José: Quarto patriarca. “Eis me aqui”.
Deus nunca falou com ele!
A grande verdade
é que Jacó, assim como seu pai e avô, também enfrentou problemas familiares,
pois não soube criar seus filhos, por isso Deus requisitou um, em especial
José, a fim de preservá-lo e prepará-lo para uma grande obra.
Deus tirou o
filho de Jacó para cuidar, ensinar e prepará-lo para governar o Egito. Se
continuasse no meio de sua família desestruturada, certamente, seria um mero
pastor de ovelhas envolvido em constantes conflitos familiares.
Jacó amou mais a José, por ser filho da
esposa que sempre amou, despertando ciúmes e acirrando a rivalidade entre seus
filhos. Nunca foi capaz de disfarçar este sentimento, na verdade, não existe
possibilidade do homem demonstrar atenção a um, sem provocar ciúmes em outros.
Somente Deus é capaz de atender
necessitados, em particular, sem magoar, desprezar ou esquecer outros. Este
sentimento humano é alimentado pelo ciúme que nasce no momento em que
enxergamos ou entendemos que outros estão recebendo uma atenção maior. Para
nós, isto soa como concessão de privilégios e não como socorro de Deus aos
necessitados.
A história da família deste patriarca
sempre foi conturbada, uma vez que a preferência de Jacó era explicita. José
usufruía de alguns privilégios que aliados a outros acontecimentos provocou a
reação entre seus outros filhos.
- Era o filho da velhice de Jacó com Raquel, a esposa que sempre amou;
- Ficava no conforto enquanto seus irmãos trabalhavam;
- Recebia os melhores presentes;
- Conhecia a vontade de Deus para a sua vida através da revelação recebida em seus sonhos;
- Espiava seus irmãos no trabalho, mas não ficava entre eles.
José estava sempre ao lado de seu pai
ouvindo suas histórias sobre o avô e bisavô, Isaque e Abraão, respectivamente.
Aprendia, servia e alegrava o velho coração de Jacó, enquanto seus irmãos
pastoreavam o rebanho em terras distantes, talvez para ficarem alheios a
indiferença demonstrada pelo pai.
Todos os problemas de José foram com os
seus dez irmãos mais velhos, já que o menor, Benjamim, não teria como
reivindicar algo, pois era mais novo. O fato de contar os seus sonhos[1] e a
preferência explícita de seu pai aumentavam ainda mais a rivalidade[2]
entre eles, que de tanto ciúmes não aceitavam a potencial autoridade que
despontava no futuro patriarca.
De fato os filhos de Jacó não estavam
errados, pois no contexto social e familiar os privilégios deveriam ser do
primogênito Ruben e não de José, o décimo segundo filho a nascer. Isto somente
seria possível por uma intervenção de Deus, uma inversão da ordem dos filhos[3].
Obedecer sem questionar - “eis me aqui”
Um dia, Jacó enviou José para verificar a
situação de seus irmãos, pois estavam distantes. O certo é que não precisavam
pastorear tão longe, mas o que de fato motivou este repentino afastamento?
Falta de pasto ou o ciúme e inveja? A preocupação do pai era a mesma com todos,
apesar de deixar bem evidente a sua preferência.
José foi enviado para o lugar onde,
supostamente, estavam seus irmãos, se não havia ido antes para ajudar no
trabalho iria agora com outra missão, ver como estavam e voltaria para dar
notícias ao pai.
Ver seus irmãos trabalhando seria uma
forma de José aprender para não se portar como eles, pois a visão que teve foi
deplorável, assustadora, medonha, viu dez homens sentados, murmurando,
reclamando da vida, arquitetando o mal. O fato de ter ido ao encontro deles foi
justamente para ver, aprender e para ser diferente.
Mas se fosse ao contrário, se José
estivesse pastoreando sozinho e se os irmãos fossem enviados para verificarem
sua situação, iriam? Ou na metade do caminho voltariam com falsas noticias para
Jacó?
Os irmãos de José não largariam a sombra
e água fresca ao lado do pai para irem verificar a situação do irmão. Nenhum
deles mexeria uma única palha. Isto prova que não são todos os que respondem
“eis me aqui” quando são incumbidos de uma missão. Não restava outra resposta
de José ao pai senão esta. Sempre os que respondem prontamente são aqueles que:
- Estão constantemente na presença do pai;
- Gostam de seus irmãos;
- Tem interesses, objetivos e metas;
- Não temem o perigo, as distâncias ou dificuldades.
José foi enviado como um cordeiro
inocente ao encontro de lobos famintos. Esta era a chance que os irmãos tanto
esperavam para resolverem as diferenças.
Jacó era conhecedor do plano que Deus tinha com sua família, por isso, zeloso, ordenou ao seu filho que fosse averiguar, espiar a situação de seus irmãos, mas não imaginava que ao pedir que voltasse logo, estaria na verdade se despedindo de seu filho, não era um até logo, mas sim um: “até daqui uns anos”.
[1] O
primeiro sonho que José contou à sua família indignou os seus irmãos, o pai
disse a eles: “calma gente". O segundo sonho contado indignou o pai, que
disse: “que é isto menino”.
[2] Segundo as leis da
Mesopotâmia, todos os filhos gerados por concubinas deveriam se sujeitar a
qualquer um dos filhos da esposa titular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário