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domingo, 31 de outubro de 2021

Os patriarcas. Coincidências ou repetições da história? – Capítulo 14

Moisés: O primeiro a sair do Egito 

Uma infância e juventude dignas de um rei, com todas as mordomias, riquezas e privilégios. Ninguém em sã consciência trocaria esta vida no palácio onde recebia do bom e do melhor para sofrer junto com os hebreus que não tinham mais esperanças. Alguém optaria pela sofrimento em detrimento ao luxo? Somente um servo de Deus rejeitaria o primeiro estado para conhecer e viver conforme os seus irmãos.

Aos poucos Deus foi trabalhando na vida de Moisés para que rejeitasse aquela forma de vida, pois o patriarca deveria ser o primeiro a sair do Egito para que o povo saísse depois.

Aquela cultura em nada se identificava com a sua futura missão, por isto a escolha[1] foi difícil. Quanto conhecimento deixaria de receber, quantos amigos e recursos financeiros? Quantas perdas? 

Os hebreus também perderam muito quando saíram do Egito, pois deixaram para trás as habitações, as raras comidas nas horas certas e o principal, a terra para enterrar seus corpos sem vida quando morressem na escravidão. Isto seria capaz de segurá-los?

O primeiro passo deveria ser a negação de sua filiação egípcia. O sofrimento do povo foi suficiente para que Moisés tomasse a decisão.

Pela fé, somente pela fé, recusou ser chamado de filho da filha de Faraó, um assombro, a realeza se surpreendeu, os servos e escravos não entenderam. Muitos deles se imaginavam na posição de Moisés para aproveitarem, mas recusou tudo aquilo.

Será que Deus permitiria que de príncipe fosse direto para a condição de presidiário? Como diria ao povo ser o escolhido para libertá-los daquele sofrimento? Acreditariam em um homem que havia perdido a mordomia do palácio? Como crer em uma pessoa rebaixada de uma hora para outra?

Deus não queria um príncipe, escravo, guerreiro, soldado ou general, mas sim um pastor. O plano para colocá-lo na posição desejada foi rápido, simples e direto. Bastava conhecer de perto a aflição do povo.

 

Quarto livramento. Coincidências ou repetições da história?

Certa ocasião, passeando entre seus irmãos hebreus, contemplou uma cena que o fez tomar uma decisão que marcaria sua vida para sempre.

Como era conhecedor de sua linhagem, não permitiu que um egípcio afligisse um irmão hebreu, mas por que demorou para agir? O que o impediu de sentir as dores de seu povo antes? Ou percebeu e não atentou, pois se julgava privilegiado pela situação diferenciada?

Moisés pensou que resolveria os problemas de Israel através da valentia, força e conhecimento, agindo de acordo com sua própria vontade, sem consultar ou se inteirar do plano de Deus para livrá-los do opressor. Mesmo sábio, instruído em toda ciência, lhe faltou entendimento para saber que não era o momento correto para agir, estava se adiantando ao tempo de Deus e quando isto acontece, o resultado final, sempre é o fracasso.

Neste episódio Deus oficializava a sua chamada e a resposta foi materializada em sua atitude, porém não imaginava que as consequências pudessem afetar o seu trânsito entre os dois povos, pois alguns dias depois esteve diante de uma cena idêntica e foi mal interpretado, incompreendido pelos seus irmãos e acusado de assassinato. A sua intenção era somente ajudar, como na ocasião anterior.

Esta ocorrência o fez tomar outra decisão radical, a fuga para o deserto[2], semelhante a Abraão, Isaque, Jacó e José, inclusive se deparando com os mesmos problemas em relação a mudança do padrão de vida enfrentado pelos patriarcas anteriores:

  • Do conforto e mordomia egípcia encarou a dureza do deserto, desabrigado e na solidão, como Abraão, quando largou sua parentela, posses e herança;
  • Saiu sem rumo, desconhecendo o futuro, sem a certeza da volta, na solidão de seus pensamentos, assim como Isaque quando caminhava para o seu sacrifício não consumado;
  • Atormentado pela incompreensão de seu próprio povo. Sua intenção foi ajudar, mas acabou rotulado de malfeitor, assassino. Fugiu para não ser morto por vingança, assim como Jacó, fugitivo incompreendido, acusado de matar os sonhos de seu irmão primogênito;
  • Possuía o conhecimento de toda ciência egípcia, mas não teve a sua autoridade reconhecida e acabou se tornando um pastor de ovelhas, abominação para os egípcios. Trajetória idêntica foi percorrida por José, que detentor de profundos conhecimentos recebidos de seu pai, também não teve a sua liderança reconhecida, pelos seus irmãos, se tornando um escravo e prisioneiro no Egito;
  • Peregrino em terras estranhas e afastado da família, como Abraão, Jacó e José que largaram tudo, mordomia, família, herança e peregrinaram guiados por Deus para alcançarem a vitória.

A fuga foi a única alternativa para Moisés, pois imaginava que jamais teria condições de mudar aquela situação. Sem esperança e perspectivas, jamais cogitou a possibilidade de retorno. 


Aprendendo desaprendendo

As confirmações das chamadas das esposas dos patriarcas se deram ao redor de poços de água, envolvendo rebanhos sedentos. Aconteceu desta forma com Rebeca, que deu de beber aos camelos do servo de Abraão, antes de ser levada para se casar com Isaque. Anos mais tarde Jacó repetia esta história quando matou a sede do rebanho de Raquel, tomando-a por esposa, depois de um longo período de trabalho. Agora Moisés fazia o mesmo com o rebanho de seu futuro sogro, Jetro.

Moisés estranhou a mudança de ambiente, pois diante de todo o seu conhecimento científico, estava desempenhando a função mais abominada pelos egípcios, pastor de ovelhas. O curso natural seria o crescimento, bem diferente da situação em que estava.

Em Midiã, sua nova morada, aprenderia algo bem mais útil do que havia aprendido no Egito. Com a mente esvaziada, perderia o seu ímpeto e valentia. Finalmente seria apresentado à mansidão e desta forma poderia entender os problemas de todos os necessitados que, um dia, Deus colocaria sob sua responsabilidade.

No Egito aprendeu com mestres, doutores e livros, mas não foi capaz de exercer sua autoridade com sabedoria sem utilizar a força física. Agora aprenderia com as ovelhas a ser manso, humilde e pequeno, para assim ser transformado em um verdadeiro líder. Afinal, a missão pedia um homem com este perfil.

Deus preparou José para levar o seu povo ao Egito e agora estava capacitando Moisés para retirá-los daquele território.

Havia tanto por aprender e muito mais para esquecer. Esta capacitação evitaria que pulasse etapas em sua vida e serviria de experiência no futuro, pois suportaria as provações, adquiriria a humildade, mansidão, se tornaria dependente de Deus e se sensibilizaria com os problemas de Israel.

José viveu entre seu povo, aprendeu com o pai, foi traído e incompreendido pelos irmãos, sofreu com a separação, para depois receber a bênção do reencontro com sua família para morarem nas melhores terras do território egípcio.

Moisés, incompreendido pelo seu povo, não teve sua autoridade reconhecida. Saiu daquelas terras sem nenhuma provisão, recursos e findou seu trajeto nas terras de Midiã, apascentando ovelhas. Anos mais tarde se apresentou diante de Faraó, não para ser recompensado, mas para entregar-lhe a mensagem de Deus, para afrontá-lo.

A autoridade de José foi reconhecida por seus irmãos quando pediram socorro diante da fome. Moisés foi visto como um líder quando se apresentou a Faraó para lhe entregar a mensagem de Deus. Nos dois casos os patriarcas foram reconhecidos justamente nos momentos de maiores aflições de Israel, fome e escravidão.



[1] Uma das escolhas mais difíceis já tomadas por um homem (Hb 11.24-27).

[2] Foi separado da família, mas o retorno foi tão festivo quanto dos patriarcas anteriores.

Por: Ailton da Silva - 12 anos (Ide por todo mundo)

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