José: “Irmão conte as bênçãos”
A viagem para o
Egito foi em clima de tristeza, pois foram assolados pelos pensamentos e
cobranças. Vieram a tona os gritos e os clamores, do irmão para que lhe
tirassem daquela cova ou para que não lhe vendessem como escravo.
Não havia mais
nada por fazer, apenas a caminhada para comprarem os mantimentos que durariam
alguns dias. Como desejaram que tudo aquilo acabasse rápido para retornarem,
mas foram várias as preocupações durante a viagem, que os atormentaram:
- Doenças, confusões, prisões ou morte, de alguns;
- O aparecimento de ladrões e salteadores;
- Encantamento com a bonança ou condições melhores de vida que encontrariam no Egito, bem diferentes de Canaã;
- O receio de se perderem durante o trajeto;
- Esperavam, até mesmo, reencontrarem José, no caminho mendigando, doente ou o seu túmulo;
- Ou poderia acontecer algo com o pai Jacó, que havia ficado desprotegido em Canaã.
Imaginaram tudo, exceto serem
interrogados por uma grande autoridade egípcia, que falava e entendia o idioma
deles. O intérprete[1] que
estava na sala, a serviço de José, não tinha função nenhuma.
A alegria de José por revê-los foi grande
e nada podia ser comparado à sensação de ouvir alguém falando a sua língua.
Entre os escravos e na prisão, deve ter ouvido também, pois eram de várias
nações, mas certamente foram somente reclamações, murmurações e incitações à
revoltas. Naquele dia ouviu, em seu próprio idioma, um pedido de socorro, vindo
de seus irmãos, não tinha como segurar as lágrimas.
Seria loucura imaginarem que aquele homem
tivesse a mesma linhagem semita. O sobrenome, então, não poderia sequer ser
cogitado, seria uma afronta ao Egito. Se estivessem em pleno curso de suas
faculdades mentais jamais pensariam em tamanho ultraje. Havia um grande abismo
entre eles, mas ao mesmo tempo, era possível enxergar uma ligação, muito forte.
Era algo que tinham em comum, o lastro familiar, pois todos eram filhos do
mesmo pai, netos do mesmo avô e bisnetos do mesmo bisavô.
José foi amável com seus irmãos, mesmo
podendo ter aproveitado a oportunidade para se vingar, mandando-os para a
prisão, para que sentissem a dor que havia sentido, mas preferiu aguardar antes
de tomar qualquer decisão.
A sua mente foi bombardeada, pois estava
diante do possível cumprimento de seus sonhos, bastava uma ordem e seus irmãos
dobrariam os joelhos e o reverenciariam, mas ouviu uma voz mansa e suave
dizendo ao seu coração: “porque judiar deles? Você está no trono, eles na lona.
Estão fracos, famintos e esta dor você conhece muito bem, pense no futuro e
esqueça o passado”.
continua...
[1] Não
havia necessidade interprete, pois José conhecia muito bem a língua que seus
irmãos falavam.
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