O CLAMOR
Imaginavam que estavam sofrendo sem necessidades, na ótica de muitos. Acabavam de sair de uma dificuldade e entravam em outra ainda pior. Tinham razão, pelo menos poderíamos pensar, porém se olharmos por outro ângulo, teríamos outra posição, pois se o desejo de entrarem em Canaã era tão grande, por que então não podiam provar que eram dignos? Por que então não suportarem todas as provas de boca fechada para saírem vitoriosos ao final?
“E clamou Moisés ao Senhor dizendo: Que farei a este povo? Daqui a pouco me apedrejarão” (Ex 17.4).
A intenção de Deus, primeiramente, foi de
livrá-los da escravidão para receber deles, já no meio do deserto, a adoração,
porém não agiam como verdadeiros herdeiros da promessa maior. Por este motivo
caminharam por mais de quarenta anos praticamente em círculos.
Moisés estava aflito e disposto a
abandonar suas funções. Ficou sem ação, temeu pela vida e não soube o que
fazer. Estava de mãos atadas e correndo risco de morte, mas pela sua
experiência esperava algo extraordinário de Deus.
O grande líder agiu como nas ocasiões
anteriores, pois tratou logo de comunicar a Deus sobre a deplorável situação.
Clamar era o único recurso disponível. Ou havia outra intervenção divina ou a
dispersão seria questão de tempo.
Clamar era com Moisés mesmo, bastava
somente olhar para os montes de onde viria o socorro para todos. Era bom aquele
contato particular com Deus. A sua moral aumentava a cada dia, só não via isto
quem não queria. Um dia faria uso deste crédito.
O LIVRAMENTO
Moisés reuniu alguns anciãos da congregação para que presenciassem mais uma demonstração do poder de Deus. Quem esperava trovões, relâmpagos, chuvas, ao final daquela reunião, se enganou, pois a água foi extraída do local mais improvável, inesperado ou imaginado. Quem em sã consciência poderia estender suas canecas em direção à uma rocha e esperar que dela minasse água?
A água brotou da rocha em pleno deserto e
chegou até aos hebreus que aguardavam ansiosos.
Este foi um acontecimento nunca visto ou
imaginado por alguém, fato que fortaleceu a liderança de Moisés. Outro
livramento dado ao povo e novamente a dificuldade que apareceu durante a
caminhada foi resolvida por Deus.
Deus queria, através daquele milagre, fortalecer e não deixar cair por terra a autoridade de Moisés ou deixá-lo desanimar de sua tarefa. Caso isto acontecesse, fatalmente os hebreus revoltosos elegeriam outro líder para guiá-los até Canaã ou levá-los de volta ao Egito. Sem contar que fariam deuses e mais deuses para adorarem neste trajeto que seria de pura derrota.
“Então disse o Senhor a Moisés: Passa diante do povo, e toma contigo alguns dos anciãos de Israel; e toma na tua mão a tua vara, com que feriste o rio; vai. Eis que estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe, e tu ferirás a rocha, e dela sairão águas e o povo beberá. E Moisés assim o fez, diante dos olhos dos anciãos de Israel” (Ex 17.5-6).
Moisés foi exaltado para que a
normalidade voltasse e para que nunca mais intentassem algo, por isto todos
foram reunidos para ver como Deus se dirigia a ele.
As murmurações anteriores foram
finalizadas com um grande milagre, porém este cenário mudaria logo, pois a
repreensão e o castigo pelos erros não tardariam.
Então os hebreus imaginaram que
reiniciariam a caminhada em direção à Terra Prometida sem maiores problemas,
porém um imprevisto adiara por um breve momento a continuidade da viagem.
Foi justamente neste local que foram
atacados pelos amalequitas, os descendentes de Esaú (Gn 36.12-16), pai dos
edomitas[1], que
atacavam sorrateiramente e sem motivos. Povo cruel, bárbaro, infiel que
aproveitava os momentos de fraqueza de seus inimigos (Dt 25.18).
Oficialmente foram os primeiros que
ousaram a se colocar como obstáculo entre Israel e a Terra Prometida. Um povo
que não desejava os despojos, riquezas, que não queria proteger os cananeus e
os povos que habitavam em Canaã e muitos menos queriam escravos, na verdade o
interesse deles era espiritual, foram enviados pelo Maligno para impedirem o
cumprimento do plano de Deus.
Então refeitos e saciados da sede, Israel
lutou como um gigante e enfrentou este seu declarado primeiro inimigo, pois
Deus primeiro socorreu para depois permitir o ataque dos amalequitas.
Por ter se colocado entre Israel e a
Terra Prometida, os amalequitas caíram nas mãos de Deus, que daquele momento em
diante trataria diretamente com eles, até dizimá-los.
Deus havia dito: “Escreva isto num rolo,
como memorial, e declare a Josué que farei que os amalequitas sejam esquecidos
para sempre debaixo do céu". Este foi o ponto inicial da queda deste povo
(Ex 17.14). Todos os embaraços criados durante a história de Israel, nunca
caíram no esquecimento. Tão logo entrassem em Canaã, os israelitas deveriam
apagar a memória de Amaleque.
Ao longo da história de Israel, os
amalequitas foram pouco a pouco sendo dizimados como cumprimento da do que
havia sido prometido a Moisés por Deus.
Anos mais tarde Deus ordenou ao rei Saul
que exterminasse os amalequitas, porém desobediente e interesseiro, preservou o
rei Agague e parte dos tesouros (I Sm 15.2-9).
Outra vítima dos amalequitas foi o rei
Davi que sofreu um ataque traiçoeiro, enquanto estava em batalha (I Sm 30.1-2),
mas bravamente persegui o inimigo e os feriu.
O rei Ezequias também contribuiu para que
todo o mal que os amalequitas fizeram no deserto aos seus antepassados fosse
vingado (I Cr 4.42-43).
A rainha Ester também se viu em apuros
com Hamã, o agagita, provavelmente um dos descendentes do primeiro escalão real
dos amalequitas (Et 3.1). Isto explicaria o seu ódio pelos judeus e deixava
claro o modo traiçoeiro com que costumavam atacar seus inimigos, já que Hamã
também foi sorrateiro em seu plano.
Depois da vitória sobre os amalequitas,
os hebreus então reiniciaram a jornada. Saciados, alegres e confiantes seguiram
rumo ao Sinai, onde acamparam, sem imaginarem que estavam prestes a novamente
murmurarem contra Deus e seu servo Moisés.
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