Páginas

sábado, 5 de maio de 2012

A doutrina dos nicolaítas - segundo Eusébio de Cesaréia


 
1.            Nesta época surgiu também a heresia chamada dos nicolaítas, que durou pouquíssimo tempo e da qual também faz menção o Apocalipse de João[1]. Estes se jactavam de que Nicolau era um dos diáconos companheiros de Estevão encarregados pelos apóstolos do serviço aos necessitados[2]. Pelo menos Clemente de Alexandria, no livro III dos Stromateis, conta sobre ele, literalmente, o que segue:

2.            "Este, dizem, tinha uma mulher muito formosa. Depois da ascensão do Sal­vador, tendo os apóstolos reprovado seu ciúme, trouxe sua mulher a público e permitiu que se entregasse a quem quisesse, pois diz-se que esta prática está de acordo com o dito: 'Deve-se abusar da carne'[3]." E na verdade, por seguir o que foi feito e dito por simplicidade e impensadamente, os que compartilham sua heresia se prostituem sem a menor reserva.

3.            No entanto, eu sei que Nicolau não teve trato com nenhuma mulher que não aquela com quem estava casado, e que de seus filhos, as mulheres che­garam virgens à velhice e o rapaz permaneceu puro. Sendo isto assim, a exposição de sua mulher, da qual tinha ciúmes, no meio dos apóstolos, era um desprezo à paixão, e a abstenção dos prazeres que mais ansiosamente são procuradas ensinava a "abusar da carne", pois creio que, conforme o mandato do Salvador, ele não queria ser escravo de dois senhores[4], o prazer e o Senhor.

4.            Dizem igualmente que Matias ensinava isto mesmo: para a carne: combatê-la e abusar dela, sem consentir-lhe nada para o prazer; e para a alma, fazê-la crescer mediante a fé e o conhecimento. Isto, pois, seja o bastante sobre aqueles que, se na época mencionada empreenderam a tarefa de perverter a verdade, extinguiram-se contudo por completo em menos tempo do que leva para dizê-lo.



[1] Ap 2:6-15.
[2] At 6:5.
[3] O dito é equívoco, significava originalmente que se deve colocar a carne sob as provações mais rigorosas. Os nicolaítas interpretaram-no em sentido licencioso.
[4] Mt 6:24; Lc 16:13.

Trecho extraído: EUSÉBIO DE CESARÉIA. HISTÓRIA ECLESIÁSTICA. Livro III. Tradução de Wolfgang Fischer. São Paulo. Novo Século, 2002

Por: Ailton da Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário