1. QUEM FOI NEEMIAS:
Realmente não foi nada fácil a vida dos que não foram deportados para
Babilônia, o pior era que não fizeram nada para mudar aquele quadro caótico.
Houve necessidade que Deus levantasse outro homem de fora, de longe, pois os
poucos e desanimados moradores não perceberam o conformismo e o comodismo.
Neemias, servindo a corte persa, não tinha obrigação de demonstrar tanta
preocupação por Jerusalém. Mesmo depois de conhecer a situação da cidade não
haveria necessidade do desabafo com o rei Artaxerxes, a não ser que sentisse em
seu coração um chamado muito forte.
Foi filho de Hacalias, irmão de Hanani (Ne 1.1; 7.2) e ardeu em seu
coração o desejo de ajudar o povo que estava em grande desprezo e miséria.
Mesmo diante de sua ocupação no palácio real reservou um tempo para ouvir de
seu irmão um relato sobre a cidade, que sequer conhecia.
Serviu ao rei Artaxerxe I, na corte persa, como copeiro, em meio ao
luxo, facilmente se iludiria com o sistema politeísta medo-persa, mas nunca se
deixou corromper pelas ofertas ou práticas pagãs.
O ponto crucial de sua vida, o divisor de águas foi a sua empatia e
preocupação com a cidade de Davi, outros em sua posição, jamais desprezariam
suas funções na corte para viajar e auxiliar um povo, que não mexia um dedo,
sequer para mudar a sua própria situação.
Não era um general, um engenheiro, construtor de grande porte,
diplomata, mas possuía qualidades tais, pois no decorrer da obra enfrentou
perigos, inimigos, dificuldades, oposição de estrangeiro e outras situações.
Sentiu a chamada de Deus em sua vida quando ouviu o catastrófico diagnóstico da
cidade. No seu entendimento ainda havia solução?
A distância entre Susã, a fortaleza (Et 1.2) e Jerusalém, cerca de 1600
km, não foi obstáculo. A alegria, vitória, dores e problemas do povo também
seriam seus. Mesmo tendo pouco conhecimento sobre a cidade, seguiu viagem.
O único que poderia impedir sua viagem seria o próprio rei, pois seria
difícil encontrar outro homem em que pudesse depositar tamanha confiança, mas foi
o primeiro gentio que ouviu as lamentações de Neemias e desde o inicio o
incentivou que fosse a realizar o que Deus havia colocado em seu coração. Em
nenhum momento duvidou, imaginou ou insinuou que a viagem tivesse outro
interesse que não o apresentado por Neemias. O rei permitiu a viagem e lhe deu
as cartas necessárias.
A reconstrução da cidade poderia ser uma realidade distante e
inatingível ou não, pois já estavam trabalhando neste intento, inclusive o
Templo estava reerguido, mas o principal era atentarem para os muros ao redor,
que deveriam ser reconstruídos imediatamente, pois de nada adiantaria
investirem na cidade e esquecerem da proteção. Era sabedor que a tradição, história, cultura,
religiosidade dos judeus dependia daquela cidade.
a) Missão de Hanani:
abalar a estrutura do líder:
Neemias esperava ouvir de Hanani boas notícias sobre a cidade, pois já
era tempo da reconstrução estar a pleno vapor, mas o que ouviu o deixou triste
e receoso pelo futuro da nação. Esta conversa selou o chamado daquele homem, a
partir daquele momento nunca mais foi o mesmo. Era a oportunidade que fazer
algo para Deus. Alguém poderia condenar Hanani por ter ido tão distante para
entregar noticias tão ruins.
2. ORAÇÃO – CONFIRMAÇÃO
DA CHAMADA:
Neemias teria sucesso sem
oração? A sua comoção pela situação da cidade foi o combustível que o
impulsionou a clamar em favor da cidade e para receber de Deus a confirmação de
sua chamada (1.4-11). Se não tivesse orado em favor da cidade certamente teria
somente lamentado toda aquela situação e não teria ido a lugar algum.
Cerca de quatro meses de oração
(1.1; 2.1 – quisleu à nisã do 20º ano do rei Artaxerxes) e então sentiu forças
para solicitar ao rei a permissão para sua viagem. A obra da reconstrução do
muro e das portas foi concluída em exatos cinquenta e dois dias, praticamente a
metade do tempo em que ele ficou em oração (6.15)
Um líder, que negligencia o
momento de oração, se torna presa fácil para o inimigo. Decisões erradas,
precipitadas ou tendenciosas são consequências da falta de oração e vigilância.
3. INÍCIO DO MINISTÉRIO
DE NEEMIAS:
Neemias deixou sua função e o conforto no palácio e “pela fé, recusou a
ser chamado copeiro do rei”, antes preferiu conhecer in loco a situação e sofrimento de seu povo, tal como aconteceu com
Moisés. Jerusalém sem muro não tinha proteção contra os seus inimigos, contra
falsos profetas, heresias, falsos ensinos. A preocupação era muito mais do que
somente com a aparência e estética da cidade.
Quando Neemias ouviu o relato de que os muros estavam derribados e
fendidos, o seu coração ardeu. Como o povo não atentava para esta situação? De
que adiantava a reconstrução do Templo, o resgate da fé monoteísta e práticas
agradáveis se estavam desprotegidos? O primeiro inimigo que se levantasse seria
capaz de invadir e destruir tudo novamente. Haveria fé e animo suficientes para
outros mutirões? E o que dizer de ladrões, salteadores, doenças, enganadores com
livre trânsito?
a) Oração de um verdadeiro líder:
- Reconheceu a autoridade de Deus (1.5);
- Confessou os pecados e intercedeu pelo povo (1.6);
- Lembrou de Moisés (promessas e advertências–1.7);
- Mencionou o compromisso de Deus com Israel (1.9);
- Se colocou em favor dos judeus;
- Foi persistente, fervoroso, específico e direto.
b) A necessidade dos muros:
- O que teria acontecido com os discípulos se a embarcação tivesse se rompido durante a clássica tempestade que Jesus acalmou? As ondas açoitavam o barco constantemente (Mc 4.37) e não atacava propriamente os homens a bordo. O ataque primeiro foi contra o barco. Certamente morreriam quando tudo fosse destruído. Povo no mar, sem proteção são presas fáceis e o mesmo se aplica a Jerusalém sem os muros?
- E todos os dias Jesus acrescentava à igreja aqueles que se haviam de salvar (At 2.47). O intuito era reuni-los para protegê-los do mal e do ataque do inimigo.
Neemias, de princípio, não tinha autoridade e experiência para reunir
grandes exércitos ou um número elevado de trabalhadores, tampouco condições
para levantar e guiar os judeus de volta para Jerusalém, mas foi capacitado por
Deus.
O primeiro sentimento que nasceu em seu coração foi o desejo de retorno
para trabalhar e não o de se intitular salvador da pátria judaica, o grande
general responsável pela reconstrução, mas isto somente aconteceu porque após
ouvir as noticias a sua primeira atitude foi se colocar diante de Deus em
oração. Que caminho seguir? Condições para sensibilizar o povo e reuni-los
seria humanamente impossível? Se os que estavam morando na cidade não faziam
nada imaginem então os que estavam em uma zona de conforto e tranqüilidade,
mesmo servindo outro império? Prova disto é que muitos não voltaram quando foram
autorizados.
Uma atitude simples (Ne 1.4), mas necessária, pois o primeiro passo
seria receber de Deus a confirmação para que não agisse somente por emoção.
Após esta oração apresentou diante do rei que percebeu a tristeza do seu servo
e ouviu as suas lamentações sobre a cidade. Naquele momento Neemias transpassou
a primeira barreira de sua nova carreira. Recebeu o aval, a confirmação para
sua empreitada.
O início do ministério de Neemias foi baseado em uma das mais
significativas orações registradas na Bíblia. Oração reverente, adorando a
Deus, atribuindo-lhe todo o poder, reconhecendo a autoridade, fazendo menção do
compromisso estabelecido com seu povo, confessando os pecados de todos os
envolvidos na historia e intercedendo por todos.
Neemias intercedeu e se colocou em favor deles, mesmo que não conhecesse
boa parte de sua linhagem. Desde o principio, quando ouviu os relatos de seu
irmão, sentiu as dores e a aflição da cidade. Chorou, lamentou, orou e jejuou
vários dias, persistente, fervoroso e foi bem específico e direto, pois não
rodeou, já foi apresentando a Deus o pecado dele e do povo (Ne 1.7).
Neemias poderia até ter imaginado que não seria fácil o rei permitir sua
viagem a Jerusalém, mas através de sua oração contemplou o trabalhar de Deus,
viu cair por terra o medo, pois não somente teve o seu pedido atendido como
também foi confortado (Sl
33.12).
Não tomou atitudes
precipitadas. Precisava de confirmação e autorização do rei. Não abandonou o
palácio, não solicitou autorização do rei antes da oração, pois não queria se
adiantar ao processo. Em sua mente tudo seria direcionado conforme a vontade de
Deus. Em nenhum momento acusou ou culpou o povo pelos seus pecados, simplesmente
confessou.
4. COMENTÁRIOS ADICIONAIS:
- Notícias de Hanani: povo caído, sacerdotes distantes de Deus, cidade em ruínas. É o fim de Jerusalém;
- José acordou prisioneiro e dormiu governador, enquanto que Neemias acordou copeiro e dormiu como governador;
- As lamentações de Neemias. Só um rei parou para ouvir;
- Qual império, da época, desejava Jerusalém? Ninguém queria mais, nem mesmos os moradores;
- Durante a viagem ele foi refletindo sobre as suas primeiras atitudes e como encontraria a cidade. Teria que apresentar a vitória, pois a derrota já era conhecida;
- Dentre os moradores de Jerusalém havia muitos que possuíam as mesmas forças e ideias de Neemias, mas nenhum tomou atitude. O que faltou? Chamada, liderança, dom ministerial?
- Hanani plantou a semente, a raiz cresceu (para baixo) e agora o crescimento seria com Deus;
- Neemias conseguiu fazer com que o rei mudasse um decreto real, nem mesmo Daniel conseguiu. Teve que ir para a fornalha de fogo. A obra havia sido paralisada e foi retomada;
- Tríplice função de Neemias: trabalhar, motivar o povo e vigiar.
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