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domingo, 15 de agosto de 2021

Os patriarcas. Coincidências ou repetições da história? – Capítulo 8

Coincidências ou repetições da história?

Abraão havia feito o mesmo com Isaque, quando o levou como um cordeiro para o sacrifício, acreditando que os dois voltariam sãos e salvos, da mesma forma, Jacó esperava o seu breve retorno. No seu entender Deus daria mais um livramento para seu filho, durante o cumprimento desta missão. Somente não esperava que fosse demorar alguns dolorosos anos.

José obedeceu prontamente as ordens do pai e foi ao encontro de seus irmãos, porém no meio do caminho se perdeu, mas como sempre acontece, nestas circunstâncias[1], foi auxiliado por um varão que lhe indicou o caminho correto.

A juventude e a inexperiência espiritual não impedirem que José contemplasse a intervenção Divina em sua vida. Aquele varão não era um qualquer, por isso creu em suas palavras e tomou a direção indicada. Em circunstâncias semelhantes aconselharíamos alguém a agir desta forma? Acreditamos no primeiro que aparecesse em nossa frente? Somos ensinados pela Palavra a vigiarmos e sermos prudentes, orarmos e buscarmos em Deus.

Aquele varão conhecia a intenção de José, sabia o seu destino e o desejo do teu coração, por isto jamais o deixaria perdido e fora do rumo.

Não precisava ter perguntado o motivo que levara José aquelas terras, mas era necessário que aquele jovem declarasse que ainda não havia desistido de sua missão. Encontrar seus irmãos era o seu grande objetivo. O varão lhe indicou o caminho correto.

A onisciência, onipresença e onipotência daquele varão foram reveladas no momento em que afirmou ter ouvido os irmãos de José dizerem que iriam para Dotã, ou seja, não estava ao lado, mas ouviu de longe. Não restava duvidas quanto à identidade daquele varão.

Seu pai Jacó, havia optado pela fuga para fugir das ameaças de seu irmão Esaú e agora José decidia acreditar naquele varão, para seguir em frente e ir de encontro aos seus irmãos sem conhecer o que havia no coração de cada um deles.

O seu bisavô Abraão também enfrentou o mesmo dilema quando escolheu o caminho para separar-se de seu sobrinho. Pelos seus olhos optou pelo lado que lhe poderia oferecer a vitória, pois não estava preocupado com a continuidade de seu rebanho, mas sim com a sua descendência. José acreditou no varão, não duvidou e seguiu o caminho indicado. Ora se Deus houvera visitado os teus ascendentes no passado não teria o porquê de não visitá-lo também.

Seus irmãos o viram de longe e a princípio, pensaram em matá-lo, mas resolveram somente vendê-lo como escravo aos midianitas (descendentes do filho de Abraão e Quetura).

Mas antes de concretizarem a venda jogaram José em uma cova e deixaram-no, sem água, sem comida, humilhado, tiraram-lhe tudo, exceto a vida[2].

Para completar a crueldade comeram ao lado sem demonstrarem um mínimo de preocupação. Cada um pegou as suas moedas de prata e livres de qualquer sentimento de culpa continuaram seus trabalhos, mas como usaram este dinheiro? Esconderam de Jacó? Rendeu algo? Prosperaram?

O problema não foi resolvido e acabaram criando outro pior, pois a túnica[3] manchada e rasgada apresentado ao pai, não atestou[4] a morte de José, apenas trouxe sofrimento, angustia, saudades e dores para o pai.

Uma história semelhante a de Jó, inclusive no desfecho final, pois os dois alcançaram a vitória a partir do momento em que desviaram a atenção de suas respectivas situações para se preocuparem com os problemas de outros. O primeiro poderia ter se recusado a orar pelos seus amigos, enquanto que o segundo, um dia teve o poder e todos os motivos do mundo para se vingar de seus irmãos, porém os dois agiram de forma diferente da lógica humana. Não se vingaram e atenderam os necessitados.

Ser jogado na cova para ser vendido como um escravo não igualou José a seus irmãos, apenas o desqualificou:

Perdeu os privilégios que tinham na presença de seu pai;

Perdeu a sua túnica, presente de seu pai, que lhe foi tirada bruscamente pelos irmãos;

Perdeu a liberdade, pois foi jogado em uma cova e vendido como escravo;

Perdeu sua dignidade, honra, cultura, família, nome, passado, conforto e sonhos. Se tornou prisioneiro, através de uma acusação, mesmo sendo inocente e sem julgamento justo ficou refém da ingratidão.

Este foi o momento de maior tristeza da vida de Jacó, pois ao contemplar as vestes ensanguentadas de seu filho julgava que nunca mais tornaria a vê-lo.

Esta situação foi semelhante a enfrentada pelo seu pai quando fugiu para Padã-Arã, fugindo de Esaú, porém entre estes episódios havia uma grande diferença, pois Isaque ainda tinha esperança de reencontrar seu filho, enquanto que Jacó estava diante da constatação da morte de José, que tanto amou.

Jacó, mesmo depois da trágica notícia, sabia que a história não terminava ali, poderia até mesmo demorar, mas Deus honraria as promessas feitas.

Não poderia ser aquilo um pagamento pelos seus erros e mentiras do passado? A sua consciência o acusava dia e noite. Assim como enganara seu pai, estava sendo enganado pelos seus próprios filhos.

Mas será que Jacó creu em toda a história contada pelos seus filhos? Era homem de oração, por isso deve ter buscado um refrigério para sua alma.

Imaginemos que não tivesse acreditado na história e começasse a interceder pelo filho todos os dias, pedindo a Deus que guardasse ou trouxesse de volta. Deus teria um argumento para sossegar o seu coração de pai.

Não havia motivos para que o reencontro com José fosse antecipado, sendo que voltaria pobre, doente, sujo, sem autoridade nenhuma, os conflitos na família continuariam e até mesmo aumentariam. Não seria melhor esperar, para que voltasse rico, com poder e autoridade, cheio de vida e saúde? Jacó deveria esperar só mais um pouco.

Certamente Deus teria dito a Jacó: “Só mais um poucochinho de tempo, o que há de vir virá e não tardará e voltará rico, poderoso, forte e com autoridade”.



[1] Deus nunca nos deixa sem rumo ou perdido, sempre envia a direção.

[2] Provavelmente a intenção dos irmãos era deixar José na cova até o fim de sua vida. A venda como escravo foi a porta que Deus abriu para sua vitória.

[3] A túnica de várias cores, a bandeira da desunião, dada a José por seu pai se tornou o pivô dos problemas. Desde o início seus irmãos desejaram tirar dele. Não queriam usar, queriam somente tirar dele.

[4] O caixão (Gn 50.26) também não representou o fim de José. Na saída do Egito eles se lembraram de José. A promessa feita pelos irmãos ardia no coração dos hebreus.

Por: Ailton da Silva - 11 anos (Ide por todo mundo)

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