Moisés ordenou que os israelitas se reunissem, quando passassem o rio Jordão (Dt 27.2), em dois grupos, ficando seis tribos diante dos montes Gerizim para abençoarem e as outras seis no monte Ebal para amaldiçoarem. Ele conhecia a região além do Jordão? Lá não entrou e nunca esteve antes. Deus sabe todas as coisas.
Mas porque esta divisão? Não seria um bom motivo para pensarmos em acepção de pessoas (tribos)? Ou poderíamos imaginar uma ou outra tribo agradando a Deus mais do que a outra? Poderíamos até mesmo pensar que isto fosse fruto da obediência, consequências dos erros ou promessas contidas na bênção final de Jacó (Gn 49.1-33).
Sobre o monte Gerizim estariam as tribos de Simeão, Levi, Judá, Issacar, (filhos de Léia), José e Benjamim (filhos de Raquel), sendo que:
• Simeão, juntamente com Levi quase colocaram em risco a casa de Jacó, devido ao ocorrido com Diná e Siquém (Gn 34.30). Na bênção final do pai, os dois foram relacionados novamente um ao lado do outro (Gn 49.5), por isto não havia motivos para serem separados diante dos montes;
• Levi, tribo dos sacerdotes, cantores, ensinadores, pregadores e mantenedores da ordem no serviço religioso, dentre as suas outras atribuições (Nm 1.50-51);
• Judá, tribo da qual descenderia o Messias (Gn 49.10);
• José (filho de Raquel), que recebeu porção dobrada da bênção (Gn 48.22);
• Benjamim, a maior preocupação de Jacó (Gn 43.14);
• E Issacar.
No monte Ebal ficariam as tribos de Rúben, Gade, Aser, Zebulom, Dã e Nafatali, sendo que;
• Rúben, o primogênito e inconstante (Gn 49.4). Talvez por isto tenha sido separado de seus outros irmãos. Devido ao seu erro não foi o mais excelente em alteza e poder (Gn 49.3-4);
• Os filhos de Rúben e Gade, ficaram fascinados com os pastos verdejantes aquém do Jordão, por isto pediram a Moisés permissão para ficarem naquelas terras (Nm 32.1-5). Agiram como desertores e se mostraram despreocupados com a causa israelita. Este fato foi comparado, por Moisés, ao ocorrido em Cades-Barnéia (Nm 13.1-33). Consentiram em guerrear com seus irmãos para depois receberem aquelas terras como herança, entregue a eles por Josué (Js 22.1-5), mas quase foram dizimados pelo restante das tribos, pois foram acusados de idolatrias (Js 22.12-16);
• Gade, Aser, Dã e Naftali (filhos das concubinas Zilpa e Bilá, respectivamente), se ajuntaram a Rúben e Zebulom, filhos de Léia.
A teologia da prosperidade poderia se aproveitar deste texto para afirmar a existência dos dois montes? Um de bênção e outro de maldição. Apresentariam ao povo este dualismo e ofereceriam condições para o trânsito entre eles.
Mas, na verdade a história é outra. Desde o inicio da caminhada Deus não escondeu nada do povo, antes pelo contrário, Lhes revelou a sua vontade, sua Lei e o desejo de vê-lo receberem a Terra Prometida. Então não teria o porque de algo ficar oculto, principalmente naquele momento. Especulações e interpretações facciosas e mal intencionadas poderiam surgir entre o povo, tais como:
• Porque os seis filhos de Léia não ficaram juntos?
• Porque os filhos das concubinas ficaram separados dos demais?
• Ruben poderia requerer seus direitos de primogênito? E porque Zebulom ficou no outro grupo?
A intenção de Deus naquela ocasião era outra, pois queria revelar o povo os benefícios da obediência e as consequências da desobediência. Vejamos o que Josefo disse sobre este assunto. JOSEFO (Livro quarto, capítulo 8):
"Ordenou-lhes também que, depois de conquistar essa mesma terra de Canaã e de passar todos os seus habitantes a fio de espada, construíssem perto da cidade de Siquém um altar voltado para o oriente, que tivesse à direita o monte Gerizim e à esquerda o Ebal, e que em seguida se dividisse todo o exército em dois, colocando seis tribos sobre um monte e seis sobre o outro e dividindo igualmente os sacerdotes e os levitas entre os dois montes.
Então os que estivessem sobre o monte Gerizim pediriam a Deus que abençoasse os que observassem com piedade as leis dadas por Moisés.
Os que estivessem sobre o monte Ebal confirmariam com aclamações esse pedido e pronunciariam, por sua vez, as mesmas bênçãos, ao que os outros responderiam com os mesmos clamores de alegria.
Por fim, fariam uns depois dos outros, na mesma ordem, todas as espécies de imprecações contra os violadores das leis de Deus. Moisés mandou escrever todas essas bênçãos e maldições e, para melhor conservar-lhes a recordação, mandou gravá-las nos dois lados do altar e permitiu ao povo que dele se aproximasse somente naquele dia de oferecer holocaustos, o que lhes era proibido pela Lei. Esses foram os mandamentos que Moisés outorgou aos hebreus e que eles observam ainda hoje".
Isto foi cumprido a risca por Josué, após a conquista (cfe Js 8.30-35).
Referências Bibliográficas:
Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003
Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje. Barueri (SP). Sociedade Bíblica do Brasil, 2000
Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2003
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. De Abraão a queda de Jerusalém. 8ª Ed. Traduzido por Vicente Pedroso. Rio de Janeiro. CPAD, 2004
Por: Ailton da Silva
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