O CLAMOR
Os egípcios ainda
estavam assustados[1] com
as manifestações de Deus, principalmente a última, na ocasião da morte dos
primogênitos e agora contemplavam aterrorizados a coluna de nuvem e de fogo,
que não se misturavam, não se encontravam, pois uma agia durante o dia e a
outra executava suas funções à noite (Ex 13.21).
Deus mudava sua
estrutura, sua forma de agir, ora nuvem ora fogo, mas não mudava o seu caráter.
O clamor do povo foi ouvido, a decisão pela libertação foi tomada e não seria
revogada (Ex 3.9). A saída do Egito era uma bênção incondicional[2], não
dependeria[3] da
fé, fidelidade ou vontade do povo, mas a entrada em Canaã teria sim suas
condições.
- Diante do mar eles tinham quatro alternativas:
- Cruzarem os braços e esperarem as lanças do inimigo, que poderia tomar a parada como afronta;
- Levantarem os braços e se renderem facilmente;
- Prosseguirem avante, a nado, mesmo que fosse impossível devidos as condições físicas;
- Ou se por um grande milagre atravessassem o mar a seco, que se abriria diante de seus olhos, o que para muitos era improvável, devido a falta de fé e perspectivas.
Naquela situação, Moisés estava com a
vida no altar, mas o povo não. Um estado espiritual adquirido durante os
quarenta anos em que esteve cuidando de ovelhas. Tudo que aprendera naquele
curso seria colocado em prática.
“Moisés, porém disse ao povo: não temais;
estais quietos, e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos
egípcios que hoje vistes, nunca mais vereis para sempre. O senhor pelejará por
vós, e vós calareis. Então disse o Senhor à Moisés: Porque clamas a mim? Dize
aos filhos de Israel que marchem” (Ex 14.13-15).
Por um poucochinho de tempo, os hebreus
deixaram de olhar para a coluna de fogo, que trazia paz e sensação de segurança
e olharam para o inimigo, por isto o medo invadiu os corações.
Moisés foi o único capaz de tranquilizar
os desesperados, que exigiam solução ou autorização para se renderem. Como se
manter calmo e integro diante de tanta cobrança? Como contagiá-los com sua fé,
já que tinha certeza do livramento, enquanto que o povo não. Sua fortaleza foi
estabelecida durante sua chamada[4] e
durante as dez operações de maravilhas no Egito.
O grande líder enxergou a salvação tão
perto dependendo somente de um ato seu, mas por pouco não desacreditou diante
daquela situação tão delicada. Sabia que os problemas do povo eram também seus
e logicamente a vitória seria da mesma forma, por isto levantou um grande
clamor.
No pensamento de muitos o livramento seria tão simples, quem sabe um anjo para eliminar o inimigo (II Rs 19.35), uma doença ou outra praga, mas Deus queria usar os elementos da natureza para humilhar a potência da época.
continua...
[1] Israel
foi expulso do Egito por Faraó (Ex 12.31).
[2] Deus
não requereu fé dos hebreus para tirá-los do Egito. Foi uma decisão divina (Ex
3.7-8), mas para entrarem em Canaã havia necessidade da fidelidade.
[3]
Dependeu somente da fé de Moisés para crer no momento de sua chamada (Ex 3.2).
[4] A visão
da sarça em chamas sem ser consumida não era para muitos. Somente o foi para
um, Moisés.
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