O LIVRAMENTO
Chegaram às
margens do mar Vermelho e ficaram sem ação, tal como a mãe de Moisés quando o
escondeu na tentativa de salvá-lo da morte certa, dentro de uma pequena arca
(Ex 2.3). Joquebede chegou até a borda do rio e parou, pois estava diante da
limitação entre o possível e o impossível. Dali para frente o negócio seria com
Deus, não dependeria dela.
O mesmo acontecia agora com os hebreus, que estavam fugindo de Faraó, diante das águas, com o mesmo protagonista, faltava apenas a arca para transportá-lo e salvá-los. Daquele momento em diante estariam sob a responsabilidade e cuidados de Deus, assim como estivera o bebê Moisés. Na primeira vez o rio não se abriu para que fossem salvos mãe e filho, mas agora seria aberto para que toda uma nação recebesse o livramento.
“Então Moisés estendeu sua mão sobre o mar, e o Senhor fez retirar por um forte vento oriental toda aquela noite, e o mar tornou-se seco e as águas foram partidas” (Ex 14.21).
Não bastava somente libertá-los e
guiá-los para um lugar pré-determinado, pois desde o princípio se mostraram
incrédulos, de dura cerviz e necessitados de contemplarem o poder de Deus para
se converterem de coração.
O fato de Faraó persegui-los não foi uma mera decisão humana, mas foi o que deu uma maior expressividade ao livramento que se seguiu. Teriam que passar pelo mar, pois a bênção estava do outro lado.
“Repreendeu o mar Vermelho e este se secou, e os fez caminhar pelos abismos como pelo deserto” (Sl 106”9).
Para executar seu plano Deus retirou do povo, pela primeira vez, a nuvem que servia de proteção contra o calor bem como o seu anjo que ia adiante deles, colocando-os logo atrás da multidão, confundindo os egípcios.
“E o anjo de Deus, que ia diante do exercito de Israel, se retirou, ia atrás deles; também coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles. E ia entre os campos dos egípcios e o campo de Israel; e a nuvem era escuridade para aqueles, e para este esclarecia a noite; de maneira que em toda a noite não chegou um ao outro. E viu Israel a grande mão que o Senhor mostrara aos egípcios; e temeu o povo ao Senhor, e creram no Senhor e em Moisés, seu servo” (Ex 14.19-20-31).
Deus simplesmente inverteu as funções dos elementos da natureza que ora usava para proteger e guiar o seu povo. A nuvem, proteção contra o calor, desde a saída do Egito, agora confundia o inimigo, pois ficou como uma divisão entre as duas partes, escurecendo o caminho dos egípcios e clareando a noite para os hebreus seguirem a longa caminhada. Desta forma o caçador não alcançou a caça, mesmo com os seus mais modernos aparelhos, armas e carruagens.
“Nunca tirou de diante da face do povo a coluna de nuvem de dia, nem a coluna de fogo a noite” (Ex 13.22).
Deus havia prometido que jamais tiraria a
nuvem e o anjo que protegia seu povo e cumpriu à risca esta promessa. Naquela
ocasião, por se tratar do início de seu plano, houve um reposicionamento do
anjo e da nuvem, dando a impressão de que o povo estivesse desprotegido.
Como suportariam o forte calor, caso a
batalha se iniciasse e prolongasse por muito tempo? Como vigiariam para não
serem pegos de surpresa por outro inimigo, que poderia aparecer após a passagem
do mar? Os hebreus não sofreriam com o calor e tampouco sofreria um ataque de
outro inimigo, pois o plano de Deus, dividido em três fases, já previa tudo
isto e garantia a primeira grande vitória dos hebreus:
A primeira fase do plano divino dizia
respeito aos anjos. Somos conhecedores que Deus possuiu uma infinidade de anjos
sob sua ordens, sendo que um destes foi designado para ficar a frente dos
hebreus o seu destino final. Quando foi posicionado à retaguarda do povo,
certamente outros foram ordenados para se colocarem a frente da congregação
para protegê-los de possíveis ataques. Cremos com toda convicção que jamais o
povo seria livrado de um lado para ficar desprotegido de outro.
A segunda fase fazia menção aos elementos
da natureza. A travessia do mar se iniciou logo de madrugada, somente tendo o
seu desfecho pela vigília daquela manhã, momento em que a nuvem voltou a
desempenhar as suas funções normais, já que durante a noite havia sido
escuridade para os egípcios e claridade para os hebreus.
Todos os elementos da natureza estão sob
as ordens de Deus e o sol não fugiria a esta regra, caso fosse preciso os raios
solares seriam enfraquecidos para não fustigarem[1] o povo naquela manhã.
A terceira fase envolvia os egípcios e a
outros inimigos. Os anjos deram conta de todos, pois enquanto um batalhava
contra os egípcios, os outros protegeriam o povo de outros inimigos que
pudessem aparecer. Quanto a Faraó e seu exercito, que por muito tempo oprimiram
os hebreus, nunca mais seriam vistos na face da terra, isto tudo para confirmar
a palavra de Deus entregue por Moisés momentos antes de iniciarem a travessia
(Ex 14.13).
a) Os dois ventos (diurno e noturno). Mesma direção, mas com objetivos
diferentes.
O primeiro vento
foi trazido por Deus ainda no Egito, na ocasião da oitava praga (Ex 10.13),
quando surgiram gafanhotos. Esta lembrança ainda assolava os egípcios e
fatalmente o desespero tomou conta de todos quando ouviram os primeiros
barulhos do vento ao leste.
Correria,
gritaria diante da possibilidade de novas perdas e danos. Alguns céticos apenas
olhavam e não imaginavam o que poderia acontecer de ruim, seria somente mais
uma ventania. Os mais lúcidos devem ter dito: “chega de catástrofes. Diga que
não virá o pior sobre nós novamente”.
O primeiro vento,
da oitava praga, foi trazido ao Egito para correção, para colocar tudo em seu
devido lugar e para mostrar realmente quem é o Verdadeiro e Único Deus na
terra, céu e mares.
O segundo vento
teve por objetivo a salvação (Ex 14.21). Moisés estendeu a mão sobre o mar, mas não o abriu com este gesto, foi
somente para que os hebreus vissem que algo estava por acontecer.
Então Deus soprou
um vento oriental toda aquela noite para que o mar se tornasse em terra seca.
Não foram ouvidos gritos de desespero como no primeiro vento (Ex 10.13), pelo menos
no lado dos hebreus, na verdade o que se ouviu foram júbilos diante de tal
cena, nunca vista antes na história da humanidade.
Será que os
soldados egípcios gritaram do outro lado: “De novo não, outro vento, chega, não
aguento mais, eu entrego os pontos. Não mexo mais com o Deus dos hebreus”.
Este vento
noturno trouxe ares refrescantes para os hebreus, gostinho de quero mais,
representou uma doce vitória e arrancou suspiros de alívio.
O primeiro vento
do Egito abriu as portas para a devastação, espanto e terror. O segundo abria a
porta para salvação de toda uma nação. Dois ventos, mesma origem, mas com
objetivos bem diferentes.
[1] Caso a
nuvem não voltasse a proteger o povo, certamente os raios solares seriam
enfraquecidos por Deus.
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