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sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Prefiro murmurar no deserto. As dez murmurações do primogênito. Capítulo 1

1ª MURMURAÇÃO. MOTIVO: MEDO DA MORTE E DO INIMIGO 

Como Moisés, tão conhecedor da geografia e história egípcia, guiou o povo por aquele caminho? Não sabia que o mar Vermelho estava logo à frente? Loucura ou estava prevendo um grande livramento? Do outro lado, certamente imaginando a vitória certa estava o grande Faraó do Egito, que se imaginou perseguindo um povo desprovido de inteligência e liderança.

O perseguidor imaginou que os hebreus estivessem encurralados, parados e desiludidos com o erro fatal de Moisés e não imaginava que aquela situação poderia ser a “armadilha de Deus” para vencê-lo definitivamente. O peixe mordeu a isca, pois o inimigo foi incitado e deu inicio a perseguição. Quem realmente ficou sem saída e encurralados foram os egípcios.

 

A MURMURAÇÃO

Os hebreus foram definitivamente apresentados ao mar Vermelho e ao deserto. Neste momento não imaginavam e tampouco esperavam uma mudança de situação. Anos mais tarde, antes de entrarem na Terra Prometida, se deparariam novamente com águas, não tão assustadoras como aquela, mas da mesma forma intimidadoras, pois encarariam o então desconhecido rio Jordão, já às portas de Canaã.

Enquanto vislumbravam o mar Vermelho e o deserto, sem coragem para enfrentá-los, se lembraram dos furiosos egípcios e este se constituiu no cenário ideal para murmurarem pela primeira vez. Sentindo o cheiro da morte chegaram ao ponto de dizer a Moisés que se estivessem no Egito não passariam por aquilo. Num ato de insanidade pediram autorização para o retorno.

Diante daquela situação os hebreus se imaginaram sem condições para prosseguirem ou não visualizaram uma saída para o caso, mas não se atentaram para a grande distância que havia entre eles e perseguidor. Nenhuma escala de medida humana ou convenção estabelecida seria capaz de medir o tamanho do abismo que separava as duas nações.

Mesmo assim, para alguns seria melhor a escravidão com sofrimento, do que a liberdade regada à esperança. Mal sabiam que se retornassem sofreriam em dobro, pois Faraó vingaria a morte dos primogênitos e os prejuízos causados pelas pragas.

 

“Nossos pais não atentaram para as tuas maravilhas no Egito, não se lembraram da multidão das tuas misericórdias; antes foram rebeldes junto ao mar, sim, o mar Vermelho” (Sl 106.7).

 Será que Deus também se arrependeu[1] de tê-los libertos, assim como havia se arrependido de ter criado o homem no passado?

Esta murmuração teve origem em dois sentimentos peculiares ao ser humano, que são o medo da morte e do inimigo. Temeram a morte pelas mãos dos egípcios e o retorno à escravidão de forma violenta.

O ideal seria que não murmurassem, pois os acontecimentos pré-libertação foram justamente para fortalecer a fé, fidelidade e o temor, mas o que se viu foi uma cena deplorável e lamentável.

Uma explicação lógica para tal irracionalidade poderia ser a incredulidade de alguns estrangeiros, possíveis escravos de outras nações ou até mesmo simpatizantes da causa hebraica, que se misturaram no momento da saída. Se ao menos tivessem pensado, um pouco, chegariam a conclusão que não estavam sendo libertos em vão, havia um propósito para tudo aquilo. Aquela liberdade seria um sinal de unidade[2], que daria, status de povo único (Ex 19.5), que até então não tinham. Jamais Deus os libertaria com provisões, recompensas, recursos[3], para permitir a derrota logo na primeira dificuldade. Seria uma incoerência. Além do mais o que diriam as outras nações? Libertou os hebreus para matá-los no deserto?

Enquanto permaneceram no Egito enxergavam apenas um inimigo, mas a liberdade abriu-lhe os olhos e perceberam que estavam rodeados por uma tão grande nuvem de opositores[4], que rapidamente se posicionaram para impedi-los de entrarem em Canaã.

A única forma dos hebreus serem impedidos de tomar posse de sua bênção seria uma bizarra e improvável união, algo impossível, devido as diferenças que existiam entre as nações vizinhas. Estes inimigos bramavam como leões e tinham objetivos específicos e diretos:

  • Persegui-los e alcançá-los;
  • Andarem lado a lado para, aos poucos e pacientemente, descobrirem suas fraquezas, por isto que alguns saíram misturados (Ex 12.38);
  • Minarem suas forças, pois a notícia[5] das providências e ações de Deus se espalharam por toda região;
  • Roubarem seus rebanhos e a riquezas que ganharam dos egípcios, pois estavam bem providos.

continua...

[1] Antropopatismo, mudança de atitude de Deus e não do seu caráter santo e justo (Gn 6.6; I Sm 15.11; Jn 3.10 cf Ml 3.6; Tg 1.17). As ações do homem justificam as mudanças de Deus.

[2] Apesar de que a unidade hebreia nunca foi sinônimo de fidelidade.

[3] Foram indenizados pelos anos de serviço (Ex 12.35-36; cf Ex 3.21, Gn 15.14).

[4] Filisteus, amalequitas, edomitas, midianitas, moabitas, amonitas, cananeus e outros.

[5] Conforme notificado por Raabe aos espias (Js 2.9-11).

Por: Ailton da Silva - 11 anos (Ide por todo mundo)

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