SETE VACAS, SETE ESPIGAS E SETE IGREJAS
GORDAS E MAGRAS, UMAS DEVORANDO OUTRAS
a) O perturbado Faraó:
Faraó sonhou e ficou perturbado. Ninguém foi capaz
de interpretar, mesmo com mentiras, a fim de agradá-lo. Ficaram com medo de que
não se cumprisse suas palavras, então preferiram o silêncio. Às vezes é melhor
não dizer nada do que arriscar em uma revelação/profecia que nunca se cumprirá.
Eis o sonho de Faraó, segundo relato de Josefo:
“Parecia-me que, passeando ao longo do rio, eu via
sete vacas bem grandes e muito gordas, que saíam para ir aos pântanos. Em
seguida, vi outras sete, muito feias e muito magras, que foram ao encontro das
primeiras e as devoraram, sem que com isso saciassem a fome. Acordei muito
perturbado a respeito do que esse sonho poderia significar e, tendo dormido de
novo, tive um outro, que me pôs em inquietação ainda maior. Parecia-me que eu
via sete espigas saídas de um mesmo pé, todas maduras e tão gordas que o peso
dos grãos as fazia inclinar-se para a terra. Perto dali, sete outras espigas,
muito secas e magras, devoraram então aquelas sete tão belas, deixando-me
estupefato e no desassossego em que me encontro ainda agora". JOSEFO
(livro segundo, capítulo 3).
O terror que se apoderou do Egito foi tanto que não
viam solução para aquele problema, até que alguém se lembrou (Gn 41.9-13).
Aquela lembrança sossegou a corte e todos ficaram na expectativa de que Faraó
ouvisse aquele hebreuzinho e depois o mandasse de volta para a prisão. A
NECESSIDADE em ouvir aquela revelação foi tamanha que uma guarnição de
batedores, cabeleireiros, barbeiros, estilistas, costureiros, sapateiros, para
buscarem e prepararem José para se apresentar a Faraó. Josefo descreve o
encontro dos dois:
"Um de meus oficiais falou-me de vós, de
maneira tão elogiosa que a opinião que tenho de vossa sabedoria faz-me desejar
que me expliqueis os meus sonhos, tal como explicastes o dele, sem que o temor
de me zangar ou o desejo de me agradar vos façam mudar algo da verdade, ainda
que me reveleis coisas desagradáveis”. JOSEFO (Livro segundo, capítulo 3).
O que se torna digno de citação não seria
propriamente esta primeira conversa entre as duas maiores autoridades daquela
terra, uma já reconhecida e outra por ser restituída, mas sim um personagem que
é considerado insignificante e muitos ignoram. Refiro-me ao copeiro-mor, o tal
que se lembrou de José, que já havia entregue a ele uma revelação nos momentos
em que estiveram nas mesmas condições.
b) A reação de João e o reencontro do copeiro-mor com José:
Aquele homem se assustou ao ver José, pois ele
havia mudado, sua aparência era outra. Estava barbeado, cabelo penteado, vestes
reais, quem sabe perfumado, calçado, pois de outra forma não poderia entrar na
presença de Faraó. Bem diferente da lembrança que tinha dos tempos de prisão,
quando estava ensangüentado, ferido, doente, esquecido, triste, vestes
rasgadas. Se fosse costume dos egípcios presentearem (sic) seus prisioneiros
com coroa de espinhos, certamente José estaria com uma cravada em sua cabeça,
faltou apenas ela.
A
mesma reação teve João quando contemplou Jesus em glória (Ap 1.10-20). Aquela
visão o surpreendeu, pois assim como muitos, as lembranças da cruz ainda eram
muitos fortes em sua mente:
- Coroa de espinhos;
- Cabelos manchados pelo sangue da cruz;
- Olhos inchados;
- Pés marcados pelo prego ou manchados pelo sangue;
- Voz rouca, pois estava sedento;
- Suas mãos furadas e manchadas pelo sangue;
- Rosto desfigurado.
Será que o copeiro-mor também teve a mesma reação de João? Será que se
prostrou diante de José ao contemplá-lo, diferente, bem vestido, entrando na
presença de Faraó. Que honra aquele jovem estava recebendo? Ele já estava lá há
algum tempo, a serviço, mas o que imaginava que aconteceria com seu amigo
depois que entregasse a revelação do sonho? Esperava que fosse jogado na prisão
novamente? Pelo menos poderia dormir em paz, sua divida com José estaria paga.
Se ele imaginasse que José jamais seria jogado de volta nas prisões.
João teve a mesma certeza, diante de sua visão, pois homem nenhum poderia ferir
Jesus, bater em sua face, zombar, cuspir etc. Agora não.
João, quando viu Cristo glorificado, caiu aos seus pés como um morto (Ap
1.17). Não se sentiu digno de contemplá-lo. Jesus se apresentou em glória:
- Vestes longas e peito cingido com cinto de ouro;
- Cabelos alvos;
- Olhos como chama de fogo;
- Pés semelhantes ao latão ou bronze reluzente;
- Voz como de muitas águas, limpa, nítida, suave, afinada como uma trombeta;
- Em sua mão direita tinha sete estrelas;
- De sua boca saia uma espada afiada de dois gumes;
- Seu rosto brilhava como o sol no auge de sua força;
Não sabemos a
reação do copeiro-mor diante da presença de José, talvez preocupado e ocupado
com suas obrigações, não tenha contemplado aquela cena. Caso tivesse feito
alguma menção de reconhecer a autoridade e superioridade de José, em relação a
todos os presentes, certamente se espantariam ainda mais com a humildade dele,
pois seriam aconselhados a não lhe renderem honras nenhuma, era apenas um homem
como todos ali. No caso de João, diante da visão, não tinha como não ter outra
reação a não ser aquela e não tinha outra resposta possível de Jesus para ele a
não ser: “não temas”.
c) O sonho de Faraó: sete vacas e sete espigas
Sete vacas gordas correndo perigo diante de sete
vacas magras e sete espigas boas em meio a sete espigas miúdas (Gn 41.18-24).
Se não aceitassem e seguissem os conselhos de José, fatalmente as magras e
miúdas devorariam as gordas e boas. Entenderam a revelação, aceitaram os
conselhos e foram vitoriosos diante dos tempos maus que se aproximava, mas antes
foi preciso que Faraó aprendesse um pouco com o portador das boas novas, com
aquele que havia recebido a revelação. Josefo descreve mais uma parte do
diálogo entre os dois:
“O rei, admirado da inteligência e sabedoria de
José, perguntou-lhe o que fazer naqueles anos de abundância para tornar
suportável a esterilidade dos outros. José respondeu-lhe que era necessário
recolher o trigo, de sorte que se gastasse apenas o necessário e se conservasse
o resto para prover à necessidade futura. E acrescentou que era ainda preciso
deixar aos lavradores apenas o que lhes fosse necessário para semear a terra e
para viver”. JOSEFO (livro segundo, capítulo 3).
Qualquer um na terra
entenderia o conselho de José. Foi simples e direto: ‘GUARDA O QUE TENS, PARA
QUE NINGUÉM TOME A TUA COROA”.
d) Sete igrejas e dois grupos para serem incluídas:
Mas o que dizer de: Éfeso, Esmirna, Pérgamo,
Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia? Poderíamos incluí-las em qual grupo? Das
vacas gordas e espigas boas? Ou no grupo das vacas magras e das espigas miúdas?
Ou em nenhuma, pois um assunto não tem nada a ver com o outro?
Quando Paulo trabalhou naquela região (At 19.10),
visitando, enviando (Cl 2.1) os novos convertidos e preparados para que
abrissem novos trabalhos (nota de rodapé da BAP, - Cl 2.1), certamente colheu
noticias boas sobre as sete igrejas daquela região.
Todas tiveram um inicio glorioso, tal qual a igreja
de Jerusalém (At 2.1, cfe At 6.1), que iniciaram reunidos e permaneceram unidos
para ouvirem a Palavra e os testemunhos dos apóstolos, tanto que esqueceram da
vida material.
Todas as sete poderiam ser incluídas no rol das
sete vacas gordas e espigas boas, sem nenhuma ressalva, pois:
- Aprenderam e se defenderam pela Palavra (Éfeso);
- Sofreram pela causa como bom soldado e não correram das lutas (Esmirna);Não negaram o Nome de Jesus e guardaram a fé, mesmo diante do trono do Maligno (Pérgamo);
- Trabalharam em prol do crescimento do Reino (Tiatira);
- Conservaram alguns vivos, mesmo diante dos problemas (Sardes);
- Guardaram a Palavra, não negaram o Nome de Jesus e guardaram a Palavra da paciência (Filadélfia);
- Foram amadas por Jesus, tanto que foram repreendias e castigadas (Laodicéia).
Mas, em algum momento da história elas emagreceram,
assim como a igreja de Corinto, que se portava de uma forma na ausência e de
outra na presença de Paulo (II Co 10.1-4). Algumas delas se deixaram seduzir
pelos encantos, favorecimentos e cederam as tentações. Ao pé da letra, cinco
delas, foram retiradas do grupo das sete vacas gordas e se auto-incluiram no
grupo das vacas magras.
Mas assim como o Egito, que foi avisado antes da
tragédia, por intermédio de José, as igrejas foram avisadas também, por
intermédio dos escritos de João, revelados por Jesus. Umas deram créditos,
outras não, algumas entenderam a revelação, outras não. Houve mudanças,
transformações, conscientizações, consertos, enfim os conselhos de Jesus (Ap
3.18a) surtiram seus efeitos desejados.
Não somente as igrejas da Ásia menor corriam
perigo, mas todas, pois poderiam ser influenciadas pela:
- Soberba de Éfeso;
- Passividade de Pérgamo;
- Tolerância de Tiatira;
- Sonolência de Sardes;
- Indiferença e presunção de Laodicéia.
Mas antes que isto acontecesse, foram avisadas de
seus erros e entenderam, aceitaram e trabalharam em prol ao crescimento do
reino de Deus para que se cumprissem as Palavras de Jesus (At 1.8). Enfim os
confins da Terra foram alcançados.
Se o Egito não tivesse dado credito à revelação de
José, o que teria acontecido com aquela nação?
Se as igrejas não tivessem dado credito a revelação
de Jesus, segundo reportou João, o que teria acontecido conosco?
Referências:
Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2003
Bíblia Sagrada: Nova tradução na linguagem de hoje. Barueri (SP).
Sociedade Bíblica do Brasil, 2000
Bíblia Sagrada – Harpa Cristã. Baureri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil,
Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2003
JOSEFO, Flávio.
História dos Hebreus. De Abraão a queda de Jerusalém. 8ª Ed. Traduzido por
Vicente Pedroso. Rio de Janeiro. CPAD, 2004
Por: Ailton da Silva
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