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sábado, 28 de abril de 2012

Israel estava parado nas planíces de Moabe, atemorizando Balaque, filho de Zipor, pois já era sabedor do que havia acontecido com os amorreus. Em seu desespero enviou uma pobre comitiva a Balaão, filho de Beor, um especialista em amaldiçoar povos, desde que fossem bem recompensado, para que viesse a profetizar maldição para aqueles a quem ele imaginava que logo lamberia tudo o que houvesse ao redor deles.

Na primeira tentativa o suposto profeta resistiu (v.13), então a segunda comitiva foi formada por homens mais honrados e com promessas tentadoras (v. 15-17), mas da mesma forma não tiveram sucesso, até que Deus permitiu que Balaão fosse com eles (v.20).

Ora, o pedido do apavorado rei foi: Balaão, a quem tu amaldiçoar será amaldiçoado (Israel) e a quem tu abençoar, abençoado será (o próprio rei). O “profeta” sentiria na pele o peso da promessa feita por Deus a Abraão, ainda em sua chamada (Gn 12.3). Seria melhor que abençoasse os filhos de Abraão.

Mas quem foi Balão, quem foi este profeta usado por Deus? A Bíblia de estudo aplicação pessoal relata em sua nota de rodapé do capítulo 22 e versículo 9 do livro de Números:

“Porque Deus falou por intermédio de um feiticeiro, como Balaão? Deus quis falar aos moabitas, estes já haviam escolhido Balaão. Ele estava disponível para que Deus o usasse, assim como havia usado o malévolo Faraó, a fim de cumprir sua vontade no Egito (Ex 10.1)”.

“Balaão levava a sério sua função profética, mas seu coração era dúbio. Ele tinha algum conhecimento sobre o verdadeiro Deus, mas não o suficiente para abandonar sua mágica e voltar-se completamente para o Senhor. Embora esta história nos leva a crer que Balaão tenha se voltado completamente para o eterno, outros textos bíblicos mostrar ele não resistiu ao dinheiro e à idolatria (Nm 31.16; II Pe 2.15; Jd 1.11)”. BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL (2003, p. 210)

Até então, a conduta de Balaão foi de um homem sério, temente, que buscava em Deus conselhos para suas atitudes, mas durante o caminhar até Balaque, ele foi revelando seu caráter e verdadeira intenção. Esta era a oportunidade que esperava para tornar-se então reconhecido em toda aquela região como o grande “profeta” de maldições.

Preparou seu animal e acompanhou aqueles homens, mas a pressa em chegar era tamanha que foi preciso que Deus agisse para diminuir seu ímpeto. Quanto tempo perdeu com a sua jumenta empacada? E a dor que sentiu em seu pé quase esmagado pelo peso do animal (v.25)?

Durante o desenrolar desta história, provavelmente os que faziam parte da comitiva do rei Balaque, não entenderam nada daquilo do que estava acontecendo. Um jumento medroso, um profeta nervoso e vozes vinda de um animal. Ou somente o profeta ouviu?
Parece que esta história se repetiu anos mais tarde com um homem que se tornaria um grande profeta, missionário, um verdadeiro pastor, no momento em que se dirigia para perseguir e amaldiçoar um povo, a igreja, mas que antes de chegar presenciou algo semelhante ao que aconteceu com Balaão, pois seus companheiros de viagem também viram um animal amedrontado, um homem valente e ouviram a Voz, sem verem ninguém (At 9.7, 22.9).

Se pelo menos Balaão pudesse seguir viagem sem sua jumenta? Certamente a deixaria empacada naquele lugar e iria logo, correndo para desempenhar sua recompensadora tarefa.

De longe Balaque o contemplou e saiu ao seu encontro. Será que desde o dia que enviou a comitiva o rei ficava ansioso pelo retorno de seus enviados? Sua fé era que retornariam com o profeta, rebelde, teimoso. Ao avistá-lo correu em direção a ele e confirmou que o pagamento já estava preparado, há muito tempo (v. 37). Agora deveriam correr contra o tempo. Afinal, Israel estava às portas, era preciso agir.

Balaão foi sábio em sua resposta, pois falaria somente o que Deus permitisse e assim foi, vejamos como Josefo relatou a bênção recebida por Israel:

"Povo bem-aventurado, do qual o próprio Deus deseja ser guia e quer cumular de benefícios, velando incessantemente pelas vossas necessidades. Nenhuma outra nação vos igualará em amor pela virtude, e os que nascerem de vós ainda vos hão de sobrepujar, porque Deus, que vos ama como sendo o seu povo, vos quer fazer o povo mais feliz de todos os homens que o Sol ilumina com os seus raios.

Vós possuireis esse rico país que Ele vos prometeu. Vossos filhos possuí-lo-ão depois de vós, e as terras e o mar ressoarão com a fama do vosso nome e admirarão o brilho de vossa glória. Vossa posteridade multiplicar-se-á de tal modo que não haverá lugar no mundo onde não se difunda. Exército bem-aventurado, que por maior que sejais sois composto por descendentes de um único homem.

A província de Canaã ser-vos-á suficiente agora, mas um dia o mundo inteiro não será grande o bastante para vos conter: o vosso número será igual ao das estrelas. Não povoareis somente a terra firme, mas também as ilhas.

Deus vos dará em abundância toda sorte de bens durante a paz e vos fará vitoriosos na guerra. Assim, devemos nós desejar que os nossos inimigos e os seus descendentes ousem combater contra vós, pois não poderão fazê-lo sem a sua completa ruína, de tanto que Deus, que se compraz em elevar os humildes e humilhar os soberbos, vos ama e favorece". JOSEFO (Livro quarto, capítulo 6).

Mas antes, desta primeira, houve por bem ao profeta e ao rei ordenarem a construção de sete altares (Nm 23.1) para que se desse início ao ritual de maldição contra Israel.

Mas as palavras não vinham em sua mente, mesmo que desejasse, o que estava acontecendo? Como Balaão poderia amaldiçoar um povo que era abençoado por Deus? Não demorou para que o rei se irasse (v. 11).  Chamei-te e estou pagando bem para que você amaldiçoe e até agora somente tens abençoado.

Foi então que surgiu a idéia. Quem sabe se mudarmos o ambiente, o lugar, a situação, novos ares, quem sabe desta forma, tu amaldiçoará Israel (v.13). Quem sabe se vires o inimigo somente pelas costas, ou uma pequena parte, então você seja capaz de cumprir sua tarefa. Então construíram mais sete altares, já foram quatorze e ainda não resolveram a questão. Segundo Josefa relata, havia um impedimento, vejamos:

“O profeta respondeu-lhe: Credes, então, que quando se trata de profetizar depende de nós dizer ou não o que desejamos? É Deus quem nos faz falar como lhe apraz, sem que tenhamos parte alguma nisso.

Não me esqueci do pedido que os midianitas me fizeram. Vim com a intenção de contentá-los: não pensava em publicar elogios aos hebreus nem falar dos favores de que Deus resolveu cumulá-los. Mas Ele foi mais poderoso que eu, que resolvera, contra a sua vontade, agradar aos homens. Pois quando Ele entra em nosso coração torna-se dono dele. Assim, por desejar conceder felicidade a essa nação e tornar imortal a sua glória, Ele pôs-me na boca as palavras que pronunciei. No entanto, como os vossos pedidos e os dos midianitas são-me assaz importantes e para não deixar de fazer tudo o que dependa de mim, sou de opinião que se ergam outros altares e se façam outros sacrifícios, a fim de eu ver se poderemos aplacar a Deus com as nossas orações”! JOSEFO (Livro quarto, capítulo 6).


Pela terceira vez decidiram mudar de lugar e construíram mais sete altares, foram vinte e um ao todo, mas novamente a decepção tomou conta de Balaque. Ninguém pode contra este povo? Eles lamberão meu país? Assim foi.

“Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa; porventura, diria Ele e não O faria? Ou falaria e não o confirmaria”?

“Eis que recebi mandado de abençoar; pois Ele tem abençoado, e eu não o posso revogar”. Números 23.19-20

Como nada puderam contra Israel a ordem do rei então mudou: “[...] Nem totalmente o amaldiçoaras, nem totalmente o abençoarás” (v. 25). Após o fracasso do terceiro altar, o profeta resolveu olhar para o deserto e a visão que teve o fez novamente abençoar aquele povo. Abdicou do seu direito de fazer uso de seus objetos e práticas de encantamento. Fim da história? Não, ela ainda continuou. Josefo relata os passos do profeta após este episódio:

Balaque, muito irritado por ver-se desiludido em suas esperanças, despediu Balaão sem lhe prestar homenagem alguma. Tendo o profeta chegado próximo do Eufrates, pediu para falar ao rei e aos príncipes dos midianitas, aos quais disse: "Já que desejais, ó rei, e vós, midianitas, que eu atenda em alguma coisa aos vossos rogos, contra a vontade de Deus, eis tudo o que vos posso dizer: não espereis que a raça dos israelitas pereça pelas armas, pela peste, pela carestia ou por qualquer outro acidente, pois Deus, que a tomou sob a sua proteção, a preservará de todas as desgraças. Ainda que eles sofram algum desastre, levantar-se-ão com mais glória ainda, pois se tornarão mais sensatos pelo castigo.

Mas se quereis triunfar sobre eles por algum tempo, dar-vos-ei o meio para tanto. Mandai ao seu acampamento as mais belas de vossas filhas, bem adornadas, e ordenai-lhes que de nada se esqueçam para suscitar amor aos mais jovens e aos mais corajosos dentre eles. Dizei-Ihes que quando os virem ardendo de paixão por elas finjam querer retirar-se e quando rogarem que fiquem respondam que não é possível, a menos que eles prometam solenemente renunciar às leis de seu país e o culto ao seu Deus para adorar os deuses dos midianitas e dos moabitas. É o único meio que tendes para fazer com que Deus se encha de cólera contra eles". JOSEFO (Livro quarto, capítulo 6).


Então os midianitas perceberam que seria inútil a luta, a resistência e a valentia. Decidiram fazer uso de outro tipo de arma, uma invisível, cruel e que certamente, aos olhos deles, seria infalível. Eles não pensaram duas vezes e enviaram suas filhas para seduzirem os hebreus.

Elas fizeram tudo como programado e na despedida lançaram a isca para a idolatria. Os choros, dos hebreus, e a alegria das estrangeiras, pareciam tão reais. O relato de Josefo é tão rico:

[...] Não precisamos de bens ou de algo que nos possa fazer felizes, (MENTIRA, grifo meu) sendo nós muito queridas por nossos pais tanto quanto podemos desejar (SERÁ? SE FOSSEM TÃO QUERIDAS NÃO SERIAM USADAS COMO ISCAS, grifo meu), e não viemos aqui para fazer comércio com a nossa beleza (MENTIRA, ERAM COMERCIANTES DOS PRÓPRIOS CORPOS E VIDAS, grifo meu), mas, considerando-vos estrangeiros pelos quais nutrimos grande estima (COMO OS HEBREUS FORAM ILUDIOS POR ESTA CONVERSINHA, grifo meu), quisemos fazer-vos esta cortesia (ABRAÇOS, BEIJOS E PUNHAIS PREPARADOS CONTRA OS HEBREUS, grifo meu).

Os moços (OS BOBOS, grifo meu), enamorados, ofereceram-se para dar as garantias que elas desejassem de sua fidelidade, ao que as moças responderam: "Pois se tendes essa intenção, e como constatamos que tendes costumes diferentes dos de todos os outros povos, como o de só comer certas carnes (PONTO FRACO DELES, grifo meu) e usar determinadas bebidas (OUTRO PONTO FRACO, grifo meu), é necessário, se nos quiserdes desposar, que adoreis os nossos deuses (ISCA LANÇADA, AGORA DEVERIAM SER FORTES, grifo meu).

Do contrário, não poderemos crer que o amor que dizeis sentir por nós seja verdadeiro (CHANTAGEM BARATA, grifo meu).

Esses infelizes (GRIFO DE JOSEFO), levados por sua brutal e cega paixão, aceitaram as condições: abandonaram a fé de seus pais, adoraram vários deuses, ofereceram-lhes sacrifícios semelhantes aos dos midianitas e comeram indiferentemente de todas as iguarias. Para agradar àquelas moças, que se tornaram suas esposas, não temeram violar os mandamentos do verdadeiro Deus. E todo o exército viu-se num momento contaminado pelo veneno espalhado pelos moços, e a antiga religião ficou exposta a grave risco. Uma nova rebelião, mais perigosa que as primeiras, já começava a se esboçar. JOSEFO (Livro quarto, capítulo 6).

Como foi bom para alguns hebreus sentirem o ar da liberdade, afinal estavam livres do jugo de Moisés e da Lei de Deus. Que sensação gostosa, que alívio. Poderiam fazer o que desejassem, até mesmo alguns líderes foram seduzidos, Zinri chefe da tribo de Simeão (Nm 25.14).

E Moisés, tomou alguma decisão quando presenciou a idolatria no meio do povo? Disse Deus: “[...] Toma todos os cabeças do povo e enforca-os ao Senhor diante do sol e o ardor da ira do Senhor se retirará de Israel”. (Nm 25.4).

Neste meio tempo apareceu Zinri com uma midianita, a qual havia tomado para si e primeiramente chorou por ela, para preservar suas vidas, tanto a dela quanto a dele, mas antes do choro ele tentou um outro caminho, relatado por Josefo:

[...] "Vivei, Moisés, se bem vos parece, segundo as leis que fizestes e que um longo uso até hoje autorizou, sem o qual há muito tempo lhes teríeis deixado o jugo e aprendido à vossa própria custa que não devíeis assim nos enganar. Por mim, quero que saibais que não mais obedecerei aos vossos tirânicos mandamentos, porque bem vejo que sob os vossos pretextos de piedade e de nos dar leis da parte de Deus usurpastes o governo por meios de artifícios e nos reduzistes à escravidão, proibindo-nos prazeres e tirando-nos a liberdade que todos os homens nascidos livres devem ter.

[...] Vós é que mereceis ser castigado, porque, desprezando as leis de todas as outras nações, quereis que somente as vossas sejam observadas e preferis assim o vosso juízo particular ao de todo o resto dos homens. Assim, como creio muito bem feito o que fiz e que era livre para fazer, não temo declarar diante de toda esta assembléia que desposei uma mulher estrangeira.

Ao contrário, quero que o saibais de minha própria boca e que todos o saibam. É verdade também que sacrifico aos deuses aos quais proibis sacrificar, porque julgo não me dever submeter à tirania de receber somente de vós o que se refere à religião e não quero que me obrigueis a desejar somente o que quereis nem que tenhais mais autoridade sobre mim do que eu mesmo". JOSEFO (Livro quarto, capítulo 6).

Finéias, Eleazar o sumo sacerdote e sobrinho de Moisés, resolveu a questão e atravessou Zinri e sua mulher com uma lança. Então esta história teve seu fim? Não.

Deus ordenou a Moisés que marchasse contra os midianitas, porque depois ele seria recolhido ao seu povo (Nm 31.1). Reuniu mil de cada tribo e enviou a guerra. A peleja foi rápida e saíram vitoriosos. Mataram todos os varões, inclusive Balaão (v. 8), o causador de tudo, porém pouparam algumas crianças e mulheres, quais mulheres? Justamente aquelas que participaram do plano (v. 15-16) para seduzirem os hebreus e incitá-los à idolatria. Moisés ordenou a morte dos varões e das mulheres que se submeteram ao plano midianita (v. 17).

Então a história de Balaão chegou ao fim. Ele foi citado por:
  • Pedro em sua segunda carta (2.15);
  • Judas (v. 11), juntamente com Caim e Corá (Nm 16), formando o trio vergonhoso;
  • E na carta enviada para a igreja de Pérgamo (Ap 2.14), a qual havia aberto enormes brechas para que os tropeços de Balaão os levassem a idolatria, imoralidade e por fim a segunda morte (Ap 20.14), da qual os fiéis de Esmirna foram preservados (Ap 2. 11).

REFEÊNCIAS:
Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003

Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje. Barueri (SP). Sociedade Bíblica do Brasil, 2000

Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2003

JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. De Abraão a queda de Jerusalém. 8ª Ed. Traduzido por Vicente Pedroso. Rio de Janeiro. CPAD, 2004Por: Ailton da Silva

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