1ª MURMURAÇÃO. MOTIVO: MEDO DA MORTE E DO INIMIGO
Como Moisés, tão
conhecedor da geografia e história egípcia, guiou o povo por aquele caminho?
Não sabia que o mar Vermelho estava logo à frente? Loucura ou estava prevendo
um grande livramento? Do outro lado, certamente imaginando a vitória certa
estava o grande Faraó do Egito, que se imaginou perseguindo um povo desprovido
de inteligência e liderança.
O perseguidor imaginou que os hebreus
estivessem encurralados, parados e desiludidos com o erro fatal de Moisés e não
imaginava que aquela situação poderia ser a “armadilha de Deus” para vencê-lo
definitivamente. O peixe mordeu a isca, pois o inimigo foi incitado e deu
inicio a perseguição. Quem realmente ficou sem saída e encurralados foram os
egípcios.
A MURMURAÇÃO
Os hebreus foram definitivamente
apresentados ao mar Vermelho e ao deserto. Neste momento não imaginavam e
tampouco esperavam uma mudança de situação. Anos mais tarde, antes de entrarem
na Terra Prometida, se deparariam novamente com águas, não tão assustadoras
como aquela, mas da mesma forma intimidadoras, pois encarariam o então
desconhecido rio Jordão, já às portas de Canaã.
Enquanto vislumbravam o mar Vermelho e o
deserto, sem coragem para enfrentá-los, se lembraram dos furiosos egípcios e
este se constituiu no cenário ideal para murmurarem pela primeira vez. Sentindo
o cheiro da morte chegaram ao ponto de dizer a Moisés que se estivessem no
Egito não passariam por aquilo. Num ato de insanidade pediram autorização para
o retorno.
Diante daquela situação os hebreus se
imaginaram sem condições para prosseguirem ou não visualizaram uma saída para o
caso, mas não se atentaram para a grande distância que havia entre eles e
perseguidor. Nenhuma escala de medida humana ou convenção estabelecida seria
capaz de medir o tamanho do abismo que separava as duas nações.
Mesmo assim, para alguns seria melhor a
escravidão com sofrimento, do que a liberdade regada à esperança. Mal sabiam
que se retornassem sofreriam em dobro, pois Faraó vingaria a morte dos
primogênitos e os prejuízos causados pelas pragas.
“Nossos pais não atentaram para as tuas
maravilhas no Egito, não se lembraram da multidão das tuas misericórdias; antes
foram rebeldes junto ao mar, sim, o mar Vermelho” (Sl 106.7).
Será que Deus também se arrependeu[1] de tê-los libertos, assim como havia se arrependido de ter criado o homem no passado?
Esta murmuração teve origem em dois
sentimentos peculiares ao ser humano, que são o medo da morte e do inimigo.
Temeram a morte pelas mãos dos egípcios e o retorno à escravidão de forma
violenta.
O ideal seria que não murmurassem, pois
os acontecimentos pré-libertação foram justamente para fortalecer a fé,
fidelidade e o temor, mas o que se viu foi uma cena deplorável e lamentável.
Uma explicação lógica para tal
irracionalidade poderia ser a incredulidade de alguns estrangeiros, possíveis
escravos de outras nações ou até mesmo simpatizantes da causa hebraica, que se
misturaram no momento da saída. Se ao menos tivessem pensado, um pouco,
chegariam a conclusão que não estavam sendo libertos em vão, havia um propósito
para tudo aquilo. Aquela liberdade seria um sinal de unidade[2], que
daria, status de povo único (Ex 19.5), que até então não tinham. Jamais Deus os
libertaria com provisões, recompensas, recursos[3], para permitir a derrota
logo na primeira dificuldade. Seria uma incoerência. Além do mais o que diriam
as outras nações? Libertou os hebreus para matá-los no deserto?
Enquanto permaneceram no Egito enxergavam
apenas um inimigo, mas a liberdade abriu-lhe os olhos e perceberam que estavam
rodeados por uma tão grande nuvem de opositores[4], que rapidamente se
posicionaram para impedi-los de entrarem em Canaã.
A única forma dos hebreus serem impedidos
de tomar posse de sua bênção seria uma bizarra e improvável união, algo
impossível, devido as diferenças que existiam entre as nações vizinhas. Estes
inimigos bramavam como leões e tinham objetivos específicos e diretos:
- Persegui-los e alcançá-los;
- Andarem lado a lado para, aos poucos e pacientemente, descobrirem suas fraquezas, por isto que alguns saíram misturados (Ex 12.38);
- Minarem suas forças, pois a notícia[5] das providências e ações de Deus se espalharam por toda região;
- Roubarem seus rebanhos e a riquezas que ganharam dos egípcios, pois estavam bem providos.
[1]
Antropopatismo, mudança de atitude de Deus e não do seu caráter santo e justo
(Gn 6.6; I Sm 15.11; Jn 3.10 cf Ml 3.6; Tg 1.17). As ações do homem justificam
as mudanças de Deus.
[2] Apesar
de que a unidade hebreia nunca foi sinônimo de fidelidade.
[3] Foram
indenizados pelos anos de serviço (Ex 12.35-36; cf Ex 3.21, Gn 15.14).
[4]
Filisteus, amalequitas, edomitas, midianitas, moabitas, amonitas, cananeus e
outros.
[5]
Conforme notificado por Raabe aos espias (Js 2.9-11).
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