Coincidências ou repetições da história?
Abraão havia feito o mesmo com Isaque,
quando o levou como um cordeiro para o sacrifício, acreditando que os dois
voltariam sãos e salvos, da mesma forma, Jacó esperava o seu breve retorno. No
seu entender Deus daria mais um livramento para seu filho, durante o
cumprimento desta missão. Somente não esperava que fosse demorar alguns
dolorosos anos.
José obedeceu prontamente as ordens do
pai e foi ao encontro de seus irmãos, porém no meio do caminho se perdeu, mas
como sempre acontece, nestas circunstâncias[1],
foi auxiliado por um varão que lhe indicou o caminho correto.
A juventude e a inexperiência espiritual
não impedirem que José contemplasse a intervenção Divina em sua vida. Aquele
varão não era um qualquer, por isso creu em suas palavras e tomou a direção
indicada. Em circunstâncias semelhantes aconselharíamos alguém a agir desta
forma? Acreditamos no primeiro que aparecesse em nossa frente? Somos ensinados
pela Palavra a vigiarmos e sermos prudentes, orarmos e buscarmos em Deus.
Aquele varão conhecia a intenção de José,
sabia o seu destino e o desejo do teu coração, por isto jamais o deixaria
perdido e fora do rumo.
Não precisava ter perguntado o motivo que
levara José aquelas terras, mas era necessário que aquele jovem declarasse que
ainda não havia desistido de sua missão. Encontrar seus irmãos era o seu grande
objetivo. O varão lhe indicou o caminho correto.
A onisciência, onipresença e onipotência
daquele varão foram reveladas no momento em que afirmou ter ouvido os irmãos de
José dizerem que iriam para Dotã, ou seja, não estava ao lado, mas ouviu de
longe. Não restava duvidas quanto à identidade daquele varão.
Seu pai Jacó, havia optado pela fuga para
fugir das ameaças de seu irmão Esaú e agora José decidia acreditar naquele
varão, para seguir em frente e ir de encontro aos seus irmãos sem conhecer o
que havia no coração de cada um deles.
O seu bisavô Abraão também enfrentou o
mesmo dilema quando escolheu o caminho para separar-se de seu sobrinho. Pelos
seus olhos optou pelo lado que lhe poderia oferecer a vitória, pois não estava
preocupado com a continuidade de seu rebanho, mas sim com a sua descendência.
José acreditou no varão, não duvidou e seguiu o caminho indicado. Ora se Deus
houvera visitado os teus ascendentes no passado não teria o porquê de não
visitá-lo também.
Seus irmãos o viram de longe e a
princípio, pensaram em matá-lo, mas resolveram somente vendê-lo como escravo
aos midianitas (descendentes do filho de Abraão e Quetura).
Mas antes de concretizarem a venda
jogaram José em uma cova e deixaram-no, sem água, sem comida, humilhado,
tiraram-lhe tudo, exceto a vida[2].
Para completar a crueldade comeram ao
lado sem demonstrarem um mínimo de preocupação. Cada um pegou as suas moedas de
prata e livres de qualquer sentimento de culpa continuaram seus trabalhos, mas
como usaram este dinheiro? Esconderam de Jacó? Rendeu algo? Prosperaram?
O problema não foi resolvido e acabaram
criando outro pior, pois a túnica[3]
manchada e rasgada apresentado ao pai, não atestou[4] a morte de José, apenas
trouxe sofrimento, angustia, saudades e dores para o pai.
Uma história semelhante a de Jó,
inclusive no desfecho final, pois os dois alcançaram a vitória a partir do
momento em que desviaram a atenção de suas respectivas situações para se
preocuparem com os problemas de outros. O primeiro poderia ter se recusado a
orar pelos seus amigos, enquanto que o segundo, um dia teve o poder e todos os
motivos do mundo para se vingar de seus irmãos, porém os dois agiram de forma
diferente da lógica humana. Não se vingaram e atenderam os necessitados.
Ser jogado na cova para ser vendido como
um escravo não igualou José a seus irmãos, apenas o desqualificou:
Perdeu os
privilégios que tinham na presença de seu pai;
Perdeu a sua túnica, presente de seu pai,
que lhe foi tirada bruscamente pelos irmãos;
Perdeu a liberdade, pois foi jogado em
uma cova e vendido como escravo;
Perdeu sua dignidade, honra, cultura,
família, nome, passado, conforto e sonhos. Se tornou prisioneiro, através de
uma acusação, mesmo sendo inocente e sem julgamento justo ficou refém da
ingratidão.
Este foi o momento de maior tristeza da
vida de Jacó, pois ao contemplar as vestes ensanguentadas de seu filho julgava
que nunca mais tornaria a vê-lo.
Esta situação foi semelhante a enfrentada
pelo seu pai quando fugiu para Padã-Arã, fugindo de Esaú, porém entre estes
episódios havia uma grande diferença, pois Isaque ainda tinha esperança de
reencontrar seu filho, enquanto que Jacó estava diante da constatação da morte
de José, que tanto amou.
Jacó, mesmo depois da trágica notícia,
sabia que a história não terminava ali, poderia até mesmo demorar, mas Deus
honraria as promessas feitas.
Não poderia ser aquilo um pagamento pelos
seus erros e mentiras do passado? A sua consciência o acusava dia e noite.
Assim como enganara seu pai, estava sendo enganado pelos seus próprios filhos.
Mas será que Jacó creu em toda a história
contada pelos seus filhos? Era homem de oração, por isso deve ter buscado um
refrigério para sua alma.
Imaginemos que não tivesse acreditado na
história e começasse a interceder pelo filho todos os dias, pedindo a Deus que
guardasse ou trouxesse de volta. Deus teria um argumento para sossegar o seu
coração de pai.
Não havia motivos para que o reencontro
com José fosse antecipado, sendo que voltaria pobre, doente, sujo, sem
autoridade nenhuma, os conflitos na família continuariam e até mesmo
aumentariam. Não seria melhor esperar, para que voltasse rico, com poder e
autoridade, cheio de vida e saúde? Jacó deveria esperar só mais um pouco.
Certamente Deus teria dito a Jacó: “Só
mais um poucochinho de tempo, o que há de vir virá e não tardará e voltará
rico, poderoso, forte e com autoridade”.
[1] Deus nunca nos
deixa sem rumo ou perdido, sempre envia a direção.
[2] Provavelmente a
intenção dos irmãos era deixar José na cova até o fim de sua vida. A venda como
escravo foi a porta que Deus abriu para sua vitória.
[3] A
túnica de várias cores, a bandeira da desunião, dada a José por seu pai se
tornou o pivô dos problemas. Desde o início seus irmãos desejaram tirar dele.
Não queriam usar, queriam somente tirar dele.
[4] O
caixão (Gn 50.26) também não representou o fim de José. Na saída do Egito eles
se lembraram de José. A promessa feita pelos irmãos ardia no coração dos hebreus.
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