José: Como você conseguiu? Quem mudou sua vida?
Descobrir que
José estava vivo e que era um homem poderoso, criou em Jacó uma expectativa[1] e
ansiedade por revê-lo e abraçá-lo. Esse foi o momento de maior alegria de sua
vida, bem diferente de quando soube da morte de seu filho, o que acabou com a
sua vontade de viver.
Pela segunda vez
o filho provocava uma mudança na vida do pai, a primeira foi no seu nascimento,
momento em que Jacó sentiu desejo de retornar para Canaã e a segunda vez foi
quando, avisado do ressurgimento de seu filho que julgava morto, saiu de suas
terras e foi para o Egito (Gn 45.17-18)
Esta seria a terceira viagem de Jacó,
mesmo em sua avançada idade. Na primeira saiu de mãos vazias, solitário, pobre,
fugindo da casa paterna, consequência de seus erros, na segunda saiu com bens e
família, fugindo de seu sogro e temeroso diante de um possível encontro com
Esaú, mas para o Egito a história seria outra, não estava mais fugindo, estava
cumprindo a vontade de Deus, que lhe confirmou a sua ida, uma espécie de
recompensa.
Mas esta viagem seria diferente, pois
iria ao encontro do “algo mais” que Deus havia preparado.
Quando ordenou que seus filhos fossem ao
Egito em busca de alimentos, orou para que fossem guardados e que voltassem em
paz com os mantimentos, jamais imaginou que voltariam com notícias de José e
com um convite do próprio Faraó para que fossem morar na capital do império,
tampouco imaginou uma mudança brusca de vida em tão curto espaço de tempo.
Realmente recebeu uma benção extraordinária. Era merecedor? Fez por onde? Do
outro lado estava José que, devido a sua ocupação e importância no Egito, não
desceu para buscar seu pai, ficou esperando a bênção em tuas mãos, da mesma
forma que seu avô Isaque, quando recebeu Rebeca como esposa.
Será que o desejo de rever o pai, após
tantos anos, não torturou o coração de José? Em nenhum momento pensou em
buscá-lo? Qual a sua preocupação? Muito trabalho? Medo de recolocar seus pés em
suas terras? Receio de que sua autoridade não fosse reconhecida fora do Egito?
Ou por que atribuiu aos irmãos a tarefa de desfazerem a mentira do passado[2]?
O que se passou na cabeça daquela grande homem somente Deus soube. Havia um
propósito para sua decisão.
A ansiedade era grande, mas o que lhe
fatalmente preocupava seria uma possível reação de desaprovação do pai ao vê-lo
vestido e misturado aos egípcios. Na mente de Jacó ainda estava gravada a
imagem de José usando sua túnica colorida. Poderia explicar que estava a
trabalho, que não havia se contaminado com o politeísmo religioso da nação, mas
temeu pela reação do pai, que poderia, no mínimo, estranhar a conduta do filho.
Ao longe, ansioso e temeroso, avistou a
comitiva e correu ao seu encontro lançando-se[3] ao pescoço do pai, chorando
muito. Esta sua atitude de reverência deixou bem claro que a maior autoridade
naquelas terras era seu pai e não ele.
Este foi o segundo encontro desta
natureza que Jacó participava, o primeiro havia sido com seu irmão Esaú, quando
se prostrou implorando seu perdão, agora era seu filho que reconhecia a sua
autoridade e importância no plano de Deus.
Jacó, avançado em idade, recebeu um
valiosíssimo presente e todo orgulhoso pela posição de José, estendeu seus
braços para recebê-lo. Por muito tempo havia acreditado na perda do filho e
agora recebia toda sua família[4]. O
que mais poderia esperar de bom da parte de Deus?
A interação entre pai, filho e irmãos
após aquele encontro, foi necessário para que todas as mágoas, dores e
ressentimentos fossem esquecidos para sempre, mas o momento principal daquele
entrelaçamento foi a conversa que se desenrolou entre eles. Como foi
gratificante para todos ouvirem as histórias reais de José, que então estufou o
peito, se alegrou e disse: “os sonhos de Deus se cumpriram na minha vida e
vocês serão os maiores beneficiados”.
Estavam curiosos por saberem como havia
chegado aquela posição. Estudo, influência, amizades, sorte, envolvimento na
cultura ou política egípcia? Como poderia ter feito uso destes mecanismos se
havia chegado aquela nação como um escravo? Mentes férteis que demoraram para
entender o agir de Deus.
A sua explicação foi longa, compreensiva,
aceitável e de uma forma bem descontraída deixou claro que a sua vitória não
poderia ser medida apenas pela sua condição atual.
Deus abençoou sua vida no início daquela
prova através do controle demonstrado durante os momentos em que permaneceu na
cova, aguardando a mudança da decisão de seus irmãos.
A mesma reação foi vista enquanto caminhava
como escravo, durante o tempo em que trabalhou na casa de Potifar e por fim nos
dias em que ficou encarcerado. Nada pode desabonar a sua vitória ou
desqualificar a vida de José, pois em todos os momentos se portou como um digno
homem de Deus. Que fortaleza foi aquela diante de tanto sofrimento? A resposta é simples:
- Deus estava com José, que se tornou próspero, mesmo sendo um simples trabalhador da casa de Potifar, a ponto de seu senhor observar e exaltar sua conduta irrepreensível;
- Até mesmo no cárcere José sentiu a presença de Deus e foi abençoado com a confiança do carcereiro;
- Diante de Faraó, José se portou como um digno servo de Deus.
José foi o canalizador de bênçãos para
toda sua família. Após esta conversa Jacó teve uma audiência com Faraó, que se
mostrou interessado pela sua história e idade.
Os cento e trinta e sete anos de Jacó
eram poucos se comparados aos de seus antepassados, mas porque fez questão de
chamá-los de anos maus? Não estava alegre com o reencontro de seu filho?
[1] Jacó
não estava preparado para ouvir o impossível? Não estava preparado para receber
o que Deus havia preparado.
[2] José deu aos irmãos
a possibilidade deles matarem o que estava matando eles por muito tempo, a
mentira. Eles iniciaram toda aquela história, então deveriam terminar. A
verdade sobressairia sobre a mentira.
[3] Jacó
havia se prostrado quando reencontrou Esaú e agora era reverenciado.
[4] Esposa
egípcia e seus dois filhos.
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