO
Moisés, o líder, não foi forjado do dia para a noite. Foi um longo período de caminhada com Deus, experiências e atitudes, que caracterizaram o seu amadurecimento. Foi preparado ao longo dos anos até que se atingisse a estatura de varão libertador.
Esta preparação
se iniciou com seu nascimento e continuou pelos seus primeiros quarenta anos de
vida, os quarenta intermediários e os finais.
Servo fiel,
instruído em toda a ciência dos egípcios e poderoso em suas palavras e obras
(At 7.22). No Egito aprendeu a “como mandar”, bem diferente do que aprendera no
deserto.
Estava
pastoreando ovelhas, cuidando de bicho, quando Deus o chamou para libertar os
hebreus. Este período foi de grande aprendizado para quem mais tarde se
tornaria o pastor do povo de Deus (Sl 77.20).
Na situação em
que estava quando fugiu do Egito não reunia nenhuma condição para dar inicio à
missão. O aprendizado secular que recebeu, aliado a valentia e braveza, somente
atrapalhou sua vida.
No auge de seus
quase oitenta anos de idade, quando não esperava mais nada da vida, talvez
aguardando ansioso uma “aposentadoria”, recebeu a visita de Deus enquanto
cuidava do rebanho de seu sogro. Desde então a sua vida nunca mais foi a mesma.
Afinal, a missão pedia um homem com este perfil.
Moisés relutou com
Deus sobre a ideia de retornar ao Egito, de onde havia fugido por medo da
vingança. Aquele homem impulsivo que matou o egípcio e o enterrou na areia já
não existia mais.
Houve uma mudança
em sua vida e agora precisava crer não no seu potencial, mas em Deus. Ao ser
chamado para ser o libertador dos hebreus, Moisés se apresentou com algumas
dúvidas:
- Não confiou em sua capacidade: “quem sou eu”? Se fosse o Moisés dos primeiros quarenta anos, certamente diria: “Eis me aqui”;
- Temeu a incredulidade dos hebreus: “como saberão que foi o Senhor que me enviou”? O homem dos primeiros quarenta anos não teria dificuldade para ganhar a confiança do povo pela sua valentia;
- Ele não confiou na sua eloquência: “sou pesado de boca e palavras”. O jovem dos primeiros quarenta anos saberia muito bem se expressar e não perderia a chance de ser o porta voz de Deus na Terra;
- Por fim duvidou da seleta e criteriosa escolha de Deus: “envia outro que o Senhor escolher”. O Moisés dos primeiros quarenta anos não perderia a oportunidade de representar o próprio Deus na Terra.
- A fim de encorajá-lo e confirmar o seu chamado, Deus fez grandes promessas para sanar cada uma das duvidas que ainda pairavam sobre Moisés (Ex 4.1-9);
- Deus prometeu a Sua presença: “Eu serei contigo”, pois Moisés não se achou em condições de seguir (quem sou eu?);
- Deus prometeu autoridade: “O Eu Sou me enviou a vós”, pois temeu a recepção dos egípcios e a incredulidade dos hebreus (como saberão que foi o Senhor que me enviou?);
- Deus prometeu poder e ousadia: “Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar”, pois não se imaginava em condições de apresentar o plano divino e de convencer os hebreus pelas suas palavras (“Ah, meu Senhor! Eu não sou homem eloquente);
- Deus prometeu um cooperador: “Não é Arão, o levita, teu irmão?”. Moisés não se imaginou com força suficiente para enfrentar aquela missão sozinho (Envia pela mão daquele a quem tu hás de enviar”). Arão seria seu profeta, seu porta-voz e seu auxiliador.
Todas estas promessas foram capazes de
animá-lo e fortalecê-lo para o retorno. A preocupação e o medo pelas
represálias não seriam capazes de impedir a sua volta, tampouco a dúvida quanto
a prescrição do seu crime, na verdade, voltaria fazendo uso de um salvo-conduto,
decretado e assinado por Deus.
No início temeu, pois sabia que estava
jurado, ou pelo menos imaginava que estivesse. Seria preso ou morto tão logo
pisasse em solo egípcio.
Enfim chegou o momento do reencontro com
seu povo, sua linhagem e até mesmo com alguns de seus parentes. Os filhos de
Israel o receberam de bom grado, pois estavam no sofrimento, enfermos,
escravos, pobres e sem esperança. Viram em Moisés a resposta de seus clamores
que havia chegado aos ouvidos de Deus.
Os mais jovens entusiastas já se
imaginavam fazendo parte do grande exército que derrotariam os egípcios. Os
idosos o resgate das tradições e fé monoteísta hebraica, esquecida com o passar
dos anos.
Chegando ao Egito, Moisés e seu irmão
Arão procuraram Faraó para comunicar-lhe a vontade de Deus para o povo de
Israel. Quão difícil e arriscada seria a tarefa de Moisés. Após o encontro que
teve com Deus, estava preparado para apresentar-se ao governante do Egito, não
deveria temer.
Faraó recusou de imediato o pedido de
Moisés. Além de recusar deixar o povo ir embora, aumentou o volume de trabalho
dos hebreus (Êx 5.8,9).
Os hebreus se alegraram com a chegada de
Moisés. Ouviram atentamente e entenderam o plano, que consistia na libertação
total para adorarem e celebrarem ao Senhor no deserto, após três dias de
caminhada, porém com o decorrer dos acontecimentos demonstraram todo o
descontentamento com a situação e logo começaram a murmurar.
Certamente todos esperavam que a saída do
Egito fosse imediata. Mas este não era o plano de Deus. Moisés não entendia o
que estava acontecendo.
A saída dos hebreus do Egito seria algo
sobrenatural e esta promessa foi totalmente cumprida. Uma alegria nunca vista
na Terra. Que satisfação! Os egípcios contemplaram o desfile dos vitoriosos,
alguns rangeram os dentes de raiva, outros juraram vingança, muitos desejaram
boa viagem: “vão com seu Deus e sumam daqui”.
O grande “Eu Sou” escolheu e preparou Moisés para libertar seu povo da escravidão egípcia, mas foi um longo período de preparação, não foi do dia para a noite. Como alguém em são consciência poderia se imaginar no mesmo patamar que Moisés?
“E disseram; Porventura falou o Senhor somente por Moisés? Não falou também por nós? E o Senhor o ouviu” (Nm 12.2).
Arão e Miriã não
tinham experiência espiritual para tomar, à força, o cargo do irmão, sequer
poderiam pensar em tamanha afronta. Caso isto viesse a acontecer, fatalmente
atrapalhariam e em nada auxiliariam. Auxiliares como estes dois, quem gostaria
de ter?
continua...
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